Amber #115 - A satisfação de Chou.

“Vai, vai, vai!!”, gritou Li ao pular na traseira do jipe. Todos se seguraram e o carro começou a correr, enquanto os outros soldados atiravam contra eles. Yamada ficou no banco do passageiro, enquanto Chou estava dirigindo por cima da trilha que Yamada havia apontado.

“Conseguimos! Escapamos!!”, disse Eunmi, empolgada, porém logo atrás apareceu um jipe cheio de soldados japoneses atirando contra eles.

“Chou! Posso assumir a direção?”, pediu Eunmi, estendendo a mão para ajudar Chou a ir para a traseira do carro, “Você e sua Fedorov são mais úteis lá atrás!”.

A chinesa olhou para Yamada e para Eunmi, e agarrou forte na mão da coreana, que ainda com o carro em movimento pulou no banco do motorista e tomou o controle do carro.

“Espero que não se distraia com o namoradinho!”, disse Chou empunhando sua Fedorov Avtomat. Yamada ficou completamente vermelho ao ouvir o comentário da Chou. Eunmi apenas deu um risinho, mas ficou focada na direção do carro.

“Ei!”, Eunmi gritou com Chou, “Ele não é o meu namorad—“.

Nesse momento Eunmi, quando Eunmi virou o rosto pra brincar com Chou, ela viu algo como se estivesse passando em câmera lenta. A coreana reparou que duas pessoas, uma mulher e um homem, ela vestindo uma saia e roupas civis, e ele com uma calça militar e um casaco bem grosso, a encararam do seu lado esquerdo. Nesse mesmo segundo o olhar de Eunmi e os dois se encontraram, e ela ficou com os olhos grudados neles, como se naquele ínfimo segundo o tempo estivesse congelado.

“São eles!! A gente tem que voltar, Eunmi!”, gritou Yamada.

“Quem são eles, Yamada?”, perguntou Eunmi, dirigindo tomando todo o cuidado para não bater nas árvores.

“São amigos! A ideia era nos levar em segurança até eles!”, respondeu Yamada, e Eunmi continuou dirigindo. Tudo estava muito confuso, mas ela preferia não imaginar o que acontecia atrás, a metros dali, no meio daquela confusão de tiros e carros, que se aproximavam cada vez mais deles.

“Faz tempo que não via você usando o arco-e-flecha!”, disse Chou, atirando contra o carro, neutralizando dois soldados. Li, continuava a mirar com seu arco-e-flecha de olho nos japoneses vindo logo atrás, tentando se concentrar, sem responder Chou que, ainda assim, a perguntou: “Sua SMLE está aqui, por que não a usa?”.

Li disparou uma flecha, uma flecha que acertou em cheio o motorista do jipe inimigo, fazendo o carro bater nas árvores desgovernado.

“Escuta aqui, não somos amiguinhas, então corta o papo furado. Eu vou com a arma que eu bem entender, e cala essa sua boca, ouviu?”, disse Li em alto e bom som, e todos do carro ouviram, enquanto Chou ficava quieta no canto.

Eunmi então vira que não tinha como Chen, nem Li ou Chou, menos ainda o Yamada tomarem o lugar da Gongzhu no comando daquele time. Li era brigada com Chou, apesar dessa última não ter nada contra a outra. E isso dificultava muito não apenas a vida real, mas era um empecilho a mais num momento de desespero e fuga como aquele. Porém a presença de Tsai as harmonizava, e apesar das duas não conversarem socialmente, na hora da missão todas estavam concentradas no objetivo. Não graças a uma ou a outra. Mas por conta do papel de Tsai como a líder.

E na ausência de Tsai, Eunmi sentira que se havia alguém ali que deveria tomar a frente, ser a líder, era ninguém menos que ela. Mesmo sendo a mais jovem, Eunmi foi treinada por Tsai não para desenvolver uma técnica em específico, como a habilidade médica de Chou, ou a de atiradora de elite como Li. Mas Tsai treinou Eunmi para que no momento certo ela pudesse a substituir como líder. A Gongzhu dizia isso para ela em seu treinamento, mas apenas nesse momento ela vira que se havia uma oportunidade para tentar isso, essa oportunidade era agora!

“Ei, Li! Por favor, não é hora disso! Temos que trabalhar juntas para conseguirmos escapar dessa!”, pediu Eunmi, e Li baixou a cabeça, com a cara fechada, “Por favor, coopere! Deixa temporariamente essa rixa de lado! Se todas nós trabalharmos juntas, vamos todas sobreviver e voltar para a Gongzhu em segurança!”.

Li refletiu por alguns segundos quieta, enquanto mirava com seu arco procurando os soldados que estavam nas redondezas. E nesse momento vira que tinha que dar o braço a torcer e agir como nas missões lideradas por Tsai: sem rixas, sem briguinhas, ou provocações contra Chou.

“Tá bom, vai! Vamos fazer assim então!”, disse Li, ficando a postos novamente ao lado de Chou, que ao ver Li do seu lado chegou à mesma conclusão que Eunmi: alguém tinha que tomar o lugar da Gongzhu, mesmo que temporariamente. E não havia alguém que desempenharia melhor esse papel que a própria Eunmi.

Conforme Chou e Li atiravam contra os carros restantes, as duas foram se livrando de um após o outro. Chen não tinha muito o que fazer, apenas tinha algumas cargas de dinamite consigo, e não valia a pena desperdiçar agora. O fato é que quando Chou e Li se uniram para trabalhar em grupo as duas se provavam imbatíveis. Em pouco tempo todos já haviam praticamente se livrado de todos os soldados que as perseguiam no meio daquela floresta.

“Eunmi, vira pra esquerda!”, gritou Yamada ao se surpreender com o que vira ao longe, “Tem um rio logo ali na frente! Vamos bater!!”.

Eunmi virou com tudo pra esquerda, sem tempo, nem espaço hábil para fazer uma curva tranquila. Foi então que ela sentiu um impacto na traseira do carro, que a balançou, mas ela se segurou firme no volante para não sair voando do carro.

“Matem essas desgraçadas!!”, disse o japonês no outro carro, e então os três soldados começaram a abrir fogo com os dois carros em movimento correndo, enquanto o carro inimigo avançava e grudava na esquerda de Eunmi.

A estrada que seguia o caminho desse rio era toda desnivelada, e isso se provou um desafio quase impossível de acertarem tiros um no outro. Yamada estava desesperado vendo toda a bagunça, enquanto Li, Chou e Chen tentavam acertar os ocupantes do carro inimigo, sem sucesso.

“Ah, cacete!! Se eu me machucar, é bom que dessa vez você saiba tirar a bala sem causar tanto estrago!!”, disse Li, antes de se erguer da proteção do jipe, colocar o pé no tronco do carro inimigo, e de lá acertar duas flechas certeiras e rápidas nos dois soldados na parte de trás do carro. As flechas foram disparadas de maneira tão rápida e certeira que eles sequer tiveram tempo de reação.

Chou e Chen ficaram abismados. Aquela imprudência poderia ter custado a vida de Li.

“O quê? Quem arrisca não petisca! Não me olhem com essa cara não!”, berrou Li, em tom de deboche.

“Yamada, faz alguma coisa!! Esse cara vai nos acertar!!”, gritou Eunmi, e Yamada que estava praticamente escondido na parte de frente do banco abriu o porta-luvas e achou uma pistola Luger P08, de origem alemã, com seu formato distinto. O japonês mirou no soldado que tentava acerta-los e disparou três tiros, dois pegando à queima roupa.

“Ai meu ouvido, japonês do caralho!!”, gritou Eunmi, empurrando o braço de Yamada que estava praticamente tapando sua visão, “E tira esse braço da frente do meu rosto! Eu não tô vendo nada!”, e Yamada assustado retraiu o braço. O piloto do carro inimigo então começou a empurrar o carro de Eunmi na direção de um rio que estava na direita deles, e Eunmi novamente gritou uma ordem para Yamada: “Agora termina esse serviço, atira no motorista, Yamada!!”, e rapidamente Yamada colocou o pé no seu banco, se ergueu, e de uma posição privilegiada, acima de todos, deu dois tiros no soldado inimigo, e Eunmi apenas empurrou o carro pra esquerda para se livrar dele.

“Ufa, mais uma leva. Espero que essa seja a última”, disse Chou para todos, aliviada, “Minha munição está quase no fim”.

“Dois jipes assim cheios de soldados? Nem em filme eu vi isso. Se eu contar para meus amigos ninguém vai acreditar”, disse Li, respondendo para Chou. Nesse momento Chou ficou extasiada por dentro, embora tentasse de todas as formas não deixar a expressão subir para seu rosto. Li a havia respondido, e sem ignorância? Isso parecia algo que apenas a Gongzhu conseguiria fazer, e isso a deixou atônica. Eunmi já tinha o respeito dela, mas agora ela vira que até mesmo o pedido para que Li deixasse as picuinhas de lado funcionou. Funcionou tão bem que a própria Li a respondeu naquela trégua temporária em prol de uma missão, que ela sempre dava nesses momentos decisivos.

Eunmi olhou pelo retrovisor, e nesse momento o olhar de Chou também encontrou o dela. A coreana deu uma piscadinha com o olho e Chou sorriu. Um sorriso de satisfação.

“Eita porra. Que lugar lindo é esse?”, disse Yamada, e Eunmi tirou o olho do retrovisor e olhou para frente.

Era um local paradisíaco. Montanhas rasgavam os céus, cheias de vegetação, com um rio belíssimo de águas bem claras cortando entre os vales, e as árvores ditando os tons do final do outono, com todas as cores, do verde até o vermelho.

“Eu conheço, estamos perto de Pequim! São as montanhas de Shidu!”, disse Li, e todos aproveitavam aquela vista deslumbrante, daquela natureza tão perto de Pequim, e ainda não tocada pelo homem. Pássaros, esquilos, o som tranquilo da água e os peixes dentro nadando. Parecia um paraíso merecido depois de tanto sufoco.

Chou se ergueu da capota do jipe e sentiu o vento batendo no seu rosto. Ela enchia os pulmões e soltava o ar tranquilamente, e mantinha seus olhos fechados sentindo todo aquele frescor contra seu rosto. A chinesa até fez uma coisa que raramente fazia, dada à sua profissão: soltou os cabelos, o que encheu ainda mais sua alma com aquele sentimento de liberdade única de subitamente terem caído naquele lindíssimo lugar.

“Faz tempo que não a vejo de cabelos soltos”, comentou Chen, baixinho para Li.

“É verdade. Mas é melhor não atrapalhar o momento dela. É raro ver ela relaxada desse jeito, é bom a incentivarmos deixando ela livre, como agora”, disse Li, e Chen sorriu concordando.

Um sufoco que terminaria de forma perfeita, se depois de uma curva na trilha ao lado do rio o próprio Yamada não tomasse um susto ao ver algo se escondendo atrás das montanhas.

“Não, não, não pode ser!”, gritou Yamada ao perceber algo depois da curva no meio do vale, “Meninas olhem lá! ELES TÊM UM TANQUE!!!”.

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