Doppelgänger - #31 - Os que confiam em você, esperam seu retorno.
Uma gota havia caído na minha testa.
Era geladinha. Senti ela escorrendo pro meu lado esquerdo, até que encostou no meu cabelo. Fazia um pouco de cócegas nesse momento. Mas era bom. Me lembrava de quando eu tomava chuva no calor. Era tão refrescante.
Comecei a abrir o olho lentamente. No início tudo estava embaçado. Via o luar na minha frente entre as folhas das árvores, e refletindo o luar, eu via gotículas de água caindo. Aquilo era tão bonito. Aquilo parecia tão real.
Eu estava deitado no chão. Mas eu sentia a grama, sentia a terra, e por um momento me senti como se eu fosse um com a terra, com o céu, com o mar, o universo e tudo.
Aquilo era uma sensação excelente.
Aquilo era estar vivo.
- - - - - - - - - - - -
"Não é possível!!", gritou Ravena.
"Pelos deuses, ele acordou! Ora seu...", gritou o mestre.
Al se ergueu do chão. Estava sentado ainda, observando tudo à sua volta. Foi aí que ele viu o mestre correndo em sua direção e lhe dando um soco no rosto.
"Discípulo tolo! Como você conseguiu escapar da hipnose da Ravena?", gritou o mestre.
"Nossa... Então foi tudo uma ilusão mesmo? Aquele papo de eu estar com a pessoa que eu mais amo feliz, envelhecer, e o tiro na cabeça?", Al perguntou.
"Minha nossa... Você não conseguiria fazer isso sozinho. Por acaso foi aquela mulher de cabelo roxo?", gritou Ravena, incrédula.
"Não é roxo. É cor-de-beringela. E sim... Ela foi minha esposa, fomos casados, mas ela faleceu em 2006 nos meus braços. Eu nunca consegui superar direito a morte dela, mas ver que ela me ajudou tanto... Nossa. Engraçado que isso tudo é bem real, é inconfundível saber onde estou. Quanto tempo eu fiquei desacordado?".
"Vinte e nove minutos...", disse Ravena.
"Só isso? Parece que foi uma eternidade. Eu ainda consigo lembrar muitos dos dias que eu vivi enquanto estava nos sonhos. Mas pelo visto, você foi pega, certo?".
Ravena estava com as mãos atadas por uma corda firme de sisal, amarrada num tronco de uma árvore. Pelo visto o mestre havia acordado e detido ela, mas despertar da hipnose não era algo que Ravena poderia fazer. Al havia tido muita sorte de ter encontrado a Val.
"Bom, acho que você nos deve explicações, Ravena. Você mexe mesmo com coisas espirituais?", disse Al, erguendo-se.
"Sim...", disse Ravena, já que não tinha outra opção, "Meu nome é Amanda Figuerola. Sou da Costa Rica".
"Uma médium da Costa Rica?", disse o mestre.
"Eu fui criada numa família católica, mas as pessoas no meu vilarejo ao saberem desse meu poder espiritual me acusaram de fazer bruxaria, de que toda essa mediunidade era coisa de Satanás e tudo mais. Pessoas na rua me xingavam, até que um dia...", ela estava lacrimejando.
"Um dia...?", perguntou o mestre.
"Um dia dois primos meus me encurralaram nos fundos de casa, ninguém estava em casa, e diziam que eu era uma bruxa, e merecia pagar por isso. Mandaram eu ficar quieta e que se abrissem a boca ninguém acreditaria, pois eu era uma feiticeira, e aí... Eles me estupraram violentamente".
Al cerrou os olhos a ouvir isso. Era estranho ouvir um negócio desses de uma pessoa tão jovem.
"Uma semana depois 'ele' apareceu", dise Ravena.
"Ele?", Al perguntou.
"Arch", ela disse.
"O que?!", Al exclamou, surpreso.
"Ele estava em uma missão, tinha que acabar com a farra de alguns traficantes de armas que estavam levando armas da Nicarágua. Eu sei que mal pareço ter vinte anos, mas tenho trinta e nove anos já. Arch salvou minha vida, me deu um novo nome, e me trouxe para a terra da liberdade - a América. E lá usei toda essa capacidade espiritual para resolver casos policiais".
"Não fico abismado por você ser uma médium e usar seus poderes pra ajudar na Inteligência. Isso é bem comum, embora seja uma espécie de tabu entre muitos detetives", disse o mestre, "O que mais me intriga é que o Arch está nessa história. Ele que te ajudou e te deu uma nova vida?".
"Arch me salvou de todas as maneiras possíveis. E a morte dele me deixou sem chão. Continuei trabalhando em Langley, mas não era a mesma coisa. Eu vi que alguns novos chefões lá não acreditavam nas minhas visões, até que me chutaram de lá. Quando eu não tinha nada, Ar apareceu. Soa irônico, né? Sou salva pelo pai e pelo filho. E agora, meu destino está nas mãos do irmão".
"Você tem muito potencial, mas estar envolvida com as pessoas que você está envolvida não vai te trazer nenhum futuro", Al iniciou, "Meu irmão pode ter salvado você, e o Ar pode ter te dado uma nova vida, mas eu gostaria mesmo era de libertar você".
Al se aproximou e cortou as cordas que a amarravam.
"Viver na Inteligência é uma vida podre, onde não temos direito a nada, e somos apenas ferramentas de quem nos paga. Gostaria era de ver você livre. Viva uma nova vida, uma vida comum. Acho que isso é o melhor que posso oferecer a você", disse Al.
Nesse momento, Ravena jogou sua cabeça no chão em agradecimento e chorou. Chorou como se tivesse ganho o maior presente da vida.
- - - - - - - - - -
"Aqui está sua 'passagem'. Tem uma pista de pouso próximo aqui, acho que trouxeram um jato Real pra te buscarem. Enquanto estiver no vôo, leia o dossiê do 'n'", disse o mestre.
"O que? Estava com o senhor?", Al perguntou, abismado.
"Sim. Ele me pediu pra entregar apenas depois que o treinamento acabar. Vá agora, discípulo tolo. As pessoas que confiam em você estão esperando seu retorno".
Era geladinha. Senti ela escorrendo pro meu lado esquerdo, até que encostou no meu cabelo. Fazia um pouco de cócegas nesse momento. Mas era bom. Me lembrava de quando eu tomava chuva no calor. Era tão refrescante.
Comecei a abrir o olho lentamente. No início tudo estava embaçado. Via o luar na minha frente entre as folhas das árvores, e refletindo o luar, eu via gotículas de água caindo. Aquilo era tão bonito. Aquilo parecia tão real.
Eu estava deitado no chão. Mas eu sentia a grama, sentia a terra, e por um momento me senti como se eu fosse um com a terra, com o céu, com o mar, o universo e tudo.
Aquilo era uma sensação excelente.
Aquilo era estar vivo.
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"Não é possível!!", gritou Ravena.
"Pelos deuses, ele acordou! Ora seu...", gritou o mestre.
Al se ergueu do chão. Estava sentado ainda, observando tudo à sua volta. Foi aí que ele viu o mestre correndo em sua direção e lhe dando um soco no rosto.
"Discípulo tolo! Como você conseguiu escapar da hipnose da Ravena?", gritou o mestre.
"Nossa... Então foi tudo uma ilusão mesmo? Aquele papo de eu estar com a pessoa que eu mais amo feliz, envelhecer, e o tiro na cabeça?", Al perguntou.
"Minha nossa... Você não conseguiria fazer isso sozinho. Por acaso foi aquela mulher de cabelo roxo?", gritou Ravena, incrédula.
"Não é roxo. É cor-de-beringela. E sim... Ela foi minha esposa, fomos casados, mas ela faleceu em 2006 nos meus braços. Eu nunca consegui superar direito a morte dela, mas ver que ela me ajudou tanto... Nossa. Engraçado que isso tudo é bem real, é inconfundível saber onde estou. Quanto tempo eu fiquei desacordado?".
"Vinte e nove minutos...", disse Ravena.
"Só isso? Parece que foi uma eternidade. Eu ainda consigo lembrar muitos dos dias que eu vivi enquanto estava nos sonhos. Mas pelo visto, você foi pega, certo?".
Ravena estava com as mãos atadas por uma corda firme de sisal, amarrada num tronco de uma árvore. Pelo visto o mestre havia acordado e detido ela, mas despertar da hipnose não era algo que Ravena poderia fazer. Al havia tido muita sorte de ter encontrado a Val.
"Bom, acho que você nos deve explicações, Ravena. Você mexe mesmo com coisas espirituais?", disse Al, erguendo-se.
"Sim...", disse Ravena, já que não tinha outra opção, "Meu nome é Amanda Figuerola. Sou da Costa Rica".
"Uma médium da Costa Rica?", disse o mestre.
"Eu fui criada numa família católica, mas as pessoas no meu vilarejo ao saberem desse meu poder espiritual me acusaram de fazer bruxaria, de que toda essa mediunidade era coisa de Satanás e tudo mais. Pessoas na rua me xingavam, até que um dia...", ela estava lacrimejando.
"Um dia...?", perguntou o mestre.
"Um dia dois primos meus me encurralaram nos fundos de casa, ninguém estava em casa, e diziam que eu era uma bruxa, e merecia pagar por isso. Mandaram eu ficar quieta e que se abrissem a boca ninguém acreditaria, pois eu era uma feiticeira, e aí... Eles me estupraram violentamente".
Al cerrou os olhos a ouvir isso. Era estranho ouvir um negócio desses de uma pessoa tão jovem.
"Uma semana depois 'ele' apareceu", dise Ravena.
"Ele?", Al perguntou.
"Arch", ela disse.
"O que?!", Al exclamou, surpreso.
"Ele estava em uma missão, tinha que acabar com a farra de alguns traficantes de armas que estavam levando armas da Nicarágua. Eu sei que mal pareço ter vinte anos, mas tenho trinta e nove anos já. Arch salvou minha vida, me deu um novo nome, e me trouxe para a terra da liberdade - a América. E lá usei toda essa capacidade espiritual para resolver casos policiais".
"Não fico abismado por você ser uma médium e usar seus poderes pra ajudar na Inteligência. Isso é bem comum, embora seja uma espécie de tabu entre muitos detetives", disse o mestre, "O que mais me intriga é que o Arch está nessa história. Ele que te ajudou e te deu uma nova vida?".
"Arch me salvou de todas as maneiras possíveis. E a morte dele me deixou sem chão. Continuei trabalhando em Langley, mas não era a mesma coisa. Eu vi que alguns novos chefões lá não acreditavam nas minhas visões, até que me chutaram de lá. Quando eu não tinha nada, Ar apareceu. Soa irônico, né? Sou salva pelo pai e pelo filho. E agora, meu destino está nas mãos do irmão".
"Você tem muito potencial, mas estar envolvida com as pessoas que você está envolvida não vai te trazer nenhum futuro", Al iniciou, "Meu irmão pode ter salvado você, e o Ar pode ter te dado uma nova vida, mas eu gostaria mesmo era de libertar você".
Al se aproximou e cortou as cordas que a amarravam.
"Viver na Inteligência é uma vida podre, onde não temos direito a nada, e somos apenas ferramentas de quem nos paga. Gostaria era de ver você livre. Viva uma nova vida, uma vida comum. Acho que isso é o melhor que posso oferecer a você", disse Al.
Nesse momento, Ravena jogou sua cabeça no chão em agradecimento e chorou. Chorou como se tivesse ganho o maior presente da vida.
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"Aqui está sua 'passagem'. Tem uma pista de pouso próximo aqui, acho que trouxeram um jato Real pra te buscarem. Enquanto estiver no vôo, leia o dossiê do 'n'", disse o mestre.
"O que? Estava com o senhor?", Al perguntou, abismado.
"Sim. Ele me pediu pra entregar apenas depois que o treinamento acabar. Vá agora, discípulo tolo. As pessoas que confiam em você estão esperando seu retorno".
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