Amber #118 - 三浦大尉 (Miura Taijou).

Do outro lado o soldado japonês que havia sido baleado na perna estava tomado pelo pânico. Embora fosse um soldado grande e bem forte, ele não conseguia se erguer. O tiro de Eunmi havia acertado a sua perna, dificultando, mas não incapacitando que ele pudesse se erguer. Porém dentro do seu coração ele estava completamente tomado pelo desespero. O soldado nunca havia sido baleado antes, e somente a constatação de que havia levado um tiro o fazia sentir como se a morte fosse algo inevitável, mesmo que a mesma não tivesse acertado nenhuma região vital.

Droga, eu não posso morrer, vamos logo, levanta! Por que minha perna não me responde? Vai, vai, vai! Preciso fugir daqui, vamos!, pensou o soldado, que se talvez se acalmasse um pouco, até conseguiria se levantar e caminhar, mesmo que com dificuldade. Mas o pânico que se passava em sua mente por ter sido baleado simplesmente tornava impossível qualquer tentativa de se concentrar em se erguer.

Porém o soldado tinha o desejo de fugir. E começou então a se arrastar, deitado no chão mesmo, usando a força dos seus braços, enquanto seu coração batia a mil, e transpirava como se aquele esforço fosse uma força sobre-humana, dado seu estado de espírito.

“Mais calminha agora, coreana? Vem cá, eu te ajudo a se levantar”, disse Aomame estendendo a mão para ajudar Eunmi a se erguer.

A coreana ainda estava um pouco zonza, mas segurou a mão da japonesa que a ajudou a se erguer. Eunmi ficou em silêncio por todo aquele momento, sem responder à Aomame. Tinha o olhar meio distante, mostrando que ainda tentava se recuperar. A japonesa então olhou para trás do ombro da coreana, e vira que o soldado japonês baleado estava se arrastando pelo chão, tentando fugir. Aomame percebeu que Eunmi olhava para algo nas suas costas e se virou, encarando o pobre soldado japonês desesperado sem motivos por conta de um tiro na perna.

“Olha aquela lesma ali, coreana”, disse Aomame, apontando com a cabeça, “É o único que sobreviveu, acho que podemos fazer umas perguntinhas pra ele”.

“Deixa comigo, vou lá buscar ele”, disse Li, se oferecendo, “Pode me dar uma mão, Chen?”.

“Claro, vamos lá”, disse Chen, e ambos partiram para buscar o soldado japonês.

“Vem cá, Eunmi, senta aqui nessa pedra. Você precisa se recuperar desse turbilhão todo”, disse Chou, levando Eunmi até uma pedra.

“Ah, ela vai ficar bem. É jovem”, disse Tengo, acendendo um cigarro. Aomame sentiu o cheiro e tossiu, com desgosto, encarando seu parceiro.

“Já disse que eu odeio que fume perto de mim”, disse Aomame, incisiva. Tengo olhou pra cima, e deu uns passos para longe da japonesa.

“Sim senhora”, brincou Tengo, se afastando de todos para tragar seu cigarro.

Li e Chen chegaram com o japonês abatido e o jogou no chão, entre Eunmi e Aomame. Ele caiu de joelhos e ficou encarando todos ali com um olhar de raiva.

“Suas vadias, vocês vão todas morrer! Vocês não perdem por esperar! É isso que vocês merecem depois de toda essa merda que vocês causaram, mataram soldados, causaram um verdadeiro caos, suas malditas!!”, disse o japonês, em sua língua, mas apenas Aomame entendeu. O soldado parecia eufórico, falava tudo rapidamente, colando as palavras umas nas outras. Eunmi e as outras ficavam olhando pra ele tentando entender alguma coisa, sem sucesso.

“Qual seu nome?”, perguntou Aomame. Quando o soldado viu Aomame, e que ela falava japonês, tomou um susto.

“M-meu nome é S-Suzui”, disse o japonês, gaguejando. Os olhos de Aomame pareciam de um predador encarando seu almoço. Era algo altamente intimidador.

“Muito prazer, Suzui-san. Precisamos de mantimentos, onde estão?”.

Aquele olhar parecia hipnotizar o pobre soldado. Seu coração estava disparado, como se Aomame fosse uma cascavel estivesse prestes a dar o bote.

“Estão naquela direção, cruzando o vale. Estamos acampados ali”, disse Suzui, “Mas vocês não perdem por esperar, os outros soldados vão chegar a qualquer momento. Eles vão pegar vocês e...”

“Tudo bem. Obrigada!”, disse Aomame sacando sua pistola e apontando para a testa do japonês para o executar. Nesse momento o japonês ali de joelhos ficou ainda mais desesperado, e começou a falar gritando, pedindo misericórdia pela sua vida.

“NÃO, NÃO, POR FAVOR! Não atira, por favor!!”, implorava Suzui, e Eunmi, que sabia muito pouco de japonês entendeu que ele estava pedindo para poupar sua vida, “Eu posso ser útil, eu retiro tudo o que eu disse, me deixa ir com vocês!! Não me mata, eu não queria servir esse exército, todo mundo vive me xingando, me humilhando, eu não aguento mais!!"

“Espera, Aomame. Não acho que precisamos matar esse soldado aqui. Ele parece desesperado”, disse Eunmi, em chinês. O soldado japonês não entendeu, mas percebeu que Aomame voltou o olhar para Eunmi e depois para ele, e que isso havia lhe ganhado tempo de certa forma. Porém Aomame não tirou a arma da testa dele, o que o deixava ainda confuso sobre o que estava acontecendo.

Suzui então, corretamente, presumiu que a coreana estava tentando proteger sua vida.

“Isso, por favor, não sei o que ela falou, mas por favor, não me mata! Eu juro que posso ser útil! Posso conseguir todas as coisas do acampamento delas de volta, posso conseguir armas, posso conseguir soldados, posso conseguir tudo, mas por favor, não me mate!!”, implorava Suzui, em japonês para Aomame, praticamente sem respirar entre uma palavra e outra.

Porém sua expressão mudou de uma fraca esperança para um total desespero, quando Aomame destravou a pistola e firmou ainda mais a mão na pistola. Suzui sabia que iria morrer.

“NÃO, POR FAVOR, EU TE IMPLORO! NÃO ME MATA!!”, disse Suzui, mas ele mesmo percebeu que esses apelos não conseguiriam mudar a cabeça de Aomame. Vendo a injustiça que se fazia ali, o japonês começou a soltar palavras cheias de ódio, tomado pelo desespero: “Sua vaca!! Não ouse me matar!! Eu vou contar sobre você, todos vão vir buscar vocês, e vocês vão ser caçados e mortos!! Você traiu o imperador, sua vaca imunda!! Eu vou revelar quem são vocês, não perdem por esperar!! Vocês vão ver só, todos virão atrás da gente, o coronel Yamamoto, o Endo, o major Ishikawa, e até o Capitão Miura!!”.

Capitão Miura?, pensou Eunmi, arregalando os olhos quando ouviu o nome. Seu conhecimento do idioma japonês era bem raso, mas Eunmi se lembrava de como chamavam o homem que havia matado seu noivo. E também como se referiam a ele. No meio de todas aquelas palavras que ela mal conseguia compreender, uma expressão de destacou: "Miura Taijou". "Capitão Miura", em japonês.

“Não, espera! Não atira!”, disse Eunmi, afastando a arma de Aomame da testa. Ela agarrou Suzui pelo pescoço, olhando no mundo dos olhos do japonês, perguntando: “Miura Taijou? Miura Taijou? Foi isso o que você disse?”, disse Eunmi, falando um japonês bem capenga, e carregadíssimo de sotaque. Suzui confirmou com a cabeça, e Eunmi virou para Aomame: “Aomame, por favor, pergunta pra ele onde está o Capitão Miura!”.

“Hã? Porquê? Quem é esse ‘capitão Miura’, coreana?”, perguntou Aomame.

“Por favor!! Pergunte para ele onde está o Capitão Miura! Eu imploro!!”, disse Eunmi, e Suzui não entendia nada do que estava acontecendo. Aomame ficou encarando, tentando entender o que se passava ali. Ela nunca tinha ouvido falar de nenhum capitão chamado Miura, obviamente.

Tengo Kawase caminhou até a frente de Aomame, passando por trás de todas as pessoas, ainda fumando seu cigarro. A japonesa o viu atrás de todas as pessoas e o encarou. Tengo confirmou com a cabeça, gesticulando com os lábios um carinhoso: “Mame-chan...” para Aomame, no meio daqueles apelos de Eunmi e os gritos de desespero de Suzui implorando pela sua vida.

A japonesa fechou os olhos e disse, em japonês:

“Onde está o capitão Miura?”.

Suzui olhou para Eunmi e depois para Aomame. Aquela talvez seria sua chance de ser libertado!

“O capitão Miura? O capitão está em Dairen, a oeste daq—”.

Aomame então apontou a arma para a testa de Suzui e puxou o gatilho, subitamente, não deixando o japonês nem terminar sua fala. Seu corpo foi jogado pra trás, caindo no chão com os olhos virados e uma imensa poça de sangue se formando. Aomame tranquilamente guardou sua arma no coldre e todos ficaram impressionados, olhando para ela.

Eunmi ficou vendo aquilo tudo sem crer. Não conseguia falar absolutamente nada.

“Você... Porquê você fez isso?”, perguntou Chou, “Como vamos saber onde está o Miura?”.

“Eu iria matar ele de qualquer jeito. Nenhum soldado japonês pode saber sobre mim e o Tengo, e nos delatar. Nenhum deles pode viver depois de nos ver, sempre fazemos isso pela nossa própria segurança”, disse Aomame, tranquilamente. A japonesa fez uma pausa olhando pro lado e prosseguiu: “E ele disse onde está esse tal Miura que vocês estão atrás”.

“O quê? Ele disse? E onde ele está?”, perguntou Eunmi puxando o braço de Aomame.

“Eu digo onde ele está, mas queria propor algo. Eu dou a informação se vocês me ajudarem antes me dando todo tipo de informação que souberem sobre uma pessoa que estou procurando...”, disse Aomame, sacando um caderno de notas que ela tinha em seu bolso.

“Sem essa. Onde está o Miura?! Que lugar ele disse antes de você destruir os miolos dele?”, disse Eunmi, segurando ainda mais firme no braço de Aomame.

“Eunmi, espera”, disse Chou, mas Eunmi a ignorava completamente. Eunmi estava encarando Aomame com um olhar muito peculiar. Seus olhos pareciam o de um animal carente, implorando com todas suas forças algo por que buscava há muito tempo. Algo que ansiava com todas as células do seu corpo. Não era raiva. Era um pedido sincero que vinha do fundo da sua alma.

Aomame calmamente tirou uma foto de dentro do seu caderno. Ela estava dando a mínima para o turbilhão de emoções dentro do coração de Eunmi. Talvez já havia até mesmo se acostumado com o jeito da coreana. Quando Aomame virou a foto, todos reconheceram, especialmente Eunmi. Não tinha como confundir aquele rosto!

“O nome desse cara na foto é Saldaña. Ted Saldaña. Preciso saber onde ele está. Vocês têm alguma pista, já o viram em algum lugar? Se me darem alguma pista, posso dizer qual lugar esse crápula disse antes de estourar os miolos dele”, disse Aomame.

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