Obesidade & periferia.
Como alguém que mora na periferia, vejo que muitos amigos, inclusive pessoas bem jovens, acabam afetados com a obesidade. Eu mesmo sempre tive problemas com meu peso, mas sei que sou de uma minoria privilegiada que consegue comer relativamente saudável. Tirei essa foto das prateleiras do mercado aqui do meu bairro para mostrar: a quantidade de macarrão instantâneo é gigantesca.
Esse tipo de macarrão instantâneo é muitas vezes a única opção que as pessoas da periferia possuem para alimentação. Ele possui todos os atrativos: um preço baixo, preparo fácil e rápido, além de ser muito saboroso. Sempre os produtos novos são vendidos aqui primeiro, coisas que eu nem via a propaganda direito, mas aqui já vendiam igual água. Macarrão instantâneo possui praticamente um corredor inteiro, dividindo apenas um pequeno espaço com as massas. E quando a reposição do estoque demora, pode ter certeza que as prateleiras ficam vazias rapidinho.
Nem vou dizer aqui do quão prejudicial para a saúde é esse tipo de alimento. Acho que todo mundo sabe da quantidade de colesterol, sódio, e outras tantas coisas que possuem naquele pacotinho. Obviamente nem é culpa do mercado aqui do meu bairro: ele também tem seção de verduras e legumes, grãos, e açougue. Mas uma pessoa que mora numa periferia não tem tempo hábil para parar e cozinhar muitas vezes.
A pessoa leva duas horas para ir para o trabalho, fica lá no batente pelo menos oito horas, leva mais duas horas para voltar, sempre encarando um transporte público entupido e ineficiente, ainda tem que cuidar da casa, lavar a roupa e tudo mais, é claro que a pessoa não tem tempo para cortar uma cebola e fazer uma comida decente.
As pessoas de periferia não escolhem macarrão instantâneo porque querem.
E essa alta demanda tá estampada no corredor do mercado, praticamente exclusivo de macarrão instantâneo.
Esses dias eu tava conversando com meu priminho, e vi o quanto ele é viciado em refrigerante. Eu quando tinha a idade dele também não era nem um pouquinho diferente, e foi muito recentemente que eu deixei de consumir refrigerante — ao menos não consumo como antigamente, só quando vou a alguma festa ou na casa de alguém. Em casa mesmo é sempre água, suco natural da fruta, ou chás.
Eu lembro de quando eu era bem criança ter uma garrafa de Coca-cola era algo chique. Mas hoje é o oposto, pois a classe mais baixa criou uma dependência tão grande ao refrigerante que acaba puxando os lucros dessas empresas lá pra cima. Até usam no diminutivo, "coquinha", para ver se tira um pouco a culpa de beber um treco que metade é açúcar, e a outra metade é sódio e cafeína.
Não tem problema comer macarrão instantâneo. Eu mesmo tenho uns aqui na despensa, ás vezes uma vez por semana eu até como um. Muitas vezes passo semanas sem comer nenhum também, e eles vencem.
Andar no mercado da região, mesmo comparando bairros da sua cidade, é entender como funciona a cultura daquele local: enquanto a seção de refrigerantes e macarrão instantâneo é gigantesca num mercado de periferia, quando você vai num mercado em bairros ricos existem diversas prateleiras com opções nutritivas, light & diet, fibras e vitaminas.
Aqui em São Paulo existem alguns restaurantes solidários que vendem refeições a um real, a rede Bom Prato. Tem um até perto de casa que pelo menos uma vez por semana vou lá almoçar. Um lugar limpo, com uma comida excelente: arroz, feijão, proteína animal, legumes, e salada. É o tipo de prato que eu como e passo o dia inteiro bem, e sei que ali é muitas vezes a única opção que as pessoas de baixa rendem têm.
Isso sem contar as pessoas. Volta e meia divido a mesa com pessoas extremamente amigáveis, que mesmo eu com meu jeito tímido consigo desfrutar ali de uma boa conversa. O Bom Prato é sempre lugar de refeições 10/10.
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