"Fazer o quê? É o Brasil né"
Enquanto assistia o jornal, a única coisa que eu assisto na TV a não ser o CQC e Toma lá dá cá (minha imitação da Dona Álvara é a melhor. ;D) resolvi passar os canais, deixei na Record que tinha o único programa jornalístico do horário: Balanço Geral. Antes eu assistia mais, mas antigamente quando começaram a falar de uns assuntos entediantes e quando vi, já estava dormindo, percebi que tinha perdido o clima pra assistir. Mas ontem resolvi assistir. E fiquei vendo um rapaz que me era de alguma forma bem familiar. Quando ele disse o nome dele então, na lata.
Bom, ao contrário de muitos amigos meus da faculdade e de outras áreas mais, vamos dizer, refinadas, eu vim de escola pública. Muitos dos que eu conhecia na época hoje estão presos ou mortos, rendidos pelo tráfico. Já falei sobre isso numa postagem antiga. As garotas, bem... Grávidas. Algumas de presidiários, outras de vagabundo mesmo. O resto estão trabalhando, porém apenas isso. Uma grande parte virou motoboy ou atendente de telemarketing. Uns cinco cursam faculdade. Entre esses cinco, já conheço um que tá até financiando um carrinho já. Considerando que eu conhecia quase todos das redondezas, ou das "quebradas" como aqui falam (embora eu odeie falar usando gírias), vamos chutar aí umas trezentas pessoas, e apenas um que se deu bem até agora (nem eu me coloco nesse grupinho, hehe).
Pois é! E na TV passou alguém que eu conhecia. Francisco, um cara que estudou na minha sala, gostava de Pokémon igual a mim, pessoa bacana, do bem, mas teve alguns problemas familiares, apareceu na TV dando entrevista. Claro que eu dei um pulo do sofá. Vivendo embaixo de uma ponte alí próximo da Praça da Bandeira. Bem vestido até, falando do mesmo jeito de antes e até andando do mesmo jeito.
Continua um cara com fé. Com um rosário da mão direita. Eles estavam vivendo embaixo de uma ponte, um grupo de umas trinta pessoas com mulheres e homens e eles gerenciando tudo. A prefeitura entrou claro, com uma ação de despejo. E eu claro, não vou tirar o direito da prefeitura. Aquele terreno é dela, e acima de tudo oferece risco grave aos moradores lá por não ser uma coisa lá muito sanitária e segura. Mas ao mesmo tempo, a prefeitura do sr re-eleito Gilberto Kassab (tinha que ser são-paulino...) irá despejá-los nas ruas.
Na parte que eu deixei de assistir, a câmera estava focada no meu amigo Francisco, que fazia anos que não o via, e ele dizia as palavras de indignação de grande parte do tal povo brasileiro: "Fazer o quê? É o Brasil, né?".
90% das pessoas que conheço, que se dizem "patriotas" tem uma renda mensal acima de dois mil reais. Tenho uma amiga que trocou de carro duas vezes em menos de dois anos, coisa que meu pai coitado, teve seu primeiro carro zero km esse ano depois de décadas batalhando e juntando grana. As pessoas que se adoram dizer patriotas aparentemente vivem num mundo de novela das oito e o pior: se você não é patriota, caem em cima de você. Eu já disse, não sou nem um pouco patriota, e acho que nenhum brasileiro deveria lutar por um bandeira como essa de intensa desigualdade.
Sabe, essas coisas me deixam muito revoltado. A desculpa do coitado do Francisco não é Deus, nem Diabo nem Santa Aqueropita. É "Brasil" mesmo, esse país que joga pobres na rua para morrerem, o mesmo país que dá um salário mínimo de merda e é uma das maiores economias do mundo. Maldito país que incentiva indiretamente pessoas entrarem na vida do crime, país que isola os pobres, ou você pensa que o Terminal Jardim Angela ajuda alguma coisa? Ajuda nada. Só isola ainda mais nós que moramos aqui. Gostei de ver a indignação dele. Brasileiro pobre só sabe ser patriota na hora do gol sobre a Argentina na Copa, e estão mais do que corretíssimos e tiro o chapéu. Dizer que tem orgulho dum país que prefere acabar com os pobres e ascender ainda mais os já ascendidos ricos, bem...
"É o Brasil, né?"
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