Eu avisei.



Eleição é sempre a situação presente. É desleal julgar uma situação do passado com os valores e ideias do presente. Mas afinal quem poderia imaginar que, um candidato que promovia o ódio, apoiava ditadores, roubou por anos verba pública com funcionários fantasmas, e não tinha um plano de governo, iria afundar ainda mais o país, não é mesmo? Pois bem, eu na época bem que avisei.

Meu voto no primeiro turno em 2018 foi em Ciro Gomes. Achei que ele naquele momento era o candidato que o Brasil precisava — mesmo com muitos defeitos. Fiquei muito triste dele nem ter passado para o segundo turno.

Eu me lembro de dois textos que escrevi faz muito tempo. Acho que ilustra também o quanto cresci, amadureci, e mudei pontos de vista. É melhor ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. No primeiro, quando eu tinha vinte e três anos, e lá eu lembro que já havia um rebuliço sobre um deputado do baixo clero que mais tarde ocuparia o assento da presidência. É esse post aqui.

Na época, muito por conta da minha imaturidade, eu dizia que na democracia deveria se respeitar todos os pontos de vista. Incluindo os que falavam sobre estados de exceção. Hoje, mais de dez anos depois, sei que liberdade não é a mesma coisa que libertinagem. Liberdade é algo que deve ser exercido com responsabilidade e dentro de regras. Libertinagem é a ausência dessas regras, que embora pareça mais livre, acaba dando voz a movimentos que cerceiam a própria liberdade.

E não, não se deve dar voz a indivíduos que querem censurar a liberdade. Esses mesmos devem ser reprimidos, pois conspiram contra o principal pilar do estado democrático de direito. Quem ameaça a democracia é um inimigo dela. E, por inúmeras vezes, o atual ocupante do assento da presidência o fez repetidamente nesses últimos quatro anos.

Em um texto ainda mais recente, que escrevi em 2016, aos vinte e oito anos, eu comentava exatamente sobre o mesmo inominável, e o quanto era perigoso o facto do mesmo estar escalonando na preferência pública. Ainda faltavam dois anos, mas eu nem precisei de muito tempo para sacar que não havia nada de bom pra sair dali.

A verdade é que o país está em frangalhos. Um indivíduo que não tinha um único plano de governo, perdemos um número irrecuperável de vidas em uma pandemia — tenho até medo do que o Censo vai revelar em breve — envolto de corrupção e imerso nela também, cheio de falácias e mentiras, criando um grupo de seguidores aguerridos que têm seus cérebros lavados por propaganda gerenciada pelo seu segundo filho.

Sem considerar que, um país que não tem o mínimo de estabilidade econômica e governamental, não vai conseguir nunca se mostrar um ambiente seguro para investimentos. E considerando que o atual líder dessa nação não viaja, não faz acordos, e não se presta a dialogar com ninguém (nem mesmo com os outros políticos desse país), isso afasta qualquer possibilidade de que esse país firme acordos comerciais com o mundo, nos tornando de uma das maiores economias globais, para um pária internacional com fome, desemprego, pobreza, e outras diversas coisas.

Ontem, conversando com um amigo, lembramos do falecido Leo. Quando o resultado do segundo turno saiu na última eleição presidencial, ele comentou comigo que era uma vitória merecida, que ele mesmo tinha voltado nele, e que o país entraria nos eixos com um ministério técnico, sem corrupção, e que iria "terminar a mamata". Eu desde muito antes divergia totalmente dele, dizia que esse homem não tinha um pingo de preparo, que ele iria afundar o país, e que seriam quatro anos de pura miséria. Mas aí, olha o nível:


Nem precisamos dizer quem estava certo. Uma pena que o Leo não viveu para ver até o fim o governo.

Enquanto escrevo aqui, ouvi pela janela umas pessoas falando na rua. Acabaram de falar: "Melhor votar no Lula porque quando ele era presidente o Brasil tava legal". E como eu mesmo já disse, não será um governo perfeito. Haverá corrupção, ele terá que pegar o país em frangalhos, com fome, economia quebrada, desmatamento, e sem relevância internacional. E sei também que será muito difícil taxar fortunas, como do Saverin, do Véio da Havan, ou do Lehmann, do Safra, etc.

Mas essas frentes amplas democráticas que andam se erguendo nesse mundo onde diversos insurgimentos da extrema-direita se espalham como uma doença por incontáveis países, quero dormir tranquilo com a certeza de que, no mínimo, o Estado Democrático de Direito não será ameaçado. Jogando na lixeira da história esses últimos tumultuosos anos que vivemos.

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