Amber #13 - Duelo em Barcelona (1)

22 de abril de 1937
14h02

Schultz, Sundermann e Goldberg chegam sem problemas em Barcelona. O armamento havia sido confiscado pelo exército britânico na fronteira franco-espanhola, mas o trem ainda poderia ser usado como isca. Com a ajuda dos oficiais que haviam apreendido as armas, nada foi divulgado oficialmente e nenhuma informação sobre a apreensão das armas ou de Abner Sarkin havia sido divulgada. Já havia passado quase uma hora desde que o trem havia chegado em Barcelona, e os três observavam se haveria algum cúmplice de Sarkin que apareceria ali pra levar o carregamento que estava no vagão.

“Schultz, três pessoas suspeitas conversando olhando pro vagão, vindo do corredor na sua esquerda”, disse Goldberg, indo até o lado de Schultz, que observava não muito longe dali.

Schultz observou o reflexo dos três no vidro na sua frente. Ele estava de chapéu e parecia um pouco um turista que estava passando férias na Espanha. Ficou bem próximo dos três, que se aproximaram do trem e calmamente subiram no vagão anterior ao que estava o carregamento de Sarkin. Schultz os seguiu furtivamente, tomando o máximo de cuidado para que os três não o vissem. Ao ver que eles tinham a chave e tentaram entrar no vagão onde Sarkin havia escondido as armas, Schultz os pegou em flagrante.

“Rapazes, fiquem quietinhos aí. Precisamos conversar um pouquinho com vocês”, disse Schultz, mandando-os entrar no vagão vazio. Sundermann e Goldberg apareceram logo atrás deles, também armados.

Schultz os levou ao vagão de Sarkin e acendeu a luz. Goldberg e Sundermann com algumas algemas os prenderam em corrimões que tinham naquele vagão parcamente iluminado. O interrogatório correu sem problemas, e logo eles tinham o endereço do local onde Sarkin mantinha as suas armas. Esses três capangas de Sarkin eram presas pequenas que os levariam aos verdadeiros chefões.

Os três alemães foram até o esconderijo. Era um pequeno edifício inteiro relativamente próximo do centro de Barcelona, com sua arquitetura característica. Não havia nenhuma praça ou ponto turístico próximo, mas era um local de acesso fácil e simples. Previam que ali provavelmente encontrariam resistência, mas na verdade encontraram um local sendo guardado por apenas um homem, que foi facilmente rendido por eles.

“Vamos com calma, eu vou na frente e vocês me dêem cobertura”, disse Schultz, sacando sua pistola.

Dentro do esconderijo dava pra ver que haviam três homens próximos e uma mulher do outro lado. Haviam realmente muitas armas, e eles tinham apenas subido as escadas do andar térreo pro primeiro andar. Caminhando de maneira que não estragasse o elemento surpresa, Schultz foi caminhando até chegar nas costas de um deles. Schultz o dominou por trás e colocou a arma na cabeça dele. Foram apenas alguns segundos para que todos os outros vissem o que estava acontecendo.

“Opa, opa, opa! Calma aí, senão não farei cerimônia e explodirei os miolos desse aqui”, disse Schultz, que no fundo detestava ter que brigar em vão, “Sou alemão e vim apenas buscar um camarada meu que está aqui. Sarkin já foi preso e o jogo acabou pra vocês. Vamos tentar terminar tudo sem derrubar sangue, ok?”

A mulher se ergueu. Aparentemente ela era a líder de lá.

“Pegaram Sarkin? Merda”, disse a mulher, “Aquele idiota. Agora vou ter que terminar esse trabalho sozinha então”. A mulher colocou a mão embaixo da mesa, mas Schultz foi mais rápido, dando um tiro pra cima, bem na altura do ouvido do seu refém.

“Pera lá, mãos pra cima você também. Eu disse que não tô aqui pra conversinha fiada. Qual é a sua graça, madame?”, perguntou Schultz.

“Sou prima de Sarkin. Meu nome é Sarah Sarkin. Sou eu quem cuido dos negócios dele desse lado aqui”, disse a mulher.

“Pois bem, seu primo foi preso. Pegamos ele na fronteira com a França e levaram todo o carregamento. Mas aqui tem muita arma mesmo, e com certeza não devia ser pra vender mais barato por aí. Qual a real disso tudo?”, perguntou Schultz.

“Você é alemão, não é?”, perguntou Sarah.

“Sim”, disse Schultz.

“Nazista?”, perguntou Sarah.

Schultz ficou pensando, sem entender o motivo daquela pergunta. Simplesmente ficou quieto, observando Sarah, sem responder nada. Continuava segurando firmemente o capanga com a arma na sua cabeça. Ao Sarah ver que Schultz não havia respondido se era nazista, prosseguiu:

“Talvez Himmler não os avisou então”, debochou Sarah.

“Avisou? Avisou o quê?”, perguntou Schultz.

“O problema nunca foi o fato da Alemanha nazista estar fabricando mais armas do que elas poderiam. A Europa está pouco se lixando pra isso. Mas quanto mais penso que mesmo vocês, agentes da Inteligência, teriam um mínimo de ‘inteligência’, vejo que vocês são todos iguais. Meros cães a serviço do governo”, disse Sarah.

“Está blefando. Corta essa e diga logo onde está o engenheiro que Sarkin sequestrou!”, ordenou Schultz, querendo acelerar as coisas.

“Ele está aqui. Mas não está exatamente bem. Hubert Gehrig está no andar de cima. Mas acho que vocês deveriam saber ao menos a verdade, já que tô na roça mesmo”, disse Sarah.

“Fale!”, mandou Schultz.

“Por acaso você avisou algum superior seu quando encontrou a quantidade de armas que, não apenas estavam sendo traficadas, mas também fabricadas no território alemão? Armas essas que, de acordo com a ordem da Liga das Nações, era algo completamente ilegal? Avisou o que encontrou ao seu superior?”, perguntou Sarah.

Schultz não respondeu, mas se lembrou de quando Briegel ligou pra Himmler, e ele, de acordo com Briegel, mostrou uma estranha indiferença, como se fabricar aquela quantidade de armas fosse algo sem importância.

“Reparou em como seu superior não deu a menor importância a esse fato?”, disse Sarah, como se tivesse lido a mente de Schultz.

Não, acalme-se Schultz. Ela está blefando. Acontece que o blefe dela simplesmente calhou e deu certo. Não tem como ela saber. Melhor manter meu rosto firme e sério e não transpassar nenhuma surpresa. Ainda preciso ter a situação em minhas mãos, pensou Schultz, sem dizer uma única palavra.

“Meu pobre amigo que eu não sei o nome... Você foi enganado direitinho!”, disse Sarah, batendo palmas ironicamente, “Hitler está mandando armas para os revolucionários daqui, os que apoiam Francisco Franco! Hitler quer derrubar o governo desse país pra ter um aliado a mais na Europa! Não existe nada sobre tráfico de armas, bonitão. Vocês foram enganados direitinho!”, disse Sarah.

Sequer Schultz teve tempo de refletir quando começou a ouvir tiros vindo do andar debaixo. O guarda de Sarkin subiu as escadas mas foi alvejado por Sundermann e Goldberg enquanto mirava em Schultz.

Schultz, vendo que todos sacaram suas armas, jogou violentamente contra a parede o seu refém e depois se lançou ao chão, evitando as balas que haviam passado a centímetros dele, vindo dos outros dois capangas e de Sarah Sarkin. Um tiroteio havia começado.

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