Não uma companheira na definição mais comum.
Estava com talco para o sapato em mãos. Não é algo que eu usava muito, mas gostava de cuidar dos meus pés. Foi então que um homem grande e barbudo apareceu ao meu lado e puxou conversa.
"Você não usa muito isso, mas gosta de ter na sua casa, acertei?".
Olhei pro lado e não entendi o que ele dizia. Falava com uma certa confiança, é verdade. Em Wal-Marts sempre tenho o azar de sempre encontrar alguma figura estranha. Por isso evito entrar nesse varejista ao máximo. Respondi balançando a cabeça - usar talco nos sapatos dá sujeira, deixa as roupas marcadas, e é esse um dos motivos pelo qual eu só uso meias brancas.
"Sim... É bom de vez em quando, embora eu não use sempre".
"Eu acho que tem relação com algo da sua vida. Dá pra perceber bastante como a pessoa é pelas suas ações. E vendo seu carrinho de compras e a aliança dourada em seu dedo...".
"Ah tá, falou." - e fui embora.
Duas prateleiras mais a frente, enquanto fugia do cara, ele apareceu de novo.
"Sua aliança... Você é casado?"
"Isso não é da sua conta, senhor. Desculpe."
"Você a ama?"
Parei por um momento, pausei até a respiração. Porém, mesmo assim, respondi a verdade.
"Sim. Eu a amo sim".
"Suas palavras parecem verdadeiras mesmo. Se você diz isso, é a mais plena verdade".
"Então o senhor me dê licenç..." - ele me puxou pelo braço.
Aí ele olhou nos meus olhos.
"O que eu acho mais interessante é que o seu amor por ela nasceu de um jeito diferente...!"
"Me SOLTA agora", eu disse.
"Vocês provavelmente não tinham uma relação como um casal qualquer, cheia de paixão, mas cada um de vocês dois gostavam um da companhia do outro. Um se sentia bem ao lado do outro, uma vez que vocês não tinham as relações carnais com tanta frequencia como os outros casais".
"Escuta aqui, senhor, vou chamar o seguranç...", ele me interrompeu de novo.
"Você nunca quis uma mulher pra ser uma companheira 'amante', mas uma companheira 'parceira'. Uma mulher que fique do seu lado, que te ajude numa compra junto, que esteja do seu lado vendo tevê, que te acompanhe em jantares, não necessariamente alguém para beijar ou fazer sexo como as outras pessoas querem. É como o talco, não é?"
"...O talco? Como assim?? Você tá maluco?".
"Não é algo que você use todo dia, pois você é uma pessoa de alma solitária. Mas que esteja sempre lá disposta e que te ajude quando você precisar, que esteja do seu lado quando você estiver necessitado. Acho isso poético, você eleva a relação a um nível que muitas pessoas poderiam aprender com você e..."
Virei e fui embora, dando um empurrão no cara que caiu na prateleira do arroz, por sorte, sem derrubar nada. Não acreditava que um cara descobriria tanto sobre mim apenas observando um carrinho de compras. Ele ainda parecia estar falando sozinho. Fiquei com um pouco de medo é verdade, mas aquelas palavras me fizeram pensar sobre o que eu queria da vida. E sobre o tipo de mulher que eu sempre busquei. E que em alguns momentos da vida eu tive.
Que talvez eu não queria uma namorada para ser uma amante vigorosa. Mas uma donzela que fique ao meu lado, e que me diluísse de alguma minha alma solitária, que não confia em grande parte das pessoas e não gosta de se relacionar com pessoas além do comum...
"Você não usa muito isso, mas gosta de ter na sua casa, acertei?".
Olhei pro lado e não entendi o que ele dizia. Falava com uma certa confiança, é verdade. Em Wal-Marts sempre tenho o azar de sempre encontrar alguma figura estranha. Por isso evito entrar nesse varejista ao máximo. Respondi balançando a cabeça - usar talco nos sapatos dá sujeira, deixa as roupas marcadas, e é esse um dos motivos pelo qual eu só uso meias brancas.
"Sim... É bom de vez em quando, embora eu não use sempre".
"Eu acho que tem relação com algo da sua vida. Dá pra perceber bastante como a pessoa é pelas suas ações. E vendo seu carrinho de compras e a aliança dourada em seu dedo...".
"Ah tá, falou." - e fui embora.
Duas prateleiras mais a frente, enquanto fugia do cara, ele apareceu de novo.
"Sua aliança... Você é casado?"
"Isso não é da sua conta, senhor. Desculpe."
"Você a ama?"
Parei por um momento, pausei até a respiração. Porém, mesmo assim, respondi a verdade.
"Sim. Eu a amo sim".
"Suas palavras parecem verdadeiras mesmo. Se você diz isso, é a mais plena verdade".
"Então o senhor me dê licenç..." - ele me puxou pelo braço.
Aí ele olhou nos meus olhos.
"O que eu acho mais interessante é que o seu amor por ela nasceu de um jeito diferente...!"
"Me SOLTA agora", eu disse.
"Vocês provavelmente não tinham uma relação como um casal qualquer, cheia de paixão, mas cada um de vocês dois gostavam um da companhia do outro. Um se sentia bem ao lado do outro, uma vez que vocês não tinham as relações carnais com tanta frequencia como os outros casais".
"Escuta aqui, senhor, vou chamar o seguranç...", ele me interrompeu de novo.
"Você nunca quis uma mulher pra ser uma companheira 'amante', mas uma companheira 'parceira'. Uma mulher que fique do seu lado, que te ajude numa compra junto, que esteja do seu lado vendo tevê, que te acompanhe em jantares, não necessariamente alguém para beijar ou fazer sexo como as outras pessoas querem. É como o talco, não é?"
"...O talco? Como assim?? Você tá maluco?".
"Não é algo que você use todo dia, pois você é uma pessoa de alma solitária. Mas que esteja sempre lá disposta e que te ajude quando você precisar, que esteja do seu lado quando você estiver necessitado. Acho isso poético, você eleva a relação a um nível que muitas pessoas poderiam aprender com você e..."
Virei e fui embora, dando um empurrão no cara que caiu na prateleira do arroz, por sorte, sem derrubar nada. Não acreditava que um cara descobriria tanto sobre mim apenas observando um carrinho de compras. Ele ainda parecia estar falando sozinho. Fiquei com um pouco de medo é verdade, mas aquelas palavras me fizeram pensar sobre o que eu queria da vida. E sobre o tipo de mulher que eu sempre busquei. E que em alguns momentos da vida eu tive.
Que talvez eu não queria uma namorada para ser uma amante vigorosa. Mas uma donzela que fique ao meu lado, e que me diluísse de alguma minha alma solitária, que não confia em grande parte das pessoas e não gosta de se relacionar com pessoas além do comum...
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