Livros 2023 #10 - Canção para ninar menino grande (2018)
Aproveitei o Prime Day e dei de aniversário para mim um Kindle! Em outro post eu conto como está sendo usar esse novo brinquedinho. Mas para estreá-lo comprei um livro da lendária Conceição Evaristo para lermos no nosso clube do livro paralelo. Ainda não a conhecia, mas foi um dos melhores achados literários desse ano, com certeza!
O livro da Conceição escolhido foi "Canção para ninar menino grande". A autora dispensa apresentações, talvez o maior ícone da literatura feminina negra da atualidade, Conceição Evaristo escreve um livro que é o significado da perfeição:
Se você acha que livros têm uma linguagem difícil, muito lero-lero, esse livro é pra você! Pois o jeito que a Conceição usa as palavras simples, muito bem colocadas, e de fácil leitura, mostra o quão hábil ela é. É muito difícil escrever com tanta profundidade e ser tão acessível — especialmente para quem não tem o hábito da leitura. Além de uma leitura que vai te carregar por toda a história, cada página vai te prender, pois toda a trama ali é muito bem construída. Tudo parece muito vivo e real, como se puxasse lembranças de pessoas que passaram por algo parecido, se não nós mesmos. A gente não consegue parar de ler!
Os personagens também são inesquecíveis. Todas sempre marcadas por nomes tão comuns quanto as coisas que acontecem com todas elas. Juventinas, Dalvas, Dolores, Marias, etc. E todas suas vidas rodam em volta do homem que liga todas as estórias: Fio Jasmim. E juntas de todas histórias das personagens, parece que abre-se um novo mundo, situações diferentes, motivações distintas, mas o destino sempre (ou quase) o mesmo. Tédio é uma coisa que nunca se vai encontrar na obra da Conceição.
O livro conta a história de Fio Jasmin, um maquinista de trem que anda de cidade em cidade a trabalho, mas em cada cidade diferente que é cortada por esse ramal, ele sempre conhece uma nova mulher. E vive ali alguma história com elas. Apesar dele ser um personagem que tem uma relação com todas as mulheres retratadas no livro, as protagonistas são obviamente as mulheres. Pois, como eu disse antes, cada uma tem uma vida totalmente diferente da outra, e as motivações que as fazem se envolver com o Fio Jasmin é sempre algo que é envolvido com suas próprias trajetórias pessoais, que vão desde sonhos, personalidades, e até suas fraquezas. E Fio Jasmin parece ser a pessoa que rapidamente se liga no que todas são, e usa em seu proveito para achar uma maneira de conquistá-las.
Um mulherengo sem vergonha, ninguém tem dúvidas. Não quer necessariamente entrar em suas vidas, e sim em suas vaginas.
Mas acima de tudo o livro foca no aspecto humano. Pois a gente compreende exatamente o que leva cada uma das mulheres até seu destino. Temos a chance de conhecer cada uma das protagonistas em seus respectivos capítulos, e perceber como todas ali são seres repletas de virtudes e fragilidades, como qualquer pessoa. Sempre vai ter uma ou duas das histórias que a gente elenca como a preferida, mas todas são escritas em uma qualidade indescritível. Frutos de uma das maiores autoras da atualidade.
Literatura negra tem que ganhar mais os holofotes desse país. A luta por igualdade passa por todos, sejam negros, brancos, asiáticos, pardos, o que forem. Todos precisamos consumir e conhecer mais e mais, especialmente porque o próprio mercado é bem racista. Raramente autoras negras são as indicadas para os grandes prêmios, ou mesmo têm os livros recebendo tanta publicidade quanto os brancos. Existem diversas outras Conceições Evaristo buscando reconhecimento, e tantas outras que estão por vir.
E se você leu aqui e quer começar a mudar essas injustiças, recomendo fortemente esse livro que resenhei. Vai ser uma porta de entrada com tapete vermelho para um mundo de autoras negras que você vai querer conhecer mais e mais.
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