Amber #126 - Suspicious Minds (3) - 火风暴 [Tempestade de fogo]
7 de dezembro de 1939
12h50
Todos a essa hora já haviam almoçado na mansão de Cheng. Tsai estava no jardim junto de Schultz de olho em Saldaña, que estava fora do seu quarto-prisão, tomando um banho de sol no gramado dos fundos da mansão de Cheng. Obviamente foi Tsai e Schultz que permitiram que o americano tivesse essa regalia, e ficavam de olho em cada passo que ele dava no gramado.
“Olha só o jeito como ele pisa na grama. Parece que é ele quem manda aqui, sem cuidado algum”, disse Schultz, baixinho para que apenas Tsai ouvisse, “Queria ver se fosse o gramado na casa dele”.
Tsai assentiu com a cabeça, mas continuava de olho em Saldaña, que ia de um lado para o outro. Observava a grama, olhava para cima, para o céu, olhando aqueles parcos raios de sol daquele começo de inverno na China que conseguiam atravessar as muitas nuvens do céu. A prepotência do americano continuava sendo expressada pelas suas passadas, sempre sem a menor dó da grama.
“Saldaña, o que é que você tem?”, perguntou Tsai, sem tom de raiva na sua fala, apenas mesmo dúvida querendo entender o que se passava na cabeça do americano, “Por que você é assim?”.
“Não entendi o que você perguntou”, disse Saldaña.
“Perguntei por que você é assim. Dá pra ver o jeito que você caminha no meio desse gramado. Parece que você se sente feliz em pisar nas pobres formigas, suas passadas são todas pesadas”, explicou Tsai.
Saldaña nesse momento parou e olhou para seus pés. Na sua opinião a única coisa diferente que tinha era que estava cheia de terra, depois de caminhar sobre a grama. Mas Schultz e Tsai, que eram pessoas extremamente observadoras, repararam na diferença dos passos de Saldaña antes e depois. Para os dois, era mais do que óbvio essa diferença no jeito de caminhar do americano.
“Você com certeza está vendo coisas. Esse é o meu jeito de andar sempre”, Saldaña se defendeu, “É verdade que eu nunca escondi que não gosto nem um pouco de vocês com esses olhos rasgados, mas não é justo vocês terem esse julgamento sobre mim, em suposições, e não em fatos”.
O americano dizia isso com uma cara de falsa inocência incrível. Era óbvio que era forçado, uma vez que suas sobrancelhas e seu rosto estavam arrebitados. Parecia intimidador, como se Schultz e Tsai o estivessem interrogando e ele tentasse se defender. Não era o jeito que uma pessoa que realmente fosse inocente - e estivesse fazendo aquilo sem querer - expressaria.
“Eu digo isso porque vocês já têm um preconceito sobre mim, e qualquer coisa, por mais pequena que seja, vocês podem me julgar como errado, uma vez que minha ideologia é totalmente contrária a de vocês”, disse Saldaña, os encarando com um tom intimidador, “Francamente isso é muito feio. Vocês estão vendo coisas”.
“Tá bom, então eu quero perguntar uma coisa. O que era aquele ser que cospe fogo?”, perguntou Schultz, impaciente, cruzando os braços.
“Com certeza foi algo mandado para me resgatar”, disse Saldaña, carregado de ironia na sua fala.
“Não é essa a pergunta, Saldaña. Por que aquele ser foi atrás da gente?”, repetiu Schultz.
“Não me olhem com essa cara, eu não sabia que aquilo iria me resgatar”, explicou Saldaña.
“Como assim? Então você sabe o que era aquilo!”, disse Schultz.
“Não. Não tenho a mínima ideia do que era aquilo”, disse Saldaña.
“Seu cínico! Você acabou de dizer que não sabia que era aquilo iria te resgatar! Você sabe o que era aquilo, por que então não diz? Aquela merda poderia ter nos matado! Aquele ser cuspia fogo como se não houvesse amanhã!!”, gritou Schultz, mas Saldaña não se abalava.
“Um ser que cuspia fogo?”, perguntou Cheng, se aproximando, andando devagar com sua bengala.
Tsai o cumprimentou com a cabeça, enquanto Schultz apenas o fitou, ainda enfurecido com a cara de pau de Saldaña.
“Sim, senhor Cheng”, disse Tsai, ainda sentada, apenas virando o rosto para Cheng, “Desculpa, não contamos antes, foi tudo muito rápido”, e Tsai então tirou do seu bolso uma das fotos que tinha daquele estranho ser, para mostrar para Cheng, “É essa coisa da foto aqui. Não temos ideia do que seja isso, mas isso nos interceptou na nossa vinda para Pequim”.
Cheng deu uma olhada demorada na foto e cerrou os olhos. Sua expressão ficou bem arisca, e então ele olhou para Saldaña.
“Huo-fengbao”, disse Cheng, e Saldaña ao ouvir deu um risinho.
“Hã? Que cara é essa?”, perguntou Schultz, encarando Saldaña, que ficou em silêncio sorrindo sarcasticamente para Cheng. O alemão olhou para Cheng, que continuou em silêncio e depois olhou de novo para Saldaña. Schultz não dominava completamente o mandarim, e detestava quando chegava esses momentos que diziam coisas que ele não entendia o que queriam dizer.
“Relaxa, chucrute”, disse Saldaña para Schultz, “O chinês aí disse o nome que o pessoal daqui deu para chamar este ser que cospe chamas”.
“Então você conhecia? Da onde?” perguntou Tsai para o velho Cheng.
“Eu vi essa foto já. E um dos meus soldados já viu o tanto de destruição que este ser pode fazer. A verdade é que pouquíssimos sobrevivem quando encontra o Huo-fengbao”, disse Cheng, falando pausadamente, mas com um certo tom de temor. O velho se virou para Schultz, para explicar o que significava o nome: “Ou ‘tempestade de fogo’, para que você consiga entender o que esse nome significa”, e então o velho Cheng se voltou para Saldaña: “Mas você sabe do que se trata. Você sabe o que é isso que cospe fogo, seja lá o que isso seja. O que me leva a concluir outra coisa…”, disse Cheng, e nesse momento ele olhou para Tsai, que confirmou com a cabeça ao olhar para Cheng.
“Você estava atrás do Chao”, disse Tsai, e então Saldaña se surpreendeu.
“Bingo! Acabaram com a graça do palhaço aqui! Pensei que vocês só iriam concluir isso em 1960!”, disse Saldaña, batendo pesadas palmas, ironizando a conclusão que haviam chegado, “Então vocês também vão conseguir descobrir o que o Chao tinha que eu estava atrás”.
Por alguns segundos Tsai e Schultz ficaram em silêncio, pensando. E então, quase que no mesmo momento, o pensamento dos dois se encontraram. O que Saldaña estava atrás era os negativos de Huang que o levaria até o suposto dinheiro que o mesmo roubou de Chao! Schultz e Tsai se olharam, como se estivessem falando em pensamento. Um olhar decidido, sem expressar muita coisa, mas que para ambos sabiam exatamente o que queriam dizer.
Porém Saldaña não sabia que Huang os havia roubado. Eles sabiam que o americano também não sabia disso. O jeito era dissimular. Saldaña não podia saber que o que ele queria tirar de Chao estava em poder de Huang agora.
“E o que é essa coisa que você estava atrás que o Chao tinha?”, perguntou Tsai, fingindo que não sabia o que era.
“É óbvio que eu não vou dizer”, disse Saldaña, e nessa hora Schultz o encarou, fingindo estar brabo. Mas Saldaña parecia estar com a situação em mãos, e continuava agindo como um déspota, com o nariz empinado, “Mas é para algo grande. Algo tão grande quanto o Huo-fengbao, ou como chamam aqui, o ‘tempestade de fogo’”.
“Algo tão grande quanto? Um outro igual? Uma nova versão?”, perguntou Tsai, e Saldaña deu um riso, balançando negativamente a cabeça.
“Vocês são uns bandos de zé-ninguém que tiveram sorte de me capturar. Do que adiantaria se vocês soubessem? Vocês têm influência zero, vocês não podem fazer nada, e sequer podem fazer algo por si mesmos”, disse Saldaña, fechando o punho a frente do corpo ameaçadoramente, “Vocês são formigas que capturaram um deus por mero acaso do destino. Mesmo se soubessem, nada poderia ser feito. Podem acreditar no que quiserem, apenas tenham em mente que vocês nunca imaginariam o que está por vir. E vocês não podem fazer absolutamente nada”.
12h50
Todos a essa hora já haviam almoçado na mansão de Cheng. Tsai estava no jardim junto de Schultz de olho em Saldaña, que estava fora do seu quarto-prisão, tomando um banho de sol no gramado dos fundos da mansão de Cheng. Obviamente foi Tsai e Schultz que permitiram que o americano tivesse essa regalia, e ficavam de olho em cada passo que ele dava no gramado.
“Olha só o jeito como ele pisa na grama. Parece que é ele quem manda aqui, sem cuidado algum”, disse Schultz, baixinho para que apenas Tsai ouvisse, “Queria ver se fosse o gramado na casa dele”.
Tsai assentiu com a cabeça, mas continuava de olho em Saldaña, que ia de um lado para o outro. Observava a grama, olhava para cima, para o céu, olhando aqueles parcos raios de sol daquele começo de inverno na China que conseguiam atravessar as muitas nuvens do céu. A prepotência do americano continuava sendo expressada pelas suas passadas, sempre sem a menor dó da grama.
“Saldaña, o que é que você tem?”, perguntou Tsai, sem tom de raiva na sua fala, apenas mesmo dúvida querendo entender o que se passava na cabeça do americano, “Por que você é assim?”.
“Não entendi o que você perguntou”, disse Saldaña.
“Perguntei por que você é assim. Dá pra ver o jeito que você caminha no meio desse gramado. Parece que você se sente feliz em pisar nas pobres formigas, suas passadas são todas pesadas”, explicou Tsai.
Saldaña nesse momento parou e olhou para seus pés. Na sua opinião a única coisa diferente que tinha era que estava cheia de terra, depois de caminhar sobre a grama. Mas Schultz e Tsai, que eram pessoas extremamente observadoras, repararam na diferença dos passos de Saldaña antes e depois. Para os dois, era mais do que óbvio essa diferença no jeito de caminhar do americano.
“Você com certeza está vendo coisas. Esse é o meu jeito de andar sempre”, Saldaña se defendeu, “É verdade que eu nunca escondi que não gosto nem um pouco de vocês com esses olhos rasgados, mas não é justo vocês terem esse julgamento sobre mim, em suposições, e não em fatos”.
O americano dizia isso com uma cara de falsa inocência incrível. Era óbvio que era forçado, uma vez que suas sobrancelhas e seu rosto estavam arrebitados. Parecia intimidador, como se Schultz e Tsai o estivessem interrogando e ele tentasse se defender. Não era o jeito que uma pessoa que realmente fosse inocente - e estivesse fazendo aquilo sem querer - expressaria.
“Eu digo isso porque vocês já têm um preconceito sobre mim, e qualquer coisa, por mais pequena que seja, vocês podem me julgar como errado, uma vez que minha ideologia é totalmente contrária a de vocês”, disse Saldaña, os encarando com um tom intimidador, “Francamente isso é muito feio. Vocês estão vendo coisas”.
“Tá bom, então eu quero perguntar uma coisa. O que era aquele ser que cospe fogo?”, perguntou Schultz, impaciente, cruzando os braços.
“Com certeza foi algo mandado para me resgatar”, disse Saldaña, carregado de ironia na sua fala.
“Não é essa a pergunta, Saldaña. Por que aquele ser foi atrás da gente?”, repetiu Schultz.
“Não me olhem com essa cara, eu não sabia que aquilo iria me resgatar”, explicou Saldaña.
“Como assim? Então você sabe o que era aquilo!”, disse Schultz.
“Não. Não tenho a mínima ideia do que era aquilo”, disse Saldaña.
“Seu cínico! Você acabou de dizer que não sabia que era aquilo iria te resgatar! Você sabe o que era aquilo, por que então não diz? Aquela merda poderia ter nos matado! Aquele ser cuspia fogo como se não houvesse amanhã!!”, gritou Schultz, mas Saldaña não se abalava.
“Um ser que cuspia fogo?”, perguntou Cheng, se aproximando, andando devagar com sua bengala.
Tsai o cumprimentou com a cabeça, enquanto Schultz apenas o fitou, ainda enfurecido com a cara de pau de Saldaña.
“Sim, senhor Cheng”, disse Tsai, ainda sentada, apenas virando o rosto para Cheng, “Desculpa, não contamos antes, foi tudo muito rápido”, e Tsai então tirou do seu bolso uma das fotos que tinha daquele estranho ser, para mostrar para Cheng, “É essa coisa da foto aqui. Não temos ideia do que seja isso, mas isso nos interceptou na nossa vinda para Pequim”.
Cheng deu uma olhada demorada na foto e cerrou os olhos. Sua expressão ficou bem arisca, e então ele olhou para Saldaña.
“Huo-fengbao”, disse Cheng, e Saldaña ao ouvir deu um risinho.
“Hã? Que cara é essa?”, perguntou Schultz, encarando Saldaña, que ficou em silêncio sorrindo sarcasticamente para Cheng. O alemão olhou para Cheng, que continuou em silêncio e depois olhou de novo para Saldaña. Schultz não dominava completamente o mandarim, e detestava quando chegava esses momentos que diziam coisas que ele não entendia o que queriam dizer.
“Relaxa, chucrute”, disse Saldaña para Schultz, “O chinês aí disse o nome que o pessoal daqui deu para chamar este ser que cospe chamas”.
“Então você conhecia? Da onde?” perguntou Tsai para o velho Cheng.
“Eu vi essa foto já. E um dos meus soldados já viu o tanto de destruição que este ser pode fazer. A verdade é que pouquíssimos sobrevivem quando encontra o Huo-fengbao”, disse Cheng, falando pausadamente, mas com um certo tom de temor. O velho se virou para Schultz, para explicar o que significava o nome: “Ou ‘tempestade de fogo’, para que você consiga entender o que esse nome significa”, e então o velho Cheng se voltou para Saldaña: “Mas você sabe do que se trata. Você sabe o que é isso que cospe fogo, seja lá o que isso seja. O que me leva a concluir outra coisa…”, disse Cheng, e nesse momento ele olhou para Tsai, que confirmou com a cabeça ao olhar para Cheng.
“Você estava atrás do Chao”, disse Tsai, e então Saldaña se surpreendeu.
“Bingo! Acabaram com a graça do palhaço aqui! Pensei que vocês só iriam concluir isso em 1960!”, disse Saldaña, batendo pesadas palmas, ironizando a conclusão que haviam chegado, “Então vocês também vão conseguir descobrir o que o Chao tinha que eu estava atrás”.
Por alguns segundos Tsai e Schultz ficaram em silêncio, pensando. E então, quase que no mesmo momento, o pensamento dos dois se encontraram. O que Saldaña estava atrás era os negativos de Huang que o levaria até o suposto dinheiro que o mesmo roubou de Chao! Schultz e Tsai se olharam, como se estivessem falando em pensamento. Um olhar decidido, sem expressar muita coisa, mas que para ambos sabiam exatamente o que queriam dizer.
Porém Saldaña não sabia que Huang os havia roubado. Eles sabiam que o americano também não sabia disso. O jeito era dissimular. Saldaña não podia saber que o que ele queria tirar de Chao estava em poder de Huang agora.
“E o que é essa coisa que você estava atrás que o Chao tinha?”, perguntou Tsai, fingindo que não sabia o que era.
“É óbvio que eu não vou dizer”, disse Saldaña, e nessa hora Schultz o encarou, fingindo estar brabo. Mas Saldaña parecia estar com a situação em mãos, e continuava agindo como um déspota, com o nariz empinado, “Mas é para algo grande. Algo tão grande quanto o Huo-fengbao, ou como chamam aqui, o ‘tempestade de fogo’”.
“Algo tão grande quanto? Um outro igual? Uma nova versão?”, perguntou Tsai, e Saldaña deu um riso, balançando negativamente a cabeça.
“Vocês são uns bandos de zé-ninguém que tiveram sorte de me capturar. Do que adiantaria se vocês soubessem? Vocês têm influência zero, vocês não podem fazer nada, e sequer podem fazer algo por si mesmos”, disse Saldaña, fechando o punho a frente do corpo ameaçadoramente, “Vocês são formigas que capturaram um deus por mero acaso do destino. Mesmo se soubessem, nada poderia ser feito. Podem acreditar no que quiserem, apenas tenham em mente que vocês nunca imaginariam o que está por vir. E vocês não podem fazer absolutamente nada”.
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