Saint Seiya e budismo.
SPOILERS ABAIXO!
Se você não viu ainda a Saga de Hades, não leia!
Depois não diga que eu não avisei!
Eu estava mandando pra uma amiga os episódios de Saint Seiya (Cavaleiros do Zodíaco) e lembrei disso aqui:
Na época que eu assisti a Saga de Hades eu já era simpatizante do budismo. Mas hoje, eu sou budista. E posso dizer baseado no pouco do que eu sei quais os elementos que o Kurumada (autor da série) usou para fazer esse capítulo da morte do Shaka de Virgem.
Pra quem não se lembra, o Shaka é dito no anime como a reencarnação de Buda, o homem mais próximo de deus. Porém, mesmo isso que parece óbvio dentro da crença budista (que nós renascemos), é algo meio controverso dentro do budismo. Isso tudo por um fator simples: Se você alcança a budeidade, você sai do ciclo de transmigração (o Samsara), já que você não tem que voltar na terra pra arrumar seus karmas, você vira uma presença eterna. É assim com o Buda histórico, e com os que alcançaram o nirvana antes e depois.
Elementos budistas
Uma parte que eu acho muito legal é quando o Shaka decide que vai morrer, e leva o trio de "traidores" para o Jardim das Salas (nome científico da Shorea robusta) Gêmeas. Em algumas tradições budistas é dita que o Buda nasceu e morreu nessa árvore. Não confundir com a árvore bodhi (Ficus Religiosa), que é onde ele alcançou a iluminação.
Saga se surpreende em ver que o Shaka tinha um jardim tão grande, e eles começam o quebra-pau. Shaka vê que o jeito é lutar sério, e aí ele abre os olhos pra aplicar o temível Tenbu Horin (天舞宝輪), sua técnica mais forte.
O golpe consiste em eliminar os cinco sentidos do condenado, deixando ele num estado vegetativo. Os sentidos no budismo tem um outro sentido, talvez pelo desuso que se teve dessa palavra, perdeu significados. Um significado é consciência. Exemplo: visão, seria consiciência da vista. E por aí vai.
Por isso que no budismo existem o sexto (intuição), o sétimo é a consciência mana, e no anime é o cosmo. A consciência mana é difícil de botar em palavra, mas se refere ao ego, a capacidade de pensar para si mesmo. Dizem que é muito ligado ao instinto de sobrevivência do ser humano, quando ele põe suas vontades acima da do próximo. Talvez seja por isso que eles falam tanto em "queimar o cosmo" no anime, que é basicamente você ter mais força interna para derrotar o seu adversário. Queimar o sétimo sentido!
Vou falar mais pra frente do oitavo sentido. Mas antes, queria dizer que o Tenbu Horin ás vezes parece uma punição forte pra pessoa para que ela desencarne e encontre a compaixão dos Budas. Claro que pro Shaka, sendo a reencarnação de Buda, isso é um bocado radical. Pois o próprio Buda ensinou para nós alcançarmos esse estado de plenitude em vida - e não quando passássemos dessa para uma melhor. E com todos nossos sentidos funcionando, de preferência, não como um morto vivo sem visão, olfato, tato, audição, etc.
O tio Kurumada (autor) pesquisou bem! 108 contas do rosário, corresponde ao 108 pecados no budismo, e também os 108 espectros de Hades. Uma pena que o rosário some depois da morte do Shaka, e só voltando a dar as caras quando o Ikki vai saltar pro Elíseos, quando ele mata os últimos espectros que faltavam. Mas é um elemento bem pesquisado. Ponto pro Kurumada.
A mandala! Quando Shaka sempre vai dar o Tenbu Horin aparece esse treco como fundo. Acho que o Kurumada se inspirou nas mandalas esotéricas do Mundo da Matriz e do Mundo do Diamante. Mas porque aparece? O que ela significa?
O treinamento esotérico é fechadíssimo, e pouquíssimas coisas nós sabemos. A mandala é um elemento do budismo esotérico, que é muito popular no Japão. Não sabemos o significado, exceto se um de nós fôssemos lá no pro Monte Kouya, ou o Daigoji e nos ordenássemos monges e mesmo assim teríamos que ficar de bico fechado. Mesmo assim, não teria como passar pros outros, exceto quem se ordenasse também e fizesse o mesmo voto de proteger os segredos.
Dizem que a pessoa que entra num treinamento esotérico tem que, com os olhos vendados, lançar uma flor de lótus sobre uma mandala dessas grandona no chão, e onde a flor caísse, de lá iniciasse o seu treinamento. A ideia deve ser tornar-se uno com todos os guardiões do dharma, bodhisattvas, vidyarajas presentes na mandala. E como vocês podem ver, não são poucos:
Como as pessoas usam o termo de "mundo do diamante" e "mundo do útero", as pessoas pensam que se trata de um mundo físico mesmo. Eu tenho algumas teorias sobre isso, mas se eu ficar deduzindo aqui, vai acabar confundindo a cabeça de vocês.
A passagem do Shaka
Dizem que quando o Buda faleceu, o mundo inteiro apareceu para encontrá-lo. Desde demônios, as montanhas, os seres celestiais e claro, seus aprendizes, todos estavam engolidos por uma tremenda tristeza. E, embora até esse momento, Seiya e os outros defecassem e andassem pelo Shaka, todos começam um chororô imenso, liderados pelo Mu de Áries.
Ninguém chorou pelo Aldebaran, que morreu episódios atrás. EU CHOREI PORQUE ELE É O ÚNICO CAVALEIRO BRASILEIRO!! Mas agora que o Brasil é um país desenvolvido, queria só ver! Todo mundo babando ovo e vindo pedir dinheiro pra gente.
Logo após isso começa um flashback, do Baby Shaka sentado meditando, e um Buda imenso em pé tendo altos papos com ele. Nele, o Shaka diz que viu vários corpos no Ganges, e que não entende como num país tão pobre as pessoas possam ser felizes mesmo com tantas dificuldades.
Segue o diálogo:
Parece que só nascemos para sofrer e nos lamentar. As pessoas vivem no meio de desgraças.
Shaka, isso te deixa triste?
É claro, quem quer uma vida apenas de tristezas?
Você está enganado. Onde há tristeza há alegria. E o contrário também é verdade. Lindas flores nascem, mas eventualmente morrem. Tudo nesse mundo está eme eterna mudança, sempre em movimento, nunca é igual, tudo muda, e a vida do homem também é assim.
Mas se o nosso fim, a mote é inevitável, então talvez é a tristeza que reina nas nossas vidas. Mesmo quando superamos os sofrimentos, mesmo que busquemos o amor e a felicidade, no fim é a morte que transforma tudo em nada. Não entendo, porque os homens nascem nesse mundo, se é impossível desafiar algo tão completo e eterno quanto a morte.
Shaka, parece que você esqueceu. A morte é...
[ATHENA EXCLAMATION!!!]
...A morte não é o fim de tudo. A morte não é nada mais do que outra transformação.
Falar da morte do Buda é muito complexo. Existem duas escrituras canônicas sobre a morte do Buda, uma do budismo Theravada, o Sutra Mahaparinibbana, e o do budismo Mahayana, o Sutra Mahaparinirvana, ou simplesmente Sutra do Nirvana.
Existem diferenças sutis entre ambos. Se eu for falar aqui, vou ficar duas horas. Mas em uma coisa os dois são iguais: são IMENSOS e muito DENSOS. Mesmo quem se ordena monge dificilmente os estuda com afinco. A compilação Mahayana são de mais de trinta volumes de pergaminhos. Nem mesmo quando o Buda alcançou o Nirvana aos 30 ele tinha passado tantos ensinamentos.
E o Buda fala de diversos, diversos, diversos assuntos. Claro que é impossível pra uma pessoa falar tudo aquilo prestes a morrer, provavelmente foi compilado junto com ensinamentos que ele deu durante os cinquenta anos que ele pregou lá nas quebradas da Índia.
O Kurumada provavelmente pegou os trechos finais do Sutra do Nirvana pra falar sobre. Especialmente sobre seu discurso sobre a impermanência. O Buda no final da vida fala sobre essa ânsia que as pessoas têm de que a vida nossa não tenha desgraças, que acabamos nos estressando com um copo fora de lugar, ou algo bobo e criamos redemoinhos em copo d'água.
O sofrimento é essa vontade de que nada mude. Se nós entendermos que tudo a nossa volta está em transformação, e ao invés de tentarmos manter as coisas como eram antes e encararmos de frente e nós mesmos nos recriarmos a cada momento que seria o ideal. Você é o único responsável pela sua paz de espírito. Você não pode espantar as nuvens quando começa a chover, mas pode abrir um guarda-chuva e se adaptar à situação. E era isso que o baby Shaka não entendia. A vida é transformação, todo mundo está sujeito à morte. É tudo um ciclo, você morre e eventualmente volta daqui a pouco, tudo é transitório.
Tem a parte que ele conclui tudo, a partir dos 4m37s do próximo episódio:
E aí aparece o Shakaassombração aparece pela última vez, para mandar um último salve pra galera:
As flores brotam e morrem.
As estrelas brilham, mas um dia se apagarão. Tudo morre.
A terra, o sol, a via láctea e ate mesmo todo esse universo, não é exceção.
Comparado a isso, a vida do homem é tão breve quanto o piscar dos olhos.
Nesse curto instante homens nascem, riem, choram, lutam, sofrem, festejam, lamentam, odeiam pessoas e amam outras, tudo é transitório.
E em seguida, todos caem num sono eterno chamado morte.
Muito bom! Ponto pro Kurumada.
Parece que ele copiou quase as falas do próprio Buda Shakyamuni. As pausas todas é pra mostrar e destacar a conclusão de tudo: é tudo transitório. Eu não acho que devo explicar muito, as falas dizem por si só. E, de bônus, ele manda um recadinho prapeituda Saori Kido, a deusa Athena:
No seriado existe o Arayashiki. E no budismo também. Mas aqui a confusão é tão grande que... tem que desenhar pra explicar mesmo. Mas acho que o Kurumada tinha uma ideia legal, só se expressou meio literal demais.
Qual é a dessa de Arayashiki?
No anime, o Arayashiki é o oitavo sentido. Foi esse recado que o Shaka mandou pra Athena escrito em pétalas de cerejeiras transgênicas (se a pétala é desse tamanho, a cereja deve ser do tamanho de uma maçã!).
Quando os cavaleiros têm que passar pro inferno, eles precisam chegar lá vivos, caso contrário Hades terá controle do espírito deles. Por isso, Shaka diz que para chegar no inferno vivo, somente é possível num estado na tênue linha entre a vida e a morte, e aí você queima seu cosmo e passa pro lado de lá... Vivo.
É óbvio que o oitavo sentido no budismo não tem nada a ver com essa divagação do Shaka. Já que o sétimo sentido no budismo é essa auto-compreensão, o oitavo é uma consciência reflexiva. Mas se parar pra pensar, faz algum sentido, subjetivamente. Veja esse vídeo em mais ou menos iniciando dos 7m10s:
Eu vou dar um exemplo dentro da obra genial de Ariano Suassuna, e assim mostrar como as religiões são parecidas! Especialmente cristianismo e budismo.
Segue a fala da Virgem Maria (Fernanda Montenegro):
(eu sempre choro nessa parte! Hehe)
E no filme mostra, foi justo na hora da morte que a Dora, por exemplo, vê que ela amava o marido, o padeiro corno, no final das contas. Só que não é apenas na hora da morte no budismo que a gente pode alcançar essa oitava consciência. O treinamento budista de refere a nós alcançarmos esse estado ainda quando estamos aqui, vivos.
Esse insight que é o arayashiki. É como se fosse uma super empatia, que tem junto com um entendimento pleno das coisas ao nosso redor, como se déssemos um valor para as coisas pequenas que vai muito além de compartilhar imagens de frases inúteis no Facebook.
O problema é que muitas vezes é justo quando estamos mais perto da morte que a gente fica com esse pensamento. Dificilmente pessoas conseguem viver com isso momentos antes de vestirmos o paletó de madeira. Entender que estamos bem, e estamos felizes hoje, que temos gratidão imensa pelo hoje, pelo agora, pelo que temos, pela pessoas que ajudamos, enfim. Esse valor às coisas boas e pequenas da vida. E isso faz parte do oitavo sentido. ;)
Deu pra sacar mais ou menos? =P
Se você não viu ainda a Saga de Hades, não leia!
Depois não diga que eu não avisei!
Eu estava mandando pra uma amiga os episódios de Saint Seiya (Cavaleiros do Zodíaco) e lembrei disso aqui:
Na época que eu assisti a Saga de Hades eu já era simpatizante do budismo. Mas hoje, eu sou budista. E posso dizer baseado no pouco do que eu sei quais os elementos que o Kurumada (autor da série) usou para fazer esse capítulo da morte do Shaka de Virgem.
Pra quem não se lembra, o Shaka é dito no anime como a reencarnação de Buda, o homem mais próximo de deus. Porém, mesmo isso que parece óbvio dentro da crença budista (que nós renascemos), é algo meio controverso dentro do budismo. Isso tudo por um fator simples: Se você alcança a budeidade, você sai do ciclo de transmigração (o Samsara), já que você não tem que voltar na terra pra arrumar seus karmas, você vira uma presença eterna. É assim com o Buda histórico, e com os que alcançaram o nirvana antes e depois.
Elementos budistas
Uma parte que eu acho muito legal é quando o Shaka decide que vai morrer, e leva o trio de "traidores" para o Jardim das Salas (nome científico da Shorea robusta) Gêmeas. Em algumas tradições budistas é dita que o Buda nasceu e morreu nessa árvore. Não confundir com a árvore bodhi (Ficus Religiosa), que é onde ele alcançou a iluminação.
Saga se surpreende em ver que o Shaka tinha um jardim tão grande, e eles começam o quebra-pau. Shaka vê que o jeito é lutar sério, e aí ele abre os olhos pra aplicar o temível Tenbu Horin (天舞宝輪), sua técnica mais forte.
O golpe consiste em eliminar os cinco sentidos do condenado, deixando ele num estado vegetativo. Os sentidos no budismo tem um outro sentido, talvez pelo desuso que se teve dessa palavra, perdeu significados. Um significado é consciência. Exemplo: visão, seria consiciência da vista. E por aí vai.
Por isso que no budismo existem o sexto (intuição), o sétimo é a consciência mana, e no anime é o cosmo. A consciência mana é difícil de botar em palavra, mas se refere ao ego, a capacidade de pensar para si mesmo. Dizem que é muito ligado ao instinto de sobrevivência do ser humano, quando ele põe suas vontades acima da do próximo. Talvez seja por isso que eles falam tanto em "queimar o cosmo" no anime, que é basicamente você ter mais força interna para derrotar o seu adversário. Queimar o sétimo sentido!
Vou falar mais pra frente do oitavo sentido. Mas antes, queria dizer que o Tenbu Horin ás vezes parece uma punição forte pra pessoa para que ela desencarne e encontre a compaixão dos Budas. Claro que pro Shaka, sendo a reencarnação de Buda, isso é um bocado radical. Pois o próprio Buda ensinou para nós alcançarmos esse estado de plenitude em vida - e não quando passássemos dessa para uma melhor. E com todos nossos sentidos funcionando, de preferência, não como um morto vivo sem visão, olfato, tato, audição, etc.
O tio Kurumada (autor) pesquisou bem! 108 contas do rosário, corresponde ao 108 pecados no budismo, e também os 108 espectros de Hades. Uma pena que o rosário some depois da morte do Shaka, e só voltando a dar as caras quando o Ikki vai saltar pro Elíseos, quando ele mata os últimos espectros que faltavam. Mas é um elemento bem pesquisado. Ponto pro Kurumada.
A mandala! Quando Shaka sempre vai dar o Tenbu Horin aparece esse treco como fundo. Acho que o Kurumada se inspirou nas mandalas esotéricas do Mundo da Matriz e do Mundo do Diamante. Mas porque aparece? O que ela significa?
O treinamento esotérico é fechadíssimo, e pouquíssimas coisas nós sabemos. A mandala é um elemento do budismo esotérico, que é muito popular no Japão. Não sabemos o significado, exceto se um de nós fôssemos lá no pro Monte Kouya, ou o Daigoji e nos ordenássemos monges e mesmo assim teríamos que ficar de bico fechado. Mesmo assim, não teria como passar pros outros, exceto quem se ordenasse também e fizesse o mesmo voto de proteger os segredos.
Dizem que a pessoa que entra num treinamento esotérico tem que, com os olhos vendados, lançar uma flor de lótus sobre uma mandala dessas grandona no chão, e onde a flor caísse, de lá iniciasse o seu treinamento. A ideia deve ser tornar-se uno com todos os guardiões do dharma, bodhisattvas, vidyarajas presentes na mandala. E como vocês podem ver, não são poucos:
Como as pessoas usam o termo de "mundo do diamante" e "mundo do útero", as pessoas pensam que se trata de um mundo físico mesmo. Eu tenho algumas teorias sobre isso, mas se eu ficar deduzindo aqui, vai acabar confundindo a cabeça de vocês.
A passagem do Shaka
Dizem que quando o Buda faleceu, o mundo inteiro apareceu para encontrá-lo. Desde demônios, as montanhas, os seres celestiais e claro, seus aprendizes, todos estavam engolidos por uma tremenda tristeza. E, embora até esse momento, Seiya e os outros defecassem e andassem pelo Shaka, todos começam um chororô imenso, liderados pelo Mu de Áries.
Ninguém chorou pelo Aldebaran, que morreu episódios atrás. EU CHOREI PORQUE ELE É O ÚNICO CAVALEIRO BRASILEIRO!! Mas agora que o Brasil é um país desenvolvido, queria só ver! Todo mundo babando ovo e vindo pedir dinheiro pra gente.
Logo após isso começa um flashback, do Baby Shaka sentado meditando, e um Buda imenso em pé tendo altos papos com ele. Nele, o Shaka diz que viu vários corpos no Ganges, e que não entende como num país tão pobre as pessoas possam ser felizes mesmo com tantas dificuldades.
Parece que só nascemos para sofrer e nos lamentar. As pessoas vivem no meio de desgraças.
Shaka, isso te deixa triste?
É claro, quem quer uma vida apenas de tristezas?
Você está enganado. Onde há tristeza há alegria. E o contrário também é verdade. Lindas flores nascem, mas eventualmente morrem. Tudo nesse mundo está eme eterna mudança, sempre em movimento, nunca é igual, tudo muda, e a vida do homem também é assim.
Mas se o nosso fim, a mote é inevitável, então talvez é a tristeza que reina nas nossas vidas. Mesmo quando superamos os sofrimentos, mesmo que busquemos o amor e a felicidade, no fim é a morte que transforma tudo em nada. Não entendo, porque os homens nascem nesse mundo, se é impossível desafiar algo tão completo e eterno quanto a morte.
Shaka, parece que você esqueceu. A morte é...
[ATHENA EXCLAMATION!!!]
...A morte não é o fim de tudo. A morte não é nada mais do que outra transformação.
Falar da morte do Buda é muito complexo. Existem duas escrituras canônicas sobre a morte do Buda, uma do budismo Theravada, o Sutra Mahaparinibbana, e o do budismo Mahayana, o Sutra Mahaparinirvana, ou simplesmente Sutra do Nirvana.
Existem diferenças sutis entre ambos. Se eu for falar aqui, vou ficar duas horas. Mas em uma coisa os dois são iguais: são IMENSOS e muito DENSOS. Mesmo quem se ordena monge dificilmente os estuda com afinco. A compilação Mahayana são de mais de trinta volumes de pergaminhos. Nem mesmo quando o Buda alcançou o Nirvana aos 30 ele tinha passado tantos ensinamentos.
E o Buda fala de diversos, diversos, diversos assuntos. Claro que é impossível pra uma pessoa falar tudo aquilo prestes a morrer, provavelmente foi compilado junto com ensinamentos que ele deu durante os cinquenta anos que ele pregou lá nas quebradas da Índia.
O Kurumada provavelmente pegou os trechos finais do Sutra do Nirvana pra falar sobre. Especialmente sobre seu discurso sobre a impermanência. O Buda no final da vida fala sobre essa ânsia que as pessoas têm de que a vida nossa não tenha desgraças, que acabamos nos estressando com um copo fora de lugar, ou algo bobo e criamos redemoinhos em copo d'água.
O sofrimento é essa vontade de que nada mude. Se nós entendermos que tudo a nossa volta está em transformação, e ao invés de tentarmos manter as coisas como eram antes e encararmos de frente e nós mesmos nos recriarmos a cada momento que seria o ideal. Você é o único responsável pela sua paz de espírito. Você não pode espantar as nuvens quando começa a chover, mas pode abrir um guarda-chuva e se adaptar à situação. E era isso que o baby Shaka não entendia. A vida é transformação, todo mundo está sujeito à morte. É tudo um ciclo, você morre e eventualmente volta daqui a pouco, tudo é transitório.
Tem a parte que ele conclui tudo, a partir dos 4m37s do próximo episódio:
Shaka, shaka!
Não se esqueça, a morte não é fim de tudo. Todos aqueles que nasceram nessa terra mas que depois foram chamados de homens santos conseguiram superar a morte.
Shaka, você se iluminar com essa verdade certamente você em sua agonia mortal se transformará num homem mais próximo de ser um deus.
Ah-há! Mais uma falta de pesquisa do Mr Kurumada. Mas não vou criticar ele, porque provavelmente ele não deve ter pesquisado tanto. Se estamos falando da morte do Shaka, nada melhor que usar ensinamentos do momento que o Buda morreu, não?
É verdade que os ensinamentos budistas, especialmente os Mahayanas, tratam muito de que a iluminação só é alcançada depois da morte. Mas no Sutra do Nirvana, o Buda diz que também é possível alcançar um estado de iluminação em vida. E não apenas isso, como dizem alguns pesquisadores e teólogos budistas que eu já li, um fator que difere muito é o conceito de "eu verdadeiro", sem se relacionar ao "ego" que todos nós temos. Mas isso é muito elaborado pra explicar (e nem eu entendi esse parágrafo que escrevi agora).
E aí aparece o Shaka
As flores brotam e morrem.
As estrelas brilham, mas um dia se apagarão. Tudo morre.
A terra, o sol, a via láctea e ate mesmo todo esse universo, não é exceção.
Comparado a isso, a vida do homem é tão breve quanto o piscar dos olhos.
Nesse curto instante homens nascem, riem, choram, lutam, sofrem, festejam, lamentam, odeiam pessoas e amam outras, tudo é transitório.
E em seguida, todos caem num sono eterno chamado morte.
Muito bom! Ponto pro Kurumada.
Parece que ele copiou quase as falas do próprio Buda Shakyamuni. As pausas todas é pra mostrar e destacar a conclusão de tudo: é tudo transitório. Eu não acho que devo explicar muito, as falas dizem por si só. E, de bônus, ele manda um recadinho pra
No seriado existe o Arayashiki. E no budismo também. Mas aqui a confusão é tão grande que... tem que desenhar pra explicar mesmo. Mas acho que o Kurumada tinha uma ideia legal, só se expressou meio literal demais.
Qual é a dessa de Arayashiki?
No anime, o Arayashiki é o oitavo sentido. Foi esse recado que o Shaka mandou pra Athena escrito em pétalas de cerejeiras transgênicas (se a pétala é desse tamanho, a cereja deve ser do tamanho de uma maçã!).
Quando os cavaleiros têm que passar pro inferno, eles precisam chegar lá vivos, caso contrário Hades terá controle do espírito deles. Por isso, Shaka diz que para chegar no inferno vivo, somente é possível num estado na tênue linha entre a vida e a morte, e aí você queima seu cosmo e passa pro lado de lá... Vivo.
É óbvio que o oitavo sentido no budismo não tem nada a ver com essa divagação do Shaka. Já que o sétimo sentido no budismo é essa auto-compreensão, o oitavo é uma consciência reflexiva. Mas se parar pra pensar, faz algum sentido, subjetivamente. Veja esse vídeo em mais ou menos iniciando dos 7m10s:
Eu vou dar um exemplo dentro da obra genial de Ariano Suassuna, e assim mostrar como as religiões são parecidas! Especialmente cristianismo e budismo.
Segue a fala da Virgem Maria (Fernanda Montenegro):
Na oração da Ave Maria, os homens pedem para que eu rogue por eles na hora da morte. Eu rogo. E olho para eles nessa hora. E vejo que muitas vezes é na hora de morrer que eles finalmente encontram o que procuravam a vida toda.
E no filme mostra, foi justo na hora da morte que a Dora, por exemplo, vê que ela amava o marido, o padeiro corno, no final das contas. Só que não é apenas na hora da morte no budismo que a gente pode alcançar essa oitava consciência. O treinamento budista de refere a nós alcançarmos esse estado ainda quando estamos aqui, vivos.
Esse insight que é o arayashiki. É como se fosse uma super empatia, que tem junto com um entendimento pleno das coisas ao nosso redor, como se déssemos um valor para as coisas pequenas que vai muito além de compartilhar imagens de frases inúteis no Facebook.
O problema é que muitas vezes é justo quando estamos mais perto da morte que a gente fica com esse pensamento. Dificilmente pessoas conseguem viver com isso momentos antes de vestirmos o paletó de madeira. Entender que estamos bem, e estamos felizes hoje, que temos gratidão imensa pelo hoje, pelo agora, pelo que temos, pela pessoas que ajudamos, enfim. Esse valor às coisas boas e pequenas da vida. E isso faz parte do oitavo sentido. ;)
Deu pra sacar mais ou menos? =P
Ohá!
ResponderExcluirAlain, ainda não comecei a reler os mangás, mas arigatô... e gostei deste post, muleque! Porque você combina duas coisas que adora! Tudo bem que tem umas partes que acho difícil de entender (pra quem não conhece Cavaleiros do Zodíaco ou Budismo), mas ficou bem interessante, parabéns. :D
Spoilers, Dê! AHHHHHH! >__<
ResponderExcluirAgora quando você ler a Saga de Hades já vai saber que o Shaka morre! Pooooooooooooxa vida, mano! =P
Mas obrigado pelos elogios. Eu já comecei a escrever uma segunda parte, só preciso juntar as imagens, hehe.
O Mu chorou pela morte do Aldebaran também.
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