O ímpeto perdido.


Esses dias eu estava conversando com meu amigo Odirlei que eu estava vivendo um momento incomum na minha vida. Eu sempre me senti uma pessoa sozinha, mesmo tendo sido abençoado com os melhores amigos do mundo. Sempre senti que me faltava aquela que seria mais que uma amiga, uma companheira amorosa. E desde talvez minha primeira paixão quando eu tinha meus sete anos, nunca passou um tempo em que eu não nutrisse nenhum interesse amoroso por nenhuma garota. Até agora.

Sempre foi muito assunto na terapia a minha busca por uma namorada. E acho que minha psicóloga gostava de tratar esse assunto comigo pois ela sempre dizia que eu era uma pessoa que precisava de uma companheira. Todo mundo precisa de alguém do seu lado, e acho que muitas vezes a tática dela era incentivar isso para que eu deslanchasse nos outros campos da vida que eu estou atrasado, afinal a busca por um amor me fez sempre ter esperanças em dias melhores.

Afinal né, quem nunca viu o mundo colorido quando estamos apaixonadinhos?

Apesar de tudo eu sinto muita vergonha de dizer que mesmo hoje, aos trinta e seis anos, eu nunca tive a chance de viver isso. Já fiquei com algumas garotas, já beijei, já transei, mas nunca o negócio engrenou. Acho que o maior tempo que eu fiquei com alguém foi nem um mês. E isso é muito rápido, você não consegue desenvolver algo com ninguém mais sério nesse tempo, pois eu sempre quis experimentar o pacote completo — uma namorada que fosse minha amiga, minha amante, que fosse carinhosa, mas também me fizesse crescer, apontasse onde eu estava errado, que brigássemos, enfim, eu sinto falta de viver tudo isso, tanto as coisas boas quanto as ruins.

Minha psicóloga sempre perguntava algo como "qual a garota que está no seu radar dessa vez?", e já foi um pouco de tudo. Desde aleatórias que encontrava na cafeteria regularmente, garotas que frequentam o templo budista, menina do clube do livro, algum contato antigo que voltava a amizade, enfim. Acho que no fundo a minha terapeuta gostava de ouvir minhas histórias.

Quem sabe eu devia escrever um livro? Meu medo é acabar virando uma versão de Ted Mosby tupiniquim.

No entanto algo de diferente está se passando comigo agora. Eu não estou atualmente interessado em ninguém. E isso me é tão estranho, pois eu nunca tive isso na minha vida.

A história da minha vida muitas vezes se resume a: fico interessado por alguma menina, me aproximo, dou investidas, saímos, mas nunca rola nada. E esse "nada" é nem mesmo um beijinho. As únicas vezes que eu tive algum tipo de affair foi muito mais por iniciativa delas do que o contrário o que me faz pensar que todas elas me diziam que procuravam um relacionamento sério, mas na verdade só me diziam isso pois queriam me comer.

Será que isso é um sinal de que minha depressão está agravada, ou apenas é maturidade?

Estar apaixonado por uma mulher sempre era algo que me fazia querer levantar todos os dias. Eu contava os dias para encontrar com a garota pelo qual eu tivesse algum interesse amoroso, e mesmo o tempo parecendo rápido, sempre eram experiências marcantes — dessas que depois eu lembrava do quão feliz eu estava ao lado dela, mesmo que depois me batesse uma bad desgraçada com vontade de vê-la novamente.

Mas agora... Não. Não vejo ninguém que esteja interessado. E como nunca fiquei assim, sinto que tem algo de errado acontecendo comigo.

Talvez a última mulher que me fez sentir esse ímpeto foi a espanhola. Mas as conversas foram ficando mais espaçadas, cada vez mais rareando, e hoje raramente a gente conversa. Ela até veio algumas vezes pro Brasil, mas nunca rolou da gente se encontrar pra almoçar e se ver. E como eu não saio de casa muito, aí os contatos se limitam muito ao online. Tinder então, aquilo parece mais morto que Facebook.

A questão é que sempre o local que eu frequentava sempre foi ali um berço para que novas paixões acontecessem. Tome por exemplo o templo budista: volta e meia eu sempre me interessava por alguma garota ali. Mas como minha amiga Naiara sempre me dizia: o local que a gente frequenta invariavelmente se torna um local onde a gente busca relacionamentos, mas não quer dizer que você vai encontrá-los lá.

Afinal foi lá que conheci a canção que toca nosso coração, e cara, como aquilo foi forte. Acho que foi a paixão que mais me desarmou em toda a vida. E advinha só? Não deu certo, pois se tivesse dado certo, eu não estaria escrevendo isso aqui!

Eu espero que seja maturidade mesmo, e não algo relacionado à depressão.

Comentários

Postagens mais visitadas