Overture - Parte IV - O único dia fácil... Foi o de ontem.

Os tempos pareciam prósperos. Quanto mais tempo Arch passava com o pequeno Al, mais Émilie sentia-se deslocada daquela realidade. Era janeiro de 1988.

Falando com sua mãe no telefone parecia que não sentia mais uma paixão por Arch. Mas não queria deixar sua nova vida confortável para trás também. Os dois mudaram-se para uma pequena casa na Clyde Road, que hoje não existe mais no local. Aquele passado - que não era miserável, caso Émilie não tivesse tantas mordomias - estava definitivamente para trás.

Mas Arch ainda a amava muito, e sentia-se bem ao lado dela. Emotivo como o irmão mais novo, sempre mostrou um lado companheiro e amigo a todos. Nunca foi uma pessoa rica, militar ou calígrafo, mas sempre fora bondoso com as pessoas. Com todos. O governo bancava ele para protegê-lo, e ele usava seu conhecimento para tal.

"O senhor Schutz conversou comigo hoje", ele começou a conversa com Émilie, "Parece que um dos malucos desertou. Conheci o cara, parecia alguém forte, com personalidade. Fiquei pensando o que seria mais valioso. Essa vida que temos, ou o que eu acredito".

Émilie arregalou seus olhos, se assustou com o que ele dizia.

"Não, você não pode nem pensar nessa possibilidade. 'Eles' te dão tudo o que você quer!", ela afirmou, erguendo a voz.

"Eu sei querida, eu sei. Mas será que estamos realmente certos? Não existe diferença entre criminosos e policiais. A única diferença é que um deles tem a lei por detrás. E a lei permite que a eles caçar qualquer um que não esteja dentro dos seus preceitos. Eles usam a violência da lei para combater a violência fora da lei. E achamos isso correto. Organizações tentam fazer alguma coisa, mas são muito pequenas. Não conseguem mudar a mentalidade de milhões, bilhões de pessoas e países.", ele concluiu.

Émilie ficou calada. Dentro de si dava pra ver que suava frio e tremia. Cabisbaixa, não entendia o porquê daquela conversa.

"Isso que eu faço é a única coisa que sei fazer da vida. Mas e se eu acredito em outra coisa? Se eu não acredito em violência, em punição e impunidade, será que conseguirei lutar pelo que acredito? Porque tanta violência por todos os lados se o mundo jamais melhora?".

Al ouvia tudo quieto, fingindo estar tirando um cochilo no sofá.
O pequeno garoto de nove anos já naquela época refletia: Qual será o motivo que move as coisas e as pessoas pelo mundo?

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