Amber #14 - Duelo em Barcelona (2)

Mas que merda, esses dois tinham que justo agora soltar aquele cara?, pensou Schultz enquanto fazia um sinal com as mãos para que Sundermann e Goldberg se aproximassem dele.

Os tiros pareciam ter parado de um lado, talvez alguém estava carregando sua arma. Eles estavam num depósito de armas, o que mais havia ali eram armamentos, quase que em escala infinita. Ou pelo menos para causar tantos furos nos três, que os triturariam como carne moída.

“Goldberg, Sundermann, preciso que vocês me dêem cobertura. Aquele da ponta esquerda está mais fácil de pegar. Goldberg, mire nele, Sundermann, atire contra a mulher e o outro, vai tentar dar a volta por trás. Tente impedi-los a todo custo!!”, disse Schultz. Ambos balançaram a cabeça positivamente.

Schultz, embora gostasse de mostrar que era alguém abaixo de Briegel, tinha suas qualidades também. Os dois eram os melhores entre os melhores, não apenas em experiência de campo, mas manejo também de armamento e até combate corpo-a-corpo. Os dois eram equivalentes em habilidades de combate e inteligência, apesar dos dez anos a menos que Schultz tinha. E ambos eram muito acima da média considerando todos os agentes da SD e talvez até da Inteligência mundial. Schultz apenas tinha um pente reserva, mas sabia que provavelmente com três ou quatro disparos iria acabar com aquilo.

Ambos pegaram em uma das muitas caixas de armamentos ali fuzis alemães. Sundermann quebrou a madeira de uma delas e sacou de lá uma StG 44, um rifle de assalto alemão contrabandeado. Já Schultz confiaria na sua boa e velha Browning HP, 9mm. Treze tiros naquele cartucho e mais treze num pente extra.

Sundermann começou a mirar no capanga que avançava pela direita, tentando se aproximar deles dando a volta por trás. Já Goldberg mirava em Sarah Sarkin e no outro. Schultz ficou apenas encostado, aguardando a hora pra subir. Quando percebeu que o capanga que Goldberg estava mirando iria a trocar o cartucho, Schultz se ergueu, e só precisou de um tiro, que acertou no meio da testa. Precisão cirúrgica do disparo. Schultz aproveitou e correu e se escondeu atrás de uma pilastra.

Aquele era o lugar perfeito, onde ele teria uma visão privilegiada do que vinha pela direita, querendo acertar Sundermann. O capanga de Sarkin vinha correndo e mirando em Schultz, mas sequer viu que Sundermann estava também mirando nele, e com poucos tiros o derrubou.


“Idiota!! Não se exalte!!”, gritou Sarah Sarkin, mas era tarde.

Muito bem. Uma bala a menos vou precisar gastar. Essa foi ótima, Sundermann!, pensou Schultz.

Mal o capanga abatido por Sundermann havia caído no chão, Schultz saiu da pilastra e deu dois disparos contra Sarah Sarkin. Um acertou a mão que estava engatilhada no fuzil e outro tiro acertou o outro ombro dela. Sarah Sarkin com o impacto bateu na parede atrás dela e caiu no chão, deixando um rastro de sangue na parede. Com os três trabalhando em conjunto conseguiram acabar com tudo aquilo em tempo recorde. Sarah estava abatida no chão, observando os dois.

“Muito bem, parece que levamos essa”, disse Schultz, se aproximando de Sarah Sarkin, “O engenheiro que viemos atrás está ali em cima, certo?”

“Isso. A escada está logo atrás dessa estante”, disse Sarah Sarkin.

“Bom, enquanto você ainda não sangrou até morrer, quero te fazer umas perguntinhas. Eu ouvi falar mesmo que Francisco Franco havia pedido ajuda de Hitler pra poder derrubar o governo aqui. Mas na verdade a Alemanha Nazista oficialmente não poderia ajudar. Então todo esse armamento entrou aqui ilegalmente de propósito?”, perguntou Schultz, guardando sua Browning HP no coldre, dentro do paletó.

“É. Sarkin não é traficante de armas coisa alguma. O governo sabe da importância dele. E justamente um judeu como ele, fazendo o trabalho sujo pra ajudar Adolf Hitler”, disse Sarah.

“Mas que merda. Se o nosso objetivo nunca foi deter Sarkin, então qual era o objetivo então?”, nessa hora Schultz arregalou os olhos, como se o objetivo estivesse sendo esfregado na sua cara.

“Isso. Era na verdade salvar os engenheiros! O armamento era apenas um pretexto!”, disse Sundermann.

“Sabe, eu acho tão engraçado vocês aí, achando que por serem agentes da Inteligência são os donos da verdade. Mas pelo visto você não devem ser desses que obedecem cegamente aquele idiota do Hitler. Mas saiba que onde você está pisando é no escuro...”, disse Sarah Sarkin.

“O que você quer dizer com isso?”, perguntou Schultz.

“Vocês então entrando num caminho sem volta se continuarem a querer entrar mais e mais nesse buraco que vocês estão investigando. Existe muita, muita, realmente muita coisa podre”, Sarah Sarkin, foi lentamente colocando as mãos nas suas costas, buscando algo. Sundermann e Goldberg estavam tensos, mas Schultz, mesmo percebendo ficava apenas observando, “Se eu fosse vocês, só salvaria esses engenheiros e nunca mais tentaria descobrir o que está por detrás de tudo. Pois vocês nunca mais vão conseguir colocar a cabeça nos seus travesseiros a noite pra dormir se descobrirem!”.

Nessa hora Sarah sacou uma arma, que estava escondida atrás, presa na calça. Sundermann e Goldberg se assustaram e apontaram seus fuzis pra ela, mas Schultz interviu. Sarah usou as últimas forças que tinha pra colocar a pistola na sua boca e dar um tiro, dando um fim na sua própria vida.

“Mas que merda...”, disse Schultz, observando o rosto dela caído no chão e jorrando sangue depois do disparo. Aquela visão lhe deu náuseas, mas ele se esforçou ao máximo para não demonstrar e abalar os outros dois jovens oficiais. Aquela cena parecia muito mais leve quando era vista num filme...

“Completamente louca. Esses judeus devem ser todos exterminados mesmo. São vermes desse mundo!”, disse Sundermann. Goldberg olhou pra baixo, meio com vergonha, e Schultz olhou com repúdio a Sundermann, que fingiu que não viu.

“Vamos subir e tirar o engenheiro de lá”, disse Schultz.

Mas nessa hora, enquanto eles se dirigiam à estante que escondia a escada pra subir pro andar de cima, Schultz e os outros dois tomaram um grande susto. Parecia como se fosse uma explosão, a estante foi estraçalhada como se fosse isopor. Todos se assustaram e levaram os braços para proteger o rosto dos pedaços de madeira e livros que voavam violentamente pra todos os cantos. Não havia fogo, mas parecia uma explosão, de tão forte que foi o impacto.

“Caralho, que porra é essa?”, gritou Schultz. E a resposta veio segundos depois.

Aquele ser, com uma armadura toda em cor metálica, com o punho cerrado, descendo as escadas, apareceu passando pela abertura escondida pela estante que havia acabado de destruir.

“Você...?”, disse Schultz ao reconhecer. Era o mesmo ser que havia aparecido no galpão de Sarkin, em Munique, e havia surrado Schultz e Briegel com uma força inimaginável.

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