Amber - Kaisertreue (4)


5 de outubro de 1916
10h00

“Essa merda de batalha tá perdida!”, gritou Briegel, na frente do Durchbruchmüller, “Os ingleses e franceses já tomaram o rio Somme! É idiotice mantermos uma luta que já estamos fadados à derrota!”, nesse momento Briegel bateu forte na mesa com a mão, assustando a todos.

“Heinrich Briegel! Eu sou o general aqui, e eu ordeno que você pegue suas armas e vá para o fronte, agora!!”, gritou o coronel Bruchmüller, num tom ameaçador contra Briegel, que permanecia com um olhar furioso para com seu general.

“Isso é suicídio, general! SUICÍDIO!”, ao gritar, Briegel e todos tomaram um susto, pois uma explosão vinda da barragem de artilharia atingiu as proximidades de onde estavam, “Viu só? A artilharia inimiga já está aqui! No nosso quintal! O que cinco homens tem de força contra canhões e morteiros vindos do céu?”.

Nesse momento Horvath entrou correndo no bunker onde estava Briegel e Bruchmüller. E pela sua expressão no rosto, ele não parecia trazer boas notícias.

“Coronel, capitão”, disse Horvath, batendo continência, “Sinto vir lhes trazer más notícias, mas gostaria que olhassem para o lado oeste da guarita”.

Briegel e Bruchmüller foram apressados até a abertura oeste do bunker, e ao chegarem lá viram a máquina mais horrenda e assassina que já haviam visto ao longe, se aproximando cada vez mais. Soldados alemães corriam fugindo desesperadamente enquanto eram alvejados pelas balas e canhões do tanque. Sua velocidade era lenta, mas sua força era implacável. Nada parecia parar seu avanço por cima das trincheiras, e tudo que tocava nas rodas dentadas era destrinchado, fossem pedras, plantas, ou até mesmo pessoas. Uma máquina de moer carne humana. Por onde o tanque inglês passava, soldados britânicos avançavam logo atrás dele, eliminando os poucos que conseguiam ficar vivos, depois de passarem pela marcha do desespero que aquele veículo impunha a todos no seu caminho. Uma verdadeira procissão para a morte.

“Uma lagarta”, disse Briegel, virando para Bruchmüller, após constatar que se tratava de um tanque Mark I, “Uma porra de uma lagarta! Viu só, coronel? Você quer nos jogar na frente de uma porra de uma lagarta para o quê? Pra ver a gente morrer?”.

“Briegel, preciso de que você se acalme”, disse o Bruchmüller, mas a última coisa que Heinrich Briegel conseguia fazer naquele momento era se acalmar.

“Me acalmar é o caralho! Aquele é um tanque Mark! Os ingleses estão usando armas que ninguém tinha noção que eles estavam fazendo!”, gritou Briegel, apontando para o local onde o tanque estava, “Aquilo não é um trator agrícola. Aquilo é uma arma de destruição!”, nesse momento outra explosão atingiu as redondezas, obrigando-os a fazer uma pausa, “A gente tem que recuar, general! A batalha foi perdida! Não precisamos mais sacrificar vidas de jovens contra um inimigo imbatível como esse!”, Briegel então tomou um ar, para dizer uma última coisa apontando o dedo na cara do general: “Porque raios você não desiste dessa ideia!”.

Horvath observava tudo aquilo sem dizer nada. Talvez apenas seu capitão tinha coragem de dizer aquelas coisas na frente do lendário Durchbruchmüller. O general ficou em silêncio encarando Briegel por alguns segundos, até que ele se virou e puxou um cigarro, o acendendo ao colocar na boca. A nicotina acalmava Heinrich Briegel de certa forma. Ele tragava o cigarro enquanto olhava pela abertura do bunker o tanque se aproximando cada vez mais com dezenas de soldados inimigos vindo logo atrás.

Nesse momento Briegel vê um pelotão se aproximando, vindo da direção oposta de onde o tanque avançava. Dois representantes tomam a frente, pedindo para os soldados aguardarem ali.

“General. O pelotão está pronto”, disse o soldado. Ele nem tinha reparado em Briegel ou Horvath ali, e ao virar o rosto e ver que eles estavam ali tomou um susto, batendo continência, “Capitão Briegel, tenente Horvath, não esperava encontra-los aqui”.

“Descansa, soldado”, disse Briegel, pedindo para cortar formalidades, “Estou caindo fora”, nesse momento ao dizer isso o Bruchmüller ficou assustado, e avançou alguns passos para tentar parar Briegel, “Isso não é um jogo, isso não é uma brincadeira. Não existe espaço para falhas. Um passo em falso, morremos”.

“Espere, Briegel!”, disse o general, segurando o braço de Briegel, “Esses jovens acreditam em você. Olhe a força de vontade nos olhos de cada um deles! Eles só precisam de um líder. Eles só precisam do Kaisertreue!”.

“Força de vontade que se transforma de um olhar de profundo terror e agonia quando estiverem prestes a serem abatidos por aquela merda!”, disse Briegel, apontando para o tanque, que continuava se aproximando deles.

“Então apenas parem o tanque. Reforços estão chegando”, disse Bruchmüller, “Vocês tem todo o arsenal de explosivos para usarem. Acendam uma dessas aqui e lancem contra o tanque, não tem como a lataria dele aguentar”, disse o general, colocando nas mãos de Briegel algumas bananas de dinamite. Briegel ainda mal tinha processado a ordem quando o general se aproximou dele, e falou num tom baixo, que mesmo quem estava próximos dos dois, dificilmente conseguiria compreender: “Vamos lá. São tudo um bando de moleques, só vão servir de distração para vocês, que são os que realmente sabem lutar”, nessa hora o general falou ainda mais baixo, apenas para Briegel ouvir, “Não vai ser a primeira vez que você vai fazer isso, certo?”

Nessa hora Briegel ficou em choque. Percebera que a guerra envolvia muito mais peões do que se pensava. E que a vida de um desses peões não valiam de nada na visão dos que comandavam todo o progresso da batalha. E que mesmo que naquela época Briegel fosse ainda um capitão, o peso das vidas que ele carregava nas costas não eram apenas dos soldados inimigos que ele abatia. Mas também de todos os soldados alemães que lutavam ao seu lado, e que iam para o fronte querendo ser heróis, como os membros do Kaisertreue eram.

E sentindo todo esse peso, Briegel percebeu que ele também era apenas um número. Era apenas mais um que cumpria ordens de cima. Mesmo que essas ordens significassem o massacre perfeitamente evitável de diversos jovens de seu próprio país.

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“Capitão?”, disse Schwarz, ao ver Briegel se aproximando, “Eu ouvi uns gritos daqui, aconteceu algo ali no bunker Durchbruchmüller?”.

Briegel por um momento não respondeu. Estava cabisbaixo, pensativo, com sua MP18 da mão, e cinco bananas de dinamite na outra. Seu olhar estava profundamente triste, como se ele tivesse sido enganado esse tempo todo. Então olhou para Schwarz e negou com a cabeça.

“Não, não. Está tudo bem”, disse Briegel, mas era óbvio para Schwarz e Pfeiffer que estavam lá que nada estava bem. Viram Horvath se aproximando logo depois e Ozal também não demorou a se unir ao grupo. Briegel prosseguiu, “Rapazes, parece loucura, mas teremos que ir contra aquele tanque”.

“O quê?!”, perguntou Schwarz, assustado. As expressões de Ozal e Pfeiffer também ficaram apreensivas ao ouvir, “Mas como vamos fazer isso?”.

Briegel não disse nada, apenas ergueu o braço e mostrou as dinamites.

“Horvath, eu estava pensando em você. Você conseguiria armar sem problemas essas dinamites enquanto vou junto dos outros, e do pelotão ali atrás, chamando a atenção”, disse Briegel, como se fosse uma forma de desabafo, depois de meses de matança sem fim, “Eu só concordei em derrubar esse tanque e vou apenas fazer isso”.

Briegel não disse, mas parecia cansado. Cansado dessa batalha que se comparava a um moedor de carne humana. Mais e mais baixas eram contabilizadas por dia. E a cada dia não eram dezenas, mas centenas, milhares de corpos dilacerados, feridos, mortos. Milhares de famílias recebendo a notícia do passamento de seus jovens filhos que estavam servindo às ambições do Kaiser. Milhares de famílias em lágrimas desamparadas por dia, tendo que conviver com o fato de seus filhos serem “heróis de guerra” póstumos a troco de nunca mais poder vê-los.

“Schwarz, quero que você fique aqui na metralhadora fixa abatendo os soldados ao redor do tanque junto do Pfeiffer, que vai ficar de batedor, mirando em cada soldado”, Briegel explicou seu plano, se voltando para o turco depois de falar com Schwarz: “Ozal, você vem comigo, vamos avançar até o tanque e colocar as dinamites lá”.

No fundo Briegel queria que aquela fosse sua despedida. Já não importava ir e morrer. Queria ter um motivo para dar o fora de Somme a qualquer custo. Era uma batalha perdida, e cedo ou tarde o avanço dos ingleses e franceses decretaria o final da batalha, e início da investida dos aliados expulsando os alemães dos poucos quilômetros conquistados em território francês.

“Ei, capitão. Eu sei que não deveria opinar, mas gostaria de sugerir uma coisa”, disse Schwarz, pegando as dinamites das mãos de Horvath, “Acho que alguém jovem seria melhor. Horvath tá velhinho, e está pra se aposentar. Não vale a pena ficar surdo explodindo umas dinamites. Ele é meu amigo, não acho que vale a pena. Gostaria de fazer algo por ele”.

Briegel apenas observava. No fundo gostou da atitude de Schwarz.

“Bom, então eu vou com vocês”, disse Horvath, confirmando com a cabeça para Schwarz, “Vou cobrir a retaguarda enquanto vocês dois avançam até o tanque. Ozal, você se importa de ficar aqui ajudando o Pfeiffer?”.

“Tem certeza, capitão Briegel? Será que isso vai dar certo?”, disse Ozal, apreensivo. Ao ouvir isso, parecia que a confiança de todos havia sido abalada.

“Vamos fazer assim, então. Vou apenas organizar ali os soldados, encontro vocês logo mais para iniciarmos a operação”, disse Briegel, caminhando até os soldados que o estavam aguardando, “Vou pensar sobre isso”.

Briegel então foi até o local onde a tropa que o Durchbruchmüller havia reunido e lhes explicou tudo, separando as equipes para iniciar a missão. Tudo foi muito rápido, em poucos minutos todos estavam prontos para a batalha.

“Capitão! Tem um segundo?”, perguntou Schwarz, se aproximando. Ele parecia sem jeito.

“Claro. Diga, Schwarz”, disse Briegel. Schwarz nessa hora tirou do bolso um vidrinho. Tinha o tamanho de um dedo, era bem pequeno, tinha um líquido dentro, com uma cor lilás pálida.

“É que eu comprei isso há um tempo, e queria entregar pra Brigitte. É perfume de Artemísia. Fiquei um tempo sem entregar pra ela pois esse cheirinho me lembrava ela”, disse Schwarz, com ternura na voz, enquanto se lembrava da sua esposa, “Será que o senhor poderia entregar a ela?”.

“Por que você mesmo não entrega, Schwarz?”, disse Briegel, sem entender o que aquele gesto significava, “Que papo é esse, tá achando que vai morrer?”.

“Não, longe disso! É que se eu deixar comigo, nunca vou acabar entregando. Senti no tom da sua voz, que o senhor falou, como se essa missão fosse meio que sua despedida, mas eu sou jovem, e possivelmente não vou ter outra folga tão cedo. Se o senhor sair o senhor pode entregar diretamente pra ela!”, disse Schwarz, balançando o vidrinho na frente de Briegel, “Sabe como é, a gente tem que manter o clima de amor no ar!”.

Briegel tomou da mão o pequeno vidro de perfume da mão de Schwarz e colocou no seu bolso.

“Você pelo visto lê bem nas entrelinhas, meu genro”, disse Briegel, com um tom amistoso em sua voz, admirando a atitude de Schwarz, “Sim, eu estou cansado. Pode deixar que entregarei pra minha filha. Fico feliz de você lembrar dela. Nunca duvidei que você era o homem perfeito pra ela”, disse Briegel, dando um tapinha no ombro de Schwarz. Talvez parecesse um mero cumprimento para quem via de fora, mas aquele tapinha era algo que Briegel fazia com quase ninguém, e era algo profundo, equivalente a um abraço apertado.

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Os soldados estavam prontos para avançar. Briegel começou então a coordenar o ataque, ordenando o avanço de cada um deles. Os jovens alemães pareciam ávidos para lutar com suas armas em mãos, empolgados ao verem Briegel coordenando os tenentes e líderes, os espalhando no entorno do temível rota do tanque inglês.

Mas quando estava faltando por volta de três equipes para serem despachadas, Briegel vira que uma delas tinha uma pessoa a mais. Intrigado, ele se aproximou para ver o que tinha de errado. Heinrich Briegel além de tudo tinha uma memória fotográfica. Guardava rostos como ninguém. Percebera então que havia um soldado a mais, escondido atrás de um quepe, e ao se aproximar e tirar seu chapéu, o reconheceu na hora.

“Você! O mensageiro!”, disse Briegel, furioso, aos gritos, “O que raios acha que tá fazendo aqui com essa arma em mãos? Seu lugar não é aqui!”.

“Eu vim lutar, capitão!”, disse o mensageiro, sério e altivamente, “Por favor, me dê uma chance! Não irei decepcionar o senhor!”.

“Mas é claro que não vai me decepcionar, nem chance para isso vou te dar, me dá essa arma!”, disse Briegel, colocando a mão e puxando-lhe o rifle. Mas o jovem mensageiro não o soltava, “Você tá me desafiando, seu pirralho? Vou te mostrar seu lugar, seu merdinha! Você quase nos matou dias atrás por uma imprudência sua! O campo de batalha não é local pra heroísmo! Todas as ações devem ser pensadas e debatidas exaustivamente antes de serem realizadas!!”.

Briegel dava tapas no garoto, mas ele não soltava de forma alguma o rifle. Cada vez mais empregando força, não apenas tentando lhe tirar a arma, como também nos tapas no rosto, Briegel ouvia os gritos se tornarem mais e mais altos. Porém o jovem mensageiro não soltava o rifle.

“Eu já disse! Seu lugar não é aqui!! Solta esse rifle!! Solta!!”, gritava Briegel, dando tapas na cabeça do jovem, que continuava a gritar, pedindo para lutar e lhe darem uma chance.

“Capitão, espera”, disse Pfeiffer, se aproximando de Briegel, “Deixa ele ir. Vou ficar de olho nele”.

“O quê? Tem certeza?”, perguntou Briegel, soltando o mensageiro, o fazendo cair no chão, com lágrimas nos olhos, que tentava em vão as engolir.

“Pode deixar. Confie em mim, capitão”, disse Pfeiffer, assegurando, “Vou seguir ele de perto. Vamos logo, pois o tanque está se aproximando”.

Então o avanço contra o tanque Mark I começou. Era incrível como aquele monstro metálico era poderoso. Ainda assim ele era apenas um contra vários. Os soldados alemães iam avançando e entrando em combate contra os soldados ingleses logo atrás do tanque. O foco deles não era o tanque. O alvo era a infantaria que fazia o reforço.

Corpos voavam, soldados portando lança-chamas queimavam tudo ao redor, aviões lançavam granadas, causando ainda mais baixas. A visão do inferno só não era pior pois era embaçada por conta de toda a fumaça que se erguia ao redor da área de batalha. De princípio tiveram medo, achando que eram as temíveis nuvens de cloro, uma arma química muito usada na Primeira Guerra Mundial. Mas aquilo apenas era fumaça que se erguia no meio de tanto fogo, explosões, poeira, tiros, e tudo mais.

“Capitão!! Estou vendo o tanque!!”, disse Schwarz, conforme avançava, atirando contra soldados inimigos com sua Madsen.

“Vamos para aquela cratera! Precisamos acender a dinamite!!”, gritou Horvath, apontando para um local. Briegel confirmou com a cabeça, e os três foram até a cratera que fora aberta pelos disparos da artilharia inimiga.

Pfeiffer se aproximava também, junto de Ozal que cobria sua retaguarda, todos de olho no mensageiro. Apesar de toda a fumaça que ficava mais e mais densa conforme avançavam, a visão de Pfeiffer não o deixavam se enganar: o jovem mensageiro parecia completamente inseguro. Suas mãos tremiam, e ele errava todos os tiros. Apesar de estar numa posição horrível, desprotegido, e em pé, era curioso como os tiros nunca o acertavam. Pfeiffer não sabia o que era aquilo, mas aquele moleque parecia ter uma sorte tremenda.

Um soldado inglês apareceu de surpresa correndo com sua baioneta, com o mensageiro como alvo. Pfeiffer, que estava próximo, rapidamente sacou sua Martini-Henry e com um único tiro abateu o soldado. O mensageiro tomou um susto ao ver sua vida por um triz e olhou para trás, vendo Pfeiffer com sua arma em mãos.

“Duas. Você me deve duas agora, moleque”, disse Pfeiffer, mostrando com os dedos, “Presta atenção, garoto! Não fica dependendo da porra da sorte!”.

Então continuaram a avançar. Mas a fumaça dificultava ainda mais a visão. Tirando o mensageiro que era seguido de perto, Pfeiffer apenas via vultos. Tiros cortavam a fumaça com seus feixes, e explosões aconteciam a cada segundo, tanto vindo dos canhões do tanque, quanto a artilharia ao redor. Soldados feridos davam gritos, os que sobreviviam ficavam no chão agonizando pedindo por ajuda, tentando conter o sangue que saíam das suas feridas. Mas o barulho do motor do tanque era realmente aterrorizante. E cada vez que avançavam, mais era possível ouvi-lo cada vez mais perto.

Schwarz enfim risca um fósforo, acendendo as dinamites.

“Carga pronta, capitão!!”, gritou Schwarz, se erguendo da cratera na frente do tanque, “Lançando explosivos!!”

Briegel e Horvath ouvem o anúncio de Schwarz e veem a explosão ocorrendo bem próximo deles. A lagarta fica parada, parecia desabilitada. Se protegendo na área perto do tanque, os dois preparam suas armas para ir contra a artilharia, enquanto Schwarz prepara uma segunda dinamite.

“Eu vou pela esquerda e você pela direita, Horvath!”, ordenou Briegel, gesticulando, e Horvath confirmou com a cabeça, “Nossos soldados cobrirão a gente!”, ao terminar sua fala Briegel sacou o apito para chamar os reforços, “AGORA!!”, e Briegel depois de gritar usa seu apito militar, e vários soldados que estavam na retaguarda avançam com suas armas contra os ingleses e franceses numa última investida.

“Mais uma dinamite!!”, disse Horvath, dessa vez acendendo mais duas e jogando em cima do tanque. As explosões assustam os soldados, e junto da detonação das dinamites, o tanque é completamente destruído, pegando fogo, lançando uma fumaça preta cheia de labaredas para o céu.

Dois soldados que haviam conseguido passar o tanque veem Schwarz próximo segurando as cargas de dinamite, porém antes mesmo de apontar suas armas, Schwarz os derruba, respondendo mais rápido que eles. Porém o alemão sente algo estranho depois se segurar o gatilho com sua arma. Algo parecia travado.

“Hã? Puta merda!”, disse Schwarz, com a arma cheia de terra, uma vez que ele estava se esgueirando no chão, “Tinha que emperrar agora!”, Schwarz pega uma flanela que carregava no bolso e começa a tirar o excesso de sujeira de sua Madsen, de olho para ver se não aparecia nenhum inimigo, “Vamos, limpa, limpa, limpa!”.

Mas haviam muitos soldados ingleses. Briegel, Horvath e os outros alemães mal conseguiram avançar uns passos, e começaram a recuar de volta para aquela bagunça de fumaça e corpos que eles estavam, mais próximo do tanque. Porém muitos dos jovens alemães não ouvem seus gritos e acabam avançando, eliminando um ou dois soldados inimigos, mas sendo abatidos sem problemas pelas dezenas que avançavam por aquele aclive.

Pfeiffer e Ozal observavam tudo. O mensageiro realmente não sabia usar a arma. Por mais que ele tentasse mirar, era possível ver que até a forma dele segurar a arma era errada. Obviamente não conseguia acertar ninguém e apenas desperdiçava munição. Até mesmo o tranco do rifle, por ele ser uma pessoa magra e frágil, ele não conseguia controlar, dada à sua fraqueza.

Porém Pfeiffer achou que vira algo se mexendo no tanque. E uma portinhola se abriu. De início não deu muita atenção, mas logo no meio daquela fumaça toda, Ozal conseguiu perceber algo.

“Pfeiffer! Tem um soldado!! Um soldado francês saindo da porra do tanque!!”, gritou Ozal, e Pfeiffer nessa hora voltou seu olhar para lá.

Pfeiffer preparou rapidamente sua Martini-Henry mirando lá, mas nesse momento parecia que a fumaça negra que saía do tanque baixou, e passou na frente do seu rosto, e ao aspirar, sentiu seus olhos ardendo. A última coisa que vira foi que o soldado de dentro do tanque parecia ter tirado uma arma do seu coldre.

“Puta merda! Meus olhos!”, gritou Pfeiffer, baixando o rosto, “Fumaça do caralho!”, nesse momento ele tentou andar uns passos para o lado, tentando escapar da fumaça para ter visão de onde atirar, mas parecia que não importasse pra onde ele andasse, ele não conseguia achar um lugar com visão clara, “Ozal!! Aquele soldado vai atirar no Schwarz!!”.

“Cacete!! Eu não consigo ver nada! O mensageiro está na frente, talvez ele consiga ver!!”

Nesse momento Albert Pfeiffer percebeu que o real perigo era Schwarz. Schwarz era um alvo fácil, e ainda estava com a arma emperrada. Se algo não fosse feito, o pior iria acontecer!

“Mensageiro!! Atira no tanque!! Tem um soldado armado lá!!”, gritou Pfeiffer, e ele percebeu o vulto do mensageiro na sua frente, confirmando com a cabeça e preparando o rifle, “Ele vai acabar matando o Schwarz, o Schwarz está na mira!! Atira logo!!”.

Porém nenhum tiro era ouvido. Tudo parecia em silêncio, pois o mensageiro não fazia nada, apesar do barulho ensurdecedor de gritos, explosões e tiros ao redor. Segundos que pareciam passar como horas!

“Mensageiro!! Filho da puta!! Atira logo, você tem o tanque na sua mira!! Mata esse desgraçado antes que ele atire no Schwarz!!”, gritava Albert, que já mal conseguia ver o mensageiro no meio daquela fumaça preta.

Dizem que por mais que lutemos, não conseguimos escapar do destino.

E um tiro foi ouvido.

Então, no momento seguinte, um vento forte passou naquele momento, e a fumaceira se dissipou.

E tudo ficou claro.

O mensageiro não tinha conseguido atirar. Suas mãos tremiam, e ele não tinha conseguido puxar o gatilho. O soldado do tanque estava com sua pistola, soltando uma fumaça do tambor. E Schwarz, estava no chão, caído.

Nesse momento Briegel apareceu, no topo daquele morro, vindo da frente do tanque, e no momento que virou o rosto, vira Schwarz caído no chão. Ele abandonou tudo e saiu gritando pelo nome do seu amigo e genro, correndo em sua direção. Mas ao se aproximar de Schwarz, vira que o tiro havia acertado em cheio seu peito, e por mais que gritasse pelo seu nome, Schwarz simplesmente não respondia.

Pfeiffer, Ozal, e Horvath se aproximaram correndo para ver como estava o amigo. E nesse momento Briegel, com o rosto desfigurado pela tristeza que estava sentindo olhou para o tanque, para ver o rosto da pessoa que havia ferido Schwarz.

E então quando o soldado do tanque reconheceu Briegel, pegou sua pistola e apontou para sua própria cabeça, puxando o gatilho. Tirando sua própria vida.

Esse soldado era ninguém menos que o jovem Pierre.

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