Treinamento Anual 2015



Todo ano fico ansioso quando vai chegando o Treinamento Anual da Shinnyo-en. É uma época em que quero dar o meu melhor, tentar me aproximar da dedicação dos Pais do Ensinamento e dos Dois Meninos, sem contar que é algo muito precioso poder fazer. Eu já começo a ter ideias pro vídeo de incentivo em agosto ou setembro, no ano passado consegui agilizar ele com alguns amigos e já no final de novembro já estava prontinho (veja acima!). Isso sem contar a dedicação em outras coisas, como cartão de presença, gravação das narrações e até edição dos vídeos finais me confiaram esse ano. Muita, muita coisa! Mas agradeço, porque é grande parte ajuda dos Budas e da confiança que eles ainda têm em mim - mesmo eu deixando-os muito tristes com toda a bagunça que eu faço.

Muita gente que pratica budismo pratica meio como se fossem isolados numa ilha, quando na verdade é um caminho de grande veículo. Comigo é um pouco mais elaborado... Eu me preocupo demais com meus afilhados e com as pessoas à minha volta. Acho que é muito por eu não ter uma madrinha muito presente como eu queria. E aí os Budas me colocam grandes desafios, que é enviar muitos treinamentos pesados pra meus afilhados, acabando com meu coração. E nessa época aconteceu de tudo, tudo pra me fazer me sentir muito mal. Não porque era algo comigo, eu sofro o dobro quando é algo com eles. Foi avó do meu afilhado que faleceu, amiga que parasitava minha afilhada, conjuntivite que contraiu um dia antes do treinamento, um trabalho novo que apareceu, namorada ciumenta, até calha do telhado que amigo meu devia trocar. Isso porque só citei o que lembro agora.

Convites foram feitos. No primeiro dia (23/1) veio uma pessoa às 6h da matina! É mole? Fiquei no aguardo de mais pessoas à noite, e veio uma pessoa só (esperava umas quatro). Isso foi na sexta. No sábado (24/1) veio um afilhado num horário que deixei só pra ele (por conta do serviço dele). Ficamos conversando bastante até tarde. E no domingo (25/1), meu aniversário de cinco anos de conexão ao Ensinamento Shinnyo, foi apenas eu.

É bem duro, porque nessas horas a gente vê que a gente não tem força nenhuma. Que tudo é graças à grande compaixão e benevolência dos Budas, e que é totalmente errado dizer "Foi eu que fiz isso", porque não foi. Quem faz são Eles, somos um mero grão de areia na palma deles (Sun Wukong não lhes ensinou nada?). Tinha que ser assim, lutar pra que? Eu que deveria ter uma meditação melhor. Eu tive tempo pra chamar eles, pra lembrar eles, mas acabei não o fazendo. Se aconteceu essa falha foi inteiramente culpa minha, e peço desculpas sinceras aos Budas por não ter correspondido às expectativas deles.

Na segunda (26/1) fui com minha mãe na Pinacoteca, e começou o período do meio. Queríamos ver o Ron Mueck, mas a fila dobrava o quarteirão. Atravessamos a rua e fomos no museu da Língua Portuguesa, que ela não havia visitado ainda. Durante a sessão lá do "Planetário da Língua", e quando ouvi "Amor é fogo que arde sem se ver" de Luis de Camões lembrei da menina que estou apaixonado. E chorei, porque nunca havia visto algo que descrevesse tão bem o que sinto por ela. E isso porque no dia anterior ela tinha enviado um e-mail daqueles... Fria, distante, rude, me tratando com os chutes dela, como se eu fosse um animal. Talvez no dia que ela perceber que o que ela faz volta contra ela, talvez ela consiga arranjar o amor que ela tanto buscou... Mas até lá, não posso responder da mesma maneira. Minha única resposta é... Amor. Sincero e puro. Porque a única coisa me move agora é a felicidade em sentir isso por ela!

Na terça (27/1) fiquei em casa, assistindo uns filmes, dando uma ajeitada na casa. Na quarta (28/1) teve cerimônia no templo e fui lá. Fiquei muito agradecido com o que o sesshin havia me indicado, mesmo que muitas pessoas pudessem ouvir isso de maneira ruim. Primeiro que crescimento sempre é aos poucos, e que devemos continuar sempre humildemente fazendo esforços. Foi indicado também "dar as costas", e buscar sempre harmonia com os meus arredores, mantendo um esforço sincero pois nunca se eleva de um dia pro outro.

Vi e refleti que eu não havia me esforçado realmente. E que, de fato, havia virado as costas pra muitas pessoas que meu julgamento minúsculo de mundo me dizia "não convide essa pessoa". Os Budas não vêem números. Eles vêem esforços. Diversos grandes mestres durante esses dois milênios e meio de budismo mal conseguiram fazer grandes feitos (exceto uns fodões, tipo Nagarjuna, Kukai, Shobo Rigen, Xuanzhang, etc). Mas acima de tudo Buda viu o esforço de todos que era sincero e os protegeu. Será que era isso que estava faltando em mim?

Ao sair do templo, enquanto voltava pro metrô vi uma formação linda no céu. Parecia um círculo azul perfeito, se abrindo no meio das nuvens. Lembrei do trecho do Sutra de Lótus (Saddharma Pundarika), "O portal universal do bodhisattva Kannon", pois aquilo parecia muito. Sempre tive dificuldades em entender o pobre Avalokiteshvara (Kannon, em japonês)... Sempre o Achala pra mim era mais fácil de meditar sobre ele. Pra mim o Avalokiteshvara era nada mais que um bodhisattva que passava a mão na cabeça das pessoas. E eu não queria ninguém passando a mão na minha cabeça. Mas acho que assim como os católicos oram por Maria, para que rogue por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte, o Avalokiteshvara tinha esse mesmo papel.

Quando eu olhei para aquela nuvem eu vi que talvez Kannon seria isso. Um portal universal, que aceita todas as pessoas, sejam as que tiveram êxito ou não. Que todos nós éramos dignos da sua compaixão, porque no fundo somos nós todos humanos, somos fracos, nem sempre nossa sinceridade chega nas pessoas, mas que não deveríamos deixar de tentar. E quando estivéssemos pulando de alegria, eles nos dariam mais alegria. E quando estivéssemos chorando, eles estariam lá para nos confortar. Pobre do humano que não compreende a imensa compaixão dos bodhisattvas para nossas vidas.

Na quinta (28/1) eu comecei ás 11h a entrar no Facebook, disparar e-mails, whatsapp... E pra todas as pessoas que convidava eu explicava de maneira simples, sempre tentando fazer com que a pessoa entendesse a essência da coisa e ficasse interessada. Cada mensagem era única, eu não copiava e colava em outro lugar. Convidei um total de trinta pessoas. Dizem que de dez, uma aparece, então pelo menos pode ser que eu teria umas três!

Eu não deveria desistir. Os Budas já estavam abençoando o bastante não deixando um tempo quente insuportável como estava antes.

Na sexta (29/1) minha prima e seu filho junto da minha tia nos visitaram. Fiz churros pra eles. Eu gosto muito de criança, e o Miguel, filho da minha prima, é pequenino, tem apenas uns dois aninhos. Ficamos assistindo Peppa, Hi-5 e todos aqueles seriados infantis do Discovery Kids. No sábado começaria o período de fechamento! Resta saber se aqueles trinta e tantos convites surtiriam efeito.

No sábado (30/1) bem... Não vieram tantas pessoas, infelizmente. Só foi... Eu. Nesse dia eu refleti um bocado em gratidão pelos meus pais por me deixarem abrir a casa pra fazer o treinamento. E também nesse dia o Bidu, o poodle da minha mãe, parece que está nas últimas. Pedi muito pros Budas para se ele tivesse que ir, que fosse em paz. E talvez fosse meio mesquinho pedir isso, mas não queria que o cachorro falecesse justo no meio do Treinamento Anual. Tá um clima pesadão aqui em casa.

No domingo (01/2) veio um amigo meu! O mesmo que veio no sábado passado. E como sempre ficamos depois batendo papo, o tempo voou. Muita gente ficaria era muito feliz em fazer o treinamento sozinho. Talvez pensariam que não precisaria ir pro templo e tal. Mas eu não. Eu queria era muitas pessoas vindo em casa, porque eu sou uma pessoa solitária que não gosta de ser solitário (hã?).

E na segunda (02/2) não sei se vai vir alguém pela noite, porque de manhã não tinha ninguém. (se vier ou não eu edito isso! O segundo horário é às 20h30!)

EDIT: SIM! Apareceram DUAS pessoas na segunda! Foi ótimo, e eles nem eram conectados ao Ensinamento ainda. E... Adoraram! Ficamos conversando até umas 23h sobre budismo, religião e tudo mais, foi um baita dia demais, e quando terminou e foram embora agradeci aos Budas por não terem me deixado na mão. Valeu por todos os dias e todas as frustrações, imagina um cara feliz!

Treinamento Anual é sempre um treinamento muito bom! Foi nele que eu e muitas pessoas começaram. Eu também comecei nele, há cinco anos. E sempre é uma época mágica, onde em todas as situações eu vejo mais claramente os intentos dos Budas. Talvez não tenha sido o sucesso que eu estava pensando que seria, com a torcida inteira do Corinthians em casa. Mas eu vi o valor do esforço, e se talvez não tivesse tido o sesshin no meio, provavelmente eu não teria aberto os olhos pra ver com tanta clareza a importância dos esforços!

Embora não tenham vindo tantas pessoas quanto eu imaginava, sinto que aprendi tanto quanto se tivessem vindo muitas pessoas. Dizem que a gente tem que ser grato quando esses desvios de percurso acontecem, pois mostra que os Budas sabem que a gente é forte e segura o tranco. E sei que o treinamento em outros lugares as pessoas conseguiram chamar dezenas de pessoas, ao contrário de mim. Mas, parando pra pensar, se fossem eles que estivessem com poucas pessoas, será que eles olhariam a coisa por esse aspecto que eu vejo? Existe uma imensa compaixão tanto quando algo é bom ou ruim. Os próprios Fundadores já passaram por inúmeros casos de mancada das pessoas que faltavam, e nem por isso desistiram, e nem por isso vou desistir.

Simplesmente... Acontece! =D

Não vou ficar mal pensando que poderia ter me esforçado mais. Ok, talvez até poderia ter feito mais ainda, isso não é desculpa pra ficar sentado e me achando. Mas no budismo nos é ensinado que lutar contra algo já definido é uma luta já perdida, que ganhamos muito mais acolhendo, nos adaptando, do que lutando contra. Se não deu certo, porque tenho que ficar com esse pensamento? Eu tentei, uai! E estou feliz com isso!

Eu comecei esse treinamento meditando sobre o Achala. Mas terminarei esse treinamento meditando calmamente sobre o Kannon. ;)

Obrigado de coração aos Budas pelo valoroso treinamento!

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