Amber #21 - War is meaningless. Nothing comes out of war.
27 de abril de 1937
12h05
“Por deus…”, disse Briegel enquanto caminhava por Guernica e via a destruição, “Ficou bem pior do que imaginava que estaria”.
Liesl ia na frente, enquanto Briegel e Maggie andavam um ao lado do outro. Briegel estendia a mão diversas vezes oferecendo ajuda pra Maggie caminhar pelos imensos escombros. A cidade tinha um cheiro de coisa queimada misturada com o de carniças podres apodrecendo debaixo do sol e o tempo seco que fazia. O dia anterior havia sido um dia lindo, e muitas pessoas estavam nas ruas para fazer compras. A cidade estava efervescente de vida, e mesmo com os sons da sirene de perigo, muitos simplesmente ignoraram, se tornando alvos fáceis da Legião Condor.
Casas e edifícios inteiros foram ao chão. Em meios aos escombros, corpos. E mesmo os poucos que ficaram parcialmente em pé mostravam que talvez não aguentariam muito tempo. Ás vezes um vento passava e algo desmoronava longe. Aquela era a destruição que a guerra trazia. Muito longe do heroísmo que muitos reivindicavam.
“Olhe ali, Briegel”, disse Maggie, apontando pra um grupo de soldados ao longe, “Eles realmente tomaram a cidade. Parece que o objetivo deles sempre foi aqui mesmo. Guernica era um ponto estratégico de defesa do governo. Mas não imaginava que a Luftwaffe, a força aérea alemã, chegaria ao ponto de tal carnificina. Isso tudo é inacreditável”.
Briegel assentiu com a cabeça. Do lado deles era possível ver diversos corpos soterrados entre os escombros. Rostos desfigurados, pernas saindo pra fora, braços. Homens, mulheres e crianças. Vidas que a partir daquele momento foram ceifadas sem a menor dó. Briegel pensava muito em qual seria o destino daquelas pessoas, quantos sonhos, quantas felicidades foram interrompidas nesse impiedoso ataque áereo
“Então esse é o tal Blitzkrieg que ouvi falar”, disse Briegel.
“Blitzkrieg? ‘Guerra relâmpago’? Como assim?”, perguntou Maggie Braun.
“Tive acesso a alguns documentos de táticas da Luftwaffe nazista, e parece que agora acharam essa maneira de usar aviões, bombardear o local inteiro de maneira brutal e rápida, causando o maior número de vítimas e destruição possíveis”, disse Briegel explicando, enquanto ajudava Maggie a andar pelos escombros, “Assim desestabiliza exércitos no chão, transforma cidades em pó, e fica mais fácil de conquistar ou subjugar as forças armadas do local. É incrível nós sobrevivermos a isso. Você viu a quantidade de aviões que apareceram do nada no céu. Acho que não vamos ter uma sorte dessas de escapar vivos de novo”.
Liesl, que ia na frente, nessa hora deu um grito na frente ao cruzar a esquina do que era uma rua antes do bombardeio. Um grito de pavor. Briegel e Maggie foram correndo até ela.
“Minha nossa!”, disse Briegel ao ver o monte de corpos fedendo na rua e cheios de moscas, “Venha cá, Liesl, não olhe isso”, Briegel a virou e ela o abraçou, e começou a chorar.
“Isso é…”, disse Maggie, que começou a tossir, como se estivesse com vontade de vomitar, “Argh! Isso é algo horrível até de um adulto se ver, imagina uma criança”, disse Maggie, tossindo e cuspindo pela ânsia de vômito ao ver os cadáveres.
“Faces da guerra…”, disse Briegel, “Guerra nunca tem sentido. Nada de bom pode vir da guerra. E tem gente que ainda é capaz de apoiar isso. Talvez sejam idiotas por nunca terem vivido isso. Venha, vamos por aqui. O cheiro deve estar mais fraco do outro lado”.
Briegel continuou caminhando na rua, que estava toda esburacada, se afastando daquela cena tórrida. Liesl enfim estava se acalmando, e Maggie também não estava mais com a aparência apática depois do enjoo por ter visto os corpos largados na rua.
“Ei, coronel? É você?”, disse uma voz ao longe, na frente deles. Era Schultz e Sundermann.
“Schultz, minha nossa, você chegou!”, correu Briegel ao encontro do amigo, dando-lhe um abraço.
“Caramba, enfim te achei! Nossa, eu tava morrendo de medo achando que você tinha morrido nesse bombardeio! A gente tentou de tudo pra chegar aqui, mas parece que todas as estradas e ferrovias estavam fechadas, foi muito complicado chegar aqui! Conseguimos pois viemos juntos com a Cruz vermelha. Você estava aqui na hora que isso tudo rolou?”, disse Schultz, apontando pra destruição.
“Pois é, meu caro. E escapei por muito pouco. Tive foi muita sorte, muita mesmo. Tô até agora com o ouvido com zumbido por causa das explosões”, brincou Briegel.
“Cara, tu não é desse planeta! Você é uma lenda!”, brincou Schultz dando mais um abraço no amigo. Foi nessa hora que ele reparou que haviam uma mulher e uma garota atrás do seu amigo, “E essas aí, quem são? Amigas suas?”.
“Ah, sim. Bom, lembra que um dos engenheiros sequestrados estava no nosso relatório com o nome de ‘M. Braun’?”, disse Briegel, apontando pra Maggie, “Esse é o engenheiro. Ou, no caso, a engenheira”.
Maggie deu alguns passos pra frente e estendeu a mão pra cumprimentar Schultz.
“Muito prazer, sou Margaret Braun. Mas todos me chamam de Maggie”.
“Margaret?”, disse Schultz, brincando e sem acreditar, dando a mão pra Maggie, “E eu pensando que era Manfred, ou sei lá! Eu poderia apostar um almoço! Muito prazer, eu sou Schultz, e aquele ali atrás é o Sundermann”.
“Olha, senhor Schultz, do jeito que estamos com fome eu não negaria um almoço não!”, brincou Maggie.
Sundermann, com cara abatida, foi cumprimentar e deu um sorriso discreto pra Maggie.
“Onde está o Goldberg?”, perguntou Briegel.
“Ficou em Barcelona. Longa estória, mas sabe aquela coisa prateada que brigou com a gente em Munique? Estava em Barcelona, bem no depósito do Sarkin. Era lá também que estava o Gehrig, o engenheiro sequestrado, e ele nos salvou por pouco jogando um elevador em cima daquele bicho!”, contou Schultz.
“Uau. Dá pra escrever um livro só sobre isso”, brincou Briegel, “E cadê o Gehrig?”.
“Morreu. Ele estava num cativeiro péssimo, e estava nas últimas. Tinha até corpos apodrecendo lá. Acabou que ele teve que se matar para que pudessemos sair de lá. Mas ele contou algumas coisas bem tensas, coronel”, disse Schultz.
“Tensas? Como assim?”, perguntou Briegel.
“Acho melhor você se sentar”, disse Schultz, empurrando um escombro e improvisando um banquinho, “Senta aí, esse sol tá me matando!”.
Todos sentaram. Briegel parecia tenso para o que estava prestes a ouvir.
“Coronel, acho que estamos entrando num buraco que não sabemos onde vai dar. Mas agora que estamos olhando pro buraco, queria saber se você estaria disposto a ir a fundo nisso comigo, até o final. Porque, acredite, tem muita coisa estranha. Muita mesmo. E acho que é apenas o começo”, disse Schultz.
“Óbvio que eu quero investigar isso até o final. Nem precisava perguntar. O que o Gehrig falou?”, perguntou Briegel.
“Bom, você achava que era o Himmler que estava por detrás disso tudo, mas pelo que Gehrig falou, eles são apenas a ponta do iceberg. Existem pessoas que estão manipulando até mesmo o governo. Manipulando até mesmo os nazistas”, disse Schultz. Nessa hora Briegel arregalou os olhos, surpreso, “E antes dele morrer, ele nos deu um nome, de uma pessoa que estaria aqui inclusive”.
“E que nome era esse?”, perguntou Briegel. Schultz então prontamente respondeu:
“Oliver Raines”.
12h05
“Por deus…”, disse Briegel enquanto caminhava por Guernica e via a destruição, “Ficou bem pior do que imaginava que estaria”.
Liesl ia na frente, enquanto Briegel e Maggie andavam um ao lado do outro. Briegel estendia a mão diversas vezes oferecendo ajuda pra Maggie caminhar pelos imensos escombros. A cidade tinha um cheiro de coisa queimada misturada com o de carniças podres apodrecendo debaixo do sol e o tempo seco que fazia. O dia anterior havia sido um dia lindo, e muitas pessoas estavam nas ruas para fazer compras. A cidade estava efervescente de vida, e mesmo com os sons da sirene de perigo, muitos simplesmente ignoraram, se tornando alvos fáceis da Legião Condor.
Casas e edifícios inteiros foram ao chão. Em meios aos escombros, corpos. E mesmo os poucos que ficaram parcialmente em pé mostravam que talvez não aguentariam muito tempo. Ás vezes um vento passava e algo desmoronava longe. Aquela era a destruição que a guerra trazia. Muito longe do heroísmo que muitos reivindicavam.
“Olhe ali, Briegel”, disse Maggie, apontando pra um grupo de soldados ao longe, “Eles realmente tomaram a cidade. Parece que o objetivo deles sempre foi aqui mesmo. Guernica era um ponto estratégico de defesa do governo. Mas não imaginava que a Luftwaffe, a força aérea alemã, chegaria ao ponto de tal carnificina. Isso tudo é inacreditável”.
Briegel assentiu com a cabeça. Do lado deles era possível ver diversos corpos soterrados entre os escombros. Rostos desfigurados, pernas saindo pra fora, braços. Homens, mulheres e crianças. Vidas que a partir daquele momento foram ceifadas sem a menor dó. Briegel pensava muito em qual seria o destino daquelas pessoas, quantos sonhos, quantas felicidades foram interrompidas nesse impiedoso ataque áereo
“Então esse é o tal Blitzkrieg que ouvi falar”, disse Briegel.
“Blitzkrieg? ‘Guerra relâmpago’? Como assim?”, perguntou Maggie Braun.
“Tive acesso a alguns documentos de táticas da Luftwaffe nazista, e parece que agora acharam essa maneira de usar aviões, bombardear o local inteiro de maneira brutal e rápida, causando o maior número de vítimas e destruição possíveis”, disse Briegel explicando, enquanto ajudava Maggie a andar pelos escombros, “Assim desestabiliza exércitos no chão, transforma cidades em pó, e fica mais fácil de conquistar ou subjugar as forças armadas do local. É incrível nós sobrevivermos a isso. Você viu a quantidade de aviões que apareceram do nada no céu. Acho que não vamos ter uma sorte dessas de escapar vivos de novo”.
Liesl, que ia na frente, nessa hora deu um grito na frente ao cruzar a esquina do que era uma rua antes do bombardeio. Um grito de pavor. Briegel e Maggie foram correndo até ela.
“Minha nossa!”, disse Briegel ao ver o monte de corpos fedendo na rua e cheios de moscas, “Venha cá, Liesl, não olhe isso”, Briegel a virou e ela o abraçou, e começou a chorar.
“Isso é…”, disse Maggie, que começou a tossir, como se estivesse com vontade de vomitar, “Argh! Isso é algo horrível até de um adulto se ver, imagina uma criança”, disse Maggie, tossindo e cuspindo pela ânsia de vômito ao ver os cadáveres.
“Faces da guerra…”, disse Briegel, “Guerra nunca tem sentido. Nada de bom pode vir da guerra. E tem gente que ainda é capaz de apoiar isso. Talvez sejam idiotas por nunca terem vivido isso. Venha, vamos por aqui. O cheiro deve estar mais fraco do outro lado”.
Briegel continuou caminhando na rua, que estava toda esburacada, se afastando daquela cena tórrida. Liesl enfim estava se acalmando, e Maggie também não estava mais com a aparência apática depois do enjoo por ter visto os corpos largados na rua.
“Ei, coronel? É você?”, disse uma voz ao longe, na frente deles. Era Schultz e Sundermann.
“Schultz, minha nossa, você chegou!”, correu Briegel ao encontro do amigo, dando-lhe um abraço.
“Caramba, enfim te achei! Nossa, eu tava morrendo de medo achando que você tinha morrido nesse bombardeio! A gente tentou de tudo pra chegar aqui, mas parece que todas as estradas e ferrovias estavam fechadas, foi muito complicado chegar aqui! Conseguimos pois viemos juntos com a Cruz vermelha. Você estava aqui na hora que isso tudo rolou?”, disse Schultz, apontando pra destruição.
“Pois é, meu caro. E escapei por muito pouco. Tive foi muita sorte, muita mesmo. Tô até agora com o ouvido com zumbido por causa das explosões”, brincou Briegel.
“Cara, tu não é desse planeta! Você é uma lenda!”, brincou Schultz dando mais um abraço no amigo. Foi nessa hora que ele reparou que haviam uma mulher e uma garota atrás do seu amigo, “E essas aí, quem são? Amigas suas?”.
“Ah, sim. Bom, lembra que um dos engenheiros sequestrados estava no nosso relatório com o nome de ‘M. Braun’?”, disse Briegel, apontando pra Maggie, “Esse é o engenheiro. Ou, no caso, a engenheira”.
Maggie deu alguns passos pra frente e estendeu a mão pra cumprimentar Schultz.
“Muito prazer, sou Margaret Braun. Mas todos me chamam de Maggie”.
“Margaret?”, disse Schultz, brincando e sem acreditar, dando a mão pra Maggie, “E eu pensando que era Manfred, ou sei lá! Eu poderia apostar um almoço! Muito prazer, eu sou Schultz, e aquele ali atrás é o Sundermann”.
“Olha, senhor Schultz, do jeito que estamos com fome eu não negaria um almoço não!”, brincou Maggie.
Sundermann, com cara abatida, foi cumprimentar e deu um sorriso discreto pra Maggie.
“Onde está o Goldberg?”, perguntou Briegel.
“Ficou em Barcelona. Longa estória, mas sabe aquela coisa prateada que brigou com a gente em Munique? Estava em Barcelona, bem no depósito do Sarkin. Era lá também que estava o Gehrig, o engenheiro sequestrado, e ele nos salvou por pouco jogando um elevador em cima daquele bicho!”, contou Schultz.
“Uau. Dá pra escrever um livro só sobre isso”, brincou Briegel, “E cadê o Gehrig?”.
“Morreu. Ele estava num cativeiro péssimo, e estava nas últimas. Tinha até corpos apodrecendo lá. Acabou que ele teve que se matar para que pudessemos sair de lá. Mas ele contou algumas coisas bem tensas, coronel”, disse Schultz.
“Tensas? Como assim?”, perguntou Briegel.
“Acho melhor você se sentar”, disse Schultz, empurrando um escombro e improvisando um banquinho, “Senta aí, esse sol tá me matando!”.
Todos sentaram. Briegel parecia tenso para o que estava prestes a ouvir.
“Coronel, acho que estamos entrando num buraco que não sabemos onde vai dar. Mas agora que estamos olhando pro buraco, queria saber se você estaria disposto a ir a fundo nisso comigo, até o final. Porque, acredite, tem muita coisa estranha. Muita mesmo. E acho que é apenas o começo”, disse Schultz.
“Óbvio que eu quero investigar isso até o final. Nem precisava perguntar. O que o Gehrig falou?”, perguntou Briegel.
“Bom, você achava que era o Himmler que estava por detrás disso tudo, mas pelo que Gehrig falou, eles são apenas a ponta do iceberg. Existem pessoas que estão manipulando até mesmo o governo. Manipulando até mesmo os nazistas”, disse Schultz. Nessa hora Briegel arregalou os olhos, surpreso, “E antes dele morrer, ele nos deu um nome, de uma pessoa que estaria aqui inclusive”.
“E que nome era esse?”, perguntou Briegel. Schultz então prontamente respondeu:
“Oliver Raines”.
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