O que a tragédia na Boate Kiss significa pra mim.
Eu lembro como se fosse ontem. Estava almoçando em casa quando vi a notícia urgente: uma boate na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, pegou fogo, e o número de mortos só estava crescendo.
Normalmente ao vermos uma tragédia, a primeira coisa que fazemos é culpar as autoridades, ou o dono do local. “Ah, foi culpa desse governo corrupto!”, “Não, foi culpa dos bombeiros que não fiscalizaram corretamente!”, ”Com certeza a culpa é do cara da banda que acendeu o fogo de artifício!”. Mas independente de quem será considerado culpado, já havíamos perdidos muitas vidas – e vidas de jovens.
Toda vez que via mais notícias, mais eu ficava aterrorizado. Acho que a aquela imagem dos caras do lado de fora com marretas quebrando a parede vai ficar pra sempre na minha memória. O número de mortos não paravam de aumentar.
E eu, naquele momento, estava no meio de um treinamento budista, o Treinamento de Inverno. Acho que a gente acaba ficando mais sensível nessa época, porque toda vez que via as imagens, meu coração doía e apertava. Toda vez que ouvia as palavras dos pais que tentavam ligar pros seus filhos já mortos que não atendiam o celular, eu ficava com aquilo entalado na garganta. Quando via que existiam pessoas hospitalizadas em estado grave, mais triste eu ficava.
E no dia 28, enquanto assistia ao Jornal Nacional, vendo a matéria, comecei a sentir um grande mal estar estomacal. Ia ao banheiro, fazia cocô, e nada da dor passar. Disse pra minha mãe que precisava deitar um pouco, que não estava me sentindo muito bem, e que logo iria passar.
Minutos depois eu estava gritando: “Mãe, pelo amor de deus! Me traz uma bolsa de água quente, que está insuportável!”.
De fato estava. Minha mãe sabe que eu sou um cara sem frescuras. Normalmente eu fico quietinho, não gosto de preocupar as pessoas, mas que dor era aquela? Ia descendo para os meus testículos e todo meu lado direito do abdome doía em ressonância. Por mais chás que eu tomasse aquilo não era um mal estar estomacal. Com uma bolsa de água quente colocada na parte direita da minha cintura eu pedia ajuda pros Budas, pois aquela dor era tão intensa que até estava me fazendo vomitar (de dor).
Ficava entoando “Namu shinnyo ichinnyo dai-hatsu nehan kyo” muitas, muitas, muitas vezes. Pedia ajuda pros Budas para passarem, foi aí que a dor foi passando, mas até eu estava sem energia e adormeci instantaneamente.
No outro dia, sem dor nenhuma, fui no médico pra saber o que era aquilo. Uma pedra de 7 mm estava no canal entre o rim e a bexiga, e até mesmo o médico estranhou, pois ele disse: “Era pra você estar se remoendo no chão de dor agora. Não sei como você não está sentindo nada”.
Mas eu ainda estava preocupado com as pessoas em Santa Maria. Sei que mesmo sendo de súbito isso, muitas pessoas queridas me mandavam orações via Facebook que vi depois, mas eu não queria nenhum tipo de oração pra mim. Gostaria que naquele momento orassem por Santa Maria, não pela minha recuperação.
A operação correu tudo bem, no outro dia. Passando pelos canais é claro que as notícias eram sempre de Santa Maria. Em um dos depoimentos de uma jovem que sobreviveu, mesmo eu ali, paralisado pelas anestesias e com muita dor, chorei, chorei muito. E unia minhas mãos em gassho, para que os Budas ajudassem todas as famílias que estavam passando por aquilo, e que não precisasse se preocupar comigo.
Por muitas vezes eu orava pelas pessoas em Santa Maria, mesmo que naquele momento toda a região ali da bexiga ardesse e urinasse sangue puro. Aquilo não era nada perto do sofrimento que eles estavam passando.
Desde então tenho me dedicado em sempre que possível oferecer pedidos de consolação espiritual para as vítimas. E vejo que as mãos dos Budas têm surtido efeito ótimo, os parentes dos sobreviventes criaram grupos de amparo, e fazem até mesmo donativos para instituições de caridade. Vendo isso, só tenho como agradecer por todo o apoio que os Budas deram para essas famílias, pois sem dúvida, foi e ainda deve ser uma dor muito maior do que aquela que eu senti nos rins.
Normalmente ao vermos uma tragédia, a primeira coisa que fazemos é culpar as autoridades, ou o dono do local. “Ah, foi culpa desse governo corrupto!”, “Não, foi culpa dos bombeiros que não fiscalizaram corretamente!”, ”Com certeza a culpa é do cara da banda que acendeu o fogo de artifício!”. Mas independente de quem será considerado culpado, já havíamos perdidos muitas vidas – e vidas de jovens.
Toda vez que via mais notícias, mais eu ficava aterrorizado. Acho que a aquela imagem dos caras do lado de fora com marretas quebrando a parede vai ficar pra sempre na minha memória. O número de mortos não paravam de aumentar.
E eu, naquele momento, estava no meio de um treinamento budista, o Treinamento de Inverno. Acho que a gente acaba ficando mais sensível nessa época, porque toda vez que via as imagens, meu coração doía e apertava. Toda vez que ouvia as palavras dos pais que tentavam ligar pros seus filhos já mortos que não atendiam o celular, eu ficava com aquilo entalado na garganta. Quando via que existiam pessoas hospitalizadas em estado grave, mais triste eu ficava.
E no dia 28, enquanto assistia ao Jornal Nacional, vendo a matéria, comecei a sentir um grande mal estar estomacal. Ia ao banheiro, fazia cocô, e nada da dor passar. Disse pra minha mãe que precisava deitar um pouco, que não estava me sentindo muito bem, e que logo iria passar.
Minutos depois eu estava gritando: “Mãe, pelo amor de deus! Me traz uma bolsa de água quente, que está insuportável!”.
De fato estava. Minha mãe sabe que eu sou um cara sem frescuras. Normalmente eu fico quietinho, não gosto de preocupar as pessoas, mas que dor era aquela? Ia descendo para os meus testículos e todo meu lado direito do abdome doía em ressonância. Por mais chás que eu tomasse aquilo não era um mal estar estomacal. Com uma bolsa de água quente colocada na parte direita da minha cintura eu pedia ajuda pros Budas, pois aquela dor era tão intensa que até estava me fazendo vomitar (de dor).
Ficava entoando “Namu shinnyo ichinnyo dai-hatsu nehan kyo” muitas, muitas, muitas vezes. Pedia ajuda pros Budas para passarem, foi aí que a dor foi passando, mas até eu estava sem energia e adormeci instantaneamente.
No outro dia, sem dor nenhuma, fui no médico pra saber o que era aquilo. Uma pedra de 7 mm estava no canal entre o rim e a bexiga, e até mesmo o médico estranhou, pois ele disse: “Era pra você estar se remoendo no chão de dor agora. Não sei como você não está sentindo nada”.
Mas eu ainda estava preocupado com as pessoas em Santa Maria. Sei que mesmo sendo de súbito isso, muitas pessoas queridas me mandavam orações via Facebook que vi depois, mas eu não queria nenhum tipo de oração pra mim. Gostaria que naquele momento orassem por Santa Maria, não pela minha recuperação.
A operação correu tudo bem, no outro dia. Passando pelos canais é claro que as notícias eram sempre de Santa Maria. Em um dos depoimentos de uma jovem que sobreviveu, mesmo eu ali, paralisado pelas anestesias e com muita dor, chorei, chorei muito. E unia minhas mãos em gassho, para que os Budas ajudassem todas as famílias que estavam passando por aquilo, e que não precisasse se preocupar comigo.
Por muitas vezes eu orava pelas pessoas em Santa Maria, mesmo que naquele momento toda a região ali da bexiga ardesse e urinasse sangue puro. Aquilo não era nada perto do sofrimento que eles estavam passando.
Desde então tenho me dedicado em sempre que possível oferecer pedidos de consolação espiritual para as vítimas. E vejo que as mãos dos Budas têm surtido efeito ótimo, os parentes dos sobreviventes criaram grupos de amparo, e fazem até mesmo donativos para instituições de caridade. Vendo isso, só tenho como agradecer por todo o apoio que os Budas deram para essas famílias, pois sem dúvida, foi e ainda deve ser uma dor muito maior do que aquela que eu senti nos rins.
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