Amber #10 - Um medo, um receio, uma certeza.

“Que besteira, coronel!”, disse Schultz, se aproximando de Briegel com a mão sobre sua barriga por conta da dor, “Até parece. Ele disse isso e você achou que era com a Alice! É uma armadilha pra fazer a gente perder tempo”.

Briegel sabia que aqueles momentos eram como aqueles que a intuição do pai falava mais alto. Parecia ilógico também se ele pensasse de uma maneira mais racional. Mas o medo de que algo acontecesse com sua filha o fazia ter calafrios até a ponta dos pés. Schultz não tinha filhos, era algo difícil de explicar. Uma coisa que só quem é pai poderia sentir.

“Coronel, vamos pegar o carro e ir nós quatro atrás do Sarkin. Vamos pegar o cara! A Alice está bem!”, disse Schultz.

Briegel olhava seu amigo, mas não conseguia dizer que iria. Seus olhos lacrimejavam como se tivesse algo dentro do seu coração que era mais forte que ele. Um medo, um receio, uma certeza. Sundermann e Goldberg não sabiam o que dizer vendo aquela cena. Mas apenas um amigo realmente próximo, um amigo que havia vivido anos ao seu lado teria empatia o suficiente para não apenas falar o correto, mas agir de maneira correta também.

E Schultz viu então que não poderia dar um passo pra frente sem antes recuar outro pra trás.

“Tá, então vamos lá pro hotel ver a Alice”, disse Schultz, “Agora até eu fiquei preocupado também. Eu também a amo muito e detestaria que algo acontecesse com ela. E você também não vai poder continuar assim”, nessa hora Schultz deu um abraço em Briegel, “A Alice é a menina dos nossos olhos, não é mesmo? Você não vai poder seguir em frente enquanto não estiver tranquilo. Vamos fazer o seguinte então: Sundermann e Goldberg, temos que arriscar que possivelmente ele irá com esse comboio todo pegar um trem. Preciso que vocês vão até a estação e tentem achar em que trem ele vai colocar aqueles trecos e tentar atrasar o máximo possível. Vocês são soldados, sabem como usar seus poderes. Digam que é ordem do Führer, sei lá, vocês sabem como. Eu irei com o coronel aqui até o hotel. Depois que assegurarmos que Alice está bem vamos correndo pra lá. Combinado?”.

“Sim, senhor Schultz. Pode deixar com a gente!”, disse Sundermann, que se apressou em correr ao carro deles.

“Obrigado, Schultz, meu amigo. Mas como nós iremos agora?”, perguntou Briegel.

“Tem uma caminhonete velha ali. Eu dei uma olhada enquanto tava na surdina. A chave está no painel. Vamos torcer pra que ela esteja boa pra correr!”, disse Schultz.

Schultz e Briegel partiram pro hotel a toda velocidade, enquanto Sundermann e Goldberg partiam para a estação central de Munique, a München Hauptbahnhof. O alvo dos jovens era buscar algum caminhão com a identificação B-147, indicado por Briegel. Já passavam das 10h quando Schultz e Briegel enfim chegaram no hotel. Subiram e foram direto ao quarto que haviam reservado.

“Alice! Alice!!”, entrou Briegel, gritando.

Briegel foi direto ao quarto de Alice. Schultz verificou a sala de estar e foi ao banheiro.

“Alice! Você tá aqui? Dá licença!”, disse Schultz.

Mas Alice Briegel não estava ali. Schultz foi ver nos outros quartos, mas não havia reparado que um silêncio havia dominado o local. Briegel não estava mais chamando por sua filha.

Oh meu deus, isso só pode ser brincadeira! Porque o Briegel parou de chamar ela?, disse Schultz, correndo ao quarto de Alice com sua arma em punhos, pensando na pior das hipóteses.

Mas quando ele entrou viu Briegel e joelhos no chão e a cabeça pra baixo. Ele chorava a ponto de soluçar. Alice não estava lá. Schultz entrou e ao ver que Alice não estava seus olhos começaram a lacrimejar também. Mas tentou se manter forte pra poder ajudar seu amigo, e apesar de mal conseguir ver algo com os olhos embaçados e cheios de lágrimas, segurou ao máximo pra não deixar nenhuma gota cair.

Briegel estava desolado de joelhos no chão.

“Calma aí, amigão, vamos achar a Alice!”, disse Schultz, “Eu vou te ajudar, fica tranquilo, ela está bem! A Alice não é uma criança, ela é forte!”

Mas Briegel continuava derrubando rios de lágrimas. No chão, molhado com suas lágrimas, havia um papel, escrito com essas folhas de rascunho que o hotel disponibiliza nos quartos. Schultz secou os olhos e se abaixou pra pegar, abraçando seu amigo de lado.

No papel estava escrito: O que você faria se perdesse alguém que fosse realmente precioso pra ti? Você iria até o inferno atrás dessa pessoa?

Schultz amassou o papel com as mãos, furioso. Novamente seus olhos encheram de lágrimas mas ele resistiu pra poder amparar seu amigo. Levantou sua cabeça pra cima e tomou ar. Aquilo poderia ser algo que os derrubasse, mas o momento não era esse. O momento era de usar aquela coisa ruim como força pra seguir em frente!

“Então iremos até o inferno salvar a Alice”, disse Schultz, “Coronel, conte comigo. Estamos juntos nessa, e nós vamos salvar a Alice, não importa onde ela estiver!”, nessa hora Schultz ergueu a cabeça de Briegel e olhou nos seus olhos, “Não importa, mesmo que tivermos que descer até o inferno, vamos tirar a Alice de lá, custe o que custar! Confie em mim, vamos agora, não podemos mais perder tempo!”

Isso parecia que havia tirado Briegel do transe que ele estava sem acreditar que havia perdido sua filha. Isso lhe deu forças. Era possível pegar Sarkin ainda, eles só tinham que correr. Não era hora de chorar. Era hora de ação!

“Escuta, nós podemos ainda agir, meu amigo! A Alice está bem, está viva! Acredite! Prometo que vamos resgatar ela, e ninguém aqui vai sequer derrubar uma lágrima a mais, pois ela vai voltar bem! Vamos agir hoje e correr pra que amanhã possamos ficar em paz com nós mesmos por termos nos esforçado hoje!”, disse Schultz, “Apesar da tristeza e do desespero, vamos salvar a Alice para que essas lágrimas durem apenas esse momento! Vamos juntos, meu amigo!”.

Schultz estendeu a mão. Briegel pode sentir a energia. Rapidamente apertou a mão de Schultz. Ele estava de volta!

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10h33

“Sundermann? Goldberg?”, disse Schultz ao se aproximar deles, já na estação central de Munique, “Onde está Sarkin?”.

“Minha nossa, vocês chegaram bem na hora. Estamos com um problema aqui. Apareceram três caminhões com B-147 no fundo, e as caixas dentro deles estão indo pra trens diferentes!”, disse Sundermann, “Olha ali por esses binóculos. Dois deles estão indo para aquele trem prateado. E um deles está naquele trem azul”.

“Merda! E o Sarkin?”, perguntou Schultz.

“Sem sinal dele. E os funcionários aqui não querem nos passar nada!”, queixou Sundermann.

Os quatro estavam no ponto mais alto da estação. Dali era possível ver onde eram organizadas as linhas, itinerários, no centro de controle. Briegel ao ouvir isso se virou e começou a andar até lá em passos rápidos. Haviam dois seguranças na porta, mas na hora que Briegel mostrou sua identificação da SD, eles o deixaram entrar. Briegel subiu as escadas decidido e rápido, indo até a sala do coordenador. Abriu a porta com um chute.

“Onde está Sarkin, seu imbecil?!”, gritou Briegel, erguendo o coordenador pela cadeira pelo colarinho.

“Oh, por deus! Me solte, por favor! Quem é você?”, disse o coordenador, desesperado.

Briegel mostrou sua identificação da SD.

“Nenhum trem vai sair daqui enquanto você não me disser onde está Abner Sarkin e onde está o carregamento dele. É bom que você diga, senão vou começar te socando até você perder esses seus dentes!”, disse Briegel.

“E-eu não posso… Não sei!”, disse o coordenador, corrigindo. Nessa hora Schultz, que estava logo atrás de Briegel, se aproximou:

“Não pode o quê?”, perguntou Schultz, que viu o deslize.

“Não sei do que o senhor tá falando, eu não disse ‘eu não sei’, eu disse, ‘eu não posso’”, se confundiu novamente o coordenador, que estava completamente aterrorizado, “Não, quero dizer…”.

“Seu merda! Tá na cara então. Sarkin o subornou. Merda!”, disse Schultz, batendo na mesa com violência, “Agora quem vai te surrar sou eu!”.

Briegel olhou pra Schultz, pedindo pra ele esperar um pouco.

“Com uma ligação eu mando o pessoal da Gestapo invadir isso aqui, e você não vai apenas perder seu dinheiro, mas vai perder sua vida. É bom que você colabore, seu merdinha corrupto. Qual trem está Sarkin?”, perguntou Briegel, num quase sussurro incrivelmente ameaçador.

O coordenador viu que a casa tinha caído mesmo. Estava fazendo xixi nas próprias calças de tanto medo. Briegel e Schultz não estavam ali pra agir de maneira correta. Iriam fazer o que fosse possível para salvar Alice.

“Tá, tudo bem. É o trem azul, plataforma três. Por favor, não chamem a Gestapo!”, implorou o coordenador.

“Muito bem. Obrigado pela sua colaboração”, Briegel soltou o coordenador, e depois fechou o punho e acertou um potente soco na mandíbula dele. Ele foi jogado contra os móveis, se espatifando no chão. Briegel se aproximou com o olhar raivoso, pronto pra desferir mais um soco nele.

“Espera aí, por favor! Vocês me disseram que iam me deixar viver! Não me matem, por favor!”, implorou o coordenador, já cheio de sangue.

“Eu disse que ia te deixar vivo. Só não prometi te deixar com seus dentes na boca, seu babaca! Vamos torcer pra grana que Sarkin te deu te pagar ao menos uma dentadura!”, disse Briegel, que ainda desferiu uns cinco socos na cara do coordenador.

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