O discípulo tolo. Parte VI.

"Master, o que quero dizer é que eu não sei se me sinto vivo", eu comecei.

"Continue", ele ordenou.

"O único momento que eu me senti realmente vivo foi quando eu vi a morte na minha frente. Minha vida tem sido uma prova de sobrevivência, uma após a outra. Começou no meu nascimento, onde eu quase morri na barriga da minha mãe. Aos sete apontaram uma arma pra minha cabeça pela primeira vez".

"E mesmo assim você se acha forte o suficiente pra ficar por aí sorrindo. Você é mesmo um discípulo tolo!".

"Minha vida tem sido isso. Até mesmo quando quis me matar por vontade própria eu não consegui".

O mestre levantou-se e começou a andar em círculos.

"Você está se afogando no tempo!", o mestre disse.

Ele me ofereceu um cigarro.

"Eu não fumo mais", respondi, negando-o.

"O que você precisa é dessa vontade de viver que você sentiu agora depois de ter superado isso. A vida de todos é uma constante luta, como uma grande selva. Veja suas conquistas e encare qualquer desafio que vier na sua frente. Lute até o final e seja firme. Quando você reagia por medo você fugia, mas quanto mais próximo da morte, ou do fundo do poço você chegava, maior você voltava pra cima".

"Sim, e esses desafios vão sempre estar lá me fazendo crescer?".

"Os desafios o farão imortal".

Eu parei um tempo e fiquei refletindo olhando pra fogueira na nossa frente. Estava dando uns estralos da madeira. A noite estava estrelada e muito fria.

"Não sou imortal. Eu só não tenho medo da morte", concluí.

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