Diários Nipônicos - #11
Último dia começou bem. Fomos para o templo direto e somente
tivemos tempo de cumprimentar o Buda pra depois descer e nos trocarmos. O dia
começou chuvoso. Lembro do que a Keishu-sama disse numa das cerimônias
anteriores que não importa qual fosse o clima no dia, ele seria realizado sob
chuva ou sob sol.
Porém conforme a manhã foi passando o tempo foi abrindo.
Porém estava fresquinho na hora que fomos para o local para irmos pra área do
Homa. Meu medo era que estivesse muito sol.
E então começou. Na hora não sei como explicar. A gente
simplesmente foca e segue reto. Porém eu estava muito, muito, muito nervoso. Eu
ia dar o meu melhor não via esse mix de emoções como algo ruim. Mas eu estava
bem tenso. E então a procissão começou com a Keishu-sama no final dela.
Quando ela entrou na área do Homa nós temos que fazer uma
reverência pra ela no momento que ela passar na nossa frente. Eu estava olhando
pra ela, tentando entrar em comunhão com ela, e ela apenas olhava pra baixo,
concentrada com seu cajado, indo até o local que deveria ficar sentada. Foi aí
que algo aconteceu.
Do nada os olhos da Keishu-sama se encontraram com os meus.
Ela olhou de uma maneira bem profunda pros meus olhos por uns dois segundos que
não sei como explicar, mas todo aquele meu nervosismo passou. Senti uma grande
leveza em mim, provavelmente fui alvo da força incrível do Bakku-daiju. E, do
nada, toda essa energia que estava de alguma forma me impedindo se foi, e eu relaxei.
No meio do Saito Homa no centenário da fonte espiritual Shojushin-in.
Fiz minha performance, dei o máximo de mim. Não estava com
minha voz 100%, mas dei o meu melhor! Ao entrar fiz uma reverência pra
Keishu-sama e pro Achala. De algum lugar eu tinha tirado força, e tudo daria
certo!
Depois que a cerimônia acabou fomos nos encontrar com a
Keishu-sama.
Quem leu as palavras de gratidão foi o Lee-san, da Coréia do
Sul. Depois disso todos nós falamos obrigado em nossa língua e a Keishu-sama
começou a agradecer um a um com um aperto de mão e olhando nos nossos olhos. Eu
nesse momento não queria tradução, queria apenas ouvir sua delicada voz ao vivo
e guardar aquele momento pra sempre no meu coração. Quando foi a minha vez de
ela pegar na minha mão ela falou algo pra mim, porém não tinha entendido, e
todos deram risada e eu também dei risada, sem entender nada.
Depois disso fomos almoçar, trocamos de roupa e durante o
almoço fiquei pensando nessa energia que me acalmou que senti do nada quando
meus olhos se encontraram com os da Keishu-sama.
Foi aí que a Cirella, da Holanda, chegou em mim e disse: “E
aí, tá se preparando pro Saito Homa no Brasil?”. E eu disse: “Saito Homa no
Brasil? Num tô sabendo de nada!”, e ela respondeu: “Como não tá sabendo? A
Keishu-sama disse na sua frente, você não ouviu a tradução?”.
Durante a hora que estávamos apertando as mãos disseram que
eu era do Brasil. Keishu Shinso, sumo-sacerdotisa de Shinchoji olhou pra mim
naquele momento e disse: “Oh, Brasil? Eu adoraria fazer um Saito Homa no
Brasil!”.
E eu não ouvi a tradução. E depois que ouvi isso, mesmo
considerando isso apenas como uma possibilidade, eu chorei igual uma criança de
felicidade.
Logo depois muitos vieram ao meu encontro me apoiando,
dizendo que eu tenho uma grande missão quando voltar pro Brasil, ajudar a fazer
crescer ainda mais pra ser capaz de trazer a Keishu-sama pro Brasil novamente.
Nico, o reinosha que esteve conosco todo esse tempo veio pra
mim e disse que deveríamos fixar uma meta e seguir atrás dessa meta. Mesmo que
nós não façamos 100%, mesmo que seja apenas 60% a compaixão da Keishu-sama
encherá os 40% restantes por nós. Mal acabou uma missão e começou outra!
Voltamos para nossos dormitórios e atendendo um convite do
Ernest do Havaí fomos conhecer um restaurante de uns amigos dele que são
reinoshas e eles se conhecem há mais de trinta anos. Comida ótima, foi ótimo
conversar com nossos novos amigos de diferentes locais do mundo. Sem dúvida
carregarei todas essas pessoas no meu coração pelo resto da minha vida.
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