Overture - Parte V - Aquele que tinge de ébano o passado.

Um helicóptero. Homens pulando dele em cordas. Gritos. Um garoto e seu irmão mais velho foram levados. A sua esposa não estava lá. O garoto foi liberado, um homem grande, loiro e barbudo foi buscá-lo.

Um dia depois encontraram o paradeiro de Arch.

"Mano! Mano! Você está bem? Vamos, vamos sair!"

Arch se espantou quando viu. Estava todo ferido, tinha perdido seu olho esquerdo, seu corpo estava cheio de hematomas e seu braço esquerdo quebrado.

"Al...! Saia daqui, garoto! Isso não é lugar para uma criança ficar!", ele disse, repreendendo-o.

As lágrimas começaram a cair dos olhos do pequeno Al. Suas lágrimas eram um misto de felicidade por ver seu irmão mais velho vivo e tristeza por ele estar naquela situação. Ele foi uma das vítimas da liberdade, pessoas que tinham tanto poder que acabaram por serem traídos exatamente pelos quais protegiam. Vítimas mais anônimas que aquelas de ditaduras. A diferença era que a lei estava lá para apagar sua existência, sua identidade, seus valores e seus preceitos também. Vítima silenciosa da democracia.

"Ora, Al não veio sozinho, caro amigo. Eu estou aqui também. Sabe que 'eles' não gostam de pessoas rebeldes, mas parece que a situação no seu caso está preta", disse Schutz, que estava junto de Al, protegendo-o.

"Senhor Schutz... Eu não me arrependo de nada. Somente me prometa uma coisa, se alguma coisa acontecer comigo, cuide do Al", suplicou Arch, também derrubando algumas lágrimas.

"Pode deixar. Esse garoto vai ser forte, tão forte como você é. Se você confia em mim esse irmão que você trata como um filho, e não com sua esposa é porque você sabe de tudo...", o senhor Schutz interrompeu um momento.

Os dois ficaram se olhando por um momento. Al olhava para os dois tentando desvendar o que tinha acontecido. Mas mesmo assim, não entendia. Depois de quase um minuto em silêncio - que passou como se fosse uma hora, Arch concluiu:

"Foi a Émilie. Foi ela que inventou isso tudo sobre mim. E por isso que parei aqui", assumiu Arch.

Traído por sua esposa, por aquela pessoa que mais amou na vida. Alguém que era especial no seu coração. Arch deu um singelo sorriso quando disse o nome de sua esposa. Nesse momento seu paradeiro era desconhecido, havia simplesmente fugido durante a noite, antes de invadirem sua residência. Todas suas posses estavam no nome dela.

O pequeno Al ouviu aquilo atônico. Não entendia, ou não queria entender. Porque justo Émilie tinha feito aquilo? O garoto sofria com os milhões de vozes que chamavam seu irmão de traidor. E agora tinha entendido era tudo tudo mentira. Tudo armação de uma mente maligna por detrás.

Mas Arch ainda sorria quando falava de Émilie. Era óbvio que ele ainda a amava, e a amava muito. Al segurou firme nas grades. Alguém parecia chegar próximo da porta, e o senhor Schutz agarrara o garoto, para desprendê-lo da grade e os dois saírem dali logo.

Mas o garoto não largava as grades, chorando alto, gritando e pedindo para seu irmão mais velho pegar na sua mão. Por uma última vez.

Arch permanecia imóvel. Cabisbaixo. Parecia não ouvir os gritos do seu irmão. Era simples, era apenas tocar sua pequena mão. Schutz, já com idade avançada, achou uma dificuldade imensa em desgrudar o garoto dali.

Subindo a escada, sendo levado pelos braços de Schutz, Al viu pela última vez seu irmão vivo...




No dia 21 de julho daquele ano Arch foi executado. Seu corpo nunca foi encontrado.

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