A jornada atrás da CNH.
Tirar a CNH pode ser um processo cansativo, doloroso e caro.
Tudo começou em setembro. Lá estava eu em um emprego novo. Ligia, uma grande amiga minha, disse que eu deveria ir logo tirar a carta. Já tinha dois meses que eu havia me formado, não tinha desculpas para não fazer. Me cadastrei numa auto-escola no Brooklin.
A partir daquele dia o relógio estaria rodando. Um ano pra tirar a carta a partir daquele dia.
Aquela agenciazinha que trabalhava na Berrini (que nem vou citar o nome, pois nem merece) foi o emprego mais misera que já peguei. Não durei lá nem três meses sem ar-condicionado e gente imbecil. Foram três meses angustiantes.
Eu precisava me cadastrar logo pra começar o cursinho do CFC e não conseguia pois eu queria era sair daquele emprego logo. O chefe havia me enganado, me prometendo diversas coisas e no final negou tudo o que havia proposto na entrevista na cara dura. Tomado pelo desespero fiquei na busca por um emprego novo e... não encontrei, mesmo indo para várias entrevistas (acho que era porque era fim de ano, né?).
Nessa hora, tive que deixar tudo nas mãos de Buda.
E fui demitido, e uma semana depois entrei num novo emprego, nos Jardins. Em meados de novembro comecei o cursinho CFC, no CFC Paulista, com o grande mestre Tony Kiritchenko. Era o mais próximo que tinha do emprego.
Estranho dizer como um mero cursinho de duas semanas nos ensine coisas que vão muito além de dar setas ou respeitar aquela placa de "Pare". Esse descendente de ucranianos (ou sei lá da onde veio) ensinou ética não apenas para o trânsito, mas para nossas vidas.
O cursinho do CFC é um curso de apenas nove dias onde o conteúdo pode ser passado tranquilamente em três dias.
Tony sabia que nós saíamos do trabalho e estávamos cansados, sabia que nós morávamos longe e não havia motivos pra nos segurar lá, sempre tirava nossas dúvidas e dava conselhos valiosos. Tem dois filhos que são a vida dele e contava histórias da vida dele que nos prendiam. Desde o fusca alemão com direção inversa que ele pilotou uma vez, como as brigas que ele comprou com a Polícia Civil por reprovações injustas dos seus alunos.
Foram nove dias que demoraram a passar, de fato. Mas quando terminei o cursinho fiz questão de descer e cumprimentar o cara. Ele estava fumando sentado olhando pro prédio, apertei a mão do cara e ele disse: "Boa sorte, garoto". E eu agradeci. Mas foi um obrigado não apenas pelo desejo de boa sorte, mas também por tudo que ensinou durante aqueles dias. Um mestre.
Na primeira semana de janeiro fiz a prova teórica, onde passei tranquilamente.
Um mês depois a auto-escola me liga, marcando a primeira aula de direção para o dia 11 de fevereiro. Elas foram todos os sábados ininterruptamente até o dia 14 de abril. Aí eu conheci o Leônidas, ou Léo.
Desde a segunda aula focamos apenas na prova final. Todas as setas, paradas, pés fora da embreagem, tudo. Baliza saía sem problemas, mas na hora de parar no acostamento... Toda vez era errado. Se eu parei no acostumento umas 100 vezes (sem exagero) umas 27 foram certas. E olhe lá. E nem era subir na guia, mas parecia que ele pedia milimetricamente, a diferença é muito sutil.
Sua rigidez era incrível. Ele parecia que media, e sempre me atentava para os erros. Um dia, numa das aulas noturnas que eram mais tranquilas, perguntei pra ele se eu poderia usar a técnica da baliza na hora de estacionar um carro na rua. Ele disse que sim, e eu estacionei no meio de dois carros usando os pontos. Saímos do carro e ficamos conversando enquanto fumava um cigarro.
"Escuta, Alain. Eu sei que eu sou bem rígido com você. E tô vendo que isso te deixa cada vez mais nervoso. Mas entenda que eu tô fazendo isso pelo seu bem", começou Leo.
"Sim, Leo, sem problemas", eu disse, pensando que viria ladainha por aí. Mas não veio.
"Não, é sério! Alain, não se esqueça que nós somos periferia, cara. Se seu pai não fosse duro com você, provavelmente hoje você não teria sua faculdade, nem nada. Seria como esses vagabundos que andam na rua aí, um malandro. Eu sou assim com meus filhos, e sei que você seria assim com seus filhos também, ou estou errado?".
Bom, ele tocou nesse ponto que eu já falei aqui. Mas mesmo assim, concordei com ele. Ele prosseguiu.
"Cara, tem que ser assim! A gente é rígido porque a gente quer o bem, eu sei da sua capacidade, sei que você vai conseguir! Se eu sou exigente é porque quero que você faça tudo isso na prova e passe bem. Você já sabe como fazer, só te falta ter confiança em si mesmo!".
A prova prática ficou pro dia 15 de maio, a última terça-feira. E terminou tudo bem.
Mas olhando pra trás, muita coisa aconteceu. Tudo foi um grande aprendizado.
Tudo começou em setembro. Lá estava eu em um emprego novo. Ligia, uma grande amiga minha, disse que eu deveria ir logo tirar a carta. Já tinha dois meses que eu havia me formado, não tinha desculpas para não fazer. Me cadastrei numa auto-escola no Brooklin.
A partir daquele dia o relógio estaria rodando. Um ano pra tirar a carta a partir daquele dia.
Aquela agenciazinha que trabalhava na Berrini (que nem vou citar o nome, pois nem merece) foi o emprego mais misera que já peguei. Não durei lá nem três meses sem ar-condicionado e gente imbecil. Foram três meses angustiantes.
Eu precisava me cadastrar logo pra começar o cursinho do CFC e não conseguia pois eu queria era sair daquele emprego logo. O chefe havia me enganado, me prometendo diversas coisas e no final negou tudo o que havia proposto na entrevista na cara dura. Tomado pelo desespero fiquei na busca por um emprego novo e... não encontrei, mesmo indo para várias entrevistas (acho que era porque era fim de ano, né?).
Nessa hora, tive que deixar tudo nas mãos de Buda.
E fui demitido, e uma semana depois entrei num novo emprego, nos Jardins. Em meados de novembro comecei o cursinho CFC, no CFC Paulista, com o grande mestre Tony Kiritchenko. Era o mais próximo que tinha do emprego.
Estranho dizer como um mero cursinho de duas semanas nos ensine coisas que vão muito além de dar setas ou respeitar aquela placa de "Pare". Esse descendente de ucranianos (ou sei lá da onde veio) ensinou ética não apenas para o trânsito, mas para nossas vidas.
O cursinho do CFC é um curso de apenas nove dias onde o conteúdo pode ser passado tranquilamente em três dias.
Tony sabia que nós saíamos do trabalho e estávamos cansados, sabia que nós morávamos longe e não havia motivos pra nos segurar lá, sempre tirava nossas dúvidas e dava conselhos valiosos. Tem dois filhos que são a vida dele e contava histórias da vida dele que nos prendiam. Desde o fusca alemão com direção inversa que ele pilotou uma vez, como as brigas que ele comprou com a Polícia Civil por reprovações injustas dos seus alunos.
Foram nove dias que demoraram a passar, de fato. Mas quando terminei o cursinho fiz questão de descer e cumprimentar o cara. Ele estava fumando sentado olhando pro prédio, apertei a mão do cara e ele disse: "Boa sorte, garoto". E eu agradeci. Mas foi um obrigado não apenas pelo desejo de boa sorte, mas também por tudo que ensinou durante aqueles dias. Um mestre.
Na primeira semana de janeiro fiz a prova teórica, onde passei tranquilamente.
Um mês depois a auto-escola me liga, marcando a primeira aula de direção para o dia 11 de fevereiro. Elas foram todos os sábados ininterruptamente até o dia 14 de abril. Aí eu conheci o Leônidas, ou Léo.
Desde a segunda aula focamos apenas na prova final. Todas as setas, paradas, pés fora da embreagem, tudo. Baliza saía sem problemas, mas na hora de parar no acostamento... Toda vez era errado. Se eu parei no acostumento umas 100 vezes (sem exagero) umas 27 foram certas. E olhe lá. E nem era subir na guia, mas parecia que ele pedia milimetricamente, a diferença é muito sutil.
Sua rigidez era incrível. Ele parecia que media, e sempre me atentava para os erros. Um dia, numa das aulas noturnas que eram mais tranquilas, perguntei pra ele se eu poderia usar a técnica da baliza na hora de estacionar um carro na rua. Ele disse que sim, e eu estacionei no meio de dois carros usando os pontos. Saímos do carro e ficamos conversando enquanto fumava um cigarro.
"Escuta, Alain. Eu sei que eu sou bem rígido com você. E tô vendo que isso te deixa cada vez mais nervoso. Mas entenda que eu tô fazendo isso pelo seu bem", começou Leo.
"Sim, Leo, sem problemas", eu disse, pensando que viria ladainha por aí. Mas não veio.
"Não, é sério! Alain, não se esqueça que nós somos periferia, cara. Se seu pai não fosse duro com você, provavelmente hoje você não teria sua faculdade, nem nada. Seria como esses vagabundos que andam na rua aí, um malandro. Eu sou assim com meus filhos, e sei que você seria assim com seus filhos também, ou estou errado?".
Bom, ele tocou nesse ponto que eu já falei aqui. Mas mesmo assim, concordei com ele. Ele prosseguiu.
"Cara, tem que ser assim! A gente é rígido porque a gente quer o bem, eu sei da sua capacidade, sei que você vai conseguir! Se eu sou exigente é porque quero que você faça tudo isso na prova e passe bem. Você já sabe como fazer, só te falta ter confiança em si mesmo!".
A prova prática ficou pro dia 15 de maio, a última terça-feira. E terminou tudo bem.
Mas olhando pra trás, muita coisa aconteceu. Tudo foi um grande aprendizado.
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