Amber #65 - Quando a guerra nos tira a humanidade.
6 de setembro de 1939
Não importasse o quanto Anastazja Maslak andasse, aquele não era mais o local que ela morava. A ofensiva do exército alemão foi surpreendentemente eficaz. Tropas invadiram por todos os lados a Polônia, destruindo absolutamente tudo o que estava no caminho. Aviões sobrevoavam despejando mais e mais explosivos, grupos e mais grupos de infantaria, dezenas de unidades de artilharia, parecia que o país inteiro estava fadado a sumir do mapa. Como se a Polônia se tornasse um vazio no meio da Europa.
“Vovó... Vovó... Vovó!!”, gritava Anastazja, tentando tirar as pedras para se aproximar da sua avó. Era a primeira pessoa que ela havia encontrado naquele inferno, mas quanto mais se aproximava mais sua esperança ia acabando, “Vovó... Não!”.
Dona Iwona era a pessoa que mais cuidava de Anastazja, cujo os pais moravam numa cidade perto de Varsóvia. Anastazja estava em Cracóvia para que pudesse completar o sonho que ninguém na família até então havia conseguido: ter alguém que houvesse terminado uma faculdade. Iwona tinha seu segredo mais bem guardado, que sempre trazia felicidade para toda a família no natal e na páscoa: seu inconfundível Makowiec, uma espécie de rocambole polonês.
Morreu empalada em sua casa em escombros, com duas madeiras perfurando seu corpo em “X”. Seu corpo ficou lá, em pleno ar, suspenso com uma feição de dor de não conseguir sair, aguardando a morte chegar. Provavelmente foi lançada para longe por conta das explosões e acabou falecendo com o rosto para o céu, com duas ripas de madeira transpassando seu abdome. Anastazja apenas sabia chorar. Não conseguia fazer mais nada. Quantas e quantas vezes ela não havia pedido para que ela fosse levada, e não sua amada avozinha?
Ao subir as escadas do que restava da casa para tentar ver um jeito de tirar sua avó e lhe dar um enterro digno, Anastazja viu no horizonte Cracóvia. Será que os franceses e os britânicos iriam realmente atacar o exército nazista para libertar a Polônia? Ao menos essa foi uma das últimas coisas que ela ouvira no rádio até então. No topo de um edifício era possível ver ao longe soldados hasteando aquela bandeira horrenda. Vermelha, com uma cruz negra e um círculo, onde estava a suástica nazista.
As esperanças haviam morrido. O desespero havia tomado conta. E Anastazja viu que teria sido muito melhor ter sido morta naqueles bombardeios que nunca terminavam do que sobreviver no meio desse inferno.
No mesmo dia Anastazja cavou um buraco e enterrou sua avó ali, próximo do que foi a sua casa. Mas na hora de colocar algo para marcar não sabia se deveria colocar uma cruz. Desprendeu seu longo cabelo loiro, puxando a presilha. Sua avó dizia que ela sempre ficava muito melhor de cabelo solto, mas por conta do seu jeito nerd nunca prestou muita atenção na questão da vaidade. Se sua avó teria uma última visão dela seria essa. Anastazja de cabelo solto, do jeitinho que sua avó tanto gostava de ver a neta, que dizia ser a mais bonita de toda a Polônia.
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12 de setembro de 1939
14h04
Em períodos de guerra tudo fica mais difícil. Racionamentos acontecem em todos os países, comida que antes era farta fica mais difícil de se achar, pois a indústria da guerra está a todo vapor produzindo armamento e suprimentos para os que iam até as linhas de frente.
Puxa, consegui metade de um pão hoje e um pouquinho de geleia! Nossa, faz tanto tempo que não como geleia, se bem que eu nunca gostei. Mas eu tô com tanta fome que vou comer tudo, nossa!, pensou Anastazja ao chegar no seu abrigo carregando metade de uma baguete e um copinho com poucos gramas de geleia.
Anastazja havia conseguido achar um velho celeiro para se abrigar do frio e fazer disso sua nova casa. Tinha medo do que poderia acontecer. A alguns metros de onde estava havia uma família, que estava vivendo nos escombros de um edifício velho, já no subúrbio de Cracóvia. Era uma longa caminhada, mas ela se sentia mais segura ali. Era uma boa família, e mesmo o pouco que tinham dividiam com ela, pois sabiam que ela estava sozinha. E ambos haviam combinado: se algo acontecesse, correriam um para a casa do outro para se refugiarem.
É curioso ver como padrões se repetem. Mesmo pessoas que nunca se viram acabam tendo comportamentos semelhantes. Os poloneses que haviam sobrevivido ás chuvas de bombas da Blitzkrieg que castigavam a solo polonês viviam com profundo medo de serem pegos pelos soldados nazistas. Afinal, poloneses haviam entrado no grupo de pessoas a serem caçadas pelo exército do Terceiro Reich, e de acordo com essa filosofia não entravam na categoria de “humanos”, assim como judeus, negros, homossexuais, pessoas com debilidade, ciganos e tantos outros alvos do holocausto.
O medo de ser pego era tanto que os próprios soldados não gostavam nem um pouco de quando andavam nas cidades tomadas e percebiam que haviam ainda poloneses dentro das casas os observando. Algumas vezes os pegavam, os prendiam, os homens viravam prisioneiros de guerra e as mulheres mortas ou estupradas. Porém do medo ás vezes também aparecia coragem. Pessoas que mesmo tendo ciência de que seus destinos seria nada menos que a morte desafiavam e atacavam os alemães numa esperança de vingar o país que lhes fora tomado.
Por isso o exército alemão, que carecia nessa época soldados experientes, muitos dos novatos tinham muito receio do que viam, com medo de serem poloneses prontos para abatê-los de cantos que eles não conseguiam ver. Ao mesmo tempo os poloneses tinham medo até mesmo de fumar, achando que a fumaça do cigarro os denunciaria, e aviões derrubariam toneladas de explosivos acima deles. O medo era uma constante na Polônia sendo invadida pelos nazistas.
“Ahhhhhhh!”, gritou uma voz ao longe. Anastazja engoliu uma mordida do pão em seco e foi até um buraco na madeira que ela havia feito para ver o que estava vindo de lá, “Anastazja!! Anastazja!!”.
Era a esposa daquela família que a ajudava, a que lhe havia dado o pão. O coração de Anastazja disparou. Ela estava com um braço ensanguentado e no outro braço puxava o filho mais velho do casal, os dois de mãos dadas a toda velocidade. A esposa estava com um seio á mostra, os cabelos totalmente bagunçados e lágrimas nos olhos como se corresse pela sua vida. Era óbvio que ela estava sendo vítima de um estupro quando conseguiu fugir.
O garotinho expressava uma expressão de profundo pânico. A cada segundo voltava sua visão para trás, eles pareciam estar correndo de algo. Aqueles dois precisavam de abrigo, mas nesse momento Anastazja foi tomada por um paradoxo imenso.
Se ela abrisse a porta, os soldados a alcançariam e com certeza matariam os três no celeiro. Mas se ela colocasse a tranca na porta que ela estava vindo, provavelmente os soldados a pegariam e ela poderia fugir pelo outro lado. Ao menos teria uma chance de sobreviver.
Não, Anastazja, que isso! Eu tenho que ajuda-la! Aqueles soldados vão pega-la e vão matar ela e o filho! Ah... Que droga, ela tá chegando. Tenho que decidir rápido!, pensou Anastazja enquanto ouvia os gritos da esposa, chamando pelo seu nome enquanto se aproximava correndo da porta do celeiro.
Anastazja voltou o olhar no buraco que ela estava espiando e viu o menino tropeçando. Nessa hora seu coração parecia pular pela garganta. Foi nesse momento que ela percebeu que os soldados nazistas apareceram correndo atrás dela com suas metralhadoras, como se estivessem se divertindo numa caça, até sorriam. Três homens armados sorrindo com suas armas e dois no fundo, que ela presumiu que talvez fossem mais experientes, os líderes do pelotão. Esses últimos apenas acompanhavam com passos rápidos, sem correr, e menos ainda com expressão de felicidade. Pareciam sérios.
Porém o soldado que estava na dianteira ao ver o menino simplesmente mirou e alvejou o menino com uma rajada de tiros certeira. Os soldados nazistas sorriam enquanto viam o sangue do menino jorrando, tingindo o chão de vermelho enquanto a mãe sem acreditar naquilo segurava o menino e corria, o arrastando.
Tomada pelo pânico a mãe tinha esperança de que o filho ainda estivesse vivo. Mas o garoto havia morrido instantaneamente ao receber as balas. Quem corria ali não era mais ela. Com o rosto totalmente desfigurado pela tristeza, a mãe corria de olhos fechados torcendo para que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo. Mas não era. Provavelmente sua família inteira estava morta, e acreditava que aquele seu filho era o único que ela conseguiria proteger. Ela não queria aceitar que estava sozinha no mundo. Jamais. Mas aquela era a vida real. Não temos tempo para nos despedir. E os soldados nazistas não acreditavam que eles eram humanos, e sequer haviam direito de viver. Aquela não era uma criança, era um animal, ou algo até pior que isso. Eram da raça de poloneses que haviam roubado seu território germânico depois do fim da Primeira Guerra Mundial. Eram vermes do leste europeu que não mereciam viver. A partir do momento que a humanidade foi eliminada, não haviam motivos para ter empatia pelo sofrimento alheio. Poloneses na visão dos nazistas eram algo a serem exterminados, não eram seres humanos como eles.
“Anastazja!! Por favor!! Abra a porta!! Estou com meu filho!!”, gritava a mulher enquanto se aproximava do celeiro. O pânico de Anastazja era cada vez maior. Pensou que a esposa havia a visto espiando no buraco da parede e abaixou, de medo.
E então o medo começou a tomar ainda mais e mais conta dela. E pessoas quando estão em situações de profunda pressão e medo são capazes de tomarem atitudes que não são focadas no altruísmo muitas vezes, pensando na autopreservação.
A esposa chegou na porta do celeiro e começou a bater várias vezes na porta gritando por Anastazja.
“Anastazja, por favor, abra a porta sou eu!!”, gritou a mulher, batendo na porta, “ANASTAZJA, POR FAVOR, ABRE A PORTA, PELO AMOR DE DEUS!!”, gritou a mulher ainda mais alto, batendo com o punho na porta do celeiro, “ANASTAZJA!!! ANASTAZJAA!!! ANASTAZJAAAAAAA!!!”, ela gritava, chutando a porta com uma vã esperança de que sua força conseguisse arrombar a porta.
Então uma descarga de tiros foi ouvida, e depois do silêncio dos disparos deu pra ouvir um corpo caindo pesadamente no chão. Sentada no chão na direção oposta da porta estava Anastazja, abraçada com suas pernas e chorando. Uma tábua de madeira trancava a porta do celeiro, impedindo a entrada de qualquer pessoa que fosse naquele lugar pela porta da frente.
Ela havia escolhido colocar aquilo no último momento, tomada pelo medo, não dando nenhuma chance para a esposa da família poder se salvar.
Não importasse o quanto Anastazja Maslak andasse, aquele não era mais o local que ela morava. A ofensiva do exército alemão foi surpreendentemente eficaz. Tropas invadiram por todos os lados a Polônia, destruindo absolutamente tudo o que estava no caminho. Aviões sobrevoavam despejando mais e mais explosivos, grupos e mais grupos de infantaria, dezenas de unidades de artilharia, parecia que o país inteiro estava fadado a sumir do mapa. Como se a Polônia se tornasse um vazio no meio da Europa.
“Vovó... Vovó... Vovó!!”, gritava Anastazja, tentando tirar as pedras para se aproximar da sua avó. Era a primeira pessoa que ela havia encontrado naquele inferno, mas quanto mais se aproximava mais sua esperança ia acabando, “Vovó... Não!”.
Dona Iwona era a pessoa que mais cuidava de Anastazja, cujo os pais moravam numa cidade perto de Varsóvia. Anastazja estava em Cracóvia para que pudesse completar o sonho que ninguém na família até então havia conseguido: ter alguém que houvesse terminado uma faculdade. Iwona tinha seu segredo mais bem guardado, que sempre trazia felicidade para toda a família no natal e na páscoa: seu inconfundível Makowiec, uma espécie de rocambole polonês.
Morreu empalada em sua casa em escombros, com duas madeiras perfurando seu corpo em “X”. Seu corpo ficou lá, em pleno ar, suspenso com uma feição de dor de não conseguir sair, aguardando a morte chegar. Provavelmente foi lançada para longe por conta das explosões e acabou falecendo com o rosto para o céu, com duas ripas de madeira transpassando seu abdome. Anastazja apenas sabia chorar. Não conseguia fazer mais nada. Quantas e quantas vezes ela não havia pedido para que ela fosse levada, e não sua amada avozinha?
Ao subir as escadas do que restava da casa para tentar ver um jeito de tirar sua avó e lhe dar um enterro digno, Anastazja viu no horizonte Cracóvia. Será que os franceses e os britânicos iriam realmente atacar o exército nazista para libertar a Polônia? Ao menos essa foi uma das últimas coisas que ela ouvira no rádio até então. No topo de um edifício era possível ver ao longe soldados hasteando aquela bandeira horrenda. Vermelha, com uma cruz negra e um círculo, onde estava a suástica nazista.
As esperanças haviam morrido. O desespero havia tomado conta. E Anastazja viu que teria sido muito melhor ter sido morta naqueles bombardeios que nunca terminavam do que sobreviver no meio desse inferno.
No mesmo dia Anastazja cavou um buraco e enterrou sua avó ali, próximo do que foi a sua casa. Mas na hora de colocar algo para marcar não sabia se deveria colocar uma cruz. Desprendeu seu longo cabelo loiro, puxando a presilha. Sua avó dizia que ela sempre ficava muito melhor de cabelo solto, mas por conta do seu jeito nerd nunca prestou muita atenção na questão da vaidade. Se sua avó teria uma última visão dela seria essa. Anastazja de cabelo solto, do jeitinho que sua avó tanto gostava de ver a neta, que dizia ser a mais bonita de toda a Polônia.
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12 de setembro de 1939
14h04
Em períodos de guerra tudo fica mais difícil. Racionamentos acontecem em todos os países, comida que antes era farta fica mais difícil de se achar, pois a indústria da guerra está a todo vapor produzindo armamento e suprimentos para os que iam até as linhas de frente.
Puxa, consegui metade de um pão hoje e um pouquinho de geleia! Nossa, faz tanto tempo que não como geleia, se bem que eu nunca gostei. Mas eu tô com tanta fome que vou comer tudo, nossa!, pensou Anastazja ao chegar no seu abrigo carregando metade de uma baguete e um copinho com poucos gramas de geleia.
Anastazja havia conseguido achar um velho celeiro para se abrigar do frio e fazer disso sua nova casa. Tinha medo do que poderia acontecer. A alguns metros de onde estava havia uma família, que estava vivendo nos escombros de um edifício velho, já no subúrbio de Cracóvia. Era uma longa caminhada, mas ela se sentia mais segura ali. Era uma boa família, e mesmo o pouco que tinham dividiam com ela, pois sabiam que ela estava sozinha. E ambos haviam combinado: se algo acontecesse, correriam um para a casa do outro para se refugiarem.
É curioso ver como padrões se repetem. Mesmo pessoas que nunca se viram acabam tendo comportamentos semelhantes. Os poloneses que haviam sobrevivido ás chuvas de bombas da Blitzkrieg que castigavam a solo polonês viviam com profundo medo de serem pegos pelos soldados nazistas. Afinal, poloneses haviam entrado no grupo de pessoas a serem caçadas pelo exército do Terceiro Reich, e de acordo com essa filosofia não entravam na categoria de “humanos”, assim como judeus, negros, homossexuais, pessoas com debilidade, ciganos e tantos outros alvos do holocausto.
O medo de ser pego era tanto que os próprios soldados não gostavam nem um pouco de quando andavam nas cidades tomadas e percebiam que haviam ainda poloneses dentro das casas os observando. Algumas vezes os pegavam, os prendiam, os homens viravam prisioneiros de guerra e as mulheres mortas ou estupradas. Porém do medo ás vezes também aparecia coragem. Pessoas que mesmo tendo ciência de que seus destinos seria nada menos que a morte desafiavam e atacavam os alemães numa esperança de vingar o país que lhes fora tomado.
Por isso o exército alemão, que carecia nessa época soldados experientes, muitos dos novatos tinham muito receio do que viam, com medo de serem poloneses prontos para abatê-los de cantos que eles não conseguiam ver. Ao mesmo tempo os poloneses tinham medo até mesmo de fumar, achando que a fumaça do cigarro os denunciaria, e aviões derrubariam toneladas de explosivos acima deles. O medo era uma constante na Polônia sendo invadida pelos nazistas.
“Ahhhhhhh!”, gritou uma voz ao longe. Anastazja engoliu uma mordida do pão em seco e foi até um buraco na madeira que ela havia feito para ver o que estava vindo de lá, “Anastazja!! Anastazja!!”.
Era a esposa daquela família que a ajudava, a que lhe havia dado o pão. O coração de Anastazja disparou. Ela estava com um braço ensanguentado e no outro braço puxava o filho mais velho do casal, os dois de mãos dadas a toda velocidade. A esposa estava com um seio á mostra, os cabelos totalmente bagunçados e lágrimas nos olhos como se corresse pela sua vida. Era óbvio que ela estava sendo vítima de um estupro quando conseguiu fugir.
O garotinho expressava uma expressão de profundo pânico. A cada segundo voltava sua visão para trás, eles pareciam estar correndo de algo. Aqueles dois precisavam de abrigo, mas nesse momento Anastazja foi tomada por um paradoxo imenso.
Se ela abrisse a porta, os soldados a alcançariam e com certeza matariam os três no celeiro. Mas se ela colocasse a tranca na porta que ela estava vindo, provavelmente os soldados a pegariam e ela poderia fugir pelo outro lado. Ao menos teria uma chance de sobreviver.
Não, Anastazja, que isso! Eu tenho que ajuda-la! Aqueles soldados vão pega-la e vão matar ela e o filho! Ah... Que droga, ela tá chegando. Tenho que decidir rápido!, pensou Anastazja enquanto ouvia os gritos da esposa, chamando pelo seu nome enquanto se aproximava correndo da porta do celeiro.
Anastazja voltou o olhar no buraco que ela estava espiando e viu o menino tropeçando. Nessa hora seu coração parecia pular pela garganta. Foi nesse momento que ela percebeu que os soldados nazistas apareceram correndo atrás dela com suas metralhadoras, como se estivessem se divertindo numa caça, até sorriam. Três homens armados sorrindo com suas armas e dois no fundo, que ela presumiu que talvez fossem mais experientes, os líderes do pelotão. Esses últimos apenas acompanhavam com passos rápidos, sem correr, e menos ainda com expressão de felicidade. Pareciam sérios.
Porém o soldado que estava na dianteira ao ver o menino simplesmente mirou e alvejou o menino com uma rajada de tiros certeira. Os soldados nazistas sorriam enquanto viam o sangue do menino jorrando, tingindo o chão de vermelho enquanto a mãe sem acreditar naquilo segurava o menino e corria, o arrastando.
Tomada pelo pânico a mãe tinha esperança de que o filho ainda estivesse vivo. Mas o garoto havia morrido instantaneamente ao receber as balas. Quem corria ali não era mais ela. Com o rosto totalmente desfigurado pela tristeza, a mãe corria de olhos fechados torcendo para que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo. Mas não era. Provavelmente sua família inteira estava morta, e acreditava que aquele seu filho era o único que ela conseguiria proteger. Ela não queria aceitar que estava sozinha no mundo. Jamais. Mas aquela era a vida real. Não temos tempo para nos despedir. E os soldados nazistas não acreditavam que eles eram humanos, e sequer haviam direito de viver. Aquela não era uma criança, era um animal, ou algo até pior que isso. Eram da raça de poloneses que haviam roubado seu território germânico depois do fim da Primeira Guerra Mundial. Eram vermes do leste europeu que não mereciam viver. A partir do momento que a humanidade foi eliminada, não haviam motivos para ter empatia pelo sofrimento alheio. Poloneses na visão dos nazistas eram algo a serem exterminados, não eram seres humanos como eles.
“Anastazja!! Por favor!! Abra a porta!! Estou com meu filho!!”, gritava a mulher enquanto se aproximava do celeiro. O pânico de Anastazja era cada vez maior. Pensou que a esposa havia a visto espiando no buraco da parede e abaixou, de medo.
E então o medo começou a tomar ainda mais e mais conta dela. E pessoas quando estão em situações de profunda pressão e medo são capazes de tomarem atitudes que não são focadas no altruísmo muitas vezes, pensando na autopreservação.
A esposa chegou na porta do celeiro e começou a bater várias vezes na porta gritando por Anastazja.
“Anastazja, por favor, abra a porta sou eu!!”, gritou a mulher, batendo na porta, “ANASTAZJA, POR FAVOR, ABRE A PORTA, PELO AMOR DE DEUS!!”, gritou a mulher ainda mais alto, batendo com o punho na porta do celeiro, “ANASTAZJA!!! ANASTAZJAA!!! ANASTAZJAAAAAAA!!!”, ela gritava, chutando a porta com uma vã esperança de que sua força conseguisse arrombar a porta.
Então uma descarga de tiros foi ouvida, e depois do silêncio dos disparos deu pra ouvir um corpo caindo pesadamente no chão. Sentada no chão na direção oposta da porta estava Anastazja, abraçada com suas pernas e chorando. Uma tábua de madeira trancava a porta do celeiro, impedindo a entrada de qualquer pessoa que fosse naquele lugar pela porta da frente.
Ela havia escolhido colocar aquilo no último momento, tomada pelo medo, não dando nenhuma chance para a esposa da família poder se salvar.
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