Amber #72 - Ao comer o bolo escrito "coma-me", Alice engrandeceu.
Havia um jovem com síndrome de Down correndo na direção de Liesl, Alice e Anastazja. Atrás dele vinham dois soldados nazistas com armas em punho gritando coisas que naquela distância eram inaudíveis ainda. Disparos aconteciam, pela irregularidade e cadência parecia ser mais tiros para intimidar do que propriamente acertar o jovem deficiente.
No topo do aclive Liesl, Alice e Anastazja estavam abaixadas escondidas. Liesl permanecia com sua Martini Henry em mãos, Anastazja estava abraçada com suas pernas e começando a chorar. Já Alice estava completamente inquieta, olhando pros lados, espiando por cima onde estava o jovem portador de Down e olhando para Liesl várias vezes.
“Liesl, temos que salvar ele, aqueles soldados vão mata-lo!”, disse Alice, mas Liesl ao ouvir olhou com um ar incredulidade para Alice.
“Não Alice, isso não. Você tá maluca?! Ele é um retardado! Ele não pode se defender, sequer deve saber falar ou nos entender!”, Liesl, vendo que Alice toda hora ficava espiando por cima da elevação de onde estavam nessa hora puxou Alice pelo braço, “Ele vai morrer de qualquer jeito, Alice! Eles são alvos do Reich! Estão todos sendo exterminados por meio daquele programa de eutanásia do governo!”.
Alice continuava apreensiva. Suas pernas tremiam e ela transpirava. Liesl estava começando a ficar mais e mais tensa, pois Alice parecia querer sair do esconderijo delas e ir até lá ajudar o garoto deficiente.
“Vamos embora, por favor!! Vamos antes que eles nos vejam, vamos?”, dizia Anastazja desesperada. Mas entre as falas de Anastazja foi possível ouvir enfim o que os nazistas gritavam contra o portador de Down enquanto corriam atrás dele:
“Isso! É hora de dançar, seu doidinho! Dança, dança, dança!! Quero te ver dançar!!”, diziam os soldados entre os disparos. O pobre jovem sem entender nada parecia ficar sempre assustado e correndo quando ouvia os sons dos disparos cada vez mais altos, que o assustavam.
“Liesl, por favor, vamos embora!”, disse Anastazja, agarrando Liesl pela roupa, “Eu tô com medo, eu tô com medo! Eles vão nos pegar!”.
Mas Liesl, que apesar da idade sempre se mostrava alguém com controle da situação, mostrando seu aspecto racional e maduro, estava em uma encruzilhada. De um lado tentava segurar Alice de cometer a loucura de ir atrás do garoto deficiente. Do outro lado estava Anastazja, chorando e tremendo, implorando para que as duas fossem embora. Alice do lado direito mostrando uma coragem sem nenhuma noção de perigo, ou mesmo que poderia ser morta e ser mais um alvo para os nazistas. E do outro Anastazja, completamente em pânico, cheia de insegurança e em prantos implorando para que as três deixassem aquele local.
A tensão era tanta que Liesl acabou falando coisas que não devia.
“Chega!!”, disse Liesl, gritando na forma de um sussurro para Anastazja, que continuava em pânico pedindo para irem embora, “Você é uma covarde, pensa que eu não vi que você deixou aquela outra polonesa enquanto você se trancou naquele celeiro? Eu vi ela gritando e batendo na porta do celeiro desesperada pedindo pra entrar, enquanto você continuava lá dentro, trancada sem dar uma chance para ela se proteger! E agora você tá implorando pra que nós corramos desses dois soldados? Você é uma idiota, uma covarde, um pessoa que não vale nada!”.
Anastazja nessa hora arregalou os olhos em susto e soltou Liesl. Ela não imaginava que Liesl havia visto o que havia acontecido naquele celeiro, de alguma forma a polonesa achou que levaria consigo o fardo daquele ato covarde sozinha. Um ato que ela tomou para proteger sua própria vida, embora tivesse custado a vida de outra. Sentiu uma dor profunda no peito, que alfinetava sua própria alma ao ouvir as duras palavras de desabafo de Liesl. Chocada, recuou, encarando Liesl e sentindo profunda vergonha de si.
“Anastazja... Isso é verdade?”, disse Alice, com muita pena da polonesa e da reação dela depois das palavras de Liesl, “Liesl, você não deve julgá-la! Isso não faz da Anastazja uma pessoa ruim! Todos nós fazemos coisas erradas quando estamos movidos pelo medo, só ela sabe o que ela sentiu no momento que ela escolheu salvar a vida dela! Pessoas se arrependem, e pessoas se propõe a mudar, para criarem um futuro em que não precisem carregar esse fardo pesado dos atos passados para sempre!”, cada vez mais os tiros e os gritos dos nazistas estavam mais e mais pertos, deixando todos ainda mais desesperados para agirem por si mesmos, “Eu não tenho dúvidas que a Anastazja se arrepende disso tudo o que ela fez, não é Anastazja?”.
Apesar de chocada, Anastazja balançou positivamente a cabeça, enquanto chorava mais e mais.
“Alice, usa um pouco sua cabeça! Você é uma negra, eu uma judia e ela polonesa! E nós não temos nenhuma deficiência, nós podemos nos defender! Aquele garoto não pode se defender!!”, disse Liesl, olhando nos olhos e tentando convencer Alice do seu lado, que parecia ás vezes não prestar atenção vendo que cada vez mais próximos os nazistas e o deficiente estavam, “É loucura! Mal conseguimos nos defender! Ficarmos andando por aí com um deficiente vai reduzir nossas chances de voltarmos vivas para a Alemanha a zero! O único direito que esse retardado correndo tem é o de morrer!”.
Alice olhou nos olhos de Liesl com um olhar extremamente profundo. Não parecia transmitir nenhum sentimento negativo ou algo do gênero. Alice transmitia uma determinação tão grande, uma bravura impossível de deter, que parecia que seus olhos emanavam chamas. Aquela situação era um alimento para ela. Um alimento que a fazia crescer como pessoa, se engrandecer a ponto de que nada nesse mundo poderia detê-la.
“Liesl, todos nós somos tão alvos dos nazistas quanto aquele jovem”, disse Alice, “E se nós temos a chance de nos defender, com certeza temos chance de salvar aquela vida. Liesl, abra os olhos!”, Alice rapidamente enfiou a mão no coldre de Liesl, onde estava sua pistola Frommer Stop, sacando e engatilhando a pistola, “Nós não somos diferentes e nem melhores do que aquele pobre deficiente! Nós somos tão alvos da ideologia nazista quanto ele! Não somos melhores e merecemos viver ou algo do gênero! Todos nós temos o mesmo direito, e eu vou dar o meu máximo para que aquele jovem tenha o direito a vida tanto quanto eu!”.
E num só impulso Alice deu um pulo, correndo em direção dos nazistas que disparavam tiros para assustar o portador de Down.
“Ei, olha ali! Ela tá armada!”, gritou um dos soldados, mirando em Alice.
Alice corria descendo aquele morro. Gritando, sem nem saber como usar uma arma direito, apontou contra um dos soldados a Frommer Stop. Alice não tinha muito conhecimento sobre armas, apesar do pai ser um grande conhecedor do assunto. Apenas sabia que basicamente o uso de armas era mirar e depois atirar. Naquele momento ela era uma pessoa sem habilidade alguma, mas imensa bravura e coragem.
O primeiro disparo passou longe. Arrumou o braço e novamente disparou contra o soldado da frente, também passando longe. O soldado vendo que estava sendo alvejado com tiros vindos daquela mulher negra sacou sua metralhadora e mirou em Alice, ao invés do jovem com Down. Os terceiro e quarto tiros também passaram longe, um de cada lado do soldado. Nessa hora Alice viu que o deficiente passou por ela, e logo estaria lá em cima junto de Liesl e Anastazja, a salvo.
No meio dos tiros Alice só pensou em dizer uma coisa:
“Cuidem dele, Liesl e Anastazja! Eu vou segura-los aqui!”, disse Alice, dando em seguida o quinto disparo.
E enfim o disparo acertou o soldado, bem no peito. Sem perder tempo Alice disparou ainda mais vezes. Seis, sete, oito. O nono tiro não saiu, pois a Frommer stop tinha um pente de apenas oito tiros. O soldado de trás vendo o seu camarada caindo no chão morto mirou em Alice, pronto para atirar.
Mas aí um tiro, vindo de trás de Alice foi ouvido. A cabeça do soldado que mirava em Alice foi jogada para trás com o impacto. O tiro havia acertado sua testa com uma precisão impecável.
Quando Alice se virou viu Anastazja com o portador de Down do lado e Liesl, com sua Martini-Henry em mãos, com o cano da arma ainda emanando uma fumaça branca, encarando o corpo do nazista que rolava morro abaixo.
Liesl havia salvo sua vida.
No topo do aclive Liesl, Alice e Anastazja estavam abaixadas escondidas. Liesl permanecia com sua Martini Henry em mãos, Anastazja estava abraçada com suas pernas e começando a chorar. Já Alice estava completamente inquieta, olhando pros lados, espiando por cima onde estava o jovem portador de Down e olhando para Liesl várias vezes.
“Liesl, temos que salvar ele, aqueles soldados vão mata-lo!”, disse Alice, mas Liesl ao ouvir olhou com um ar incredulidade para Alice.
“Não Alice, isso não. Você tá maluca?! Ele é um retardado! Ele não pode se defender, sequer deve saber falar ou nos entender!”, Liesl, vendo que Alice toda hora ficava espiando por cima da elevação de onde estavam nessa hora puxou Alice pelo braço, “Ele vai morrer de qualquer jeito, Alice! Eles são alvos do Reich! Estão todos sendo exterminados por meio daquele programa de eutanásia do governo!”.
Alice continuava apreensiva. Suas pernas tremiam e ela transpirava. Liesl estava começando a ficar mais e mais tensa, pois Alice parecia querer sair do esconderijo delas e ir até lá ajudar o garoto deficiente.
“Vamos embora, por favor!! Vamos antes que eles nos vejam, vamos?”, dizia Anastazja desesperada. Mas entre as falas de Anastazja foi possível ouvir enfim o que os nazistas gritavam contra o portador de Down enquanto corriam atrás dele:
“Isso! É hora de dançar, seu doidinho! Dança, dança, dança!! Quero te ver dançar!!”, diziam os soldados entre os disparos. O pobre jovem sem entender nada parecia ficar sempre assustado e correndo quando ouvia os sons dos disparos cada vez mais altos, que o assustavam.
“Liesl, por favor, vamos embora!”, disse Anastazja, agarrando Liesl pela roupa, “Eu tô com medo, eu tô com medo! Eles vão nos pegar!”.
Mas Liesl, que apesar da idade sempre se mostrava alguém com controle da situação, mostrando seu aspecto racional e maduro, estava em uma encruzilhada. De um lado tentava segurar Alice de cometer a loucura de ir atrás do garoto deficiente. Do outro lado estava Anastazja, chorando e tremendo, implorando para que as duas fossem embora. Alice do lado direito mostrando uma coragem sem nenhuma noção de perigo, ou mesmo que poderia ser morta e ser mais um alvo para os nazistas. E do outro Anastazja, completamente em pânico, cheia de insegurança e em prantos implorando para que as três deixassem aquele local.
A tensão era tanta que Liesl acabou falando coisas que não devia.
“Chega!!”, disse Liesl, gritando na forma de um sussurro para Anastazja, que continuava em pânico pedindo para irem embora, “Você é uma covarde, pensa que eu não vi que você deixou aquela outra polonesa enquanto você se trancou naquele celeiro? Eu vi ela gritando e batendo na porta do celeiro desesperada pedindo pra entrar, enquanto você continuava lá dentro, trancada sem dar uma chance para ela se proteger! E agora você tá implorando pra que nós corramos desses dois soldados? Você é uma idiota, uma covarde, um pessoa que não vale nada!”.
Anastazja nessa hora arregalou os olhos em susto e soltou Liesl. Ela não imaginava que Liesl havia visto o que havia acontecido naquele celeiro, de alguma forma a polonesa achou que levaria consigo o fardo daquele ato covarde sozinha. Um ato que ela tomou para proteger sua própria vida, embora tivesse custado a vida de outra. Sentiu uma dor profunda no peito, que alfinetava sua própria alma ao ouvir as duras palavras de desabafo de Liesl. Chocada, recuou, encarando Liesl e sentindo profunda vergonha de si.
“Anastazja... Isso é verdade?”, disse Alice, com muita pena da polonesa e da reação dela depois das palavras de Liesl, “Liesl, você não deve julgá-la! Isso não faz da Anastazja uma pessoa ruim! Todos nós fazemos coisas erradas quando estamos movidos pelo medo, só ela sabe o que ela sentiu no momento que ela escolheu salvar a vida dela! Pessoas se arrependem, e pessoas se propõe a mudar, para criarem um futuro em que não precisem carregar esse fardo pesado dos atos passados para sempre!”, cada vez mais os tiros e os gritos dos nazistas estavam mais e mais pertos, deixando todos ainda mais desesperados para agirem por si mesmos, “Eu não tenho dúvidas que a Anastazja se arrepende disso tudo o que ela fez, não é Anastazja?”.
Apesar de chocada, Anastazja balançou positivamente a cabeça, enquanto chorava mais e mais.
“Alice, usa um pouco sua cabeça! Você é uma negra, eu uma judia e ela polonesa! E nós não temos nenhuma deficiência, nós podemos nos defender! Aquele garoto não pode se defender!!”, disse Liesl, olhando nos olhos e tentando convencer Alice do seu lado, que parecia ás vezes não prestar atenção vendo que cada vez mais próximos os nazistas e o deficiente estavam, “É loucura! Mal conseguimos nos defender! Ficarmos andando por aí com um deficiente vai reduzir nossas chances de voltarmos vivas para a Alemanha a zero! O único direito que esse retardado correndo tem é o de morrer!”.
Alice olhou nos olhos de Liesl com um olhar extremamente profundo. Não parecia transmitir nenhum sentimento negativo ou algo do gênero. Alice transmitia uma determinação tão grande, uma bravura impossível de deter, que parecia que seus olhos emanavam chamas. Aquela situação era um alimento para ela. Um alimento que a fazia crescer como pessoa, se engrandecer a ponto de que nada nesse mundo poderia detê-la.
“Liesl, todos nós somos tão alvos dos nazistas quanto aquele jovem”, disse Alice, “E se nós temos a chance de nos defender, com certeza temos chance de salvar aquela vida. Liesl, abra os olhos!”, Alice rapidamente enfiou a mão no coldre de Liesl, onde estava sua pistola Frommer Stop, sacando e engatilhando a pistola, “Nós não somos diferentes e nem melhores do que aquele pobre deficiente! Nós somos tão alvos da ideologia nazista quanto ele! Não somos melhores e merecemos viver ou algo do gênero! Todos nós temos o mesmo direito, e eu vou dar o meu máximo para que aquele jovem tenha o direito a vida tanto quanto eu!”.
E num só impulso Alice deu um pulo, correndo em direção dos nazistas que disparavam tiros para assustar o portador de Down.
“Ei, olha ali! Ela tá armada!”, gritou um dos soldados, mirando em Alice.
Alice corria descendo aquele morro. Gritando, sem nem saber como usar uma arma direito, apontou contra um dos soldados a Frommer Stop. Alice não tinha muito conhecimento sobre armas, apesar do pai ser um grande conhecedor do assunto. Apenas sabia que basicamente o uso de armas era mirar e depois atirar. Naquele momento ela era uma pessoa sem habilidade alguma, mas imensa bravura e coragem.
O primeiro disparo passou longe. Arrumou o braço e novamente disparou contra o soldado da frente, também passando longe. O soldado vendo que estava sendo alvejado com tiros vindos daquela mulher negra sacou sua metralhadora e mirou em Alice, ao invés do jovem com Down. Os terceiro e quarto tiros também passaram longe, um de cada lado do soldado. Nessa hora Alice viu que o deficiente passou por ela, e logo estaria lá em cima junto de Liesl e Anastazja, a salvo.
No meio dos tiros Alice só pensou em dizer uma coisa:
“Cuidem dele, Liesl e Anastazja! Eu vou segura-los aqui!”, disse Alice, dando em seguida o quinto disparo.
E enfim o disparo acertou o soldado, bem no peito. Sem perder tempo Alice disparou ainda mais vezes. Seis, sete, oito. O nono tiro não saiu, pois a Frommer stop tinha um pente de apenas oito tiros. O soldado de trás vendo o seu camarada caindo no chão morto mirou em Alice, pronto para atirar.
Mas aí um tiro, vindo de trás de Alice foi ouvido. A cabeça do soldado que mirava em Alice foi jogada para trás com o impacto. O tiro havia acertado sua testa com uma precisão impecável.
Quando Alice se virou viu Anastazja com o portador de Down do lado e Liesl, com sua Martini-Henry em mãos, com o cano da arma ainda emanando uma fumaça branca, encarando o corpo do nazista que rolava morro abaixo.
Liesl havia salvo sua vida.
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