Amber #43 - Tédio (Re-INTRO duction mix)
Da sua mesa na sede da SD, Reinhard Heydrich olhava pra Schultz com incredulidade e ironia. Ele estava pedindo pra partir pra uma missão em território asiático sem mais nem menos. O mais estranho seria que nem mesmo Briegel iria com ele. Para Heydrich os dois pareciam inseparáveis.
“Vai ser uma boa. Tá um saco ficar aqui cuidando dessa papelada o dia todo”, disse Schultz, “Olha, sei que você não vai com a minha cara, mas talvez me mandar pra lá pra dar uma descansada pode na verdade ser bom pra você. Afinal, é como dizem, muito ajuda quem não atrapalha. E se eu tiver mais uma pilha de papel pra cuidar, nossa, eu vou é tacar fogo!”.
“E o Briegel?”, perguntou Heydrich. Nessa hora Schultz viu que o que parecia incomodar Heydrich não era o fato de ir pro oriente, e sim o fato de ir sozinho, sem Briegel.
“Ah, em duas semanas no máximo tô de volta. A Alice cuida dele enquanto isso”, disse Schultz, “E eu tenho uma informante. Uma informante com umas informações bem quentes, coisa boa mesmo! Vale a pena ir averiguar melhor! Ela é até asiática!”.
“Entendi. Ela é o quê?”, perguntou Heydrich.
“Sei lá. São todos meio iguais. Deve ser coreana”, disse Schultz, se referindo à Eunmi.
“Coreana? Mas ela está lutando ao lado dos japoneses?”, perguntou Heydrich.
“Isso. Tinham uns asiáticos também nos seguindo, mas se não me engano eram chineses, ou sei lá o quê. Vieram atrás da menina”, disse Schultz.
“Ah, quer saber, essa estória tá é muito mal contada”, disse Heydrich, sem paciência pra ouvir o resto, “E eu tô atolado de coisa pra fazer”, nessa hora Heydrich preencheu um papel com um valor a ser retirado pra missão de Schultz, “Retira esse dinheiro na tesouraria e se manda logo e me deixa em paz, vai!”.
“Valeu, manézão!”, disse Schultz, “Te trago uma bebida de lá, pode deixar!”.
Schultz voltou até sua casa junto de Eunmi. Homens do exército estavam lá verificando o que havia acontecido com o tal incidente do gás mostarda. Estes estavam completamente encapuzados, e Schultz os viu descendo as escadas indo até a entrada no prédio.
“E aí? Deu pra salvar algo?”, perguntou Schultz. Um dos homens estava com a granada em um saco, e ergueu, mostrando a Schultz.
“Não achamos sinal de gás mostarda algum. É apenas uma granada de fumaça, com um cheiro estranho, mas sem veneno algum. Talvez eles queriam atrapalhar sua visão pra depois atirarem em vocês. As roupas ficaram meio fedidas, mas felizmente o senhor não perdeu nada, senhor Schultz”, disse o funcionário da SD.
“Opa! Beleza!”, disse Schultz, “Eu detesto comprar roupas mesmo! Vou fazer minha mala pra ir então. Ei, menina, como é mesmo seu nome?”, perguntou Schultz pra Eunmi.
“Ri Eunmi, senhor Schultz, pela milésima vez”, disse Eunmi, já cansada.
“É muito difícil esse nome, não sei nem como pronunciar isso. Mas pode deixar que vou ir me esforçando pra isso”, disse Schultz, enquanto subia pro seu apartamento, “Parece que temos um voo até Hong Kong, na China. A China é parceira dos nazistas, mas do jeito que a coisa tá confusa por lá com os nacionalistas e comunistas brigando entre si, acho que não vai durar por muito tempo essa aliança não, viu”.
“Mas Hong Kong? Tem certeza?”, disse Eunmi, apreensiva, “Hong Kong não é bem parte da China. É território aliado da realeza britânica! Isso pode ser perigoso! Esse erro pode ser fatal!”, Eunmi então viu que Schultz parecia estar distante, e levantou o tom na sua próxima fala: “O senhor sabia disso?”
Schultz tirou uma mala média e começou e jogar suas roupas limpas dentro. Ele nem ouviu direito o que Eunmi havia dito, exceto sua última frase, que ela falou com uma entonação mais forte.
“Ah, eu sei um pouco de tudo”, disse Schultz, piscando com um dos olhos, “Também sei levar uma mulher até o paraíso e voltar”.
Eunmi do nada ficou com o rosto sério. Não gostou nem um pouco da brincadeira.
“Senhor Schultz, não vim aqui na Europa atrás de namoro. Eu tenho uma missão! Pode ir desistindo, pois aqui comigo não vai acontecer nada!”, disse Eunmi, séria, cortando completamente o charme de Schultz.
Schultz nessa hora ficou até com vergonha das asneiras que havia dito.
“Ok, foi mal! Falha minha. Me perdoe”, disse Schultz, fechando sua mala, “Bom, estou pronto. Como eu disse, teremos que fazer uma parada em Hong Kong antes de chegar em Keijou”.
“É Seul!”, disse Eunmi, “Não é Keijou!”
“Tá, tá, que seja. Antes de pegarmos o avião, espera aí”, disse Schultz, pegando um papel, “Preciso deixar uma carta pro meu amigo dizendo que volto logo”.
Eunmi ficou observando enquanto Schultz escrevia. O sorriso no rosto dele, não apenas por estar prestes a entrar numa aventura, como também de deixar uma mensagem ao amigo pra ficar tranquilo. Aquilo deu um sentimento nostálgico imenso pra Eunmi, que refletia numa expressão triste no seu rosto.
“Prontinho!”, disse Schultz, selando o envelope com saliva. Então o alemão olhou pra Eunmi, e ela não estava com uma cara muito boa. Estava triste, “Ei, menina, que cara é essa?”.
“Muitas atrocidades estão acontecendo lá na minha terra natal. Enquanto eu via o senhor escrevendo me perguntava se eu também tinha amigos que eu poderia lhes enviar cartas. Mas infelizmente todos eles foram mortos, ou capturados”, disse Eunmi.
Schultz ficou triste em ouvir aquilo. Uma coisa tão básica da vida, a fraternidade, amizade entre as pessoas, uma coisa que preenchia tanto sua vida e seu coração, uma coisa simples que qualquer pessoa no mundo mereceria. Alguém pra confiar. Uma coisa que Eunmi acabou perdendo um após o outro.
“Eu sinto muito, menina”, disse Schultz pra Eunmi, “E quanto a família? Irmãos? Pais?”.
“Eu e minhas irmãs sofremos um destino talvez pior que a morte”, disse Eunmi, pausando, “Enquanto aos meus pais, tenho vergonha de encará-los depois disso”.
Naquele momento Schultz não tinha ideia da gravidade desse ato que aconteceu com Eunmi. Ou talvez pensasse que isso que a envergonhava tanto era o fato de ser uma garota tão jovem e viúva. Mas quando Schultz decidiu ir pro oriente, um novo mundo estava abrindo na sua frente. A guerra não estava apenas matando, causando tristeza e sofrimento do lado ocidental. Mas também coisas igualmente terríveis em território asiático.
E Schultz estava prestes a presenciar isso tudo.
“Escuta, eu sei que começamos com o pé esquerdo. Mas espero que possamos mudar isso com o tempo”, nessa hora Schultz deu um abraço de lado em Eunmi, que achou aquilo muito estranho, já que não tinham muito esse hábito do lado de lá, “É muito triste não ter amigos, mas espero que possamos criar uma amizade. Sinto muito por ter dado em cima de você”, nessa hora Schultz estendeu a mão de maneira amistosa, “Podemos começar de novo?”.
Eunmi inicialmente hesitou. Olhou pra mão de Schultz, depois olhou nos seus olhos. Aquilo tudo parecia verdade. Aquilo realmente parecia mostrar que aquele homem não iria dar mais em cima dela, ou querer algo que ela não estivesse interessada. Olhou pros olhos de Schultz e viu que talvez aquele seria o momento ideal pra começar de novo. Então pegou na mão de Schultz, apertando e balançando com firmeza.
“Ok, podemos começar de novo então”, disse Eunmi.
“Certo, então vamos começar pelas apresentações. Meu nome é Schultz. Ludwig Schultz. E você é...?”.
“Ri Eunmi, prazer em conhece-lo”.
“Ri E-eun... Eum... Eunmi”, disse Schultz, tentando ao máximo pronunciar corretamente o nome dela. No final até que conseguiu, e seu esforço tocou o coração de Eunmi.
“Ah, sem formalidades então. Pode me chamar só de Eunmi”, disse Eunmi, permitindo que Schultz a chamasse pelo seu nome próprio, e não pelo sobrenome, em um sinal do nascimento de uma profunda amizade e confiança, “Mais fácil assim?”.
“Vai ser uma boa. Tá um saco ficar aqui cuidando dessa papelada o dia todo”, disse Schultz, “Olha, sei que você não vai com a minha cara, mas talvez me mandar pra lá pra dar uma descansada pode na verdade ser bom pra você. Afinal, é como dizem, muito ajuda quem não atrapalha. E se eu tiver mais uma pilha de papel pra cuidar, nossa, eu vou é tacar fogo!”.
“E o Briegel?”, perguntou Heydrich. Nessa hora Schultz viu que o que parecia incomodar Heydrich não era o fato de ir pro oriente, e sim o fato de ir sozinho, sem Briegel.
“Ah, em duas semanas no máximo tô de volta. A Alice cuida dele enquanto isso”, disse Schultz, “E eu tenho uma informante. Uma informante com umas informações bem quentes, coisa boa mesmo! Vale a pena ir averiguar melhor! Ela é até asiática!”.
“Entendi. Ela é o quê?”, perguntou Heydrich.
“Sei lá. São todos meio iguais. Deve ser coreana”, disse Schultz, se referindo à Eunmi.
“Coreana? Mas ela está lutando ao lado dos japoneses?”, perguntou Heydrich.
“Isso. Tinham uns asiáticos também nos seguindo, mas se não me engano eram chineses, ou sei lá o quê. Vieram atrás da menina”, disse Schultz.
“Ah, quer saber, essa estória tá é muito mal contada”, disse Heydrich, sem paciência pra ouvir o resto, “E eu tô atolado de coisa pra fazer”, nessa hora Heydrich preencheu um papel com um valor a ser retirado pra missão de Schultz, “Retira esse dinheiro na tesouraria e se manda logo e me deixa em paz, vai!”.
“Valeu, manézão!”, disse Schultz, “Te trago uma bebida de lá, pode deixar!”.
Schultz voltou até sua casa junto de Eunmi. Homens do exército estavam lá verificando o que havia acontecido com o tal incidente do gás mostarda. Estes estavam completamente encapuzados, e Schultz os viu descendo as escadas indo até a entrada no prédio.
“E aí? Deu pra salvar algo?”, perguntou Schultz. Um dos homens estava com a granada em um saco, e ergueu, mostrando a Schultz.
“Não achamos sinal de gás mostarda algum. É apenas uma granada de fumaça, com um cheiro estranho, mas sem veneno algum. Talvez eles queriam atrapalhar sua visão pra depois atirarem em vocês. As roupas ficaram meio fedidas, mas felizmente o senhor não perdeu nada, senhor Schultz”, disse o funcionário da SD.
“Opa! Beleza!”, disse Schultz, “Eu detesto comprar roupas mesmo! Vou fazer minha mala pra ir então. Ei, menina, como é mesmo seu nome?”, perguntou Schultz pra Eunmi.
“Ri Eunmi, senhor Schultz, pela milésima vez”, disse Eunmi, já cansada.
“É muito difícil esse nome, não sei nem como pronunciar isso. Mas pode deixar que vou ir me esforçando pra isso”, disse Schultz, enquanto subia pro seu apartamento, “Parece que temos um voo até Hong Kong, na China. A China é parceira dos nazistas, mas do jeito que a coisa tá confusa por lá com os nacionalistas e comunistas brigando entre si, acho que não vai durar por muito tempo essa aliança não, viu”.
“Mas Hong Kong? Tem certeza?”, disse Eunmi, apreensiva, “Hong Kong não é bem parte da China. É território aliado da realeza britânica! Isso pode ser perigoso! Esse erro pode ser fatal!”, Eunmi então viu que Schultz parecia estar distante, e levantou o tom na sua próxima fala: “O senhor sabia disso?”
Schultz tirou uma mala média e começou e jogar suas roupas limpas dentro. Ele nem ouviu direito o que Eunmi havia dito, exceto sua última frase, que ela falou com uma entonação mais forte.
“Ah, eu sei um pouco de tudo”, disse Schultz, piscando com um dos olhos, “Também sei levar uma mulher até o paraíso e voltar”.
Eunmi do nada ficou com o rosto sério. Não gostou nem um pouco da brincadeira.
“Senhor Schultz, não vim aqui na Europa atrás de namoro. Eu tenho uma missão! Pode ir desistindo, pois aqui comigo não vai acontecer nada!”, disse Eunmi, séria, cortando completamente o charme de Schultz.
Schultz nessa hora ficou até com vergonha das asneiras que havia dito.
“Ok, foi mal! Falha minha. Me perdoe”, disse Schultz, fechando sua mala, “Bom, estou pronto. Como eu disse, teremos que fazer uma parada em Hong Kong antes de chegar em Keijou”.
“É Seul!”, disse Eunmi, “Não é Keijou!”
“Tá, tá, que seja. Antes de pegarmos o avião, espera aí”, disse Schultz, pegando um papel, “Preciso deixar uma carta pro meu amigo dizendo que volto logo”.
Eunmi ficou observando enquanto Schultz escrevia. O sorriso no rosto dele, não apenas por estar prestes a entrar numa aventura, como também de deixar uma mensagem ao amigo pra ficar tranquilo. Aquilo deu um sentimento nostálgico imenso pra Eunmi, que refletia numa expressão triste no seu rosto.
“Prontinho!”, disse Schultz, selando o envelope com saliva. Então o alemão olhou pra Eunmi, e ela não estava com uma cara muito boa. Estava triste, “Ei, menina, que cara é essa?”.
“Muitas atrocidades estão acontecendo lá na minha terra natal. Enquanto eu via o senhor escrevendo me perguntava se eu também tinha amigos que eu poderia lhes enviar cartas. Mas infelizmente todos eles foram mortos, ou capturados”, disse Eunmi.
Schultz ficou triste em ouvir aquilo. Uma coisa tão básica da vida, a fraternidade, amizade entre as pessoas, uma coisa que preenchia tanto sua vida e seu coração, uma coisa simples que qualquer pessoa no mundo mereceria. Alguém pra confiar. Uma coisa que Eunmi acabou perdendo um após o outro.
“Eu sinto muito, menina”, disse Schultz pra Eunmi, “E quanto a família? Irmãos? Pais?”.
“Eu e minhas irmãs sofremos um destino talvez pior que a morte”, disse Eunmi, pausando, “Enquanto aos meus pais, tenho vergonha de encará-los depois disso”.
Naquele momento Schultz não tinha ideia da gravidade desse ato que aconteceu com Eunmi. Ou talvez pensasse que isso que a envergonhava tanto era o fato de ser uma garota tão jovem e viúva. Mas quando Schultz decidiu ir pro oriente, um novo mundo estava abrindo na sua frente. A guerra não estava apenas matando, causando tristeza e sofrimento do lado ocidental. Mas também coisas igualmente terríveis em território asiático.
E Schultz estava prestes a presenciar isso tudo.
“Escuta, eu sei que começamos com o pé esquerdo. Mas espero que possamos mudar isso com o tempo”, nessa hora Schultz deu um abraço de lado em Eunmi, que achou aquilo muito estranho, já que não tinham muito esse hábito do lado de lá, “É muito triste não ter amigos, mas espero que possamos criar uma amizade. Sinto muito por ter dado em cima de você”, nessa hora Schultz estendeu a mão de maneira amistosa, “Podemos começar de novo?”.
Eunmi inicialmente hesitou. Olhou pra mão de Schultz, depois olhou nos seus olhos. Aquilo tudo parecia verdade. Aquilo realmente parecia mostrar que aquele homem não iria dar mais em cima dela, ou querer algo que ela não estivesse interessada. Olhou pros olhos de Schultz e viu que talvez aquele seria o momento ideal pra começar de novo. Então pegou na mão de Schultz, apertando e balançando com firmeza.
“Ok, podemos começar de novo então”, disse Eunmi.
“Certo, então vamos começar pelas apresentações. Meu nome é Schultz. Ludwig Schultz. E você é...?”.
“Ri Eunmi, prazer em conhece-lo”.
“Ri E-eun... Eum... Eunmi”, disse Schultz, tentando ao máximo pronunciar corretamente o nome dela. No final até que conseguiu, e seu esforço tocou o coração de Eunmi.
“Ah, sem formalidades então. Pode me chamar só de Eunmi”, disse Eunmi, permitindo que Schultz a chamasse pelo seu nome próprio, e não pelo sobrenome, em um sinal do nascimento de uma profunda amizade e confiança, “Mais fácil assim?”.
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