Amber #79 - Há uma voz que canta, uma voz que dança, uma voz que gira!
“Ah, mas que merda, que dor!!”, gritava Liesl, de dor quando se erguia e ia até onde estava suas coisas, “Parece que tenho uma costela quebrada, mas o resto do corpo são apenas hematomas”, pensou alto, quando checava seu corpo quando enfim conseguiu sair da cama.
Viu que suas roupas estavam lá, lavadas e limpas. E todo seu equipamento estava, pelo menos as armas. Em meio aos gemidos de dor quando fazia qualquer movimento pra colocar as roupas, não demorou muito para que Liesl se aprontasse. Por debaixo das roupas ainda estavam muitas ataduras e faixas protegendo os ferimentos que não haviam cicatrizado ainda. Mas ela sentia que conseguiria ir em frente.
“Minha Martini. Que bom ver que você está aqui!”, disse Liesl ao ver seu rifle. Mas ao buscar na bolsa viu que não tinha a munição ali, “Mas onde é que está a munição?”.
“Esse rifle é ultrapassado. Por que você o usa?”, perguntou a menina, que na sua mão tinha a munição da Martini-Henry, “Existem muitos outros rifles melhores hoje em dia pra se usar”.
“Passa logo essa munição, menina”, disse Liesl, e a menina jogou para Liesl a cinta com as balas da Martini-Henry para Liesl pegar, “Você devia estar brincando de bonecas. Não sei como você sabe sobre armas”.
A menina não respondeu. Apenas ficou encarando Liesl, sem expressão.
“Escuta, você sabe onde elas estão?”, perguntou Liesl, vendo que cada vez mais estava difícil ficar em pé com tantas dores no corpo.
“Você não está em condições pra sair daq...”, disse a menina, que foi interrompida por Liesl:
“Eu te fiz uma pergunta!! Responde logo, caralho!!”.
Nessa hora Liesl tomou um susto. Ouviu uma explosão que não parecia ter acontecido muito longe dali. As duas ficaram mudas, e a menina sem nome ainda tinha no seu rosto quase nenhuma expressão, exceto um pequeno susto por causa do barulho. Já Liesl estava abismada. Ao se aproximar da janela e a abrir, viu ao longe tanques, aviões e pelotões guerreando.
“É o exército vermelho”, disse a menina anônima, “Disseram que queriam proteger ucranianos e bielorrussos étnicos. Mas é óbvio que o motivo da raiva deles pelo poloneses não é isso. Eles não iam deixar a humilhação que sofreram nas mãos dos poloneses anos atrás impune. Eles só aguardaram a Alemanha fazer o trabalho sujo para virem pelo outro lado sem provocar uma guerra ainda maior. Todos parecem ter medo que aconteça o que aconteceu em 1914”.
“Os soviéticos...!”, disse Liesl, sem acreditar no que estava vendo, “...Realmente estão invadindo o leste da Polônia”.
Nessa hora a menina anônima se aproximou de Liesl. Ela ainda tinha um rosto calmo e sereno, apesar de estar falando de atrocidades de guerra que aconteciam na frente delas.
“Esse país vai ser tão destruído que vai voltar à idade da pedra. Sabe, eu acho que teria sido melhor ter sido morta. E pelo que ouvi, você ficou entre a vida e a morte diversas vezes. Viver no meio desse inferno é algo pior que a própria morte”, disse a menina.
Nessa hora Liesl se enfureceu e deu um empurrão na menina, que caiu no chão. Ainda assim a menina não expressava raiva, nem nada. Continuava com o rosto plácido, mesmo caída, encarando Liesl.
“Morrer é sempre mais fácil, não é? Igual aqueles pobres animais que você estava estripando quando te achamos naquela casa!”, disse Liesl, se impondo na frente da menina no chão, “Você é uma covarde, acha que só porque você é mais forte que aqueles pobres animais tem o direito de fazer o que bem entender com eles? Existem pessoas aí fora que precisam de ajuda, e eu não vou ficar parada sem fazer nada!”.
A menina sem nome se ergueu calmamente. Meio atrapalhada, mas ainda assim sem maiores dificuldades. Nessa hora uma enfermeira apareceu na porta. Era claro pelo uniforme que se tratava da cruz vermelha.
“Minha nossa, o que está acontecendo aqui?”, perguntou a enfermeira ao ver que Liesl estava arrumada e em pé.
“Senhora, eu preciso sair daqui agora!”, disse Liesl, se direcionando à enfermeira. Após isso ela virou o rosto para a menina sem nome, “E você, não vai me responder nada mesmo?”, disse Liesl, questionando a garota anônima.
Mas a menina não respondeu nada. Ficou em silêncio por um bom tempo olhando pro nada. Nem parecia estar prestando atenção no que Liesl dizia.
“Ah, chega, desisto! Eu vou atrás delas eu mesma!”, gritou Liesl, indo pra fora do quarto, inclusive empurrando a enfermeira. Quando ela fez um esforço a mais sentiu uma dor imensa no seu peitoral, onde estava a costela quebrada. Aquela dor era tão imensa e tão latejante que parecia tirar toda a noção de espaço dela enquanto ela caminhava no corredor daquele hospital improvisado passando pelos médicos e enfermeiras que a encaravam.
O mundo parecia girar.
“Minha nossa, menina, aguente firme!”.
Aqueles corredores pareciam ser verdadeiros aclives, que balançavam de um lado para o outro.
“Sai! Me deixa!! Eu quero sair daqui!!”.
As escadas eram um perigo a parte. Liesl não tinha mais o controle do seu corpo. A dor era tão grande que um pequeno passo em falso a fez cair. E quando ela recobrou a consciência, estava no chão, já no térreo.
“Tragam uma maca!! Essa menina não está pronta pra deixar o local!!”.
Se erguer era uma luta imensa. Ela mal conseguia rastejar. Aquela dor imensa parecia que tinha uma faca perfurando seu pulmão. Seus olhos estavam vermelhos, tanto de lágrimas pela dor, quanto pelo esforço inimaginável que fazia para conseguir ir em frente.
“Não, eu não quero, me deixa! Eu quero ir embora! Eu quero ir embora!!”.
E então viu na porta, apoiada sobre seu batente, ninguém menos que a menina anônima.
“Eu sei onde elas estão, suas amigas”, disse a criança.
Liesl nessa hora sentiu que os médicos a estavam pegando pelos braços, tentando a colocar numa maca, para a levarem de volta ao seu leito. Por mais que ela tentasse se desvencilhar, ela não tinha força nem mesmo pra respirar, de tanta dor que sentia no seu corpo todo.
“Mas pra te levar até elas, vou querer um favor seu”, disse a menina.
Liesl não sabia o que fazer. Voltar para o leito não era uma opção. Suas opções eram ou ela sair sozinha no meio do país em busca de Alice e Anastazja, ou entrar no joguinho daquela estranha criança que dizia saber onde estavam as duas.
“E então? Qual vai ser sua escolha?”.
As palavras da menina pareciam ecoar na sua mente. Os médicos tentavam coloca-la na maca, mas ela continuava a se debater. Na realidade, apenas tentava, pois estava tão fraca que não apresentava muita resistência. Sequer tinha forças para fazê-lo, então os médicos não viram muita dificuldade em deter Liesl ali.
O olhar das duas se encontraram. O brilho que vinha do lado de fora se confundia com os estranhos olhos dourados que a menina tinha. Olhos que pareciam ser capazes de engolir todo o entorno, toda cidade, todo o mundo.
Não havia opção. Era apostar nisso ou nada. Era arriscado, mas era a única chance.
“Eu aceito!! Me tira daqui!! Eu preciso achar a Alice e a Anastazja!”.
E então rapidamente a menina tirou uma pequena faca do bolso. Subiu em uma cadeira e colocou a mão sobre a testa de uma enfermeira distraída com prontuários na mão e sem hesitar passou aquela faca no pescoço da enfermeira.
O quê? Impossível! Ela matou aquela mulher nem pestanejar! Droga, droga, droga! Que merda, Liesl, essa menina vai me matar agora!, pensou Liesl, que com uma descarga de adrenalina no coração parecia em parte recuperar sua força.
Os médicos obviamente não estavam acreditando. Como uma criança era capaz de fazer aquilo? Tanta frieza, sem hesitação, como se a enfermeira fosse apenas um pedaço de carne sem vida? Rapidamente em médicos correram em seu socorro, e a menina sem menores problemas conseguiu desviar dos médicos que vinham ao seu encontro.
Em um impulso, Liesl saiu da maca. A dor ainda era grande, mas ela não sabia se fugia ou se a seguia.
“Eu vou te levar pro seu destino. Vem, agora!”, disse a menina, pegando no braço de Liesl e a puxando. Mancando e gemendo de dor, Liesl foi sendo levada por ela pra fora do hospital, enquanto os médicos corriam para socorrer a pobre enfermeira esfaqueada.
Já fora do hospital Liesl não conseguia acreditar no que havia se metido.
“Você a matou! Você matou uma enfermeira inocente que só estava salvando vidas!”, gritava Liesl no meio das ruas. Lvov estava sendo deixada pra trás, mas antes a menina parou dentro de uma casa abandonada. Liesl ainda não estava entendendo nada: “Você tá me ouvindo? Ai! Puta merda, que dor do caramba!”, nessa hora ela sentou numa poltrona, tentando manter uma postura reta, para que não doesse mais tanto o osso quebrado, “Ah, nunca mais quero quebrar ossos! Como essa merda dói!”.
A menina entrou na casa e demorou uns cinco minutos. Recuperando o fôlego, Liesl observou do seu lado, na rua. Uma família de poloneses caminhava em uma caravana. A mãe, em prantos, por ter abandonado tudo fugindo de nazistas e comunistas pegava um punhado de terra do chão do seu país e colocava num pote de vidro. Esfregou o pote com carinho no rosto, como se isso fosse uma última lembrança que levaria do que uma vez havia sido o seu país.
“Acho que essa roupa cabe em você”, disse a menina sem nome, jogando um monte de roupas para Liesl escolher, “Achei um dinheiro esquecido também, acho que vai dar pra comprar comida”.
“Você quer que eu troque de roupa?”, perguntou Liesl, “Mas essa roupa é militar. É ótima para combate”.
“É perigoso andar com uniforme alemão. Suas amigas foram em direção da Romênia. Seguindo uma caravana de exilados. Vamos nos infiltrar no meio, pegar uma carona, buscar informações e pega-las no caminho e fugir”, disse a menina anônima. Liesl se ergueu e calmamente começou a se despir, para colocar a roupa comum no lugar.
“É, parece que essa aqui cabe. Vamos lá...”, disse Liesl, enquanto abotoava um vestido e pegava um sobretudo, “Obviamente não vou abandonar minhas armas, vou apenas enrolar num pano pra escondê-las”.
“Não tem problema. Está pronta?”, disse a menina.
“Pronta. Mas como vamos entrar no meio dessas caravanas? Eu não sei falar polonês”, perguntou Liesl.
“Não se preocupa. Me siga”.
Viu que suas roupas estavam lá, lavadas e limpas. E todo seu equipamento estava, pelo menos as armas. Em meio aos gemidos de dor quando fazia qualquer movimento pra colocar as roupas, não demorou muito para que Liesl se aprontasse. Por debaixo das roupas ainda estavam muitas ataduras e faixas protegendo os ferimentos que não haviam cicatrizado ainda. Mas ela sentia que conseguiria ir em frente.
“Minha Martini. Que bom ver que você está aqui!”, disse Liesl ao ver seu rifle. Mas ao buscar na bolsa viu que não tinha a munição ali, “Mas onde é que está a munição?”.
“Esse rifle é ultrapassado. Por que você o usa?”, perguntou a menina, que na sua mão tinha a munição da Martini-Henry, “Existem muitos outros rifles melhores hoje em dia pra se usar”.
“Passa logo essa munição, menina”, disse Liesl, e a menina jogou para Liesl a cinta com as balas da Martini-Henry para Liesl pegar, “Você devia estar brincando de bonecas. Não sei como você sabe sobre armas”.
A menina não respondeu. Apenas ficou encarando Liesl, sem expressão.
“Escuta, você sabe onde elas estão?”, perguntou Liesl, vendo que cada vez mais estava difícil ficar em pé com tantas dores no corpo.
“Você não está em condições pra sair daq...”, disse a menina, que foi interrompida por Liesl:
“Eu te fiz uma pergunta!! Responde logo, caralho!!”.
Nessa hora Liesl tomou um susto. Ouviu uma explosão que não parecia ter acontecido muito longe dali. As duas ficaram mudas, e a menina sem nome ainda tinha no seu rosto quase nenhuma expressão, exceto um pequeno susto por causa do barulho. Já Liesl estava abismada. Ao se aproximar da janela e a abrir, viu ao longe tanques, aviões e pelotões guerreando.
“É o exército vermelho”, disse a menina anônima, “Disseram que queriam proteger ucranianos e bielorrussos étnicos. Mas é óbvio que o motivo da raiva deles pelo poloneses não é isso. Eles não iam deixar a humilhação que sofreram nas mãos dos poloneses anos atrás impune. Eles só aguardaram a Alemanha fazer o trabalho sujo para virem pelo outro lado sem provocar uma guerra ainda maior. Todos parecem ter medo que aconteça o que aconteceu em 1914”.
“Os soviéticos...!”, disse Liesl, sem acreditar no que estava vendo, “...Realmente estão invadindo o leste da Polônia”.
Nessa hora a menina anônima se aproximou de Liesl. Ela ainda tinha um rosto calmo e sereno, apesar de estar falando de atrocidades de guerra que aconteciam na frente delas.
“Esse país vai ser tão destruído que vai voltar à idade da pedra. Sabe, eu acho que teria sido melhor ter sido morta. E pelo que ouvi, você ficou entre a vida e a morte diversas vezes. Viver no meio desse inferno é algo pior que a própria morte”, disse a menina.
Nessa hora Liesl se enfureceu e deu um empurrão na menina, que caiu no chão. Ainda assim a menina não expressava raiva, nem nada. Continuava com o rosto plácido, mesmo caída, encarando Liesl.
“Morrer é sempre mais fácil, não é? Igual aqueles pobres animais que você estava estripando quando te achamos naquela casa!”, disse Liesl, se impondo na frente da menina no chão, “Você é uma covarde, acha que só porque você é mais forte que aqueles pobres animais tem o direito de fazer o que bem entender com eles? Existem pessoas aí fora que precisam de ajuda, e eu não vou ficar parada sem fazer nada!”.
A menina sem nome se ergueu calmamente. Meio atrapalhada, mas ainda assim sem maiores dificuldades. Nessa hora uma enfermeira apareceu na porta. Era claro pelo uniforme que se tratava da cruz vermelha.
“Minha nossa, o que está acontecendo aqui?”, perguntou a enfermeira ao ver que Liesl estava arrumada e em pé.
“Senhora, eu preciso sair daqui agora!”, disse Liesl, se direcionando à enfermeira. Após isso ela virou o rosto para a menina sem nome, “E você, não vai me responder nada mesmo?”, disse Liesl, questionando a garota anônima.
Mas a menina não respondeu nada. Ficou em silêncio por um bom tempo olhando pro nada. Nem parecia estar prestando atenção no que Liesl dizia.
“Ah, chega, desisto! Eu vou atrás delas eu mesma!”, gritou Liesl, indo pra fora do quarto, inclusive empurrando a enfermeira. Quando ela fez um esforço a mais sentiu uma dor imensa no seu peitoral, onde estava a costela quebrada. Aquela dor era tão imensa e tão latejante que parecia tirar toda a noção de espaço dela enquanto ela caminhava no corredor daquele hospital improvisado passando pelos médicos e enfermeiras que a encaravam.
O mundo parecia girar.
“Minha nossa, menina, aguente firme!”.
Aqueles corredores pareciam ser verdadeiros aclives, que balançavam de um lado para o outro.
“Sai! Me deixa!! Eu quero sair daqui!!”.
As escadas eram um perigo a parte. Liesl não tinha mais o controle do seu corpo. A dor era tão grande que um pequeno passo em falso a fez cair. E quando ela recobrou a consciência, estava no chão, já no térreo.
“Tragam uma maca!! Essa menina não está pronta pra deixar o local!!”.
Se erguer era uma luta imensa. Ela mal conseguia rastejar. Aquela dor imensa parecia que tinha uma faca perfurando seu pulmão. Seus olhos estavam vermelhos, tanto de lágrimas pela dor, quanto pelo esforço inimaginável que fazia para conseguir ir em frente.
“Não, eu não quero, me deixa! Eu quero ir embora! Eu quero ir embora!!”.
E então viu na porta, apoiada sobre seu batente, ninguém menos que a menina anônima.
“Eu sei onde elas estão, suas amigas”, disse a criança.
Liesl nessa hora sentiu que os médicos a estavam pegando pelos braços, tentando a colocar numa maca, para a levarem de volta ao seu leito. Por mais que ela tentasse se desvencilhar, ela não tinha força nem mesmo pra respirar, de tanta dor que sentia no seu corpo todo.
“Mas pra te levar até elas, vou querer um favor seu”, disse a menina.
Liesl não sabia o que fazer. Voltar para o leito não era uma opção. Suas opções eram ou ela sair sozinha no meio do país em busca de Alice e Anastazja, ou entrar no joguinho daquela estranha criança que dizia saber onde estavam as duas.
“E então? Qual vai ser sua escolha?”.
As palavras da menina pareciam ecoar na sua mente. Os médicos tentavam coloca-la na maca, mas ela continuava a se debater. Na realidade, apenas tentava, pois estava tão fraca que não apresentava muita resistência. Sequer tinha forças para fazê-lo, então os médicos não viram muita dificuldade em deter Liesl ali.
O olhar das duas se encontraram. O brilho que vinha do lado de fora se confundia com os estranhos olhos dourados que a menina tinha. Olhos que pareciam ser capazes de engolir todo o entorno, toda cidade, todo o mundo.
Não havia opção. Era apostar nisso ou nada. Era arriscado, mas era a única chance.
“Eu aceito!! Me tira daqui!! Eu preciso achar a Alice e a Anastazja!”.
E então rapidamente a menina tirou uma pequena faca do bolso. Subiu em uma cadeira e colocou a mão sobre a testa de uma enfermeira distraída com prontuários na mão e sem hesitar passou aquela faca no pescoço da enfermeira.
O quê? Impossível! Ela matou aquela mulher nem pestanejar! Droga, droga, droga! Que merda, Liesl, essa menina vai me matar agora!, pensou Liesl, que com uma descarga de adrenalina no coração parecia em parte recuperar sua força.
Os médicos obviamente não estavam acreditando. Como uma criança era capaz de fazer aquilo? Tanta frieza, sem hesitação, como se a enfermeira fosse apenas um pedaço de carne sem vida? Rapidamente em médicos correram em seu socorro, e a menina sem menores problemas conseguiu desviar dos médicos que vinham ao seu encontro.
Em um impulso, Liesl saiu da maca. A dor ainda era grande, mas ela não sabia se fugia ou se a seguia.
“Eu vou te levar pro seu destino. Vem, agora!”, disse a menina, pegando no braço de Liesl e a puxando. Mancando e gemendo de dor, Liesl foi sendo levada por ela pra fora do hospital, enquanto os médicos corriam para socorrer a pobre enfermeira esfaqueada.
Já fora do hospital Liesl não conseguia acreditar no que havia se metido.
“Você a matou! Você matou uma enfermeira inocente que só estava salvando vidas!”, gritava Liesl no meio das ruas. Lvov estava sendo deixada pra trás, mas antes a menina parou dentro de uma casa abandonada. Liesl ainda não estava entendendo nada: “Você tá me ouvindo? Ai! Puta merda, que dor do caramba!”, nessa hora ela sentou numa poltrona, tentando manter uma postura reta, para que não doesse mais tanto o osso quebrado, “Ah, nunca mais quero quebrar ossos! Como essa merda dói!”.
A menina entrou na casa e demorou uns cinco minutos. Recuperando o fôlego, Liesl observou do seu lado, na rua. Uma família de poloneses caminhava em uma caravana. A mãe, em prantos, por ter abandonado tudo fugindo de nazistas e comunistas pegava um punhado de terra do chão do seu país e colocava num pote de vidro. Esfregou o pote com carinho no rosto, como se isso fosse uma última lembrança que levaria do que uma vez havia sido o seu país.
“Acho que essa roupa cabe em você”, disse a menina sem nome, jogando um monte de roupas para Liesl escolher, “Achei um dinheiro esquecido também, acho que vai dar pra comprar comida”.
“Você quer que eu troque de roupa?”, perguntou Liesl, “Mas essa roupa é militar. É ótima para combate”.
“É perigoso andar com uniforme alemão. Suas amigas foram em direção da Romênia. Seguindo uma caravana de exilados. Vamos nos infiltrar no meio, pegar uma carona, buscar informações e pega-las no caminho e fugir”, disse a menina anônima. Liesl se ergueu e calmamente começou a se despir, para colocar a roupa comum no lugar.
“É, parece que essa aqui cabe. Vamos lá...”, disse Liesl, enquanto abotoava um vestido e pegava um sobretudo, “Obviamente não vou abandonar minhas armas, vou apenas enrolar num pano pra escondê-las”.
“Não tem problema. Está pronta?”, disse a menina.
“Pronta. Mas como vamos entrar no meio dessas caravanas? Eu não sei falar polonês”, perguntou Liesl.
“Não se preocupa. Me siga”.
Comentários
Postar um comentário