Sobreviventes.

Essa conversa aconteceu na quinta, entre meu instrutor de direção e eu. Ele é uma pessoa bem rígida, faz eu fazer a mesma coisa várias e várias vezes, até com precisão milimétrica (incluindo a baliza).

"Escuta, Alain. Você tem que trabalhar esse psicológico seu. Eu sei que é muita informação, mas olha só, você dirige, dirige bem. Nunca bateu em um cone, sabe fazer os pontos direitinho e não lembro de ter visto você deixar o carro morrer. Você tem a técnica, só fica nervoso", ele iniciou.

"Sim, mas é muita informação, é complicado", eu disse.

"Olha, muitos alunos dizem que eu sou um chato mesmo. Pego no pé, sou bastante exigente. Mas lá na frente, você vai me agradecer. Faço isso pelo seu bem. Me diga uma coisa, o seu pai é rígido assim também?".

Fiquei quieto e balancei a cabeça positivamente. Ele prosseguiu:

"Mas é assim mesmo, cara. Tem que ser duro. Sou assim com meus filhos também. Imagina só, se não fossem assim com você, nós da periferia seríamos igual esses vagabundos que andam por aí. É por isso que hoje você conseguiu terminar sua faculdade, tem seu trabalho digno e tá aí, onde muita gente nem teve a chance de estar".

"É, faz sentido", respondi.

"A gente é da periferia, cara. A gente só tem nós mesmos para contar. Você tem vários amigos que morreram por conta disso. Acha que vai conseguir ser diferente do que seu pai foi com você com seus filhos? Vai deixar eles entrarem na marginalidade?".

E mais uma vez o dilema dos meus filhos.
Definitivamente, não acho que serei um bom pai. Hoje ao menos, pretendo pular essa parte.

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