Amber #35 - Camarada soviético

29 de agosto de 1939

“Boris!! Boris, meu amigo, que saudade de ti!!”, gritou Fyodorov ao ver Briegel entrando no bar, “Estou tão feliz em vê-lo!”.

“Fyodorov, senta aí, parceiro”, disse Briegel, indicando pra Fyodorov sentar do outro lado da mesa, “Escuta, meu amigo, aqueles caras da SD estão de novo atrás de mim. Tô com medo de que eles querem fazer o mesmo que fizeram com a gente dois anos atrás…”, disse Briegel, mentindo, mas pra reforçar e dar mais credibilidade virou o rosto olhando pro lado, como se as memórias não fossem boas.

Fyodorov era um russo, nascido na União Soviética que havia escapado para a Alemanha, vivendo na clandestinidade e no submundo do crime europeu. Não era um mafioso sanguinário ou malvado, só queria mesmo ter uma chance de viver uma vida boa do lado capitalista do mundo, e os negócios, embora clandestinos, estavam dando certo na Alemanha de Hitler. Porém, naquele momento que ouviu que poderia passar por toda aquela tortura que aconteceu dois anos antes, ele suou frio e ficou pálido.

“B-Boris, claro que e-eu quero ajudar! Qualquer coisa menos aquilo, Boris!”, disse Fyodorov, gaguejando, com o rosto profundamente amedrontado, embora se segurasse pra não perder o controle, “O que eles te mandaram descobrir?”

“Eu também não entendi direito, meu amigo. Eles disseram que já que você sabia do Abner Sarkin, talvez você saberia sobre outros que trabalhavam com ele”, Briegel tirou um papel do bolso com um nome escrito nele, “Eles não me deram muitos detalhes, mas disseram que havia um inglês, que estava manipulando Sarkin, eles anotaram o nome nesse papel. O nome é Oliver Raines. Eles querem saber tudo, especialmente se ele tinha contatos”.

Fyodorov pegou o papel e olhou com calma.

“Acho que posso buscar com o pessoal barra pesada que conheço. Eu conheço muita gente, posso fazer umas ligações e ver o que eu descubro”, disse Fyodorov, dobrando o papel e guardando no bolso.

Briegel apertão a mão de Fyodorov com as duas mãos, como se juntasse as mãos em gratidão também.

“Muito obrigado, meu amigo. Muito obrigado mesmo! Sabe como são esses nazistas, eles ameaçaram até minha família!”, disse Briegel, quase chorando, “Vou dizer pra eles que vou conseguir as informações. Quanto tempo acha que precisa?”.

“Dois dias, Boris! Prometo que vou achar algo. Deus me livre nos torturarem de novo!”, disse Fyodorov, com uma expressão mais aliviada. Ele parecia ter pressa em sair logo e pesquisar.

“Conto contigo, Fyodorov!”, disse Briegel, se despedindo de Fyodorov depois.

Fyodorov deixou o local com pressa. Cinco minutos depois dele sair, Schultz, que estava observando tudo de uma mesa distante, se aproximou de Briegel.

“Cara, agora tu quase chorou! Maluco, tu merece muito um Oscar!”, brincou Schultz, enquanto sentava na cadeira.

“Tinha que ganhar a confiança dele de algum jeito. Mas ainda assim isso é muito estranho, Schultz. Foi por ordens do próprio Himmler pra que fôssemos atrás de mais informações e as ligações de Raines. Há dois anos a reação foi um pouco diferente”, disse Briegel.

“Verdade. Hoje eles parecem super interessados, mas quando voltamos pra Alemanha e apresentamos nosso relatório, eles nos olharam como se nós tivéssemos feito alguma merda, ou algo assim. E agora, depois de dois anos enrolando a gente, aparecem com essa”, disse Schultz, tomando um gole de cerveja, “Vai entender. Nos mandaram de novo atrás de pistas sobre o Raines, como se nada tivesse acontecido”.

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Dois dias mais depois Fyodorov se encontrou com Briegel no mesmo bar.

“Boris! Aqui!”, gritou Fyodorov, ao ver Briegel entrando no bar. Briegel foi ao seu encontro.

“Fyodorov, meu camarada, você chegou cedo!”, disse Briegel ao puxar uma cadeira pra se sentar, “E então, achou algo?”.

“Sinto muito, nada muito conclusivo. Eu pensei que seria bem mais fácil. Esses dois dias passaram muito lentamente, acho que era o medo de não conseguir algo, mas acho que tive um pouco de sorte. E isso foi hoje de manhã”, disse Fyodorov.

“Não achou ninguém relacionado a Abner Sarkin?”, perguntou Briegel.

“Não”, disse Fyodorov.

Briegel nessa hora ficou com uma expressão consternada. Fyodorov ao ver a expressão ficou com medo também.

“Mas não entendi a tal ‘sorte’ de hoje de manhã. Acha que é algo que possa ser relevante?”, perguntou Briegel.

“Então…”, disse Fyodorov, pensando numa maneira melhor pra explicar, “...Eu não achei ninguém relacionado com o trabalho que Oliver Raines ou Sarkin faziam. O que descobri é que Sarkin está preso e Oliver Raines morto. Mas como eu disse, hoje de manhã, um dos meus contatos disse que uma pessoa há alguns meses veio buscar com eles pra informações sobre um homem chamado Oliver Raines”.

“Oliver Raines? Era esse mesmo o nome? Tem certeza?”, perguntou Briegel.

“Certeza absoluta, Boris!”, disse Fyodorov, “Por via das dúvidas eles pesquisaram quem era essa pessoa que veio atrás de Raines. Se essa pessoa estava atrás de Oliver Raines, e veio atrás de pessoas do submundo do crime buscando informações, provavelmente tinha no mínimo o mesmo objetivo que as pessoas da SD”.

“Talvez eu possa entregar a eles as informações sobre essa pessoa. No mínimo as pessoas da SD vão averiguar mais informações sobre. Pode até ser que essa pessoa tenha conseguido alguma informação”, disse Briegel, “Você tá certo, Fyodorov!”, Briegel disse empolgado, “Acho que isso vai salvar nossa pele!”.

Fyodorov enfim relaxou. Ele estava tenso desde o começo da conversa.

“Boris, não sabe como isso me deixa mais tranquilo!”, desabafou Fyodorov, “Pois bem, o nome da pessoa é uma mulher, austríaca, chamada Ursel Meyer”, Fyodorov entregou uma pasta com uns dados, até uma foto antiga dela, “Tenho até o endereço dela. Ou pelo menos o endereço dela que ela diz ser o dela”.

Briegel pegou a pasta e deu uma olhada por cima. Depois sorriu e se levantou, dando um abraço em Fyodorov.

“Meu amigo, meu camarada!”, disse Briegel, após abraçá-lo, “Espero que seja isso que esses porcos da SD estejam atrás. Obrigado, muito obrigado por proteger minha família. Agora sou eu quem tenho uma dívida contigo!”.

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