Um cachorro chamado Beto.
EDIT: Beto partiu desse mundo em paz, hoje, dia 9 de setembro de 2015, ás 20h45. Vá em paz, meu irmão.
O Betão hoje recebeu o diagnóstico da veterinária: ele não vai aguentar por muito tempo. Teremos que sacrifica-lo muito em breve.
Mal deu pra nos recuperarmos no baque que foi a perda do Bidu em fevereiro e temos essa péssima surpresa. Meus pais levaram o Beto pra fazer exames hoje e os resultados não foram bons. Parece que ele tinha uma pedra no rim que não conseguiu passar pra bexiga e causou rompimento do canal da bexiga. Uma veia está infeccionando o corpo dele. Entramos com antibiótico, mas o jeito é sacrificar mesmo.
Num momento como esse que eu vivo, com o coração desolado por causa de uma garota, sem emprego há mais de um ano, deprimido bastante com tudo o que acontece, atarefado de coisas pra fazer, e me acontece mais isso. Um sesshin me indicou que isso é muito valioso, pois eu mais do que nunca estou conhecendo perfeitamente como é o sofrimento humano, e que isso tudo vai me fazer crescer muito.
Mas precisava ter mais isso? Ás vezes eu penso assim.
Essa foto foi uma das primeiras que tirei quando o Beto chegou em casa. Beto vivia na casa das inquilinas da minha avó Judite. O cachorro sempre foi muito amigo, "invadia" a casa da minha avó com seu jeito molecão, mas ao mesmo tempo era muito maltratado. Era magro, cheio de pulgas, e vivia numa escada debaixo de sol e chuva. Beto sofreu muito, tínhamos muita dó quando víamos o cachorro na casa alugada pela minha avó.
Beto mesmo sendo um cachorro que sofreu o pão que o diabo amassou, sempre foi um cachorro muito iluminado. Ele sempre pensava no bem estar dos outros, por mais que ele sofresse também. Sempre estava disposto a brincar, sempre me recebia em casa pulando e deixando a marca da pata nas minhas calças jeans (o que me deixava obviamente, muito puto), mas sempre era carinhoso. Corria pulando de felicidade, era um cachorro que mesmo depois de velho - e banguela - continuava sorrindo.
Nem parecia o cachorro que minha avó pediu pra gente adotar, pois ele tava sendo muito mal cuidado pela inquilina dela. Beto engordou, perdeu as pulgas, ficou com um pelo lindo e brincava livre no quintal, tinha proteção contra a chuva aqui em casa, e parecia que vivia todo dia grato a isso - e não tenho dúvida que mesmo se ele não tivesse isso tudo, ele seria grato da mesma forma, pois Beto me ensinou a ser grato por toda coisa pequena que temos.
Ele chegou em 2007. Todas as pessoas que vinham em casa ficavam abismados em como o cachorro era amistoso - do pedreiro até o medidor de luz. Muitas vezes a gente ficava trabalhando no quintal e ele ficava quietinho, olhando. E se você olhasse pra ele, ele balançava o rabo e vinha ao nosso encontro. Beto sempre foi um vira-lata inacreditável.
E mesmo eu, nesse momento péssimo que estou vivendo, com todo esse sofrimento inesgotável que eu ando passando, nesse momento não consigo parar de chorar imaginando que estamos vendo os seus últimos momentos de sua vida. E muitas vezes olho pra cima e pergunto porque os budas são tão cruéis comigo? Eu, que sempre fui uma pessoa feliz, que levava felicidade para os outros, agora estou vivendo o momento mais triste da minha vida. Da onde querem que eu tire forças pra seguir em frente, se essa tristeza me corrói por dentro como nunca antes nada o tenha feito?
Beto voltou pra casa. Tomou um antibiótico, mas não vai durar muito tempo. Provavelmente amanhã o sacrificaremos. O que mais me deixa admirado vendo o Beto é que mesmo ele sofrendo as dores que ele sente, ele ainda continua sentado lá, virado pra gente, e quando vamos fazer carinho ele continua nos olhando com carinho, e por fora parece que nada está acontecendo com ele por dentro.
Beto é um cachorro forte e gentil. E isso me faz refletir bastante. Que só quem é realmente muito forte é capaz de mostrar bondade pros outros. Mesmo ele sentindo o que ele está sentindo, ele é forte o suficiente pra continuar balançando o rabinho como se tudo estivesse bem.
Acho que tenho muito, muito a aprender com ele. Todos nós.
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