Amber #17 - Busca em Guernica.

Guernica, Espanha

24 de abril de 1937
13h43

Briegel enfim consegue chegar em Guernica. O caminho fora complicado e difícil, e com uma ajuda da sorte conseguiu encontrar uma tropa de soldados alemães que havia sido enviada pra ajudar os revolucionários de Francisco Franco a tomar o país naquela época. Para Briegel era apenas uma carona. Já para eles eram uma honra ter uma lenda da Sicherheitsdienst ao lado deles.

Ao chegar em Guernica, Briegel exausto por conta da viagem, estava esticando os pés e tomando um ar. Haviam muitos soldados naquela região e ao longe era possível ouvir explosões. Por um momento Briegel temeu que tivesse chegado na hora errada.

“Coronel Briegel? É mesmo o senhor? É uma honra que o Führer nos tenha enviado uma lenda como o senhor para nós!”, disse um homem, falando um espanhol com muito sotaque, muito difícil de compreender.

“Ah, mucho gusto!”, disse Briegel, estendendo a mão, “E o senhor é?”.

“Rodolfo dela Rosa!”, disse Rodolfo, apertando firme a mão de Briegel, “Sou o responsável aqui por essa área. Não sabia que o senhor falava espanhol também”.

“Pois é. Nós da Inteligência temos que saber falar um pouco de tudo”, brincou Briegel, “Mas vim como reforço mesmo, estava investigando o carregamento que Sarkin havia enviado por ordem de Himmler. Minhas investigações apontavam pra cá. Sabe de algo?”.

“Claro! Aquilo foi enviado para nos ajudar!”, disse Dela Rosa, “Vamos enfim derrubar esse governo e tomar o poder de toda a Espanha logo, logo”.

“Espero que sim. É o que o Führer deseja”, disse Briegel, tentando entrar no jogo dele, “Escuta, sabe se nesse último envio veio umas pessoas também?”.

“Sim. Não entendi direito qual era a de Sarkin quando envia essas pessoas, mas todas elas estão sendo mantidas na fábrica de armamentos daqui da região que estamos usando pra esconder todas as armas enviadas pela Alemanha”, disse Dela Rosa.

Briegel por dentro ficou eufórico. Com certeza Alice estaria lá! Mas se manteve com o rosto imparcial, agindo do jeito meio bruto, característico dos militares alemães daquela época.

“Ótimo. E onde estão?”, perguntou Briegel, calmo.

Nessa hora Dela Rosa parou e ficou quieto. Briegel continuou o encarando. Aquele silêncio estava falando mais alto que mil palavras, e por um momento Briegel achou difícil esconder a tensão do momento.

“Ah, perdão“ disse Dela Rosa, quebrando o silêncio sepulcral, “Estão naquela direção, a leste daqui. Dá uns quinze minutos a pé nessa direção”, indicou Dela Rosa, “O nome da fábrica é Astra Unceta & Cia. Não tem erro”.

“Certo. Muchas gracias, senhor Dela Rosa”, terminou Briegel, que se virou e foi caminhando. E quando viu que estava fora do alcance da visão de Rodolfo dela Rosa começou a correr desesperadamente procurando a tal fábrica. Não demorou muito a achar.

Merda, tá trancada por dentro! Tenho que achar outra entrada, pensou Briegel. Ele estava tão desesperado em encontrar sua filha que quase deixou passar que havia uma outra entrada lateral, guardada por um soldado alemão.

“C-Coronel, Briegel!”, gaguejou o soldado ao ver Briegel, “Minha nossa, é uma honra! O senhor foi mandado pelo Führer para nos ajudar?”

“Sim. Estou com ordens do Führer pra levar embora algumas pessoas raptadas por Sarkin”, disse Briegel, mostrando uma pasta com papéis aleatória, sem dar tempo pro soldado averiguar, e mantendo uma cara bem fechada, “Preciso ir até onde estão sendo mantidos”.

“Sim, por favor, pode entrar, coronel! Temos três pessoas aqui. Estão no final daquele corredor, numa sala protegida por uma grande”, indicou o soldado.

Briegel entrou e foi direto até lá. Na sua mente parecia que enfim havia iria encontrar sua filha! O local estava vazio, e muitas caixas já haviam sido abertas e todo o armamento levado. Briegel  sem muitos problemas encontrou a cela das três pessoas mantidas naquele cárcere.

“Alice? Alice?”, chamou Briegel. Mas três pessoas se aproximaram. Três homens que sabiam falar alemão. Briegel ficou espantado. “Merda... Só tem vocês três aí?”.

“Sim, senhor. Por favor, nos solte. Prometemos que não iremos mais nos envolver com os negócios de Sarkin”, pediu um dos prisioneiros.

“Vocês eram capangas de Sarkin?”, perguntou Briegel.

“Sim, mas traímos ele, e Sarkin nos mandou com o carregamento como prisioneiros. Gostaríamos muito de voltar a Alemanha, mas estamos mantidos aqui há muito tempo! Por favor, nos liberte, senhor! Prometemos que nunca mais trabalharemos com Sarkin!”, pediu o prisioneiro.

Briegel estava triste. A ficha não parecia que tinha caído. Alice não estava lá. Estava ainda em choque, pois tinha tantas esperanças de encontrar Alice naquele lugar, e seu cérebro ainda não parecia ter processado que havia chegado a um beco sem saída.

Olhava pros homens e via um profundo arrependimento no rosto deles. Briegel sabia que eles eram criminosos, mas o que poderia fazer? Eles mesmo pareciam saber que haviam se metido em encrenca e estavam arrependidos.

O que minha filha faria? Alice… Sem dúvida você veria a bondade no rosto desses homens, o arrependimento sincero, e os libertaria. Afinal, não existe lugar como o nosso lar, no final das contas, e esses homens sem dúvida serão executados por ordens do Führer, ou das forças golpistas desse local. Estão simplesmente condenados, pensou Briegel.

“Ei, guarda, tenho ordem aqui pra levar esses três comigo. Abra a cela agora!”, disse Briegel a um soldado que se virou pra buscar a chave. Enquanto o soldado não aparecia, Briegel olhou pros prisioneiros e disse: “Sarkin foi preso e os negócios dele foram por água abaixo. Eu tenho certeza que não vão trabalhar mais pro Sarkin, nem se quisessem. Vou leva-los embora daqui”.

E Briegel então os libertou. Talvez aquele susto tivesse enfim ensinado algo a eles.

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