Bróder (ou Capão Redondo, o filme).
Fui hoje ver o filme Bróder, de Jeferson De. Fiz questão de ver depois de dar uma olhada no trailer. O que dizer de um filme sobre o Capão Redondo sendo visto por um morador do próprio Capão Redondo (no caso, eu)? Essa resenha do filme é mais ou menos com essa idéia.
O filme mostra a amizade de três amigos de infância, já adultos, vividos por Caio Blat, Jonathan Haagen-Dazs... Brincadeira, é Haagensen! Tinha mais um outro, mas o roteirista deixou ele tão apagado no filme que ele só tem uma fala durante a película: "Eu tô cansado dessa vida, mano". Eles tentaram encaixar, mas sempre que uma história propõe um trio, NUNCA vinga o trio, e sim apenas uma dupla. Coisa de roteirista, isso é algo impossível de se fugir.
Já que comecei a falar das coisas ruins, vou continuar: Existem alguns erros bizarros no filme. Escalaram atrizes CARIOCAS, com direito a sotaque do "goxxxxxto", típico de um torcedor de Flamengo. Elas tentaram disfarçar, você percebe, aí fica pior: fica forçado. Ok que o filme é uma produção Globo Filmes (a.k.a.: "Globo Odeia São Paulo Filmes"), mas não precisava esculachar, né? Ficou podre a cena que a atriz vai vestir um vestido e fala: "Será que ele vai goxxxxxxxxxtar desse?". Ninguém de São Paulo, muito menos do Capão fala assim. Falta grave!
Uma outra coisa que não curti, mas isso é mais complicado, é o que um professor meu de cinema sempre ensinou (valeu, Alê McHaddo!): clichês sempre funcionam. Desde o começo do filme você sabe quem é o vilão. É mais ou menos igual o Zé Pequeno no Cidade de Deus. Eu acho que poderia, por exemplo, pegar o terceiro do trio (que era um inútil no filme, Silvio Guindane) e colocar ele pra fazer um paradigma entre o bem e o mal, pois em um determinado ponto do filme ele deu a perceber que faria isso (na única fala dele no filme inteiro: "Eu tô cansado dessa vida, mano"). Porque não usar isso como um gancho e fazer a história um pouquinho original?
Já me basta eu comprar briga com jornalistas e advogados, agora meus próximos vilões serão os roteiristas? Só o tempo dirá. Hahaha!
Pontos fortes, vamos elogiar um pouco:
Caio Blat. Quando fiquei sabendo que era ele, fui assistir um filme com um tiquinho de preconceito. Quando o vi na telona, que atuação memorável. Encarnou tudo, jeito de falar, de agir, tom de voz, trejeitos. Uma atuação genial, se eu pudesse dava um Oscar pra ele, pois pra mim, um morador do Capão dizer que ele fez perfeitamente, pode considerar-se elogiado.
E o Jonathan... Err. Eu tava com o sobrenome dele aqui no Ctrl+V, mas perdi. Também fez um excelentíssimo trabalho. Não o conhecia, só lembro que ele foi na Fazenda, da Record. Não foi tão genial como a do Caio Blat, mas teve muito destaque, talvez porque o papel dele não permitia tanto dinamismo quanto ao do Blat (ás vezes o cara não tem que ser apenas bom ator, mas um bom papel ajuda - e muito).
Por fim, a fotografia. Duas coisas que eu olho em filme sempre são a trilha sonora e a fotografia. Vou destacar duas cenas: A cena em que eles apostam a corrida pra ver quem chega no carro (veja os detalhes da cena!) e a cena final, onde faz um panorama inteiro das favelas do Capão Redondo (eu sabia que eram muitas, mas não tantas...!).
Teve algumas nuances bem trabalhadas como nas cenas da favela onde sempre tem gente passando por trás (afinal estamos falando de uma área onde vivem quarenta pessoas por metro quadrado) e no começo do filme, onde o cara sai da Faria Lima e a paisagem do carro dele vai mudando, vai ficando mais feia, e mais feia, até ele chegar ao infern... Quer dizer, o Capão Redondo.
E como morador, é um bom filme? Excelente. Na verdade eu vi muitas coisas que aconteceram comigo com fatos do filme. Ele foca bastante na morte precoce que o crime dá. Quantos e quantos amigos já não vi em situações similares, pessoas que cresceram comigo e infelizmente entraram pro crime? Incontáveis. Hoje, todos mortos.
Além da morte, tocou em outro ponto que só quem comeu já umas puta sabe: grande parte delas são da periferia. Falou meio por cima, mas falou. Bruna Surfistinha era da nobreza, tristeza mesmo é a menina mais bonita da favela ter que dar pra macho em casa de massagem e morrer quatro anos depois de HIV. Isso sim é tristeza.
Pronto agora chega, porque blog não é divã. =P
O filme mostra a amizade de três amigos de infância, já adultos, vividos por Caio Blat, Jonathan Haagen-Dazs... Brincadeira, é Haagensen! Tinha mais um outro, mas o roteirista deixou ele tão apagado no filme que ele só tem uma fala durante a película: "Eu tô cansado dessa vida, mano". Eles tentaram encaixar, mas sempre que uma história propõe um trio, NUNCA vinga o trio, e sim apenas uma dupla. Coisa de roteirista, isso é algo impossível de se fugir.
Já que comecei a falar das coisas ruins, vou continuar: Existem alguns erros bizarros no filme. Escalaram atrizes CARIOCAS, com direito a sotaque do "goxxxxxto", típico de um torcedor de Flamengo. Elas tentaram disfarçar, você percebe, aí fica pior: fica forçado. Ok que o filme é uma produção Globo Filmes (a.k.a.: "Globo Odeia São Paulo Filmes"), mas não precisava esculachar, né? Ficou podre a cena que a atriz vai vestir um vestido e fala: "Será que ele vai goxxxxxxxxxtar desse?". Ninguém de São Paulo, muito menos do Capão fala assim. Falta grave!
Uma outra coisa que não curti, mas isso é mais complicado, é o que um professor meu de cinema sempre ensinou (valeu, Alê McHaddo!): clichês sempre funcionam. Desde o começo do filme você sabe quem é o vilão. É mais ou menos igual o Zé Pequeno no Cidade de Deus. Eu acho que poderia, por exemplo, pegar o terceiro do trio (que era um inútil no filme, Silvio Guindane) e colocar ele pra fazer um paradigma entre o bem e o mal, pois em um determinado ponto do filme ele deu a perceber que faria isso (na única fala dele no filme inteiro: "Eu tô cansado dessa vida, mano"). Porque não usar isso como um gancho e fazer a história um pouquinho original?
Já me basta eu comprar briga com jornalistas e advogados, agora meus próximos vilões serão os roteiristas? Só o tempo dirá. Hahaha!
Pontos fortes, vamos elogiar um pouco:
Caio Blat. Quando fiquei sabendo que era ele, fui assistir um filme com um tiquinho de preconceito. Quando o vi na telona, que atuação memorável. Encarnou tudo, jeito de falar, de agir, tom de voz, trejeitos. Uma atuação genial, se eu pudesse dava um Oscar pra ele, pois pra mim, um morador do Capão dizer que ele fez perfeitamente, pode considerar-se elogiado.
E o Jonathan... Err. Eu tava com o sobrenome dele aqui no Ctrl+V, mas perdi. Também fez um excelentíssimo trabalho. Não o conhecia, só lembro que ele foi na Fazenda, da Record. Não foi tão genial como a do Caio Blat, mas teve muito destaque, talvez porque o papel dele não permitia tanto dinamismo quanto ao do Blat (ás vezes o cara não tem que ser apenas bom ator, mas um bom papel ajuda - e muito).
Por fim, a fotografia. Duas coisas que eu olho em filme sempre são a trilha sonora e a fotografia. Vou destacar duas cenas: A cena em que eles apostam a corrida pra ver quem chega no carro (veja os detalhes da cena!) e a cena final, onde faz um panorama inteiro das favelas do Capão Redondo (eu sabia que eram muitas, mas não tantas...!).
Teve algumas nuances bem trabalhadas como nas cenas da favela onde sempre tem gente passando por trás (afinal estamos falando de uma área onde vivem quarenta pessoas por metro quadrado) e no começo do filme, onde o cara sai da Faria Lima e a paisagem do carro dele vai mudando, vai ficando mais feia, e mais feia, até ele chegar ao infern... Quer dizer, o Capão Redondo.
E como morador, é um bom filme? Excelente. Na verdade eu vi muitas coisas que aconteceram comigo com fatos do filme. Ele foca bastante na morte precoce que o crime dá. Quantos e quantos amigos já não vi em situações similares, pessoas que cresceram comigo e infelizmente entraram pro crime? Incontáveis. Hoje, todos mortos.
Além da morte, tocou em outro ponto que só quem comeu já umas puta sabe: grande parte delas são da periferia. Falou meio por cima, mas falou. Bruna Surfistinha era da nobreza, tristeza mesmo é a menina mais bonita da favela ter que dar pra macho em casa de massagem e morrer quatro anos depois de HIV. Isso sim é tristeza.
Pronto agora chega, porque blog não é divã. =P
Aí, mano! hahaha Gostei de ler a resenha, especialmente porque, como vc disse, é um olhar de quem entende essa realidade. E por que preconceito com o Caio Blat? Eu acho ele um ótimo ator, e também daria um Oscar pra ele por este trabalho :)
ResponderExcluirAh, blog não é divã? Pra mim é... xP