Doppelgänger - #74 - A volta de quem não havia ido.
20h05
Al estava na prisão.
E nem tinha ideia do que estava acontecendo do lado de fora. Menos ainda sabia do desfecho da luta entre Agatha e Sara. Pelo menos torcia para que acontecesse o melhor.
"Senhor, aqui está sua comida", disse o guarda.
Al se ergueu e foi até ele. Era indiano. E tinha também o uniforme da SAS.
"Obrigado", disse Al, que se surpreendeu ao ver que ele relativamente jovem, mesmo com tantas insígnas no peito, "Você é relativamente jovem pra estar nesse posto que está. Meus parabéns".
"Eu não sou tão jovem, senhor. E não acho que eu seja tão destacado assim", ele falava inglês perfeitamente, sem sotaque.
"Você é nascido aqui no Reino Unido?", perguntou Al, reparando na sua lapela com seu sobrenome: Bose.
"Sim. Minha família é da Índia, migraram pra cá ainda nos tempos que era parte do império inglês. Eu devo ser quinta ou sexta geração que vive aqui", disse o guarda.
"Excelente", disse Al, dando uma mordida no sanduíche, "Bose é seu nome? Pode me chamar de Al. Você é bem mais legal que os seus outros companheiros".
"Ah, muito prazer. Meu nome é Ramachandra Bose. Sou tenente-coronel do quinto regimento do Special Air Service", Bose disse.
Al ficou meio sem jeito. Nunca teve facilidade com esses nomes indianos.
"Uau, belo currículo. Realmente você não aparenta a idade, já é tenente-coronel, huh? Me chame de Al mesmo. Sou... Um office-boy da Rainha", brincou Al.
Bose sorriu.
"Sei bem quem o senhor é. Seu irmão mais velho foi uma lenda", disse Bose.
"Pft... Não consigo mesmo fugir da sombra do meu irmão", brincou Al.
Nessa hora Bose se aproximou do gradil da porta, olhando pros lados pra saber se ninguém estava de olho, e colocou a mão perto da boca, como se quisesse falar algo baixinho. Al aproximou o ouvido.
"Senhor Al, quero que me ouça e não expresse nenhuma surpresa. Estou tentando tirar o senhor daqui. Eu não gosto nem um pouco do Dawson, e você deve saber que ele está atrás de você. Ele parece estar querendo alguma coisa que não sabemos, mas de qualquer forma não confio nele. Estou junto da Natalya Briegel, estamos bolando um plano pra tirar o senhor daí o mais rápido possível. O senhor está numa base da SAS perto de Brighton, sul do Reino Unido. Londres é aqui pertinho, mas a dificuldade vai ser tirar o senhor daí. Dawson mandou todos os guardas ficarem atentos e cuidar de você com prioridade máxima, mas estamos trabalhando pra tirar o senhor daqui nessa noite ainda. Peço apenas um pouco de paciência e que confie em nós", disse Bose.
"Tudo bem, Bose. Vou ficar aguardando. Tome cuidado você também. Dawson embora seja do alto escalão da Yard, também não me inspira muita confiança", disse Al.
"Obrigado, senhor", disse Bose, saindo.
Al resolveu tirar um cochilo depois de comer o sanduíche gelado. Tava frio e escuro. Parece que consideravam ele realmente um preso de alta periculosidade, pois não o colocaram junto de mais ninguém. Acordou ouvindo ao longe o que pareciam ser gritos. Talvez aquilo fosse algum outro preso maluco chamando a atenção. Mas os gritos pareciam se misturar com um barulho estranho, como se fosse algo pneumático sendo acionado. Como um motor, ou algo assim.
De súbito o barulho parou. Inclusive os gritos. Já passavam das nove da noite, Al poderia enfim virar pro outro lado e tentar cochilar. Seu corpo tremia por causa do vento gelado. Tentar dormir passando frio é muito ruim, pois o corpo fica numa de ficar desperto e ao mesmo tempo o cansaço nos domina. Cochilamos e acordamos depois de cinco minutos. É realmente algo ruim.
Entre um sono e outro, Al ouviu alguns passos, e percebeu que alguém estava aparentemente parado na frente na porta da cela.
E a pessoa ficou lá parada. Um barulho de um molho de chaves foi ouvido, e uma chave entrou no buraco.
Puxa, finalmente..., pensou Al. Uma pessoa veio resgatá-lo!
Quando a porta abriu, o vento trouxe um cheiro de sândalo e lavanda que ele conhecia muito bem.
Os cheiros de uma pessoa muitas vezes acabam virando a identidade da pessoa. Por mais que o número de fragrâncias seja relativamente limitado, Al tinha um estranho dom de reconhecer as pessoas pelo cheiro. E associava a pessoa com aquele cheiro. Ele também tinha os perfumes dele, mas por mais que tentasse usar outro perfume, nada substituía a fragrância de sândalo misturada com lavanda.
Aquele cheiro havia sido memorizado na sua mente de tal forma, que ele persistia em usar aquele mesmo perfume. E só se sentia bem, limpo e cheiroso usando esse cheiro. Esse cheio significava algo pra ele, pois uma pessoa muito importante na vida dele usava esse cheio, e usar esse cheio o fazia sentir mais próximo dessa pessoa. Esse cheio o fazia se sentir seguro. Caso contrário, não achava que aquele cheio refletia a sua personalidade.
Mas aquele aroma da pessoa que havia aberto a porta, e ficado em pé na frente sem entrar na cela, era inconfundível.
Al não conseguia ver seu rosto. A luz estava na outra direção, apenas via sua silhueta.
Era necessário mesmo ver a silhueta da pessoa? Só uma pessoa usaria aquele exato perfume, e somente uma pessoa que ele conhecia exalava tal atmosfera imponente e respeitosa.
"O que está fazendo aí, maninho? Levanta logo, vamos dar o fora daqui!"
Al arregalou os olhos. Aquilo só podia ser brincadeira! A silhueta ia se tornando cada vez mais clara a cada momento que ia se aproximando, com a luz parca iluminando o rosto. O cheiro era inegável e dominava suas narinas.
"...M-Mano?!", disse Al, surpreso.
Seu falecido irmão mais velho Arch estava vivo, na sua frente, inexplicavelmente.
Al estava na prisão.
E nem tinha ideia do que estava acontecendo do lado de fora. Menos ainda sabia do desfecho da luta entre Agatha e Sara. Pelo menos torcia para que acontecesse o melhor.
"Senhor, aqui está sua comida", disse o guarda.
Al se ergueu e foi até ele. Era indiano. E tinha também o uniforme da SAS.
"Obrigado", disse Al, que se surpreendeu ao ver que ele relativamente jovem, mesmo com tantas insígnas no peito, "Você é relativamente jovem pra estar nesse posto que está. Meus parabéns".
"Eu não sou tão jovem, senhor. E não acho que eu seja tão destacado assim", ele falava inglês perfeitamente, sem sotaque.
"Você é nascido aqui no Reino Unido?", perguntou Al, reparando na sua lapela com seu sobrenome: Bose.
"Sim. Minha família é da Índia, migraram pra cá ainda nos tempos que era parte do império inglês. Eu devo ser quinta ou sexta geração que vive aqui", disse o guarda.
"Excelente", disse Al, dando uma mordida no sanduíche, "Bose é seu nome? Pode me chamar de Al. Você é bem mais legal que os seus outros companheiros".
"Ah, muito prazer. Meu nome é Ramachandra Bose. Sou tenente-coronel do quinto regimento do Special Air Service", Bose disse.
Al ficou meio sem jeito. Nunca teve facilidade com esses nomes indianos.
"Uau, belo currículo. Realmente você não aparenta a idade, já é tenente-coronel, huh? Me chame de Al mesmo. Sou... Um office-boy da Rainha", brincou Al.
Bose sorriu.
"Sei bem quem o senhor é. Seu irmão mais velho foi uma lenda", disse Bose.
"Pft... Não consigo mesmo fugir da sombra do meu irmão", brincou Al.
Nessa hora Bose se aproximou do gradil da porta, olhando pros lados pra saber se ninguém estava de olho, e colocou a mão perto da boca, como se quisesse falar algo baixinho. Al aproximou o ouvido.
"Senhor Al, quero que me ouça e não expresse nenhuma surpresa. Estou tentando tirar o senhor daqui. Eu não gosto nem um pouco do Dawson, e você deve saber que ele está atrás de você. Ele parece estar querendo alguma coisa que não sabemos, mas de qualquer forma não confio nele. Estou junto da Natalya Briegel, estamos bolando um plano pra tirar o senhor daí o mais rápido possível. O senhor está numa base da SAS perto de Brighton, sul do Reino Unido. Londres é aqui pertinho, mas a dificuldade vai ser tirar o senhor daí. Dawson mandou todos os guardas ficarem atentos e cuidar de você com prioridade máxima, mas estamos trabalhando pra tirar o senhor daqui nessa noite ainda. Peço apenas um pouco de paciência e que confie em nós", disse Bose.
"Tudo bem, Bose. Vou ficar aguardando. Tome cuidado você também. Dawson embora seja do alto escalão da Yard, também não me inspira muita confiança", disse Al.
"Obrigado, senhor", disse Bose, saindo.
Al resolveu tirar um cochilo depois de comer o sanduíche gelado. Tava frio e escuro. Parece que consideravam ele realmente um preso de alta periculosidade, pois não o colocaram junto de mais ninguém. Acordou ouvindo ao longe o que pareciam ser gritos. Talvez aquilo fosse algum outro preso maluco chamando a atenção. Mas os gritos pareciam se misturar com um barulho estranho, como se fosse algo pneumático sendo acionado. Como um motor, ou algo assim.
De súbito o barulho parou. Inclusive os gritos. Já passavam das nove da noite, Al poderia enfim virar pro outro lado e tentar cochilar. Seu corpo tremia por causa do vento gelado. Tentar dormir passando frio é muito ruim, pois o corpo fica numa de ficar desperto e ao mesmo tempo o cansaço nos domina. Cochilamos e acordamos depois de cinco minutos. É realmente algo ruim.
Entre um sono e outro, Al ouviu alguns passos, e percebeu que alguém estava aparentemente parado na frente na porta da cela.
E a pessoa ficou lá parada. Um barulho de um molho de chaves foi ouvido, e uma chave entrou no buraco.
Puxa, finalmente..., pensou Al. Uma pessoa veio resgatá-lo!
Quando a porta abriu, o vento trouxe um cheiro de sândalo e lavanda que ele conhecia muito bem.
Os cheiros de uma pessoa muitas vezes acabam virando a identidade da pessoa. Por mais que o número de fragrâncias seja relativamente limitado, Al tinha um estranho dom de reconhecer as pessoas pelo cheiro. E associava a pessoa com aquele cheiro. Ele também tinha os perfumes dele, mas por mais que tentasse usar outro perfume, nada substituía a fragrância de sândalo misturada com lavanda.
Aquele cheiro havia sido memorizado na sua mente de tal forma, que ele persistia em usar aquele mesmo perfume. E só se sentia bem, limpo e cheiroso usando esse cheiro. Esse cheio significava algo pra ele, pois uma pessoa muito importante na vida dele usava esse cheio, e usar esse cheio o fazia sentir mais próximo dessa pessoa. Esse cheio o fazia se sentir seguro. Caso contrário, não achava que aquele cheio refletia a sua personalidade.
Mas aquele aroma da pessoa que havia aberto a porta, e ficado em pé na frente sem entrar na cela, era inconfundível.
Al não conseguia ver seu rosto. A luz estava na outra direção, apenas via sua silhueta.
Era necessário mesmo ver a silhueta da pessoa? Só uma pessoa usaria aquele exato perfume, e somente uma pessoa que ele conhecia exalava tal atmosfera imponente e respeitosa.
"O que está fazendo aí, maninho? Levanta logo, vamos dar o fora daqui!"
Al arregalou os olhos. Aquilo só podia ser brincadeira! A silhueta ia se tornando cada vez mais clara a cada momento que ia se aproximando, com a luz parca iluminando o rosto. O cheiro era inegável e dominava suas narinas.
"...M-Mano?!", disse Al, surpreso.
Seu falecido irmão mais velho Arch estava vivo, na sua frente, inexplicavelmente.
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