Amber #82 - A linha entre humildade e burrice.
“O quê? A Anastazja?”, perguntou Liesl, olhando pra Alice sem acreditar. Depois disso voltou seu olhar para Anastazja, pronta para perguntar algo: “Mas o que você tem assim de tão importante?”.
Alice continuava com um olhar confuso fitando Anastazja. Ela estava começando a suspeitar o que poderia ser, mas ainda era muito cedo pra poder arriscar um palpite.
“Não, não deve ser eu!”, disse Anastazja, como se fosse culpada de algo, “Gente, eu não sei nada sobre física ou química. Eu sou uma negação em qualquer coisa, sou toda atrapalhada!”, nessa hora ela virou o olhar para Natasha, como se ensaiasse um pedido sincero de desculpas, “Talvez isso seja um engano. Eu não tenho nada demais, nem tenho onde cair morta! Meus pais são super pobres, e estão dando duro para que eu estude na faculdade, mas apenas isso”.
“Tá, mas você sabe matemática”, disse Natasha. Na hora que Alice ouviu isso ela viu que sua dedução estava certa, e abriu um sorriso de alguém que havia descoberto algo. Liesl nessa hora percebeu e trocou um olhar com Alice tentando saber o que era, mas Alice apenas a sorriu, como se mentalmente pedisse pra ela aguardar que as explicações seriam dadas daqui a pouco.
“Bom, eu gosto de números, e de matemática”, disse Anastazja, sem jeito, “Isso nunca foi algo muito atraente pra conquistar rapazes, e as meninas também não se aproximavam muito de mim porque eu era sempre a melhor da classe”, nessa hora Anastazja virou pra Natasha, parecia ansiosa pra saber onde aquela conversa iria chegar, “Mas você disse bem: uma arma pra derrubar Hitler. Exceto que o Führer participe de uma olimpíada da matemática, saber equações e álgebra não vão ajudar em nada a parar ele!”.
“Essa conversinha parece que não vai dar em lugar nenhum mesmo”, disse Brigitte, sem paciência, “Uma coisa é a pessoa ser humilde, insegura. Outra coisa é a pessoa ser burra. Não precisamos que você ensine raiz quadrada ou números racionais. Você tem uma capacidade de calcular e resolver problemas complexos muito acima da média. É o típico caso de homens que levam todo o mérito do trabalho pesado que nós mulheres fazemos...”, disse Brigitte, como se estivesse de alguma forma cansada dessas injustiças, “...Anotem o que eu estou falando: quando o homem pisar na lua, vai ser graças a um monte de mulheres anônimas que fizeram todo o trabalho duro nos bastidores”.
Anastazja parecia ainda mais confusa. Pisar na Lua então era algo impensável naquele tempo, parecia algo saído das estórias de Júlio Verne. Olhava pra Natasha sem entender muito o que Brigitte queria dizer, que depois de dizer isso simplesmente entrou na barraca buscando por algo. O silêncio perdurou entre as quatro: Alice sorria, como se soubesse exatamente do que se tratava. Liesl continuava com uma cara confusa tanto quanto Anastazja. E Natasha olhava pra barraca onde Brigitte havia entrado aguardando o que ela iria trazer de lá com uma cara de que já imaginava o que seria isso.
Quando Anastazja estava abrindo a boca pra falar e quebrar o silêncio, Brigitte saiu da tenda, carregando uma pasta e a abrindo, pegando algumas fotografias em preto-e-branco na mão para mostrar a Anastazja.
“Presumo que você conheça Marian Rejewski”, disse Brigitte mostrando a foto. Anastazja assentiu com a cabeça. Brigitte guardou e mostrou mais duas fotografias para a polaca: “E quanto a Jerzy Rozycki e Henryk Zygalski?”, e novamente Anastazja confirmou balançando a cabeça.
“Sim. São todos matemáticos. Já tive algumas aulas com eles, palestras e grupos de estudos. Eles são verdadeiros gênios!”, disse Anastazja, com um sentimento de profunda admiração e gratidão pelos três.
“Muito bem. Agora, você consegue confirmar quem resolveu esse problema?”, disse Brigitte, tirando uma cópia de uma folha com vários números nela. Anastazja não conseguia acreditar. Ela lembrava exatamente o que era aquela folha.
“Espera aí, é a minha letra!”, disse a polonesa, pegando o papel. Liesl se aproximou do lado dela pra ver também. Eram tantos números que parecia grego, “Eu lembro disso. Tem um tempinho já. Foi um teste que eu fiz na Universidade de Posnânia. Inclusive o senhor Rejewski estava lá e conversamos um pouco”, quando Anastazja disse isso, Liesl reparou nas diversas anotações, feitas por um corretor, mas estavam em polaco.
“O que significa ‘zatwierdzony’ nesse carimbo?”, perguntou Liesl. Anastazja enfim reparou nesse carimbo e olhou para Liesl sem acreditar também. Mas antes mesmo de responder foi interrompida por Natasha:
“Em polaco significa ‘aprovado’. Como numa prova”, disse Natasha, apontando pra folha, “Esse é um teste dificílimo de matemática. Não apenas para testar a proficiência, como exatidão nos cálculos”, nessa hora todas olharam para Natasha, “Mas o mais importante é que esses cálculos na verdade eram um teste de Rejewski e os outros pra saber se alguém conseguiria decifrar uma parte de uma equação maior que eles não tinham a mínima noção de como se fazer”, nessa hora Natasha fez uma pausa, “E olha só, você conseguiu Anastazja”.
“Mas um teste, pra quê? Se eles quisessem resolver um problema matemático era só ter criado um grupo de pesquisa”, disse Anastazja, ainda tentando entender.
“Natasha, parece que você tá se contaminando com a mentalidade medíocre dessas aí. Fala a verdade, vai”, disse Brigitte, pedindo para Natasha, “Você não apenas conseguiu, como foi a ÚNICA pessoa que conseguiu resolver”, ao dizer isso Anastazja arregalou os olhos, como se não acreditasse. Brigitte prosseguiu, apesar do olhar abismado da menina: “Vários pedidos para que você participasse secretamente do Biuro Szyfrów foram enviados para você. Mas você colocou seu endereço errado, e as cartas nunca chegaram em Cracóvia”.
Brigitte então tirou da pasta duas das cartas que foram interceptadas por elas. Anastazja não sabia onde enfiar a cara.
“Acho que no lugar de 4 eu coloquei 9...”, disse Anastazja vendo onde estava o erro, “Meu endereço em Cracóvia não chegava até o número noventa”.
“Ai, Anastazja, só você mesma! Hahahaha!”, riu Alice. Anastazja deu um sorriso amarelo pra amiga. Aquelas cartas haviam sido enviadas há meses.
“Tá, mas o que significa esse negócio que você disse aí, o Biuro Szyfrów?”, perguntou Liesl, com uma pronúncia péssima.
“Escritório de cifras”, disse Anastazja.
“Cifras? Criptografia?”, disse Liesl, abismada.
“Sim. Essa menina é um verdadeiro gênio da matemática”, disse Brigitte, “O escritório de cifras polonês possui diversos matemáticos renomados, e essa equipe é a mesma que está decifrando uma das coisas que vai deixar Hitler de joelhos, totalmente desprevenido. Dizem que eles já conseguiram encontrar uma forma de decodificar a comunicação alemã, quebrando o código da máquina Enigma”.
Nessa hora Alice olhou para Anastazja, e uma sorriu gentilmente para a outra. As duas não pareciam nem um pouco surpresas. Liesl olhava pras duas sem entender também o que estava acontecendo. Mas Natasha e Brigitte pareciam cada uma, à sua maneira, indignadas. Esperavam uma reação mais animada por parte das duas, especialmente de Anastazja.
“Pensei que vocês reagiriam de forma diferente. Porque se olharam e ficaram em silêncio?”, perguntou Brigitte Briegel.
“Lembra que eu disse que descobrimos de uma comunicação nazista dizendo que havia uma Briegel no sul da Polônia?”, iniciou Anastazja, fazendo uma pausa. Natasha, Liesl e Brigitte confirmaram com a cabeça, pedindo pra ela prosseguir, “Então... Eu montei um rádio, bem vagabundo mesmo, e consegui interceptar um trecho da comunicação deles. Eu tive muita sorte, pois o pedaço que eu decodifiquei era onde uma das palavras formadas justamente era ‘Briegel’ e ‘sul’”.
“Espera aí, você tá dizendo que decodificou sozinha o código impossível de ser decifrado?”, perguntou Natasha, sem acreditar.
“Na verdade não foi lá essas coisas. Volta e meia eu conseguia interceptar com um pequeno rádio em casa e eu descobri em alguns dias o segredo do código deles há algumas semanas. Não foi difícil, apenas levava tempo, são muitos cálculos”, disse Anastazja, com muita humildade, “E eu fazia tudo usando um ábaco, então foi meio que trapaça! Um verdadeiro matemático não usa equipamentos como esses”, ela concluiu dizendo totalmente sem jeito.
“Você decifrou o enigma em minutos usando a porra de um ábaco?”, disse Brigitte, acendendo um cigarro, para ver se iria ajuda-la a se acalmar, “Quer dizer que o que eles estão se matando pra calcular você descobriu uma maneira de fazer isso usando a merda de um brinquedo de criança?”.
Anastazja não sabia o que falar. Brigitte parecia extremamente furiosa e indignada aos seus olhos. Mas na verdade ela estava era descrente.
“Quer saber, vou fumar e dar uma volta. Eu disse que vocês duas eram loucas de entrar na Polônia sendo exterminada pelos nazistas e soviéticos, mas a louca aqui é essa menina, que não tem noção nenhuma do que acabou de fazer!”, disse Brigitte, saindo pra dar uma volta para fumar.
“É um feito e tanto! Inacreditável na verdade!”, disse Natasha, sem acreditar tanto quanto Brigitte, “Você interceptou essa comunicação que te trouxe até nós aonde? Varsóvia mesmo?”.
“Isso. Na casa dos meus pais”, disse Anastazja, “Ah, e Liesl, eles estão bem. Seguiram para a Romênia enquanto eu e a Alice escolhemos te aguardar aqui”.
“Entendi então porque disseram que você é tão valiosa!”, disse Liesl, “Saber decodificar a Enigma traria uma vantagem enorme para a Inglaterra e a França para parar a expansão nazista pela Europa! O exército deles estaria nas nossas mãos!”.
“Nossa missão é levar Anastazja para um local seguro. A Romênia é o primeiro lugar para longe desse inferno antes que os nazistas a descubram. Talvez junto com os outros matemáticos do Biuro Szyfrów, o escritório de cifras”, disse Natasha, se erguendo do banquinho, como se estivesse pronta para ir, “Temos que nos apressar então! Vamos chamar a Brigitte para...”.
Natasha nessa hora não completou a frase. Ao longe vira Brigitte Briegel conversando com dois soldados soviéticos. Ela vinha correndo com o cigarro na boca, com sua cara rabugenta de costume em direção delas. Mas algo dentro de Natasha dizia que ela trazia más notícias.
“Temos que ir logo”, disse Brigitte, “Os soldados disseram que tem uma caravana de poloneses vindo nessa direção. E muitos são militares. E pelo que viram, estão em sua maioria armados”.
Alice continuava com um olhar confuso fitando Anastazja. Ela estava começando a suspeitar o que poderia ser, mas ainda era muito cedo pra poder arriscar um palpite.
“Não, não deve ser eu!”, disse Anastazja, como se fosse culpada de algo, “Gente, eu não sei nada sobre física ou química. Eu sou uma negação em qualquer coisa, sou toda atrapalhada!”, nessa hora ela virou o olhar para Natasha, como se ensaiasse um pedido sincero de desculpas, “Talvez isso seja um engano. Eu não tenho nada demais, nem tenho onde cair morta! Meus pais são super pobres, e estão dando duro para que eu estude na faculdade, mas apenas isso”.
“Tá, mas você sabe matemática”, disse Natasha. Na hora que Alice ouviu isso ela viu que sua dedução estava certa, e abriu um sorriso de alguém que havia descoberto algo. Liesl nessa hora percebeu e trocou um olhar com Alice tentando saber o que era, mas Alice apenas a sorriu, como se mentalmente pedisse pra ela aguardar que as explicações seriam dadas daqui a pouco.
“Bom, eu gosto de números, e de matemática”, disse Anastazja, sem jeito, “Isso nunca foi algo muito atraente pra conquistar rapazes, e as meninas também não se aproximavam muito de mim porque eu era sempre a melhor da classe”, nessa hora Anastazja virou pra Natasha, parecia ansiosa pra saber onde aquela conversa iria chegar, “Mas você disse bem: uma arma pra derrubar Hitler. Exceto que o Führer participe de uma olimpíada da matemática, saber equações e álgebra não vão ajudar em nada a parar ele!”.
“Essa conversinha parece que não vai dar em lugar nenhum mesmo”, disse Brigitte, sem paciência, “Uma coisa é a pessoa ser humilde, insegura. Outra coisa é a pessoa ser burra. Não precisamos que você ensine raiz quadrada ou números racionais. Você tem uma capacidade de calcular e resolver problemas complexos muito acima da média. É o típico caso de homens que levam todo o mérito do trabalho pesado que nós mulheres fazemos...”, disse Brigitte, como se estivesse de alguma forma cansada dessas injustiças, “...Anotem o que eu estou falando: quando o homem pisar na lua, vai ser graças a um monte de mulheres anônimas que fizeram todo o trabalho duro nos bastidores”.
Anastazja parecia ainda mais confusa. Pisar na Lua então era algo impensável naquele tempo, parecia algo saído das estórias de Júlio Verne. Olhava pra Natasha sem entender muito o que Brigitte queria dizer, que depois de dizer isso simplesmente entrou na barraca buscando por algo. O silêncio perdurou entre as quatro: Alice sorria, como se soubesse exatamente do que se tratava. Liesl continuava com uma cara confusa tanto quanto Anastazja. E Natasha olhava pra barraca onde Brigitte havia entrado aguardando o que ela iria trazer de lá com uma cara de que já imaginava o que seria isso.
Quando Anastazja estava abrindo a boca pra falar e quebrar o silêncio, Brigitte saiu da tenda, carregando uma pasta e a abrindo, pegando algumas fotografias em preto-e-branco na mão para mostrar a Anastazja.
“Presumo que você conheça Marian Rejewski”, disse Brigitte mostrando a foto. Anastazja assentiu com a cabeça. Brigitte guardou e mostrou mais duas fotografias para a polaca: “E quanto a Jerzy Rozycki e Henryk Zygalski?”, e novamente Anastazja confirmou balançando a cabeça.
“Sim. São todos matemáticos. Já tive algumas aulas com eles, palestras e grupos de estudos. Eles são verdadeiros gênios!”, disse Anastazja, com um sentimento de profunda admiração e gratidão pelos três.
“Muito bem. Agora, você consegue confirmar quem resolveu esse problema?”, disse Brigitte, tirando uma cópia de uma folha com vários números nela. Anastazja não conseguia acreditar. Ela lembrava exatamente o que era aquela folha.
“Espera aí, é a minha letra!”, disse a polonesa, pegando o papel. Liesl se aproximou do lado dela pra ver também. Eram tantos números que parecia grego, “Eu lembro disso. Tem um tempinho já. Foi um teste que eu fiz na Universidade de Posnânia. Inclusive o senhor Rejewski estava lá e conversamos um pouco”, quando Anastazja disse isso, Liesl reparou nas diversas anotações, feitas por um corretor, mas estavam em polaco.
“O que significa ‘zatwierdzony’ nesse carimbo?”, perguntou Liesl. Anastazja enfim reparou nesse carimbo e olhou para Liesl sem acreditar também. Mas antes mesmo de responder foi interrompida por Natasha:
“Em polaco significa ‘aprovado’. Como numa prova”, disse Natasha, apontando pra folha, “Esse é um teste dificílimo de matemática. Não apenas para testar a proficiência, como exatidão nos cálculos”, nessa hora todas olharam para Natasha, “Mas o mais importante é que esses cálculos na verdade eram um teste de Rejewski e os outros pra saber se alguém conseguiria decifrar uma parte de uma equação maior que eles não tinham a mínima noção de como se fazer”, nessa hora Natasha fez uma pausa, “E olha só, você conseguiu Anastazja”.
“Mas um teste, pra quê? Se eles quisessem resolver um problema matemático era só ter criado um grupo de pesquisa”, disse Anastazja, ainda tentando entender.
“Natasha, parece que você tá se contaminando com a mentalidade medíocre dessas aí. Fala a verdade, vai”, disse Brigitte, pedindo para Natasha, “Você não apenas conseguiu, como foi a ÚNICA pessoa que conseguiu resolver”, ao dizer isso Anastazja arregalou os olhos, como se não acreditasse. Brigitte prosseguiu, apesar do olhar abismado da menina: “Vários pedidos para que você participasse secretamente do Biuro Szyfrów foram enviados para você. Mas você colocou seu endereço errado, e as cartas nunca chegaram em Cracóvia”.
Brigitte então tirou da pasta duas das cartas que foram interceptadas por elas. Anastazja não sabia onde enfiar a cara.
“Acho que no lugar de 4 eu coloquei 9...”, disse Anastazja vendo onde estava o erro, “Meu endereço em Cracóvia não chegava até o número noventa”.
“Ai, Anastazja, só você mesma! Hahahaha!”, riu Alice. Anastazja deu um sorriso amarelo pra amiga. Aquelas cartas haviam sido enviadas há meses.
“Tá, mas o que significa esse negócio que você disse aí, o Biuro Szyfrów?”, perguntou Liesl, com uma pronúncia péssima.
“Escritório de cifras”, disse Anastazja.
“Cifras? Criptografia?”, disse Liesl, abismada.
“Sim. Essa menina é um verdadeiro gênio da matemática”, disse Brigitte, “O escritório de cifras polonês possui diversos matemáticos renomados, e essa equipe é a mesma que está decifrando uma das coisas que vai deixar Hitler de joelhos, totalmente desprevenido. Dizem que eles já conseguiram encontrar uma forma de decodificar a comunicação alemã, quebrando o código da máquina Enigma”.
Nessa hora Alice olhou para Anastazja, e uma sorriu gentilmente para a outra. As duas não pareciam nem um pouco surpresas. Liesl olhava pras duas sem entender também o que estava acontecendo. Mas Natasha e Brigitte pareciam cada uma, à sua maneira, indignadas. Esperavam uma reação mais animada por parte das duas, especialmente de Anastazja.
“Pensei que vocês reagiriam de forma diferente. Porque se olharam e ficaram em silêncio?”, perguntou Brigitte Briegel.
“Lembra que eu disse que descobrimos de uma comunicação nazista dizendo que havia uma Briegel no sul da Polônia?”, iniciou Anastazja, fazendo uma pausa. Natasha, Liesl e Brigitte confirmaram com a cabeça, pedindo pra ela prosseguir, “Então... Eu montei um rádio, bem vagabundo mesmo, e consegui interceptar um trecho da comunicação deles. Eu tive muita sorte, pois o pedaço que eu decodifiquei era onde uma das palavras formadas justamente era ‘Briegel’ e ‘sul’”.
“Espera aí, você tá dizendo que decodificou sozinha o código impossível de ser decifrado?”, perguntou Natasha, sem acreditar.
“Na verdade não foi lá essas coisas. Volta e meia eu conseguia interceptar com um pequeno rádio em casa e eu descobri em alguns dias o segredo do código deles há algumas semanas. Não foi difícil, apenas levava tempo, são muitos cálculos”, disse Anastazja, com muita humildade, “E eu fazia tudo usando um ábaco, então foi meio que trapaça! Um verdadeiro matemático não usa equipamentos como esses”, ela concluiu dizendo totalmente sem jeito.
“Você decifrou o enigma em minutos usando a porra de um ábaco?”, disse Brigitte, acendendo um cigarro, para ver se iria ajuda-la a se acalmar, “Quer dizer que o que eles estão se matando pra calcular você descobriu uma maneira de fazer isso usando a merda de um brinquedo de criança?”.
Anastazja não sabia o que falar. Brigitte parecia extremamente furiosa e indignada aos seus olhos. Mas na verdade ela estava era descrente.
“Quer saber, vou fumar e dar uma volta. Eu disse que vocês duas eram loucas de entrar na Polônia sendo exterminada pelos nazistas e soviéticos, mas a louca aqui é essa menina, que não tem noção nenhuma do que acabou de fazer!”, disse Brigitte, saindo pra dar uma volta para fumar.
“É um feito e tanto! Inacreditável na verdade!”, disse Natasha, sem acreditar tanto quanto Brigitte, “Você interceptou essa comunicação que te trouxe até nós aonde? Varsóvia mesmo?”.
“Isso. Na casa dos meus pais”, disse Anastazja, “Ah, e Liesl, eles estão bem. Seguiram para a Romênia enquanto eu e a Alice escolhemos te aguardar aqui”.
“Entendi então porque disseram que você é tão valiosa!”, disse Liesl, “Saber decodificar a Enigma traria uma vantagem enorme para a Inglaterra e a França para parar a expansão nazista pela Europa! O exército deles estaria nas nossas mãos!”.
“Nossa missão é levar Anastazja para um local seguro. A Romênia é o primeiro lugar para longe desse inferno antes que os nazistas a descubram. Talvez junto com os outros matemáticos do Biuro Szyfrów, o escritório de cifras”, disse Natasha, se erguendo do banquinho, como se estivesse pronta para ir, “Temos que nos apressar então! Vamos chamar a Brigitte para...”.
Natasha nessa hora não completou a frase. Ao longe vira Brigitte Briegel conversando com dois soldados soviéticos. Ela vinha correndo com o cigarro na boca, com sua cara rabugenta de costume em direção delas. Mas algo dentro de Natasha dizia que ela trazia más notícias.
“Temos que ir logo”, disse Brigitte, “Os soldados disseram que tem uma caravana de poloneses vindo nessa direção. E muitos são militares. E pelo que viram, estão em sua maioria armados”.
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