Amber #89 - O pelotão Pássaro Vermelho.
“O quê?!”, exclamou Schultz, assustado, “Mas são cinquenta homens! É um pelotão inteiro! Vocês são apenas cinco, e ainda querem colocar eu e a Eunmi fora disso? Temos que atacar com todo o poder de fogo disponível!”.
Enquanto Schultz dizia isso, Tsai acenava com a cabeça, e todos pareciam saber exatamente o que fazer. Apenas Li ficou por ali preparando seu rifle, colocando o escopo e preparando a munição. Ho, Chen e Chou desceram rapidamente, em um passo constante. Já Eunmi ficou simplesmente paralisada. Aquilo tudo era loucura, e ela nem sabia o que esperar daquela coisa toda.
“Vocês ficam se chamando de pelotão, mas será que isso não é um exagero, Tsai? Um pelotão são cinquenta homens! No máximo vocês são um esquadrão!”, dizia Schultz, temendo o pior, “Larga de ficar com essa prepotência, como cinco pessoas conseguiriam derrotar um pelotão de cinquenta homens? Japoneses são bem armados, bem treinados! Não são como os chineses que mal tem roupas de algodão pra guerrear!”.
Mas Tsai não parecia dar a mínima para que Schultz dizia. Li fez um sinal com a cabeça e Tsai se aproximou dela. Aparentemente a atiradora de elite já havia tomado seu posto.
“A diretriz são quatro pontos de observação, Gongzhu?”, perguntou Li. Schultz ficou olhando para elas sem entender, e Tsai confirmou com a cabeça, e Li prosseguiu: “Ponto atual, ponto Alfa 2, Golf 17 e Delta 8?”.
“Sim. No lugar do Delta 8, que tal o Charlie 2?”, sugeriu Tsai.
“Entendido. Aguardando sua ordem, Gongzhu!”, disse Li, se colocando na janela, observando os soldados se aproximando do casarão.
“Ótimo, vou descer e encontrar os outros, Meihua”, disse Tsai, indo até as escadas, “Aguarde o meu sinal para abrir fogo”.
“Meihua?”, perguntou Eunmi. Ela nunca tinha visto a Gongzhu chamar a Li assim. Tinha um som muito parecido com uma palavra em coreano.
Schultz estava perdendo a paciência. Seguiu Tsai descendo as escadas, mas não conseguia alcança-la nos corredores, ela parecia muito decidida e determinada.
“Tsai! Você por acaso não tá me ouvindo?”, gritava Schultz enquanto a seguia, “Por favor, confie na gente! A gente pode te ajudar aqui! Deixa eu e a Eunmi ajudar vocês! Assim ao menos teremos uma chance!”.
Chou, Ho e Chen estavam no térreo esperando. Estavam já com suas armas em punhos, prontos para o combate. Chou estava com sua Fedorov Avtomat, Chen estava com muitos explosivos, e Ho estava com uma imensa metralhadora em punhos, que não demorou muito para que Schultz reconhecesse como uma arma usada pelo exército alemão, a MG 08/18.
“Yaosai, quero que atraia os soldados para o leste, e elimine o quanto puder, enquanto Juhua te ajuda de suporte. Meihua vai atirar lá de cima, tentando fazer ele se juntarem. Vai ser a sua hora, Yongqi de usar seus explosivos e mandarem pelos ares o quanto puderem. Vou ficar de olho, e entrarei pra dar um suporte quando ver que é necessário”, disse Tsai, sacando sua submetralhadora M1918 automática, “Meihua, pode começar a atirar!”, disse Tsai para Li, que estava em seu posto de observação no topo do casarão. Era a ordem para que a batalha começasse.
Schultz observava Tsai. Nessa hora ele teve medo. É verdade que ele confiava muito nela, mas havia algo em seu coração que não queria permitir que ela fosse enfrentar todos aqueles soldados com apenas mais quatro pessoas. Ele nunca tinha visto algo assim. É verdade que a China havia escolhido manter uma guerra de atrito com o Japão, com seus milhões de soldados tentando desgastar e tirar a moral dos japoneses, mesmo eles tendo equipamentos extremamente inferiores, a estratégia de Chiang Kai-shek era tentar vencê-los pelo cansaço. A China era grande e extremamente populosa. Mas o que Schultz via era o exato oposto: designaram um pelotão inteiro de cinquenta homens para invadir e destruir qualquer rastro da Tsai e seu pelotão. Isso não foi por acaso. Apenas a morte e destruição total deles era aceitável. E aparentemente, nem o exército imperial japonês considerava-os como um “reles esquadrão de cinco pessoas”.
“Tsai, você tem certeza?”, disse Schultz, gentilmente colocando sua mão no braço de Tsai. A Gongzhu viu a mão do alemão no seu antebraço, e depois de colocar seus olhos em sua mão, virou o olhar para seus olhos. Apenas aquele olhar que ela havia dado, transmitia uma feição em profunda paz. Um rosto confiante. Sem expressar uma soberba sorrindo, ou o mínimo resquício de dúvida. Schultz nesse momento viu como os olhos asiáticos são terrivelmente expressivos, capazes de expressar uma poesia inteira com apenas um único olhar.
“Schultz, confie em mim”, foi a única coisa que Tsai disse. Quando Schultz a viu, algo lhe disse para ficar calmo. Tsai tinha tudo sobre controle.
Um disparo foi ouvido da parte de cima. Era Li. Os japoneses viram que a primeira vítima já havia caído, e olhavam para os lados, procurando de onde vinha o disparo. Mal tiveram tempo de buscar, um segundo tiro foi disparado, seguido de um terceiro.
“Na casa!! No topo da casa!!”, gritou o soldado em japonês, e pelo menos oito homens subiram em disparada o morro, indo em direção do casarão.
“Acho que deve ser codinomes, Schultz”, disse Eunmi, depois de raciocinar o motivo da Gongzhu terem se referido a todos por outro nome, “’Meihua’ soa parecido com ‘Maehwa’ em coreano. É a flor de umê, um tipo de ameixa aqui da região”, quando Eunmi disse, ela se virou para Tsai, que não estava longe dali, observando o movimento. A chinesa ouviu o que a coreana estava dizendo e virou o rosto para Eunmi, prestando atenção na sua explicação, “Se for realmente essa a pronúncia, pode ser que tenha algo a ver. Não sei, é um palpite”, Eunmi nessa hora virou o rosto e chacoalhou os ombros para Tsai, como se perguntasse se a dedução dela estava certa. Tsai confirmou com a cabeça, e voltou seu olhar para o campo de batalha.
“É, pelo visto sua dedução está ótima, Eunmi. Escuta, vamos para um lugar mais seguro. Vamos deixa-los mais a vontade”, disse Schultz, levando Eunmi.
Ho então, escondida, saiu detrás de uma pedra e começou a fuzilar todos os soldados que estavam subindo o morro. Alguns tentaram se virar para se defender, mas os tiros penetravam suas peles antes que pudessem fazer algo, fazendo o sangue jorrar e seus corpos caírem apagados, rolando morro abaixo. Cinco soldados ao verem que Ho havia atirado começaram a subir, e foi a vez de Chou, que estava atrás de uma árvore, começar a abater um depois do outro com sua Fedorov Avtomat. Não demorou muito para que ela precisasse se proteger atrás da árvore para recarregar seu fuzil.
“Chou, ainda tem um!”, disse Ho, vendo que dos cinco soldados, ainda havia um vivo, que estava atirando contra Chou. Mas um tiro desconhecido o abateu. Era Li.
“Poxa, ela realmente trabalha junto com ela!”, disse Schultz, espantando. Quando a situação se fazia necessária, as duas deixavam o lado pessoal de lado e trabalhavam realmente em conjunto, “Ao menos não leva tão pro lado pessoal assim”, disse Schultz para Eunmi, que observava abismada aquilo tudo.
Novamente de uma localização privilegiada e diferente, os tiros do rifle de Li acertavam um atrás do outro na cabeça. Quatro homens foram caindo, um seguido do outro, até que os soldados apontassem suas armas para o local onde achavam que Li estava – próximo de uma rocha ao leste deles – e começassem a atirar, querendo feri-la.
Quase metade do pelotão já havia sido dizimado. Vinte homens e contando.
“Schultz, eu estou ouvindo passos!”, exclamou Eunmi. Eles estavam a alguns metros de Tsai, que observava tudo de cima do aclive de onde o casarão estava. Schultz procurava de onde estavam vindo, virando sua cabeça em todas as direções, mas era difícil ver algo naquela tarde.
Schultz e Eunmi tomaram um susto quando ouviram várias explosões no fundo. Havia um grupo de onze soldados que estavam no pé do morro, talvez fazendo a retaguarda dos que avançavam. Várias granadas foram explodindo, seus corpos eram lançados ao ar em todas as direções, voando no meio dos gritos aterrorizantes de dor.
Os quinze soldados restantes não sabiam o que fazer. Não podiam recuar, a única opção era terminar de subir o morro e no mínimo pegar Ho, que estava ainda visível no meio. Ao contar o número de soldados, Eunmi percebeu algo que Schultz não havia reparado:
“Tem gente faltando ali, Schultz! São apenas quinze! Pelo menos uns três ou quatro estão faltando!”, disse Eunmi, fazendo as contas, “Não disseram que tinham uns cinquenta?”.
Então os passos começaram a ser ouvidos ainda mais perto. Haviam homens que estavam subindo pelo lado, aproveitando da atenção que era desviada pelo embate do outro lado!
“Merda, onde é que eles estão? Eu não consigo ver! Tá ficando escuro!”, disse Schultz, virando o rosto. Pareciam que eles haviam percebido que ele estava tentando observar e pararam a avançar, temendo ser vistos.
Ouviram um grito ecoando em todo o morro. Era Ho, gritando e metralhando todos os japoneses, que corriam, desesperados, tentando salvar suas vidas. Mais oito foram abatidos nessa investida, mas não sem um custo: começaram a atirar contra Ho, que foi atingida. Daquela distância Schultz e Eunmi viram Ho dando um grito, sem poderem fazer nada.
“Ho! Aguenta firme! Tô chegando!”, gritou Chou, mirando nos homens.
Os sete homens então se espalharam em dois grupos: três deles iriam até Ho, tentar mata-la de vez, uma vez que ela estava agachada atrás de um tronco caído. Os outros quatro foram avançando igual loucos acima do aclive, com a Tsai como alvo, que continuava lá em cima observando tudo.
Chou mirou nos três que iam ao encontro de Ho e foi executando um após o outro. Ao se aproximar de Ho ficou mais tranquila quando viu que foi apenas um ferimento no braço.
“Que susto, menina! Preciso te devolver inteira pros seus filhotes!”, brincou Chou ao se aproximar de Ho, que sorriu ao ouvir a piada.
Li, em outra posição, rapidamente colocou seu rifle para começar a abrir fogo enquanto os homens subiam para pegar a Gongzhu. Primeiro pegou um, o mais lerdo. Depois acertou em cheio um segundo, que estava no meio dos três que haviam sobrado. Cada vez mais estavam se aproximando de Tsai, e não pareciam estar cansados. Se concentrando, Li acertou mais um, mas o quarto conseguiu dar um impulso final e venceu o aclive, pulando na frente de Tsai com sua arma.
Por estar na parte de baixo, Li não tinha mais ele no seu campo de visão.
Gongzhu! Droga!! Não consegui!, pensou Li ao ver que um dos soldados havia subido.
Mas nessa hora Schultz, lá de cima, próxima dela, viu porque Tsai era considerada a líder. Não era apenas uma grande motivadora, mas por ser a pessoa que havia treinado todos eles, sua habilidade em combate combinava o que havia de melhor em todos eles em apenas uma pessoa.
“Schultz! Aqui atrás!! Eles estão aqui!”, disse Eunmi, mas era tarde. Dois homens já estavam com suas armas apontadas para Tsai, isso sem contar o que subiu o aclive. Havia ainda um quarto, mais recuado, que parecia com medo daquilo tudo, uma vez que estava encolhido.
Foi tudo muito rápido. Tsai sacou do seu coldre uma pistola e da sua cintura outro. Três tiros, todos acertando em cheio os três homens, quase que simultaneamente. Sua mira era rápida e precisa, os soldados nem tiveram como reagir. O que havia subido a encosta caiu, rolando morro abaixo. Dos dois das costas, um morreu na hora e o outro, com um tiro no abdome, estava agonizando no chão.
“Eu não acredito...”, disse o japonês, em sua língua ao ver Tsai se aproximando, “Foi por isso que eles não disseram quem era o alvo. Era o Pelotão Suzaku! Eles sabiam que seria uma missão suicida desde o começo”.
Tsai pegou sua pistola, se agachou, e colocou na cabeça do japonês.
“Não é ‘pelotão Suzaku’, meu caro oficial japonês”, disse Tsai, em japonês, engatilhando a arma, “Quando forem se referir a nós, quero que falem nosso nome chinês. Aprendam logo a falar: somos o Pelotão Zhu Que”, e depois de falar, Tsai puxou o gatilho, matando o homem.
Schultz não sabia uma palavra de japonês. Mas reconheceu o “Pelotão Zhu Que” que havia dito. Aquele som parecia chinês.
“Zhu Que? O que é isso?”, perguntou Schultz, saindo com Eunmi do seu esconderijo.
“Zhu-que é o ‘Pássaro Vermelho’”, explicou Tsai, guardando sua arma. Nesse momento ela viu o último sobrevivente do pelotão ao fundo, ele havia caído de bunda no chão e estava com uma feição completamente aterrorizada, “É o nome do nosso pelotão. Pelotão Pássaro Vermelho”.
“Jujak, em coreano. Suzaku, em japonês”, disse Eunmi, depois de entender do que se tratava, “É uma criatura mitológica da China”, nessa hora Eunmi se virou para Tsai, como se houvesse entendido o que ela queria dizer, “Um dos quatro símbolos das constelações chinesas. É uma lenda muito famosa por esses lados, e todos os países possuem suas versões locais”.
Schultz então virou o rosto, e viu que havia sobrado um japonês ainda vivo.
“Eita, olha lá, sobrou um!”, disse Schultz apontando para ele. Mas ao ver que o haviam visto ele ficou ainda mais aterrorizado. Começou a gemer de medo, seus olhos caíam lágrimas, e catarro caía do seu nariz. Tsai já o havia visto, mas o garoto parecia mais amedrontado que tudo, e ela começou a se aproximar dele.
O jovem japonês mal conseguia ficar em pé. Toda vez que tentava correr, caía nos primeiros passos. Tsai calmamente foi caminhando até sua direção, e quando o jovem viu, já era tarde: ela o havia alcançado sem problemas.
Caído de bunda no chão, começou a chorar ainda mais de medo. Parecia que Tsai era uma espécie de demônio, pronto para executa-lo a qualquer momento. Chorando sem parar, cheio de catarro no nariz, começou a se mijar de medo quando viu que Tsai estava logo ali na sua frente. Como não tinha mais opção, o jeito era implorar pela sua vida:
“Ch-ch-ch-chugoku no Hime!”, gaguejou o japonês, no chão, tremendo de medo da cabeça aos pés, “Por favor, não me mate! Eu sou apenas um tradutor!”, disse o japonês, falando em chinês para Tsai, implorando pela sua vida, “Poupe minha vida, eu imploro! Eu faço qualquer coisa, mas não me mata!!”.
Enquanto Schultz dizia isso, Tsai acenava com a cabeça, e todos pareciam saber exatamente o que fazer. Apenas Li ficou por ali preparando seu rifle, colocando o escopo e preparando a munição. Ho, Chen e Chou desceram rapidamente, em um passo constante. Já Eunmi ficou simplesmente paralisada. Aquilo tudo era loucura, e ela nem sabia o que esperar daquela coisa toda.
“Vocês ficam se chamando de pelotão, mas será que isso não é um exagero, Tsai? Um pelotão são cinquenta homens! No máximo vocês são um esquadrão!”, dizia Schultz, temendo o pior, “Larga de ficar com essa prepotência, como cinco pessoas conseguiriam derrotar um pelotão de cinquenta homens? Japoneses são bem armados, bem treinados! Não são como os chineses que mal tem roupas de algodão pra guerrear!”.
Mas Tsai não parecia dar a mínima para que Schultz dizia. Li fez um sinal com a cabeça e Tsai se aproximou dela. Aparentemente a atiradora de elite já havia tomado seu posto.
“A diretriz são quatro pontos de observação, Gongzhu?”, perguntou Li. Schultz ficou olhando para elas sem entender, e Tsai confirmou com a cabeça, e Li prosseguiu: “Ponto atual, ponto Alfa 2, Golf 17 e Delta 8?”.
“Sim. No lugar do Delta 8, que tal o Charlie 2?”, sugeriu Tsai.
“Entendido. Aguardando sua ordem, Gongzhu!”, disse Li, se colocando na janela, observando os soldados se aproximando do casarão.
“Ótimo, vou descer e encontrar os outros, Meihua”, disse Tsai, indo até as escadas, “Aguarde o meu sinal para abrir fogo”.
“Meihua?”, perguntou Eunmi. Ela nunca tinha visto a Gongzhu chamar a Li assim. Tinha um som muito parecido com uma palavra em coreano.
Schultz estava perdendo a paciência. Seguiu Tsai descendo as escadas, mas não conseguia alcança-la nos corredores, ela parecia muito decidida e determinada.
“Tsai! Você por acaso não tá me ouvindo?”, gritava Schultz enquanto a seguia, “Por favor, confie na gente! A gente pode te ajudar aqui! Deixa eu e a Eunmi ajudar vocês! Assim ao menos teremos uma chance!”.
Chou, Ho e Chen estavam no térreo esperando. Estavam já com suas armas em punhos, prontos para o combate. Chou estava com sua Fedorov Avtomat, Chen estava com muitos explosivos, e Ho estava com uma imensa metralhadora em punhos, que não demorou muito para que Schultz reconhecesse como uma arma usada pelo exército alemão, a MG 08/18.
“Yaosai, quero que atraia os soldados para o leste, e elimine o quanto puder, enquanto Juhua te ajuda de suporte. Meihua vai atirar lá de cima, tentando fazer ele se juntarem. Vai ser a sua hora, Yongqi de usar seus explosivos e mandarem pelos ares o quanto puderem. Vou ficar de olho, e entrarei pra dar um suporte quando ver que é necessário”, disse Tsai, sacando sua submetralhadora M1918 automática, “Meihua, pode começar a atirar!”, disse Tsai para Li, que estava em seu posto de observação no topo do casarão. Era a ordem para que a batalha começasse.
Schultz observava Tsai. Nessa hora ele teve medo. É verdade que ele confiava muito nela, mas havia algo em seu coração que não queria permitir que ela fosse enfrentar todos aqueles soldados com apenas mais quatro pessoas. Ele nunca tinha visto algo assim. É verdade que a China havia escolhido manter uma guerra de atrito com o Japão, com seus milhões de soldados tentando desgastar e tirar a moral dos japoneses, mesmo eles tendo equipamentos extremamente inferiores, a estratégia de Chiang Kai-shek era tentar vencê-los pelo cansaço. A China era grande e extremamente populosa. Mas o que Schultz via era o exato oposto: designaram um pelotão inteiro de cinquenta homens para invadir e destruir qualquer rastro da Tsai e seu pelotão. Isso não foi por acaso. Apenas a morte e destruição total deles era aceitável. E aparentemente, nem o exército imperial japonês considerava-os como um “reles esquadrão de cinco pessoas”.
“Tsai, você tem certeza?”, disse Schultz, gentilmente colocando sua mão no braço de Tsai. A Gongzhu viu a mão do alemão no seu antebraço, e depois de colocar seus olhos em sua mão, virou o olhar para seus olhos. Apenas aquele olhar que ela havia dado, transmitia uma feição em profunda paz. Um rosto confiante. Sem expressar uma soberba sorrindo, ou o mínimo resquício de dúvida. Schultz nesse momento viu como os olhos asiáticos são terrivelmente expressivos, capazes de expressar uma poesia inteira com apenas um único olhar.
“Schultz, confie em mim”, foi a única coisa que Tsai disse. Quando Schultz a viu, algo lhe disse para ficar calmo. Tsai tinha tudo sobre controle.
Um disparo foi ouvido da parte de cima. Era Li. Os japoneses viram que a primeira vítima já havia caído, e olhavam para os lados, procurando de onde vinha o disparo. Mal tiveram tempo de buscar, um segundo tiro foi disparado, seguido de um terceiro.
“Na casa!! No topo da casa!!”, gritou o soldado em japonês, e pelo menos oito homens subiram em disparada o morro, indo em direção do casarão.
“Acho que deve ser codinomes, Schultz”, disse Eunmi, depois de raciocinar o motivo da Gongzhu terem se referido a todos por outro nome, “’Meihua’ soa parecido com ‘Maehwa’ em coreano. É a flor de umê, um tipo de ameixa aqui da região”, quando Eunmi disse, ela se virou para Tsai, que não estava longe dali, observando o movimento. A chinesa ouviu o que a coreana estava dizendo e virou o rosto para Eunmi, prestando atenção na sua explicação, “Se for realmente essa a pronúncia, pode ser que tenha algo a ver. Não sei, é um palpite”, Eunmi nessa hora virou o rosto e chacoalhou os ombros para Tsai, como se perguntasse se a dedução dela estava certa. Tsai confirmou com a cabeça, e voltou seu olhar para o campo de batalha.
“É, pelo visto sua dedução está ótima, Eunmi. Escuta, vamos para um lugar mais seguro. Vamos deixa-los mais a vontade”, disse Schultz, levando Eunmi.
Ho então, escondida, saiu detrás de uma pedra e começou a fuzilar todos os soldados que estavam subindo o morro. Alguns tentaram se virar para se defender, mas os tiros penetravam suas peles antes que pudessem fazer algo, fazendo o sangue jorrar e seus corpos caírem apagados, rolando morro abaixo. Cinco soldados ao verem que Ho havia atirado começaram a subir, e foi a vez de Chou, que estava atrás de uma árvore, começar a abater um depois do outro com sua Fedorov Avtomat. Não demorou muito para que ela precisasse se proteger atrás da árvore para recarregar seu fuzil.
“Chou, ainda tem um!”, disse Ho, vendo que dos cinco soldados, ainda havia um vivo, que estava atirando contra Chou. Mas um tiro desconhecido o abateu. Era Li.
“Poxa, ela realmente trabalha junto com ela!”, disse Schultz, espantando. Quando a situação se fazia necessária, as duas deixavam o lado pessoal de lado e trabalhavam realmente em conjunto, “Ao menos não leva tão pro lado pessoal assim”, disse Schultz para Eunmi, que observava abismada aquilo tudo.
Novamente de uma localização privilegiada e diferente, os tiros do rifle de Li acertavam um atrás do outro na cabeça. Quatro homens foram caindo, um seguido do outro, até que os soldados apontassem suas armas para o local onde achavam que Li estava – próximo de uma rocha ao leste deles – e começassem a atirar, querendo feri-la.
Quase metade do pelotão já havia sido dizimado. Vinte homens e contando.
“Schultz, eu estou ouvindo passos!”, exclamou Eunmi. Eles estavam a alguns metros de Tsai, que observava tudo de cima do aclive de onde o casarão estava. Schultz procurava de onde estavam vindo, virando sua cabeça em todas as direções, mas era difícil ver algo naquela tarde.
Schultz e Eunmi tomaram um susto quando ouviram várias explosões no fundo. Havia um grupo de onze soldados que estavam no pé do morro, talvez fazendo a retaguarda dos que avançavam. Várias granadas foram explodindo, seus corpos eram lançados ao ar em todas as direções, voando no meio dos gritos aterrorizantes de dor.
Os quinze soldados restantes não sabiam o que fazer. Não podiam recuar, a única opção era terminar de subir o morro e no mínimo pegar Ho, que estava ainda visível no meio. Ao contar o número de soldados, Eunmi percebeu algo que Schultz não havia reparado:
“Tem gente faltando ali, Schultz! São apenas quinze! Pelo menos uns três ou quatro estão faltando!”, disse Eunmi, fazendo as contas, “Não disseram que tinham uns cinquenta?”.
Então os passos começaram a ser ouvidos ainda mais perto. Haviam homens que estavam subindo pelo lado, aproveitando da atenção que era desviada pelo embate do outro lado!
“Merda, onde é que eles estão? Eu não consigo ver! Tá ficando escuro!”, disse Schultz, virando o rosto. Pareciam que eles haviam percebido que ele estava tentando observar e pararam a avançar, temendo ser vistos.
Ouviram um grito ecoando em todo o morro. Era Ho, gritando e metralhando todos os japoneses, que corriam, desesperados, tentando salvar suas vidas. Mais oito foram abatidos nessa investida, mas não sem um custo: começaram a atirar contra Ho, que foi atingida. Daquela distância Schultz e Eunmi viram Ho dando um grito, sem poderem fazer nada.
“Ho! Aguenta firme! Tô chegando!”, gritou Chou, mirando nos homens.
Os sete homens então se espalharam em dois grupos: três deles iriam até Ho, tentar mata-la de vez, uma vez que ela estava agachada atrás de um tronco caído. Os outros quatro foram avançando igual loucos acima do aclive, com a Tsai como alvo, que continuava lá em cima observando tudo.
Chou mirou nos três que iam ao encontro de Ho e foi executando um após o outro. Ao se aproximar de Ho ficou mais tranquila quando viu que foi apenas um ferimento no braço.
“Que susto, menina! Preciso te devolver inteira pros seus filhotes!”, brincou Chou ao se aproximar de Ho, que sorriu ao ouvir a piada.
Li, em outra posição, rapidamente colocou seu rifle para começar a abrir fogo enquanto os homens subiam para pegar a Gongzhu. Primeiro pegou um, o mais lerdo. Depois acertou em cheio um segundo, que estava no meio dos três que haviam sobrado. Cada vez mais estavam se aproximando de Tsai, e não pareciam estar cansados. Se concentrando, Li acertou mais um, mas o quarto conseguiu dar um impulso final e venceu o aclive, pulando na frente de Tsai com sua arma.
Por estar na parte de baixo, Li não tinha mais ele no seu campo de visão.
Gongzhu! Droga!! Não consegui!, pensou Li ao ver que um dos soldados havia subido.
Mas nessa hora Schultz, lá de cima, próxima dela, viu porque Tsai era considerada a líder. Não era apenas uma grande motivadora, mas por ser a pessoa que havia treinado todos eles, sua habilidade em combate combinava o que havia de melhor em todos eles em apenas uma pessoa.
“Schultz! Aqui atrás!! Eles estão aqui!”, disse Eunmi, mas era tarde. Dois homens já estavam com suas armas apontadas para Tsai, isso sem contar o que subiu o aclive. Havia ainda um quarto, mais recuado, que parecia com medo daquilo tudo, uma vez que estava encolhido.
Foi tudo muito rápido. Tsai sacou do seu coldre uma pistola e da sua cintura outro. Três tiros, todos acertando em cheio os três homens, quase que simultaneamente. Sua mira era rápida e precisa, os soldados nem tiveram como reagir. O que havia subido a encosta caiu, rolando morro abaixo. Dos dois das costas, um morreu na hora e o outro, com um tiro no abdome, estava agonizando no chão.
“Eu não acredito...”, disse o japonês, em sua língua ao ver Tsai se aproximando, “Foi por isso que eles não disseram quem era o alvo. Era o Pelotão Suzaku! Eles sabiam que seria uma missão suicida desde o começo”.
Tsai pegou sua pistola, se agachou, e colocou na cabeça do japonês.
“Não é ‘pelotão Suzaku’, meu caro oficial japonês”, disse Tsai, em japonês, engatilhando a arma, “Quando forem se referir a nós, quero que falem nosso nome chinês. Aprendam logo a falar: somos o Pelotão Zhu Que”, e depois de falar, Tsai puxou o gatilho, matando o homem.
Schultz não sabia uma palavra de japonês. Mas reconheceu o “Pelotão Zhu Que” que havia dito. Aquele som parecia chinês.
“Zhu Que? O que é isso?”, perguntou Schultz, saindo com Eunmi do seu esconderijo.
“Zhu-que é o ‘Pássaro Vermelho’”, explicou Tsai, guardando sua arma. Nesse momento ela viu o último sobrevivente do pelotão ao fundo, ele havia caído de bunda no chão e estava com uma feição completamente aterrorizada, “É o nome do nosso pelotão. Pelotão Pássaro Vermelho”.
“Jujak, em coreano. Suzaku, em japonês”, disse Eunmi, depois de entender do que se tratava, “É uma criatura mitológica da China”, nessa hora Eunmi se virou para Tsai, como se houvesse entendido o que ela queria dizer, “Um dos quatro símbolos das constelações chinesas. É uma lenda muito famosa por esses lados, e todos os países possuem suas versões locais”.
Schultz então virou o rosto, e viu que havia sobrado um japonês ainda vivo.
“Eita, olha lá, sobrou um!”, disse Schultz apontando para ele. Mas ao ver que o haviam visto ele ficou ainda mais aterrorizado. Começou a gemer de medo, seus olhos caíam lágrimas, e catarro caía do seu nariz. Tsai já o havia visto, mas o garoto parecia mais amedrontado que tudo, e ela começou a se aproximar dele.
O jovem japonês mal conseguia ficar em pé. Toda vez que tentava correr, caía nos primeiros passos. Tsai calmamente foi caminhando até sua direção, e quando o jovem viu, já era tarde: ela o havia alcançado sem problemas.
Caído de bunda no chão, começou a chorar ainda mais de medo. Parecia que Tsai era uma espécie de demônio, pronto para executa-lo a qualquer momento. Chorando sem parar, cheio de catarro no nariz, começou a se mijar de medo quando viu que Tsai estava logo ali na sua frente. Como não tinha mais opção, o jeito era implorar pela sua vida:
“Ch-ch-ch-chugoku no Hime!”, gaguejou o japonês, no chão, tremendo de medo da cabeça aos pés, “Por favor, não me mate! Eu sou apenas um tradutor!”, disse o japonês, falando em chinês para Tsai, implorando pela sua vida, “Poupe minha vida, eu imploro! Eu faço qualquer coisa, mas não me mata!!”.
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