Amber #19 - Prometo proteger a sua felicidade.
A cidade de Guernica começou a ser bombardeada ferozmente pela Legião Condor ás 16h30 daquele 26 de abril de 1937.
Era dia em que as pessoas iam aos mercados fazer compras, tradicionalmente. Isso por si só mostrava quais eram os objetivos daquele ataque: causar a carnificina. Vários aviões cruzavam o céu jogando bombas naquela pobre cidade, matando inocentes, destruindo patrimônios, casas, prédios.
Os primeiros aviões vieram da região sul, de acordo com o que Briegel viu. Eram de fato aviões alemães, do modelo Dornier Do 17. Seus formatos de lápis eram inconfundíveis. Cinquenta quilos de bombas caíram na primeira rajada. E Briegel, a mulher, e a garota que ele havia acabado de conhecer estavam na rua, vendo os aviões cada vez mais se aproximando.
“Corram!! Vamos sair daqui agora!!”, gritou Briegel. Algumas pessoas na rua se assustaram também e começaram a correr junto deles.
Os três começaram a correr em meio aquelas pessoas, buscando algum lugar pra se proteger, mas rapidamente as explosões começaram a ocorrer, lançando detritos, poeira, pedras, em meio às ondas de impacto por todo o redor deles, enquanto eles tentavam fugir de não apenas serem alvos das bombas que os aviões lançavam, como também dos escombros das casas e edifícios que eram jogados pelos ares. O único lugar seguro era a rua. Não podiam entrar em nenhuma casa pra buscar abrigo, pois ela poderia ser sumariamente destruída. O som era ensurdecedor. Pessoas gritavam, e seus gritos agudos de mulheres e crianças se confundiam com o som grave e tenebroso das bombas destruindo a pequena Guernica. Pessoas corriam desesperadas, praticamente pisoteando umas às outras. Crianças, homens, mulheres, não havia diferença. Apenas um mais desesperado que o outro.
A cidade inteira era devastada e se tornava ruínas enquanto os três corriam para se proteger. Quilos e quilos de bombas foram despejados sem dó em Guernica, e era possível ver corpos destruídos com suas entranhas expostas, crânios rachados, sangue, fogo, animais mortos, escombros em todas as partes. Entre um bombardeio e outro Briegel e as duas mulheres corriam pra se salvar. Conseguiram correr até uma parte longe da cidade, que só tinha mato, e de lá observavam todo o estrago que estava sendo feito sem piedade sobre aquela pobre cidade.
Poucos tiveram a frieza de buscar sair do alvo que era a cidade naquele momento, e apenas correram. Alguns sobreviveram, outros morriam pisoteados, e outros tantos inocentes eram soterrados em suas casas ou ruas pelo entorno que desmoronava sem dó.
Os gritos agonizantes de vidas civis inocentes era o que mais doía. Talvez o som estaria pior, se o ouvido dos três não estivesse simplesmente tampado, depois de ouvirem tantas explosões próximas deles. Mas aquele barulho, do som das almas agonizando, aquilo sim parecia transpor aquela condição, e atingir diretamente suas almas.
“Acho que estamos seguros aqui”, disse Briegel. Depois de falar isso ele se virou e via ao longe das luzes das explosões, jogando casas, corpos, animais, tudo pelos ares. Era um espetáculo que se confundia com as luzes da noite, e os gritos dos feridos agonizando nas ruas pareciam ser mais altos que os sons das bombas sendo jogadas na cidade. Era algo que Briegel jamais esqueceria.
“Obrigada por nos ajudar a sair desse caldeirão infernal”, agradeceu a mulher loira, “Acho que agora podemos nos apresentar. Isso é, se pudermos ouvir alguma coisa depois de tanta explosão nos nossos ouvidos”.
“É verdade. Meu nome é Roland Briegel. Sou agente da Sicherheitsdienst, mas, enfim, é complicado explicar, mas eu, como membro do serviço de Inteligência, sei de todos os podres que os governantes querem esconder. Mas não apoio, e nem defendo o regime nazista. Estou aqui para salvar vidas, incluindo minha filha, que assim como vocês foi sequestrada por Sarkin”, disse Briegel, que virou seu rosto pra Guernica ao ouvir mais bombas sendo jogadas pelos aviões na cidade, “Mas vendo isso, não sei se posso ter esperanças de encontrá-la viva…”.
A mulher e a criança se olharam. Estavam sentadas encostadas em uma árvore, observando Briegel, em pé, na frente delas, entre as luzes das explosões em Guernica.
“Eu sinto muito. Espero do fundo do coração que a pessoa que você procure esteja viva e bem”, disse a mulher loira, “Meu nome é Margaret Braun. Sou alemã também. Sou engenheira bélica”.
Nessa hora Briegel virou pra ela e a encarou, como se estivesse assustado.
“Margaret Braun? Peraí… Eu lembro da ficha, de ter visto esse sobrenome. Estava escrito ‘M. Braun’! Esse ‘M’ era ‘Margaret’? Você é o engenheiro sequestrado por Sarkin?”, disse Briegel, incrédulo.
“Engenheira, na verdade. Você foi mandado pra nos resgatar?”, perguntou Margaret.
“Sim, na verdade, sim. O outro, Gehrig, está em Barcelona, e meu parceiro está lá. Provavelmente vai chegar aqui em Guernica em breve. Nossa, é realmente muita sorte te encontrar viva!”, disse Briegel.
“E o que você pretende fazer conosco, agora que nos encontrou? Nos mandar de volta pra Alemanha?”, perguntou Margaret, ficando em pé, protegendo a menina. Nessa hora a menina ao lado dela arregalou os olhos de medo. Briegel não pôde deixar de ver a reação da menina.
“Não, jamais. Eu disse que não trabalho pra ajudar Hitler. Vou dar uma desculpa que vocês foram mortas, ou sei lá, quero que vocês se refugiem em outro país. Vou conseguir fazer com que deixem a Europa sãs e salvas. Pelo menos por um tempo. Assim, salvarei a vida de vocês e não irei ajudar o Führer com seus planos ridículos”, disse Briegel.
“Eu não confio em você, espião alemão! Como raios uma pessoa iria contra o Reich e viveria pra contar estória depois?”, perguntou Margaret, dando alguns passos pra trás.
“Olha, eu sei que é difícil, mas a única coisa que eu peço é que confiem em mim”, disse Briegel, com bastante certeza, “Você tem uma arma com você, não a tirarei de ti. Pode estourar meus miolos quando desconfiar de algo. Até lá, peço que por favor, confie em mim. Eu quero realmente ajudar vocês!”.
“Posso mesmo confiar?”, disse Margaret, sacando a arma e apontando pra Briegel.
Briegel permaneceu tranquilo. Não havia motivo pra temer. Mesmo com a arma de Margaret apontada pro seu peito.
“Sim. Confie em mim. Por favor”, disse Briegel, pausadamente.
Nessa hora Margaret guardou a arma de volta. Ainda não parecia estar totalmente confiante em Briegel, mas era visível que a confiança ali naquele momento estava começando a ser conquistada. Sentia sinceridade em suas palavras. Depois de tantas pessoas caçando-as, enfim alguém em quem poderiam confiar.
“E essa menina? Sua filha?”, perguntou Briegel.
“Meu nome é Liesl. Liesl Pfeiffer”, disse a menina, “Sou prima da Maggie… Quer dizer, Margaret”.
“É. Meu pai é irmão da mãe dela. Por isso o sobrenome diferente”, explicou Margaret.
“Sim, mas, você disse que seu sobrenome é ‘Pfeiffer’. E Pfeiffer é…”, disse Briegel, pausando depois de falar.
“Sim, é judeu. Eu sou meio judia e meio alemã. Meus pais foram presos pela SS e foram enviados a Dachau”, disse Liesl.
Briegel sentiu profunda empatia pela menina. Mas ao ouvir que os pais da menina “foram enviados para Dachau” seus olhos lacrimejaram e ele se agachou. Nesse momento tinha vergonha de ser alemão. O ano já era 1937, a Guerra mal havia começado oficialmente, e muitas atrocidades já estavam ocorrendo com judeus desde a ascensão de Hitler ao poder, em 1933:
Dachau foi um dos primeiros campos de concentração criados pelos nazistas, e já passavam quatro anos desde que Hitler estava mandando-os lá para trabalharem até a morte, junto de prisioneiros de guerra soviéticos e comunistas. Judeus não tinham mais cidadania, não era permitido trabalharem, rendas confiscadas, e casamentos entre judeus e alemães eram terminantemente proibidos. E a situação apenas piorava pra eles, dia após dia.
Liesl vendo Briegel agachado na sua frente com a cabeça baixa passou a naquele momento sentir que aquilo tudo que ele estava expondo era bem verdadeiro. Aquele agente era alguém que tinha os olhos bem abertos para as atrocidades que estavam ocorrendo em seu país. Aquele gesto significava tanto um pedido de perdão, como um pedido de que iria se esforçar para as coisas mudarem. Foi isso que ela entendeu.
“O pai da Liesl era judeu, a mãe era alemã, ou ‘ariana pura’, como andam taxando. Eles conseguiram salvar a filha, que veio correndo atrás de mim. Ficamos vivendo escondidas, com medo da SS nos achar, mas aí uma pessoa nos apresentou Sarkin, e acabamos nos envolvendo nas falcatruas dele, mas era uma armadilha, e ele nos mandou pra cá. Não vou voltar pra Alemanha. E menos ainda abandonarei minha prima. Nós só temos a nós mesmas nesse mundo. Jamais vamos nos abandonar”, explicou Margaret.
Briegel ao ouvir isso se ergueu. Seus olhos estavam lacrimejando, mas ainda não havia derrubado uma lágrima.
“Vocês perderam suas dignidades, sua cidadania, seu país. Mas eu prometo, prometo pela minha vida, que a partir de agora vocês duas não perderão mais nada. Eu, Roland Briegel, prometo que protegerei a felicidade de vocês duas com minha própria vida. Peço que confiem em mim”, disse Briegel. Nessa hora seus olhos derrubaram lágrimas, como que para selar a promessa, uma vez que ele acreditava que já havia perdido sua amada filha no bombardeio de Guernica.
Margaret sorriu em consenso. Liesl permaneceu sem palavras observando Briegel, mas no coração dela ela sabia que poderia confiar também. Briegel não via nada, seus olhos estavam completamente marejados pelas lágrimas que brotavam, como um desabafo por tudo: por ter perdido Alice, por ver uma cidade sendo alvo das bombas alemãs, por conhecer uma família que havia se despedaçado em meio às atrocidades que ocorriam na Alemanha, e a pobre menina que jamais veria os pais novamente.
“Confiamos em você. Por favor, nos proteja, senhor Briegel”, disse Margaret Braun, pegando na mão de Briegel.
Era dia em que as pessoas iam aos mercados fazer compras, tradicionalmente. Isso por si só mostrava quais eram os objetivos daquele ataque: causar a carnificina. Vários aviões cruzavam o céu jogando bombas naquela pobre cidade, matando inocentes, destruindo patrimônios, casas, prédios.
Os primeiros aviões vieram da região sul, de acordo com o que Briegel viu. Eram de fato aviões alemães, do modelo Dornier Do 17. Seus formatos de lápis eram inconfundíveis. Cinquenta quilos de bombas caíram na primeira rajada. E Briegel, a mulher, e a garota que ele havia acabado de conhecer estavam na rua, vendo os aviões cada vez mais se aproximando.
“Corram!! Vamos sair daqui agora!!”, gritou Briegel. Algumas pessoas na rua se assustaram também e começaram a correr junto deles.
Os três começaram a correr em meio aquelas pessoas, buscando algum lugar pra se proteger, mas rapidamente as explosões começaram a ocorrer, lançando detritos, poeira, pedras, em meio às ondas de impacto por todo o redor deles, enquanto eles tentavam fugir de não apenas serem alvos das bombas que os aviões lançavam, como também dos escombros das casas e edifícios que eram jogados pelos ares. O único lugar seguro era a rua. Não podiam entrar em nenhuma casa pra buscar abrigo, pois ela poderia ser sumariamente destruída. O som era ensurdecedor. Pessoas gritavam, e seus gritos agudos de mulheres e crianças se confundiam com o som grave e tenebroso das bombas destruindo a pequena Guernica. Pessoas corriam desesperadas, praticamente pisoteando umas às outras. Crianças, homens, mulheres, não havia diferença. Apenas um mais desesperado que o outro.
A cidade inteira era devastada e se tornava ruínas enquanto os três corriam para se proteger. Quilos e quilos de bombas foram despejados sem dó em Guernica, e era possível ver corpos destruídos com suas entranhas expostas, crânios rachados, sangue, fogo, animais mortos, escombros em todas as partes. Entre um bombardeio e outro Briegel e as duas mulheres corriam pra se salvar. Conseguiram correr até uma parte longe da cidade, que só tinha mato, e de lá observavam todo o estrago que estava sendo feito sem piedade sobre aquela pobre cidade.
Poucos tiveram a frieza de buscar sair do alvo que era a cidade naquele momento, e apenas correram. Alguns sobreviveram, outros morriam pisoteados, e outros tantos inocentes eram soterrados em suas casas ou ruas pelo entorno que desmoronava sem dó.
Os gritos agonizantes de vidas civis inocentes era o que mais doía. Talvez o som estaria pior, se o ouvido dos três não estivesse simplesmente tampado, depois de ouvirem tantas explosões próximas deles. Mas aquele barulho, do som das almas agonizando, aquilo sim parecia transpor aquela condição, e atingir diretamente suas almas.
“Acho que estamos seguros aqui”, disse Briegel. Depois de falar isso ele se virou e via ao longe das luzes das explosões, jogando casas, corpos, animais, tudo pelos ares. Era um espetáculo que se confundia com as luzes da noite, e os gritos dos feridos agonizando nas ruas pareciam ser mais altos que os sons das bombas sendo jogadas na cidade. Era algo que Briegel jamais esqueceria.
“Obrigada por nos ajudar a sair desse caldeirão infernal”, agradeceu a mulher loira, “Acho que agora podemos nos apresentar. Isso é, se pudermos ouvir alguma coisa depois de tanta explosão nos nossos ouvidos”.
“É verdade. Meu nome é Roland Briegel. Sou agente da Sicherheitsdienst, mas, enfim, é complicado explicar, mas eu, como membro do serviço de Inteligência, sei de todos os podres que os governantes querem esconder. Mas não apoio, e nem defendo o regime nazista. Estou aqui para salvar vidas, incluindo minha filha, que assim como vocês foi sequestrada por Sarkin”, disse Briegel, que virou seu rosto pra Guernica ao ouvir mais bombas sendo jogadas pelos aviões na cidade, “Mas vendo isso, não sei se posso ter esperanças de encontrá-la viva…”.
A mulher e a criança se olharam. Estavam sentadas encostadas em uma árvore, observando Briegel, em pé, na frente delas, entre as luzes das explosões em Guernica.
“Eu sinto muito. Espero do fundo do coração que a pessoa que você procure esteja viva e bem”, disse a mulher loira, “Meu nome é Margaret Braun. Sou alemã também. Sou engenheira bélica”.
Nessa hora Briegel virou pra ela e a encarou, como se estivesse assustado.
“Margaret Braun? Peraí… Eu lembro da ficha, de ter visto esse sobrenome. Estava escrito ‘M. Braun’! Esse ‘M’ era ‘Margaret’? Você é o engenheiro sequestrado por Sarkin?”, disse Briegel, incrédulo.
“Engenheira, na verdade. Você foi mandado pra nos resgatar?”, perguntou Margaret.
“Sim, na verdade, sim. O outro, Gehrig, está em Barcelona, e meu parceiro está lá. Provavelmente vai chegar aqui em Guernica em breve. Nossa, é realmente muita sorte te encontrar viva!”, disse Briegel.
“E o que você pretende fazer conosco, agora que nos encontrou? Nos mandar de volta pra Alemanha?”, perguntou Margaret, ficando em pé, protegendo a menina. Nessa hora a menina ao lado dela arregalou os olhos de medo. Briegel não pôde deixar de ver a reação da menina.
“Não, jamais. Eu disse que não trabalho pra ajudar Hitler. Vou dar uma desculpa que vocês foram mortas, ou sei lá, quero que vocês se refugiem em outro país. Vou conseguir fazer com que deixem a Europa sãs e salvas. Pelo menos por um tempo. Assim, salvarei a vida de vocês e não irei ajudar o Führer com seus planos ridículos”, disse Briegel.
“Eu não confio em você, espião alemão! Como raios uma pessoa iria contra o Reich e viveria pra contar estória depois?”, perguntou Margaret, dando alguns passos pra trás.
“Olha, eu sei que é difícil, mas a única coisa que eu peço é que confiem em mim”, disse Briegel, com bastante certeza, “Você tem uma arma com você, não a tirarei de ti. Pode estourar meus miolos quando desconfiar de algo. Até lá, peço que por favor, confie em mim. Eu quero realmente ajudar vocês!”.
“Posso mesmo confiar?”, disse Margaret, sacando a arma e apontando pra Briegel.
Briegel permaneceu tranquilo. Não havia motivo pra temer. Mesmo com a arma de Margaret apontada pro seu peito.
“Sim. Confie em mim. Por favor”, disse Briegel, pausadamente.
Nessa hora Margaret guardou a arma de volta. Ainda não parecia estar totalmente confiante em Briegel, mas era visível que a confiança ali naquele momento estava começando a ser conquistada. Sentia sinceridade em suas palavras. Depois de tantas pessoas caçando-as, enfim alguém em quem poderiam confiar.
“E essa menina? Sua filha?”, perguntou Briegel.
“Meu nome é Liesl. Liesl Pfeiffer”, disse a menina, “Sou prima da Maggie… Quer dizer, Margaret”.
“É. Meu pai é irmão da mãe dela. Por isso o sobrenome diferente”, explicou Margaret.
“Sim, mas, você disse que seu sobrenome é ‘Pfeiffer’. E Pfeiffer é…”, disse Briegel, pausando depois de falar.
“Sim, é judeu. Eu sou meio judia e meio alemã. Meus pais foram presos pela SS e foram enviados a Dachau”, disse Liesl.
Briegel sentiu profunda empatia pela menina. Mas ao ouvir que os pais da menina “foram enviados para Dachau” seus olhos lacrimejaram e ele se agachou. Nesse momento tinha vergonha de ser alemão. O ano já era 1937, a Guerra mal havia começado oficialmente, e muitas atrocidades já estavam ocorrendo com judeus desde a ascensão de Hitler ao poder, em 1933:
Dachau foi um dos primeiros campos de concentração criados pelos nazistas, e já passavam quatro anos desde que Hitler estava mandando-os lá para trabalharem até a morte, junto de prisioneiros de guerra soviéticos e comunistas. Judeus não tinham mais cidadania, não era permitido trabalharem, rendas confiscadas, e casamentos entre judeus e alemães eram terminantemente proibidos. E a situação apenas piorava pra eles, dia após dia.
Liesl vendo Briegel agachado na sua frente com a cabeça baixa passou a naquele momento sentir que aquilo tudo que ele estava expondo era bem verdadeiro. Aquele agente era alguém que tinha os olhos bem abertos para as atrocidades que estavam ocorrendo em seu país. Aquele gesto significava tanto um pedido de perdão, como um pedido de que iria se esforçar para as coisas mudarem. Foi isso que ela entendeu.
“O pai da Liesl era judeu, a mãe era alemã, ou ‘ariana pura’, como andam taxando. Eles conseguiram salvar a filha, que veio correndo atrás de mim. Ficamos vivendo escondidas, com medo da SS nos achar, mas aí uma pessoa nos apresentou Sarkin, e acabamos nos envolvendo nas falcatruas dele, mas era uma armadilha, e ele nos mandou pra cá. Não vou voltar pra Alemanha. E menos ainda abandonarei minha prima. Nós só temos a nós mesmas nesse mundo. Jamais vamos nos abandonar”, explicou Margaret.
Briegel ao ouvir isso se ergueu. Seus olhos estavam lacrimejando, mas ainda não havia derrubado uma lágrima.
“Vocês perderam suas dignidades, sua cidadania, seu país. Mas eu prometo, prometo pela minha vida, que a partir de agora vocês duas não perderão mais nada. Eu, Roland Briegel, prometo que protegerei a felicidade de vocês duas com minha própria vida. Peço que confiem em mim”, disse Briegel. Nessa hora seus olhos derrubaram lágrimas, como que para selar a promessa, uma vez que ele acreditava que já havia perdido sua amada filha no bombardeio de Guernica.
Margaret sorriu em consenso. Liesl permaneceu sem palavras observando Briegel, mas no coração dela ela sabia que poderia confiar também. Briegel não via nada, seus olhos estavam completamente marejados pelas lágrimas que brotavam, como um desabafo por tudo: por ter perdido Alice, por ver uma cidade sendo alvo das bombas alemãs, por conhecer uma família que havia se despedaçado em meio às atrocidades que ocorriam na Alemanha, e a pobre menina que jamais veria os pais novamente.
“Confiamos em você. Por favor, nos proteja, senhor Briegel”, disse Margaret Braun, pegando na mão de Briegel.
Comentários
Postar um comentário