Meu caminho cruzou com uma golpista asiática.
Acho que todo mundo já caiu num golpe. E depois que a gente cai, além de nos sentirmos injustiçados, a gente ainda fica com uma pulga atrás da orelha pra praticamente tudo no mundo. Complica ainda mais quando envolve carência — afinal, quem não gostaria de viver uma história de amor? Ainda mais quando a mulher é perfeita. Perfeita até demais.
Foi no dia 20 de março que uma pessoa entrou em contato comigo pelo Telegram. Falando um português que parecia saído do Google Tradutor, começou perguntando se eu era um tal de "Leonardo, guia de São Paulo". Eu educadamente disse que não, que era um engano, e ela agradeceu. Minutos depois ela mandou outra mensagem, dizendo que estava planejando visitar o Brasil, e queria indicação de praias, pois não conhecia nada. Indiquei algumas bem conhecidas e ela se apresentou.
O nome dela era Rachel Wong*, 29 anos, e pediu para eu adicioná-la no número pessoal dela de Whatsapp para conversarmos. Era um número que começava com o DDI 44, um número britânico. Na imagem de perfil dela do Telegram era uma garota, magra, de óculos escuros, uma saia preta, cabelo chanel, posando na frente de um cassino de um hotel chamado Dansavanh, que depois de um google descobri que era em uma cidade no sul do Laos.
Não vou negar que conforme íamos conversando, mais eu me interessava por ela. Ela parecia ser uma mulher muito bonita, dizia ser mestiça de japonês com ingleses, e nas fotos (nesse post estão parte dessas supostas fotos) ela parecia ser uma mulher muito atraente. Tudo bem que eu tenho uma quedinha por asiáticas no geral, mas ao comentar com minha amiga Naiara ela também achou que ela parecia perfeita até demais, e que era pra eu ficar com os olhos bem abertos.
A coisa começou a ficar estranha quando ela comentava sobre como se sustentava. Apesar de nem ter trinta anos, ela dizia ter um escritório de advocacia renomado com vários funcionários. Logo ali no começo ela comentou comigo que também fazia dinheiro com criptomoedas, inclusive me mostrando que em um dia só ela tinha feito quase 900 dólares. Eu achei aquilo tão estranho, como se ela estivesse tentando me seduzir para esse esquema de pirâmide, que a perguntei se aquilo era legal. E ela, naquele português de tradutor, respondeu: "Juridicamente". E só.
Logo no segundo dia fizemos uma vídeo chamada. Ela havia insistido, e eu achei interessante verificar se havia mesmo uma mulher por trás daquilo tudo, ou se era um velho peludo de bigode de Corumbiara/RO.
Minha reação foi mista. Havia sim do outro lado do vídeo uma mulher. Mas ela não parecia muito com aquela das fotos. Para quem se dizia ter nascido no Reino Unido, falava um inglês carregado de sotaque, que soava como um singlish, o inglês de Cingapura. Foi tudo muito rápido, ela tentou arranhar um português, mesmo eu dizendo para ela que eu era fluente em inglês, a chamada mal durou três minutos, com ela pedindo desculpas pois a internet dela estava horrível aquele dia. O fundo da casa parecia bem precário, era uma parede meio suja, uns tapueres numa prateleira, e o celular parecia apoiando em cima de uma mesinha.
Acho que ver a aparência dela foi o primeiro balde d'água. Não que ela fosse exatamente feia, mas nem se comparava com aquela linda asiática das fotos. Não parecia em nada japonesa.
Depois de alguns dias de conversa eu pedi as redes sociais dela. Ela disse que só tinha Instagram, e que ela mal usava, mas ainda assim me passou. A Rachel, que até então nunca havia dito o sobrenome, enfim descobri que era Wong — um sobrenome que definitivamente não é japonês, e sim de origem chinesa. Não postava nada, e a foto de perfil dela parecia um pouco mais com a mulher que eu havia visto no vídeo.
Alguns dias de conversa depois eu lhe disse que se ela preferisse poderíamos conversar apenas em inglês, para ela não ter o trabalho de ficar usando toda hora o tradutor do celular. Ela nunca me pediu dinheiro, nem tentou saber meu endereço, ou me subornou. Nada disso. Ela demorava um pouco para responder, mas isso até comigo é assim também.
As supostas fotos que ela me passou por mais que eu as analisasse, não conseguia ver vestígios de uso de inteligência artificial. Existem alguns sites que fazem pesquisa reversa de imagem, escaneando rostos, e tentando encontrar na internet fotos da mesma pessoa. Isso é extremamente útil para o caso de golpes, e apesar desses sites serem pagos, mesmo na versão gratuita aponta para algum lugar. Eu mesmo já coloquei uma foto minha de teste lá e ele apontava para perfis de redes sociais, ou até fotos que postei nesse blog ou no meu portfólio.
Mas sobre a Rachel? Nada. Não havia nenhum registro.
Continuei conversando com ela até o último dia 30. Foi então que eu resolvi procurar o suposto nome dela em outras redes sociais. E ao pesquisá-la no Facebook eu achei um perfil, que tinha apenas o nome e a foto dela, e os únicos amigos que ela tinham eram TODOS brasileiros. Jurandir, Mario, Euclides, José, enfim.
E depois fui ao Instagram dela (acima). E então vi com quem eu estava me metendo. Ela tinha por volta de 70 seguidores, e seguia 34 pessoas. A imensa maioria eram perfis brasileiros. Renan, Rodrigo, Gustavo, Leôncio, Cleiton, Anderson, e por aí vai.
Eu lembro que terminei de ver e ali mesmo já a bloqueei em tudo, sem nem dar um tchau. Sabe lá deus quem é essa tal de Rachel Wong, mas é muito estranho uma pessoa apenas ter amizade com homens brasileiros. Talvez ela vá passando de número em número, digitando sequências aleatórias, até achar alguém com quem ela possa conversar. Pode ser que aplique aquele golpe do "tô com dificuldades aqui, pode me mandar um dinheiro?" depois que conquistasse os caras. Não sei se ela tentou arrastar alguém para algum esquema de pirâmide, ou pedir dinheiro, ou eventualmente aplicar um golpe. Não tentei entrar em contato com ninguém que seguia ela.
Só fico um pouco triste por conta da carência, né? Ela parecia ser uma mulher bem legal, além de bonita, e inteligente. Viver um romance com uma gringa sempre foi algo que quis, sempre quando viajava pra fora e estava solteiro eu conhecia muitas meninas bem legais, que se atraíam por mim, e sempre deixaram boas memórias, mesmo no curtíssimo espaço de tempo.
Mas não foi dessa vez! Acontece, bola pra frente. Quem sabe tem uma japonesa bem bonitinha reservada no meu destino? Mas essa aí, é uma cilada, Bino!
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* - Obviamente eu troquei o suposto nome dela, mas era um nome ocidental com um sobrenome de origem chinesa também.
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