Amber #47 - General Briegel

Era Heinrich. Heinrich Briegel. Liesl ao ver o pai de Briegel ficou assustada com a semelhança física: Heinrich tinha feições idênticas às do coronel Briegel, apenas tinha a idade avançada, rugas e cabelos completamente brancos. Mas não tinha como confundir, eram de fato idênticos. A talvez única grande diferença era uma cicatriz vertical na testa do lado direito. Talvez resultado das várias guerras em que combateu, incluindo a Primeira Guerra Mundial, onde se sagrou um herói de guerra. E o seu rosto também era extremamente carrancudo, nada da feição simpática e tranquila que o filho Roland tinha.

“Chega disso, meu pai não dá, Liesl, vamos embora”, disse Briegel, puxando Liesl,  “Deve ter outra pessoa que tenha pistas sobre Oliver Raines. Eu devia ter imaginado! Meu pai devia estar envolvido nisso, como sou burro!”, nessa hora Liesl parou Briegel, segurando-o, “Me deixa, Liesl! Você não conhece meu pai, ele é um idiota!”.

“Coronel, viemos até aqui, não podemos voltar de mãos abanando! Por favor, faça um esforço! Deve ter um motivo pros dois estarem juntos!”, disse Liesl, tentando acalmar Briegel.

“Ora, vai dizer que virou homem? Veio jogar? Um frouxo igual você por aqui é muito estranho”.

Roland Briegel estava tão fora de si que sequer viu seu próprio pai se aproximando, atrás de Liesl.

“Pai...?”, disse Briegel, assustado, ao reconhecer a voz dele. Ele se virou e viu sua feição. Mesmo sendo poucos centímetros mais alto que Roland, Heinrich Briegel parecia um titã perto de um ser humano.

“O que foi? Tem alguma coisa na minha cara, seu vagabundo?”, disse Heinrich Briegel, grosso, “Veio se juntar aos outros da sua laia, seu cãozinho do Hitler?”.

“Eu não sou um cãozinho de Hitler”, disse Roland Briegel, olhando pro lado com desgosto, peitando seu pai.

“É sim. Você é um pedaço de merda. Eu devia ter arrancado a outra bola daquele imbecil do Hitler quando tive chance na guerra. Agora ele se acha o novo kaiser. Se eu tivesse cinco minutos com aquele merdinha eu colocava ele no lugar dele”, disse Heinrich Briegel.

Esses momentos em que encontrava seu pai eram sempre horríveis pra Roland Briegel. Por mais que ele se esforçasse, ele sentia que não conseguia ser o sucesso que seu pai sempre fora. Heinrich Briegel era imbatível em tudo. Herói de guerra condecorado, anos servindo a Alemanha, reputação impecável, família perfeita, não havia nada, absolutamente nada de imperfeito nele. A sombra que ele fazia contra seu filho problemático – o próprio Roland – era tão ameaçadora que ofuscava qualquer tentativa de sucesso. Briegel era sempre o filho vagabundo, irresponsável, incapaz e problemático, não importasse o quanto ele lutasse pra provar o contrário.

“Bom, com licença então. Não dependo de você, tenho meu trabalho, e prefiro me retirar. Com licen-”.

“Trabalho? Você chama aquilo de trabalho?”, bufou Heinrich, em tom de humilhação, “Você nem sabe o que é trabalhar. Vive na mamata. Nunca lutou numa guerra, viveu nas minhas custas, e nunca foi um bom filho como eram seus irmãos e irmãs. Queria que você fosse igual à Brigitte. Essa sim é uma boa filha”.

“Pai, chega disso, não começa...”, disse Roland Briegel. Ele detestava que o comparasse com a primogênita.

“Senhor Briegel?”, disse Ursel Meyer para Roland, aparecendo de súbito, “Acho que é melhor sairmos. Não sabia que o senhor iria trazer sua filha, aquela dama negra sentada logo ali. Ela pode causar problemas no meio de tantos nazistas”.

Do outro lado, perto da bancada de onde serviam as bebidas, Max estava tendo problemas por estar com Alice, sua esposa.

“Como um alemão loiro, rico e que pode ter qualquer mulher vai escolher uma pretinha nojenta como essa?”, disse um dos oficiais nazistas, provocando Max e Alice, que estavam sentados na frente do bar, “Não tem mais loiras na Alemanha? Aqui na Áustria tem as da melhor qualidade! Não quer trocar ela por duas ou três?”.

Max apenas fingia que não ouvia, Alice olhava, encarando o oficial, sem dizer nada.

“Alice, filha, vamos indo?”, disse Briegel, chamando-a gentilmente, “Max, pode pagar e nos encontrar lá fora, por gentileza?”.

Max ficou mais aliviado ao ver Briegel e assentiu com a cabeça. Alice foi junto de seu pai enquanto Max pagava. Mas o oficial nazista não deixou barato.

“Ei, se não é a lenda, coronel Briegel. Espera aí, coronel!”, gritou o nazista. Nessa mesma hora dois outros soldados apareceram na frente de Briegel, bloqueando seu caminho, “Você pode ser o maioral lá na Alemanha. Mas aqui somos nós que mandamos”.

Nessa hora Briegel se viu encurralado. O único jeito seria apelar pra Liesl, mas ela estava longe.

“Algum problema, cavalheiros?”.

Era Heinrich Briegel. Os oficiais nazistas ficaram atônicos. Não havia alguém mais imponente que o próprio General Briegel. Talvez até mesmo se o próprio Hitler estivesse lá os oficiais teriam dúvidas se obedeceriam o Führer ou Heinrich Briegel. Se Roland Briegel era chamado de lenda pelos militares alemães, Heinrich Briegel era sem dúvida um deus vivo.

“Meyer, vamos para minha casa”, disse Heinrich, caminhando com sua bengala. Nenhum oficial nazista abriu a boca, todos simplesmente saíram de cena, deixando Roland Briegel e Alice em paz, “Traga esse inútil do meu filho e quem mais esteja com ele”.

Roland Briegel podia detestar seu pai. Mas era inegável que Heinrich Briegel era imbatível, como um rolo compressor por onde passava. Isso dava um sentimento conflitante em seu coração. Ao mesmo tempo que tinha uma certa admiração por seu pai, tinha também um medo enorme da pessoa que ele representava.

Roland poderia ter o apelido de coronel, mas o general era sem dúvida seu pai.

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