Doppelgänger - #96 - Quando Nataku voltou a ser Lucca.
“Lucca, huh?”, disse Schwartzman, carregado de ironia.
Nataku em um só golpe puxou o braço de Schwartzman pra si com o controle remoto, e o derrubou, aplicando uma chave de braço. Os turistas na frente do Monumento olhavam para aquilo sem entender o que estava acontecendo.
“Chega disso aqui”, disse Nataku, pegando o controle da mão, apertando o botão e jogando-o no chão, e com um golpe com sua própria mão quebrando-o, deixando inutilizável.
A dor de cabeça estava enfim passando.
“Escuta, Nataku... Vamos conversar, vai. Você tem que ouvir. Afinal, você... É a minha CRIAÇÃO!”, disse Schwartzman.
Nataku ficou abismado. Aquilo o abalou tanto que mesmo que tentasse segurar Schwartzman as palavras “minha criação” ecoavam na mente dele. Como uma expressão simples como aquela o havia feito passar tão mal? Soltou Schwartzman, que ficou de pé, enquanto ele parecia suar frio, sentindo algo no estômago.
Aquele mesmo enjôo estranho que sentiu quando se encontrou com Ar, dias atrás.
“O que quer dizer com isso?”, disse Nataku, querendo saber mais sobre ele ser a ‘criação’ de Schwartzman.
“Eu sou um engenheiro biológico, e ex-chefe da seção médica do Sector 9. Você é o meu trabalho mais bem feito, foi a minha cobaia que deu certo. O homem que estava praticamente morto que voltou das portas do inferno. Você nunca se perguntou porque desse seu codinome, né? Nezha, Nataku...”, disse Schwartzman.
Nataku se ergueu. Eliza Vogl estava atrás de Nataku, se protegendo de Schwartzman. Nataku não respondeu nada.
“Depois do expurgo de Arch, você por ser o braço direito dele tinha sua cabeça valendo o peso de ouro. Porém, o governo havia investido muito dinheiro em você. Você não era tão abaixo do Arch, vocês eram uma dupla e tanto, e mesmo sozinho era um ótimo agente da Inteligência. Não poderíamos dar ao luxo de te perder. E eles sabiam que eu estava com um curioso estudo sobre implante de memórias e persona nas pessoas. E como você deveria ser morto do mesmo jeito, a maneira que encontraram era usar você como cobaia. Se você morresse, seria jogado do lixo do mesmo jeito, a ideia era aproveitar a carcaça que havia sobrado de você”, disse Schwartzman.
“Cobaia? Você tá me dizendo que tudo isso em mim foi culpa sua?”, disse Nataku.
“Achei que seria mais prático te implantar uma doença que não atacasse muito o cérebro, logo te contaminei com uma pneumonia agressiva, e você morreu, sem maiores dificuldades. Ou melhor... Estava praticamente morto, sinais vitais bem fracos. Nesse momento o Al ainda não sabia disso. Afinal, você deve até se lembrar de ter se encontrado com ele ainda em 1995”, disse Schwartzman.
“Tá... E o que fizeram comigo?”, disse Nataku.
“Fizemos uma obra de arte!”, disse Schwartzman, erguendo os braços, “Criamos células-tronco, te mantemos drogado em um coma por anos a fio enquanto moldávamos seu corpo ao nosso gosto. Foi quando seu corpo já estava praticamente pronto que o Al descobriu tudo. Sabe, ele queria que você morresse, disse que você deveria descansar, e que isso era imoral te deixar semi-morto, imerso em drogas... Mas dane-se a ética! Se nazistas furavam judeus vivos, porque eu não poderia brincar com meu próprio humano e trazê-lo de volta à vida?”, disse Schwartzman.
“Você... Você é um monstro...”, disse Nataku. Seus olhos estavam marejados de lágrimas de fúria.
“A melhor obra foi no seu cérebro. Reconstruímos muitos tecidos, neurônios, mas por conta da baixa atividade cerebral no seu estado praticamente morto perdemos muitas células. Se você voltasse a vida, voltaria como um retardado comum, e seria inútil. Todo aquele trabalho reconstruindo seus órgãos com células tronco suas e incontáveis embriões com seu DNA que matamos teria sido jogado ao lixo. Como o cérebro funciona com impulsos elétricos, consegui alterar aspectos da sua memória, e até adicionando memórias que não eram suas nele! Depois era só dar um choque e apagar tudo de novo. Ficamos inserindo e apagando coisas ao nosso bel prazer na sua massa encefálica”, disse Schwartzman.
“E foi aí que você inseriu essas coisas na minha mente? Isso é doentio... Isso parece impossível!”, disse Nataku.
“Implantes cirúrgicos no seu cérebro. Ao apertar o botão do controle remoto...”, disse Schwartzman, olhando pros frangalhos do que era um controle remoto no chão, “...Ou pelo menos quando eu tinha esse controle remoto, uma descarga elétrica era disparada no seu cérebro. Foi assim que nós brincávamos com as suas memórias. Fizemos o implante das placas pra facilitar o trabalho”, disse Schwartzman.
“Ora, seu... Mas porque colocou meu codinome como Nezha e Nataku? O que significa?”, perguntou Nataku.
“Com os danos permanentes no seu cérebro, todas as vezes que nós despertávamos você, percebíamos que você ainda mantinha todas as habilidades. Mas não tinha sentimentos. Não tinha passado. Não tinha sequer uma alma. Nezha e Nataku são os nomes em chinês pro deus da mitologia chinesa que não possui alma. Esse era o nome perfeito pra você. Afinal, você não tem uma alma, Lucca”, disse Schwartzman.
“Ele tem uma alma sim!”, gritou Vogl, atrás da perna de Nataku, “O Natak... Quer dizer, o Lucca é uma pessoa sensível e sincera. Eu confio totalmente nele, e nunca uma pessoa que ‘não tivesse uma alma’ seria assim!”, disse Eliza Vogl, quebrando o seu silêncio.
“Você é minha criação, Nataku”, disse Schwartzman. De novo o enjôo e os calafrios voltaram a atormentar Nataku, “O cérebro humano é algo mesmo fascinante. Você associou no seu inconsciente comandos. Todas as vezes que você sofria, todas as vezes que tinha que dar um novo choque pra apagar sua mente, eu olhava pra você com orgulho naquele câmara hiperbárica e dizia...”.
“...Você é a minha criação...”, completou Nataku, “Agora entendo os pesadelos que eu tinha de estar me afogando e ouvir isso...”.
“Exato! Talvez os pesadelos sejam traumas psiquiátricos que ficaram... Efeitos colaterais em prol de um bem melhor. Eu criei o agente perfeito. Imortal. Com corpo aprimorado, e ao mesmo tempo completamente submisso. O Al pediu pra te matar, mas olha só o que você se tornou. Você é um ser perfeito. Tão perfeito que eu jamais aceitaria uma prole sua. Você é completamente estéril também, pode fazer sexo, mas jamais vai fecundar alguém. A perfeição que você é jamais pode se misturar com as imperfeitas biscates que se tem por aí”, disse Schwartzman.
Nataku permaneceu calado, olhando pra baixo. Sua cabeça estava a mil. Ainda mais quando soube que sua vida estava nas mãos do Al. Mas Lucca já estava morto. Lucca estava doente, havia tido inclusive morte cerebral, mas foi revivido. E virou então uma espécie de Frankenstein, usado nas manipulações biológicas de Schwartzman. No fundo voltar a viver foi talvez algo contra o desejo da natureza. Não era pra ele estar vivo.
Mas já que ele estava vivo, já que ele teve uma segunda chance, ele sentia que deveria sim aproveitar. Fazer a diferença. E voltar a ser quem ele era. Quem ele nunca deixou de ser.
“Não quero que me chame mais disso”, disse Nataku.
“Te chamar? Chamar do quê? Nataku?”, disse Schwartzman.
“É. Meu nome é Lucca. Giancarlo Lucca”, finalizou Lucca.
Nataku em um só golpe puxou o braço de Schwartzman pra si com o controle remoto, e o derrubou, aplicando uma chave de braço. Os turistas na frente do Monumento olhavam para aquilo sem entender o que estava acontecendo.
“Chega disso aqui”, disse Nataku, pegando o controle da mão, apertando o botão e jogando-o no chão, e com um golpe com sua própria mão quebrando-o, deixando inutilizável.
A dor de cabeça estava enfim passando.
“Escuta, Nataku... Vamos conversar, vai. Você tem que ouvir. Afinal, você... É a minha CRIAÇÃO!”, disse Schwartzman.
Nataku ficou abismado. Aquilo o abalou tanto que mesmo que tentasse segurar Schwartzman as palavras “minha criação” ecoavam na mente dele. Como uma expressão simples como aquela o havia feito passar tão mal? Soltou Schwartzman, que ficou de pé, enquanto ele parecia suar frio, sentindo algo no estômago.
Aquele mesmo enjôo estranho que sentiu quando se encontrou com Ar, dias atrás.
“O que quer dizer com isso?”, disse Nataku, querendo saber mais sobre ele ser a ‘criação’ de Schwartzman.
“Eu sou um engenheiro biológico, e ex-chefe da seção médica do Sector 9. Você é o meu trabalho mais bem feito, foi a minha cobaia que deu certo. O homem que estava praticamente morto que voltou das portas do inferno. Você nunca se perguntou porque desse seu codinome, né? Nezha, Nataku...”, disse Schwartzman.
Nataku se ergueu. Eliza Vogl estava atrás de Nataku, se protegendo de Schwartzman. Nataku não respondeu nada.
“Depois do expurgo de Arch, você por ser o braço direito dele tinha sua cabeça valendo o peso de ouro. Porém, o governo havia investido muito dinheiro em você. Você não era tão abaixo do Arch, vocês eram uma dupla e tanto, e mesmo sozinho era um ótimo agente da Inteligência. Não poderíamos dar ao luxo de te perder. E eles sabiam que eu estava com um curioso estudo sobre implante de memórias e persona nas pessoas. E como você deveria ser morto do mesmo jeito, a maneira que encontraram era usar você como cobaia. Se você morresse, seria jogado do lixo do mesmo jeito, a ideia era aproveitar a carcaça que havia sobrado de você”, disse Schwartzman.
“Cobaia? Você tá me dizendo que tudo isso em mim foi culpa sua?”, disse Nataku.
“Achei que seria mais prático te implantar uma doença que não atacasse muito o cérebro, logo te contaminei com uma pneumonia agressiva, e você morreu, sem maiores dificuldades. Ou melhor... Estava praticamente morto, sinais vitais bem fracos. Nesse momento o Al ainda não sabia disso. Afinal, você deve até se lembrar de ter se encontrado com ele ainda em 1995”, disse Schwartzman.
“Tá... E o que fizeram comigo?”, disse Nataku.
“Fizemos uma obra de arte!”, disse Schwartzman, erguendo os braços, “Criamos células-tronco, te mantemos drogado em um coma por anos a fio enquanto moldávamos seu corpo ao nosso gosto. Foi quando seu corpo já estava praticamente pronto que o Al descobriu tudo. Sabe, ele queria que você morresse, disse que você deveria descansar, e que isso era imoral te deixar semi-morto, imerso em drogas... Mas dane-se a ética! Se nazistas furavam judeus vivos, porque eu não poderia brincar com meu próprio humano e trazê-lo de volta à vida?”, disse Schwartzman.
“Você... Você é um monstro...”, disse Nataku. Seus olhos estavam marejados de lágrimas de fúria.
“A melhor obra foi no seu cérebro. Reconstruímos muitos tecidos, neurônios, mas por conta da baixa atividade cerebral no seu estado praticamente morto perdemos muitas células. Se você voltasse a vida, voltaria como um retardado comum, e seria inútil. Todo aquele trabalho reconstruindo seus órgãos com células tronco suas e incontáveis embriões com seu DNA que matamos teria sido jogado ao lixo. Como o cérebro funciona com impulsos elétricos, consegui alterar aspectos da sua memória, e até adicionando memórias que não eram suas nele! Depois era só dar um choque e apagar tudo de novo. Ficamos inserindo e apagando coisas ao nosso bel prazer na sua massa encefálica”, disse Schwartzman.
“E foi aí que você inseriu essas coisas na minha mente? Isso é doentio... Isso parece impossível!”, disse Nataku.
“Implantes cirúrgicos no seu cérebro. Ao apertar o botão do controle remoto...”, disse Schwartzman, olhando pros frangalhos do que era um controle remoto no chão, “...Ou pelo menos quando eu tinha esse controle remoto, uma descarga elétrica era disparada no seu cérebro. Foi assim que nós brincávamos com as suas memórias. Fizemos o implante das placas pra facilitar o trabalho”, disse Schwartzman.
“Ora, seu... Mas porque colocou meu codinome como Nezha e Nataku? O que significa?”, perguntou Nataku.
“Com os danos permanentes no seu cérebro, todas as vezes que nós despertávamos você, percebíamos que você ainda mantinha todas as habilidades. Mas não tinha sentimentos. Não tinha passado. Não tinha sequer uma alma. Nezha e Nataku são os nomes em chinês pro deus da mitologia chinesa que não possui alma. Esse era o nome perfeito pra você. Afinal, você não tem uma alma, Lucca”, disse Schwartzman.
“Ele tem uma alma sim!”, gritou Vogl, atrás da perna de Nataku, “O Natak... Quer dizer, o Lucca é uma pessoa sensível e sincera. Eu confio totalmente nele, e nunca uma pessoa que ‘não tivesse uma alma’ seria assim!”, disse Eliza Vogl, quebrando o seu silêncio.
“Você é minha criação, Nataku”, disse Schwartzman. De novo o enjôo e os calafrios voltaram a atormentar Nataku, “O cérebro humano é algo mesmo fascinante. Você associou no seu inconsciente comandos. Todas as vezes que você sofria, todas as vezes que tinha que dar um novo choque pra apagar sua mente, eu olhava pra você com orgulho naquele câmara hiperbárica e dizia...”.
“...Você é a minha criação...”, completou Nataku, “Agora entendo os pesadelos que eu tinha de estar me afogando e ouvir isso...”.
“Exato! Talvez os pesadelos sejam traumas psiquiátricos que ficaram... Efeitos colaterais em prol de um bem melhor. Eu criei o agente perfeito. Imortal. Com corpo aprimorado, e ao mesmo tempo completamente submisso. O Al pediu pra te matar, mas olha só o que você se tornou. Você é um ser perfeito. Tão perfeito que eu jamais aceitaria uma prole sua. Você é completamente estéril também, pode fazer sexo, mas jamais vai fecundar alguém. A perfeição que você é jamais pode se misturar com as imperfeitas biscates que se tem por aí”, disse Schwartzman.
Nataku permaneceu calado, olhando pra baixo. Sua cabeça estava a mil. Ainda mais quando soube que sua vida estava nas mãos do Al. Mas Lucca já estava morto. Lucca estava doente, havia tido inclusive morte cerebral, mas foi revivido. E virou então uma espécie de Frankenstein, usado nas manipulações biológicas de Schwartzman. No fundo voltar a viver foi talvez algo contra o desejo da natureza. Não era pra ele estar vivo.
Mas já que ele estava vivo, já que ele teve uma segunda chance, ele sentia que deveria sim aproveitar. Fazer a diferença. E voltar a ser quem ele era. Quem ele nunca deixou de ser.
“Não quero que me chame mais disso”, disse Nataku.
“Te chamar? Chamar do quê? Nataku?”, disse Schwartzman.
“É. Meu nome é Lucca. Giancarlo Lucca”, finalizou Lucca.
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