Amber #100 - Um encontro auspicioso, e outro nem tanto.
5 de dezembro de 1939
08h17
“Vai, Schultz! Leva chá pra ela, vai! Coragem!”, disse Chou, empurrando Schultz com uma bandeja contendo um bule e duas xícaras.
“Espera aí, caramba! Eu tô nervoso!”, disse Schultz ao se aproximar da porta da cabine de Tsai dentro do trem e hesitar, “Escuta, outro dia eu faço isso. Você preparou, é melhor você mesma ir lá levar!”.
“Ah, Schultz, fala sério! A Gongzhu adora chá verde. Ela vai ficar super alegre em ver você trazendo um pouquinho de chá pra ela! Vai logo, vira homem! Tá com medo de uma mulher!”, brincou Chou, virando Schultz de volta para a porta da cabine de Tsai.
“É, isso aí! Verdade, né! É só uma mulher! Eu vivo dormindo com várias por aí, poxa! Não existe diferença da Tsai para as outras!”, disse Schultz, tentando criar coragem, pensando alto. Mas por mais que ele dissesse isso para se encorajar, ele não tinha o menor impulso de abrir aquela porta e abordar Tsai lá dentro. Ficava apenas parado de frente da porta dizendo essas coisas para si mesmo, sem abrir a porta.
“Ah, esses homens apaixonados são todos uns frouxos mesmo!”, suspirou Chou, abismada com a falta de coragem que Schultz tinha quando se tratava de Tsai.
“Mas eu não estou apaixonado!”.
“Está sim!”.
“Não estou não, senhora!”, disse Schultz, sem dar razão à Chou, “Apaixonado, eu? É mais fácil esse trem explodir no meio nada e ser descarrilhado por extraterrestres!”.
“Poxa, então é melhor você realmente torcer para que esse trem não descarrilhe então!”, disse Chou abrindo a porta e empurrando Schultz para dentro, “Vai logo!”.
Ao entrar na cabine Chou fechou a porta. Só estava Schultz e Tsai lá. Ao reparar no seu rosto vira que ela estava encostada com o braço no vidro da janela e dormindo. Obviamente Schultz já havia reparado na beleza da chinesa, mas era a primeira vez que podia pousar seus olhos nela sem parecer algo estranho. Tsai era uma chinesa muito bonita. Seu rosto era muito delicado e fino, e seu nariz tinha uma proporção perfeita, junto dos lábios vermelhos, bem carnudos e arredondados – afinal, apesar de ser uma oficial militar de alta patente, não deixava de ser feminina e vaidosa. A pele branca de Tsai contrastava com seus cabelos negros, lisos. Sua respiração era calma mesmo quando dormia. Os tímidos raios de sol daquele inverno passavam pela janela e por estarem homogêneos iluminavam seu rosto de maneira uniforme, deixando-a com uma aparência ainda mais angelical.
Tsai era realmente muito bonita. Não apenas por fora, mas por dentro também. E aquilo no fundo fazia Schultz sentir algo como se fosse um medo, um temor. Tsai não era como as outras mulheres que ele enganava, jogava um xaveco furado, apenas para passar uma noite e depois dispensa-las. Será que era um medo inconsciente que ele sentia por ela? Não era um medo de não conseguir leva-la para cama por ela ser esperta. Era um medo de, ao dar um passo que fosse além da amizade, acabar fazendo algo que acabasse com aquela relação legal, que o preenchia como ninguém antes o fizera. Tsai era um tesouro, e só de ter a chance de vê-la assim, todos os dias, era motivo para se sentir uma felicidade imensurável. O medo de arriscar algo era de perder, pois ao contrário das outras mulheres, Schultz tinha muito medo de não poder vê-la mais uma vez.
Pois Tsai o preenchia de todas as formas que uma mulher o poderia preencher. E pra quem nunca havia sentido tal coisa por uma mulher antes, era algo muito estranho de se assimilar.
“Princesa? Eu trouxe um pouco de chá”, disse Schultz, despertando Tsai.
Lentamente abrindo os olhos Tsai viu Schultz, dando um pequeno sorriso, um sorriso amistoso.
“Ah, obrigada Schultz. Nossa, eu devo estar cansada, acabei dormindo sem querer”, disse Tsai, apontando para uma mesinha de centro onde Schultz poderia deixar a bandeja, “Por favor, deixa aqui”, ela sentiu o cheiro do seu chá preferido ao abrir a tampa do bule, “Chá verde! E pelo cheiro é fresquinho! Você que preparou?”.
“Na verdade a Chou me deu uma mãozinha! Eu não sabia que você gostava desse chá”, disse Schultz, servindo uma xícara.
“Eu adoro! Nada melhor pra dar uma despertada. Muito obrigada, Schultz”, disse Tsai, levando a xícara até a boca. Ela bebia sem açúcar mesmo, e Schultz decidiu fazer o mesmo. Ao fazer isso percebeu o quanto o açúcar altera o sabor do chá, ele pôde sentir todo o amargor delicioso que a erva camellia sinensis tinha. Era algo realmente delicioso!
“Uau, eu não sou muito de tomar chá, mas isso aqui tá uma delícia!”, disse Schultz, surpreso com o aroma daquilo.
“Tenho certeza que como um bom alemão você preferiria uma cerveja!”, brincou Tsai. Schultz de início estranhou, mas depois percebeu que ela estava rindo sozinha, e embora tivesse vontade de se juntar aos risos com ela, preferiu ficar ali, observando a cena.
Era difícil ver Tsai até mesmo sorrir. Mais difícil ainda era ver ela dando gargalhadas. Sempre focada em seu objetivo, uma líder nata capaz de unir nacionalistas e comunistas debaixo da sua asa, exímia guerreira, estrategista racional e eficiente, era difícil no meio de tantos talentos ver ela dar um único sorriso. Era o exemplo entre os exemplos de como ser correta e perfeita. Mas até mesmo seu jeito de rir era único.
Seu rosto sério perdia toda aquela seriedade característica e parecia sorrir do fundo da sua alma, como se aquela fosse sua forma natural. Não era como aquelas pessoas que eram sempre ranzinzas e soltavam aquela gargalhada contida. Era como se fosse outra pessoa, mas que mantivesse a essência da mesma de sempre. Era como se todos já tivessem visto aquele cenho sorridente e alegre na sua imaginação, e quando visse na vida real ficasse abismado em perceber que era mais natural e ainda mais bonito que o mais delicado vislumbre poderia conceder.
Schultz apenas sorria. Um sorriso que vinha da sua alma, assim como era as gargalhadas de Tsai.
“Ai, ai, faz tempo que não dava tanta risada, sabia?”, brincou Tsai bebendo mais um pouco de chá, “Acho que já devemos estar no meio do caminho até Pequim. Temos que achar Chang Ching-chong lá. Não acredito que ele era um espião soviético infiltrado”.
“Você o conhecia?”, perguntou Schultz.
“Sim. Ele era um general, bem próximo do Generalíssimo. Ele foi um dos meus professores em Whampoa. É muito triste saber que ele arquitetou tudo isso, manipulando o Jin-su e tudo mais”, disse Tsai, triste em revisitar as lembranças do seu treinamento em na Academia Militar de Whampoa.
“O que vamos fazer se encontrarmos ele?”, perguntou Schultz, curioso por ouvir o plano que Tsai tinha em mente, “Quer dizer, eu sei que você não vai dar uma de Eunmi maluca, mas tem algo em mente?”
“Vocês normalmente esperam sempre uma resposta, um plano na ponta da língua de minha parte, não é mesmo?”, disse Tsai, com uma feição um pouco decepcionada, “Mas não sei, Schultz. Nesse momento estou tão chocada em ouvir isso sobre Chang Ching-chong que acho que nem sei o que vou fazer. Essa que é a verdade”.
“Independente do que for, Tsai, pode contar conosco. Iremos sempre te ajudar no que você precisar. Confie em nós como sempre, tudo bem?”, disse Schultz, altivamente.
“Obrigada, Schultz”, disse Tsai, transbordando gratidão, apesar da insegurança que sentia no peito, “Muito obrigada mesmo”.
Então Schultz e Tsai ouviram um estrondo enorme. Parecia distante, mas então o trem começou a tremer quase que instantaneamente. Um barulho estranho e muito grave parecia aumentar de intensidade conforme o trem ia freando gradualmente.
“O que foi isso?”, perguntou Schultz, tentando segurar o bule do chá no meio daquela tremedeira toda do vagão. Tsai esticou o pescoço pela janela e entendeu o que estava acontecendo. Os trens estavam descarrilhando!
Rapidamente ela fechou a janela, abriu a porta e lançou o chá para longe no corredor e fechou a porta.
“Eita! O que foi que você viu, Tsai?!”, perguntou Schultz, mas tudo o que aconteceu depois de sua fala foi muito rápido. Ela se lançou para proteger Schultz, abraçando-o pela sua cabeça. Schultz sentiu seu rosto ser pressionado contra o peitoral de Tsai, e no momento que ela o apertou, tudo começou a girar, literalmente. Eles estavam dentro do vagão que estava rodando, batendo o corpo nas paredes, teto, estofados, mesa, tudo. O vagão havia descarrilhado e estava capotando.
Tudo isso durou apenas alguns segundos, e o choque, o barulho, a falta de chão e as pancadas deixaram ambos desnorteados. Mas ainda era possível ouvir vozes do lado de fora. Vozes ao longe que não conseguia distinguir o que diziam.
Atordoado, Schultz tentava organizar seus pensamentos. Seu corpo todo estava dolorido.
“Schultz, Schultz, Schultz!”, disse Tsai, “Você está bem?”.
Ele não conseguia acreditar. Mais uma vez Tsai salvara sua vida.
“Ah, que merda. Me pedem pra te proteger, mas parece que você não faz o gênero de princesa em perigo. Eu que acabo sendo protegido por você toda hora!”, disse Schultz ao abrir os olhos. Ele ainda estava vendo tudo embaçado, mas reconheceria a doce voz de Tsai em qualquer lugar, “Assim vão acabar me mandando de volta pra Alemanha por incompetência, viu! Tá louco!”, brincou Schultz enquanto tentava se levantar. Mas devido às pancadas, sentiu uma dor enorme nas suas costas, que não havia se curado totalmente desde aquela explosão que o jogou pra longe, na casa de Jin-su, “Ai, minhas costas, ai, ai, ai! Tá doendo!!”.
“Tá, fica calmo. Vou tentar escalar ali na janela pra ver como estão as coisas!”, disse a Gongzhu, que estava com um ferimento sangrando na cabeça, e algumas escoriações pelo corpo. Ela foi então subindo entre os móveis até chegar na janela, que estava no lugar de cima, onde era pra estar o teto. A janela já estava bem danificada, então não foi difícil tirar do local para abrir caminho. Ao olhar lá de cima Tsai viu uma cena de destruição, como se fosse uma imagem saída de uma guerra, “Minha nossa. O trem inteiro foi destruído! Schultz, vem cá! Me dá a mão! Consegue se levantar?”.
“Argh... Consigo sim! Espera aí”, disse Schultz dando a mão para Tsai. A dor nas costas era terrível, mas ele fez um esforço para tentar se agarrar na mão dela. Os dois fizeram força e ela conseguiu tirar Schultz de lá. Tsai vira que Chou e Li estavam saindo também das cabines vizinhas.
“Gongzhu! Você tá bem? O que foi isso?”, perguntou Li, assustada.
“A Ho tá inconsciente, droga! Esse trem velho não tem uma saída de emergência ou algo do gênero?”, disse Chou, levemente ferida em diversos lugares.
“E quanto a Eunmi e o Yamada?”, perguntou Tsai, preocupada.
“Estamos aqui, Tsai!”, disse Eunmi, com uma voz bem distante, “Só estamos um pouco machucados e assustados, mas acho que não quebramos nada”.
“Ótimo, vamos indo então. Chou, dá uma olhada no Schultz aqui?”, disse Tsai, apontando para Schultz, que já estava do lado dela, de fora do vagão, “Ele acabou batendo as costas. Preciso de ajuda pra tirar a Ho da cabine dela!”, disse Tsai, acalmando todos, “Vai tudo terminar bem, fiquem tranquilos! O pior já passou! Quem aqui pode me dar uma mãozinha?”.
Então Tsai foi até a janela da cabine de Ho e a viu lá, com os olhos fechados, e Chen todo machucado também ao lado, mas consciente. Ver a Gongzhu depois de tamanho susto acalmou Chen de certa forma, embora a preocupação com sua amada esposa fosse maior.
“Chen, espera só um pouquinho que vou buscar ajuda! Fica tranquilo que a Ho vai ficar bem, tá?”, disse Tsai, acalmando Chen.
“Tudo bem, Gongzhu”, disse Chen, com esperança no rosto, “Muito obrigado. Vamos te esperar aqui!”.
Tsai desceu então do trem tombado para pensar num plano. Foi nesse momento que ela ouviu uma voz que lhe era familiar:
“Poxa, é engraçado como o Chen consegue manter o humor mesmo no meio de uma situação dessas”, disse uma voz masculina atrás de Tsai, “Será que posso te dar uma mão, Gongzhu?”.
Na hora que ela se virou tomou um susto imenso. Era ninguém menos que Huang. O membro do seu pelotão que estava faltando, que haviam dito que estava preso na mão de japoneses!
“Huang? Você?”, perguntou Tsai ao reconhecer o membro do seu pelotão, “Mas e os japoneses? Me disseram que eles te capturaram!”.
“Me capturaram sim, mas eu tive uma ajudinha pra sair de lá. Vamos indo, vamos tirar logo a Ho daí, coitada! Ela é grandona, você precisa de ajuda pra fazer isso, deixa comigo! Tenho uma corda aqui, podemos amarrar ela e...”.
“Não, espera, o que raios você estava fazendo aqui?”, disse Tsai, interrompendo Huang, “Não me diga que você estava envolvido com esse descarrilamento?”.
“Ei, não fala assim! Esse trem era um trem de carga sem muita coisa. Se tinha um ou dois vagões com passageiros era muito”, disse Huang, se explicando, “E tínhamos um objetivo mais nobre”.
“Huang!! Haviam pessoas aqui! E nós estávamos nesse trem! O que você tinha na cabeça?”, disse Tsai, sem acreditar no que estava ouvindo.
“Ah, você é muito certinha, Tsai! Existem objetivos nobres que não importam os meios. Se o objetivo final é algo bom, tudo o que você fizer pode ser considerado correto!”, disse Huang, se afastando de Tsai.
Schultz ao longe observava tudo de cima do vagão. Chou estava atrás dele, checando o curativo nas costas do alemão.
“Nossa, eu pensei que iria gostar do Huang. Mas deu pra ver que ele é um saco”, disse Schultz, desgostoso.
“Engraçado você dizer isso. Pra eu que vejo de longe, parece que vocês dois são um igualzinho ao outro. Dois irresponsáveis que não tem a mínima noção do que fazem por aí, hahaha!”, brincou Chou, enquanto apertava as ataduras nas costas de Schultz, “Apliquei um analgésico, vai te aliviar um pouco a dor”.
“Ei, eu não sou igual ele não! Corta essa, menina!”, disse Schultz, sem aceitar a crítica de Chou. Mas ao ouvir isso a chinesa virou o rosto para Schultz, apertando a bochecha dele.
“É bem como dizem por aí: quando a gente encontra alguém que tem os mesmos defeitos que a gente, a gente nega que no fundo é igualzinho a essa pessoa!”, brincou Chou, se afastando de Schultz, “Preciso ver como estão os outros passageiros civis e a Ho. Isso aqui tá um caos! Você tá liberado, só não força as costas, tudo bem?”.
Schultz desceu do vagão, e ao cair sentiu uma dorzinha nas costas. Soltou um grito, colocando as mãos nas suas costas, e nessa hora Tsai e Huang o viram.
“E quem é o europeu loiro ali?”, perguntou Huang apontando para Schultz.
“Ai, Huang... Deixa pra lá. Não quero mais discutir com você”, disse Tsai se aproximando de Schultz, “Esse aqui é um agente da inteligência alemã que veio em uma missão por esses lados. Ludwig Schultz”.
“Puxa, um nazista?”, perguntou Huang enquanto se aproximava de Schultz estendendo a mão, “Muito prazer, sou Huang Shanlong”.
“Ludwig Schultz. E eu não sou um nazista”, disse Schultz, sem apertar a mão de Huang, ainda ajeitando sua postura por conta da dor, “E o prazer é todo seu”.
Huang então vendo que Schultz não apertou sua mão, recuou. Por alguns momentos ficou uma situação meio embaraçosa, mas Tsai viu uma pessoa que estava ajudando a tirar Ho de dentro do vagão de costas, e por um momento achou que o havia reconhecido. Aquelas roupas, o porte, o tamanho. De costas parecia muito uma pessoa que ela conhecia muito bem.
“Dafeng? É você?”, perguntou Tsai se se aproximar. Chou e Li que ajudavam a tirar Ho junto desse homem de costas olharam para o homem e depois para a Tsai com um sorriso, como se confirmassem o que Tsai havia perguntado.
O homem se virou e Schultz tomou um susto. Era um chinês imenso, mais alto que ele, muito musculoso com o cabelo enrolado num coque alto. Vestia um traje militar de campo, e já tinha inclusive algumas rugas. Apesar da aparência ameaçadora de longe, ao se aproximar percebeu que ele tinha um ar tranquilo, e seus olhos brilharam quando viram Tsai.
“Gongzhu?”, disse o chinês gigante, “Minha nossa, que bom que você está bem! Eu encontrei a Chou e a Li aqui, e fiquei apreensivo pensando que elas só estavam dizendo que você estava bem para me acalmar. Mas realmente você está bem! Que felicidade encontrar a senhora!”.
“Chou Dafeng! É você mesmo! Minha nossa, não acredito que encontraria você justo aqui!”, disse Tsai, que por um momento parecia começar a entender o que estava acontecendo, “Espera aí, se você está aqui então quer dizer que ‘ele’ também está...?”, disse Tsai, juntando mentalmente as peças. Schultz viu que o rosto dela estava quase como que aguardando pelo pior. Ela se voltou então para Huang para lhe fazer uma pergunta: “Huang, não me diga que a pessoa que te resgatou foi o...”.
Huang mal se preparou para responder quando uma pessoa apareceu vindo da direção do vagão do maquinista, seguida de mais algumas pessoas de perto.
“Ah, esse Huang é mesmo um ingrato. Eu vou lá e salvo a pele dele das mãos dos japoneses e ele fica dizendo que só teve uma ajudinha pra sair de lá? A gente é que fez todo o trabalho pra tirar ele de lá!”.
Tsai então ficou espantada com o que vira. Mas ao reconhecer seu rosto sua feição mudou, para uma feição mais séria. De tantas pessoas que ela poderia esbarrar acidentalmente, apareceu justamente a pessoa que ela menos se dava bem.
“Chao... Achei que você estaria por aqui mesmo quando vi o Dafeng por aqui”, disse Tsai, encarando o homem que se aproximava, “O que você pretendia ao causar esse incidente com esse trem?”.
“A minha colega de turma sempre certinha. Pelo visto você não mudou nada nesses anos, Tsai”, disse Chao ao se aproximar com outros membros do seu pelotão. Ele tinha uma aura ameaçadora e poderosa ao seu redor.
Qual a relação dele com Tsai?
08h17
“Vai, Schultz! Leva chá pra ela, vai! Coragem!”, disse Chou, empurrando Schultz com uma bandeja contendo um bule e duas xícaras.
“Espera aí, caramba! Eu tô nervoso!”, disse Schultz ao se aproximar da porta da cabine de Tsai dentro do trem e hesitar, “Escuta, outro dia eu faço isso. Você preparou, é melhor você mesma ir lá levar!”.
“Ah, Schultz, fala sério! A Gongzhu adora chá verde. Ela vai ficar super alegre em ver você trazendo um pouquinho de chá pra ela! Vai logo, vira homem! Tá com medo de uma mulher!”, brincou Chou, virando Schultz de volta para a porta da cabine de Tsai.
“É, isso aí! Verdade, né! É só uma mulher! Eu vivo dormindo com várias por aí, poxa! Não existe diferença da Tsai para as outras!”, disse Schultz, tentando criar coragem, pensando alto. Mas por mais que ele dissesse isso para se encorajar, ele não tinha o menor impulso de abrir aquela porta e abordar Tsai lá dentro. Ficava apenas parado de frente da porta dizendo essas coisas para si mesmo, sem abrir a porta.
“Ah, esses homens apaixonados são todos uns frouxos mesmo!”, suspirou Chou, abismada com a falta de coragem que Schultz tinha quando se tratava de Tsai.
“Mas eu não estou apaixonado!”.
“Está sim!”.
“Não estou não, senhora!”, disse Schultz, sem dar razão à Chou, “Apaixonado, eu? É mais fácil esse trem explodir no meio nada e ser descarrilhado por extraterrestres!”.
“Poxa, então é melhor você realmente torcer para que esse trem não descarrilhe então!”, disse Chou abrindo a porta e empurrando Schultz para dentro, “Vai logo!”.
Ao entrar na cabine Chou fechou a porta. Só estava Schultz e Tsai lá. Ao reparar no seu rosto vira que ela estava encostada com o braço no vidro da janela e dormindo. Obviamente Schultz já havia reparado na beleza da chinesa, mas era a primeira vez que podia pousar seus olhos nela sem parecer algo estranho. Tsai era uma chinesa muito bonita. Seu rosto era muito delicado e fino, e seu nariz tinha uma proporção perfeita, junto dos lábios vermelhos, bem carnudos e arredondados – afinal, apesar de ser uma oficial militar de alta patente, não deixava de ser feminina e vaidosa. A pele branca de Tsai contrastava com seus cabelos negros, lisos. Sua respiração era calma mesmo quando dormia. Os tímidos raios de sol daquele inverno passavam pela janela e por estarem homogêneos iluminavam seu rosto de maneira uniforme, deixando-a com uma aparência ainda mais angelical.
Tsai era realmente muito bonita. Não apenas por fora, mas por dentro também. E aquilo no fundo fazia Schultz sentir algo como se fosse um medo, um temor. Tsai não era como as outras mulheres que ele enganava, jogava um xaveco furado, apenas para passar uma noite e depois dispensa-las. Será que era um medo inconsciente que ele sentia por ela? Não era um medo de não conseguir leva-la para cama por ela ser esperta. Era um medo de, ao dar um passo que fosse além da amizade, acabar fazendo algo que acabasse com aquela relação legal, que o preenchia como ninguém antes o fizera. Tsai era um tesouro, e só de ter a chance de vê-la assim, todos os dias, era motivo para se sentir uma felicidade imensurável. O medo de arriscar algo era de perder, pois ao contrário das outras mulheres, Schultz tinha muito medo de não poder vê-la mais uma vez.
Pois Tsai o preenchia de todas as formas que uma mulher o poderia preencher. E pra quem nunca havia sentido tal coisa por uma mulher antes, era algo muito estranho de se assimilar.
“Princesa? Eu trouxe um pouco de chá”, disse Schultz, despertando Tsai.
Lentamente abrindo os olhos Tsai viu Schultz, dando um pequeno sorriso, um sorriso amistoso.
“Ah, obrigada Schultz. Nossa, eu devo estar cansada, acabei dormindo sem querer”, disse Tsai, apontando para uma mesinha de centro onde Schultz poderia deixar a bandeja, “Por favor, deixa aqui”, ela sentiu o cheiro do seu chá preferido ao abrir a tampa do bule, “Chá verde! E pelo cheiro é fresquinho! Você que preparou?”.
“Na verdade a Chou me deu uma mãozinha! Eu não sabia que você gostava desse chá”, disse Schultz, servindo uma xícara.
“Eu adoro! Nada melhor pra dar uma despertada. Muito obrigada, Schultz”, disse Tsai, levando a xícara até a boca. Ela bebia sem açúcar mesmo, e Schultz decidiu fazer o mesmo. Ao fazer isso percebeu o quanto o açúcar altera o sabor do chá, ele pôde sentir todo o amargor delicioso que a erva camellia sinensis tinha. Era algo realmente delicioso!
“Uau, eu não sou muito de tomar chá, mas isso aqui tá uma delícia!”, disse Schultz, surpreso com o aroma daquilo.
“Tenho certeza que como um bom alemão você preferiria uma cerveja!”, brincou Tsai. Schultz de início estranhou, mas depois percebeu que ela estava rindo sozinha, e embora tivesse vontade de se juntar aos risos com ela, preferiu ficar ali, observando a cena.
Era difícil ver Tsai até mesmo sorrir. Mais difícil ainda era ver ela dando gargalhadas. Sempre focada em seu objetivo, uma líder nata capaz de unir nacionalistas e comunistas debaixo da sua asa, exímia guerreira, estrategista racional e eficiente, era difícil no meio de tantos talentos ver ela dar um único sorriso. Era o exemplo entre os exemplos de como ser correta e perfeita. Mas até mesmo seu jeito de rir era único.
Seu rosto sério perdia toda aquela seriedade característica e parecia sorrir do fundo da sua alma, como se aquela fosse sua forma natural. Não era como aquelas pessoas que eram sempre ranzinzas e soltavam aquela gargalhada contida. Era como se fosse outra pessoa, mas que mantivesse a essência da mesma de sempre. Era como se todos já tivessem visto aquele cenho sorridente e alegre na sua imaginação, e quando visse na vida real ficasse abismado em perceber que era mais natural e ainda mais bonito que o mais delicado vislumbre poderia conceder.
Schultz apenas sorria. Um sorriso que vinha da sua alma, assim como era as gargalhadas de Tsai.
“Ai, ai, faz tempo que não dava tanta risada, sabia?”, brincou Tsai bebendo mais um pouco de chá, “Acho que já devemos estar no meio do caminho até Pequim. Temos que achar Chang Ching-chong lá. Não acredito que ele era um espião soviético infiltrado”.
“Você o conhecia?”, perguntou Schultz.
“Sim. Ele era um general, bem próximo do Generalíssimo. Ele foi um dos meus professores em Whampoa. É muito triste saber que ele arquitetou tudo isso, manipulando o Jin-su e tudo mais”, disse Tsai, triste em revisitar as lembranças do seu treinamento em na Academia Militar de Whampoa.
“O que vamos fazer se encontrarmos ele?”, perguntou Schultz, curioso por ouvir o plano que Tsai tinha em mente, “Quer dizer, eu sei que você não vai dar uma de Eunmi maluca, mas tem algo em mente?”
“Vocês normalmente esperam sempre uma resposta, um plano na ponta da língua de minha parte, não é mesmo?”, disse Tsai, com uma feição um pouco decepcionada, “Mas não sei, Schultz. Nesse momento estou tão chocada em ouvir isso sobre Chang Ching-chong que acho que nem sei o que vou fazer. Essa que é a verdade”.
“Independente do que for, Tsai, pode contar conosco. Iremos sempre te ajudar no que você precisar. Confie em nós como sempre, tudo bem?”, disse Schultz, altivamente.
“Obrigada, Schultz”, disse Tsai, transbordando gratidão, apesar da insegurança que sentia no peito, “Muito obrigada mesmo”.
Então Schultz e Tsai ouviram um estrondo enorme. Parecia distante, mas então o trem começou a tremer quase que instantaneamente. Um barulho estranho e muito grave parecia aumentar de intensidade conforme o trem ia freando gradualmente.
“O que foi isso?”, perguntou Schultz, tentando segurar o bule do chá no meio daquela tremedeira toda do vagão. Tsai esticou o pescoço pela janela e entendeu o que estava acontecendo. Os trens estavam descarrilhando!
Rapidamente ela fechou a janela, abriu a porta e lançou o chá para longe no corredor e fechou a porta.
“Eita! O que foi que você viu, Tsai?!”, perguntou Schultz, mas tudo o que aconteceu depois de sua fala foi muito rápido. Ela se lançou para proteger Schultz, abraçando-o pela sua cabeça. Schultz sentiu seu rosto ser pressionado contra o peitoral de Tsai, e no momento que ela o apertou, tudo começou a girar, literalmente. Eles estavam dentro do vagão que estava rodando, batendo o corpo nas paredes, teto, estofados, mesa, tudo. O vagão havia descarrilhado e estava capotando.
Tudo isso durou apenas alguns segundos, e o choque, o barulho, a falta de chão e as pancadas deixaram ambos desnorteados. Mas ainda era possível ouvir vozes do lado de fora. Vozes ao longe que não conseguia distinguir o que diziam.
Atordoado, Schultz tentava organizar seus pensamentos. Seu corpo todo estava dolorido.
“Schultz, Schultz, Schultz!”, disse Tsai, “Você está bem?”.
Ele não conseguia acreditar. Mais uma vez Tsai salvara sua vida.
“Ah, que merda. Me pedem pra te proteger, mas parece que você não faz o gênero de princesa em perigo. Eu que acabo sendo protegido por você toda hora!”, disse Schultz ao abrir os olhos. Ele ainda estava vendo tudo embaçado, mas reconheceria a doce voz de Tsai em qualquer lugar, “Assim vão acabar me mandando de volta pra Alemanha por incompetência, viu! Tá louco!”, brincou Schultz enquanto tentava se levantar. Mas devido às pancadas, sentiu uma dor enorme nas suas costas, que não havia se curado totalmente desde aquela explosão que o jogou pra longe, na casa de Jin-su, “Ai, minhas costas, ai, ai, ai! Tá doendo!!”.
“Tá, fica calmo. Vou tentar escalar ali na janela pra ver como estão as coisas!”, disse a Gongzhu, que estava com um ferimento sangrando na cabeça, e algumas escoriações pelo corpo. Ela foi então subindo entre os móveis até chegar na janela, que estava no lugar de cima, onde era pra estar o teto. A janela já estava bem danificada, então não foi difícil tirar do local para abrir caminho. Ao olhar lá de cima Tsai viu uma cena de destruição, como se fosse uma imagem saída de uma guerra, “Minha nossa. O trem inteiro foi destruído! Schultz, vem cá! Me dá a mão! Consegue se levantar?”.
“Argh... Consigo sim! Espera aí”, disse Schultz dando a mão para Tsai. A dor nas costas era terrível, mas ele fez um esforço para tentar se agarrar na mão dela. Os dois fizeram força e ela conseguiu tirar Schultz de lá. Tsai vira que Chou e Li estavam saindo também das cabines vizinhas.
“Gongzhu! Você tá bem? O que foi isso?”, perguntou Li, assustada.
“A Ho tá inconsciente, droga! Esse trem velho não tem uma saída de emergência ou algo do gênero?”, disse Chou, levemente ferida em diversos lugares.
“E quanto a Eunmi e o Yamada?”, perguntou Tsai, preocupada.
“Estamos aqui, Tsai!”, disse Eunmi, com uma voz bem distante, “Só estamos um pouco machucados e assustados, mas acho que não quebramos nada”.
“Ótimo, vamos indo então. Chou, dá uma olhada no Schultz aqui?”, disse Tsai, apontando para Schultz, que já estava do lado dela, de fora do vagão, “Ele acabou batendo as costas. Preciso de ajuda pra tirar a Ho da cabine dela!”, disse Tsai, acalmando todos, “Vai tudo terminar bem, fiquem tranquilos! O pior já passou! Quem aqui pode me dar uma mãozinha?”.
Então Tsai foi até a janela da cabine de Ho e a viu lá, com os olhos fechados, e Chen todo machucado também ao lado, mas consciente. Ver a Gongzhu depois de tamanho susto acalmou Chen de certa forma, embora a preocupação com sua amada esposa fosse maior.
“Chen, espera só um pouquinho que vou buscar ajuda! Fica tranquilo que a Ho vai ficar bem, tá?”, disse Tsai, acalmando Chen.
“Tudo bem, Gongzhu”, disse Chen, com esperança no rosto, “Muito obrigado. Vamos te esperar aqui!”.
Tsai desceu então do trem tombado para pensar num plano. Foi nesse momento que ela ouviu uma voz que lhe era familiar:
“Poxa, é engraçado como o Chen consegue manter o humor mesmo no meio de uma situação dessas”, disse uma voz masculina atrás de Tsai, “Será que posso te dar uma mão, Gongzhu?”.
Na hora que ela se virou tomou um susto imenso. Era ninguém menos que Huang. O membro do seu pelotão que estava faltando, que haviam dito que estava preso na mão de japoneses!
“Huang? Você?”, perguntou Tsai ao reconhecer o membro do seu pelotão, “Mas e os japoneses? Me disseram que eles te capturaram!”.
“Me capturaram sim, mas eu tive uma ajudinha pra sair de lá. Vamos indo, vamos tirar logo a Ho daí, coitada! Ela é grandona, você precisa de ajuda pra fazer isso, deixa comigo! Tenho uma corda aqui, podemos amarrar ela e...”.
“Não, espera, o que raios você estava fazendo aqui?”, disse Tsai, interrompendo Huang, “Não me diga que você estava envolvido com esse descarrilamento?”.
“Ei, não fala assim! Esse trem era um trem de carga sem muita coisa. Se tinha um ou dois vagões com passageiros era muito”, disse Huang, se explicando, “E tínhamos um objetivo mais nobre”.
“Huang!! Haviam pessoas aqui! E nós estávamos nesse trem! O que você tinha na cabeça?”, disse Tsai, sem acreditar no que estava ouvindo.
“Ah, você é muito certinha, Tsai! Existem objetivos nobres que não importam os meios. Se o objetivo final é algo bom, tudo o que você fizer pode ser considerado correto!”, disse Huang, se afastando de Tsai.
Schultz ao longe observava tudo de cima do vagão. Chou estava atrás dele, checando o curativo nas costas do alemão.
“Nossa, eu pensei que iria gostar do Huang. Mas deu pra ver que ele é um saco”, disse Schultz, desgostoso.
“Engraçado você dizer isso. Pra eu que vejo de longe, parece que vocês dois são um igualzinho ao outro. Dois irresponsáveis que não tem a mínima noção do que fazem por aí, hahaha!”, brincou Chou, enquanto apertava as ataduras nas costas de Schultz, “Apliquei um analgésico, vai te aliviar um pouco a dor”.
“Ei, eu não sou igual ele não! Corta essa, menina!”, disse Schultz, sem aceitar a crítica de Chou. Mas ao ouvir isso a chinesa virou o rosto para Schultz, apertando a bochecha dele.
“É bem como dizem por aí: quando a gente encontra alguém que tem os mesmos defeitos que a gente, a gente nega que no fundo é igualzinho a essa pessoa!”, brincou Chou, se afastando de Schultz, “Preciso ver como estão os outros passageiros civis e a Ho. Isso aqui tá um caos! Você tá liberado, só não força as costas, tudo bem?”.
Schultz desceu do vagão, e ao cair sentiu uma dorzinha nas costas. Soltou um grito, colocando as mãos nas suas costas, e nessa hora Tsai e Huang o viram.
“E quem é o europeu loiro ali?”, perguntou Huang apontando para Schultz.
“Ai, Huang... Deixa pra lá. Não quero mais discutir com você”, disse Tsai se aproximando de Schultz, “Esse aqui é um agente da inteligência alemã que veio em uma missão por esses lados. Ludwig Schultz”.
“Puxa, um nazista?”, perguntou Huang enquanto se aproximava de Schultz estendendo a mão, “Muito prazer, sou Huang Shanlong”.
“Ludwig Schultz. E eu não sou um nazista”, disse Schultz, sem apertar a mão de Huang, ainda ajeitando sua postura por conta da dor, “E o prazer é todo seu”.
Huang então vendo que Schultz não apertou sua mão, recuou. Por alguns momentos ficou uma situação meio embaraçosa, mas Tsai viu uma pessoa que estava ajudando a tirar Ho de dentro do vagão de costas, e por um momento achou que o havia reconhecido. Aquelas roupas, o porte, o tamanho. De costas parecia muito uma pessoa que ela conhecia muito bem.
“Dafeng? É você?”, perguntou Tsai se se aproximar. Chou e Li que ajudavam a tirar Ho junto desse homem de costas olharam para o homem e depois para a Tsai com um sorriso, como se confirmassem o que Tsai havia perguntado.
O homem se virou e Schultz tomou um susto. Era um chinês imenso, mais alto que ele, muito musculoso com o cabelo enrolado num coque alto. Vestia um traje militar de campo, e já tinha inclusive algumas rugas. Apesar da aparência ameaçadora de longe, ao se aproximar percebeu que ele tinha um ar tranquilo, e seus olhos brilharam quando viram Tsai.
“Gongzhu?”, disse o chinês gigante, “Minha nossa, que bom que você está bem! Eu encontrei a Chou e a Li aqui, e fiquei apreensivo pensando que elas só estavam dizendo que você estava bem para me acalmar. Mas realmente você está bem! Que felicidade encontrar a senhora!”.
“Chou Dafeng! É você mesmo! Minha nossa, não acredito que encontraria você justo aqui!”, disse Tsai, que por um momento parecia começar a entender o que estava acontecendo, “Espera aí, se você está aqui então quer dizer que ‘ele’ também está...?”, disse Tsai, juntando mentalmente as peças. Schultz viu que o rosto dela estava quase como que aguardando pelo pior. Ela se voltou então para Huang para lhe fazer uma pergunta: “Huang, não me diga que a pessoa que te resgatou foi o...”.
Huang mal se preparou para responder quando uma pessoa apareceu vindo da direção do vagão do maquinista, seguida de mais algumas pessoas de perto.
“Ah, esse Huang é mesmo um ingrato. Eu vou lá e salvo a pele dele das mãos dos japoneses e ele fica dizendo que só teve uma ajudinha pra sair de lá? A gente é que fez todo o trabalho pra tirar ele de lá!”.
Tsai então ficou espantada com o que vira. Mas ao reconhecer seu rosto sua feição mudou, para uma feição mais séria. De tantas pessoas que ela poderia esbarrar acidentalmente, apareceu justamente a pessoa que ela menos se dava bem.
“Chao... Achei que você estaria por aqui mesmo quando vi o Dafeng por aqui”, disse Tsai, encarando o homem que se aproximava, “O que você pretendia ao causar esse incidente com esse trem?”.
“A minha colega de turma sempre certinha. Pelo visto você não mudou nada nesses anos, Tsai”, disse Chao ao se aproximar com outros membros do seu pelotão. Ele tinha uma aura ameaçadora e poderosa ao seu redor.
Qual a relação dele com Tsai?
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