Amber #127 - Suspicious minds (4) - A dama de vermelho.
7 de dezembro de 1939
19h43
Schultz estava dando o toque final em seu smoking. A gravata borboleta preta estava atada com um laço perfeito, e seu cabelo também estava todo penteado para trás, mas Schultz não gostava daquele visual lambido. Ele olhava para o espelho e se achava extremamente parecido com um ator famoso da época, Gary Cooper.
“Ah, com esse cabelinho é bem capaz de me confundirem com o Mr Deeds”, disse Schultz, pensando em voz alto, enquanto se olhava no espelho. Por mais que ele não gostasse de se arrumar, infelizmente a noite exigia isso.
E no final das contas, ele nem era tão parecido assim com o ator, mas algo na cabeça deixava ele achando tal coisa.
Schultz então saiu do quarto onde estava se arrumando e foi andando pelo corredor. A casa estava quieta, porém era possível ver ao longe as luzes da cidade, especialmente iluminada a poucos quarteirões dali, na mansão de Chang Ching-chong. Pelo visto a festa estava começando.
Schultz deu uma rápida olhava onde estava Saldaña e White, e vira que os dois estavam quietos, ouvindo o rádio baixinho em seu quarto, sem oferecer resistência alguma. Era óbvio que eles não entendiam uma única palavra de chinês, mas era curioso ver a feição dos dois naquele rápido relance que Schultz teve ao observá-los. O alemão então foi onde estava Tsai, e ao entrar ele vira que ela estava se trocando.
“Ih, tá horrível. Ficou folgado. Você já é toda magrela, esse vestido ficou largo e esconde todo esse bumbum durinho e branquelo que você tem”, disse Schultz, se aproximando do espelho e pousando levemente a mão na cintura da chinesa e descendo vagarosamente dando um risinho.
O vestido de Tsai era verde. E mesmo aquele vestindo sendo horrível, ela parecia tranquila vendo o reflexo dela trajando aquilo. Não tinha nada a ver com o estranho sonho do vaso de flores que ela havia tido na noite anterior. Ver que aquele sonho não era algo premonitório, e que nada da vida real fazia um gancho com o que havia sonhado, a deixava segura e tranquila. Porém, como Schultz disse, o vestido não havia caído bem para o corpo esguio dela. Estava ridículo.
“Ah, não ficou tão ruim, vai. Se eu usar algo pra marcar a cintura vai melhorar muito, olha só…”, disse Tsai, e nesse momento duas empregadas de Cheng entraram no local.
“Senhorita Tsai, pedimos desculpas. Foi tudo muito na pressa, não conseguimos esse vestido no tamanho para a senhora”, disse uma das empregadas, que carregava um cabide protegido por um pano escuro, “Mas achamos este aqui, que o alfaiate garantiu que ficaria bem nas suas medidas”.
E então a Gongzhu se virou, e as empregadas de Cheng levantaram o pano escuro, revelando o vestido que traziam. Era vermelho. Um vermelho vivo e brilhante, com um tecido esvoaçante, idêntico ao tom que ela se viu vestindo no sonho. Tsai estava assustada e profundamente transtornada ao ver aquilo, a expressão estava estampada em seu rosto.
“É realmente lindíssimo. Vai ficar uma linda dama de vermelho”, disse Schultz, imaginando Tsai dentro daquele vestido chique, “Com um vestido lindo desse, vou ficar louco pra conseguir seu telefone para ligar pra você dizendo que eu te amo”.
Porém Schultz não entendia a expressão da chinesa. Porque ela estava encarando o vestido com aquela cara tão preocupada? Na sua mente muitas coisas saltavam, como se ela teria medo daquela cor, ou se aquela era a forma dela expressar que realmente gostava muito daquilo. Schultz se sentia muito confuso.
“Querida… Não gostou?”, perguntou Schultz, e Tsai meio tomou um susto, balançando a cabeça.
“Não é que…”, disse Tsai, pausando por um momento. Nesse momento ela julgou desnecessário entrar em detalhes do sonho, devia ser apenas uma superstição boba. Ela então disse ao alemão: “Ah, deixa pra lá. Vou vestir. Me dá uns minutinhos?”.
“Tudo bem! Vou pegar algo para beber lá embaixo!”, disse Schultz, saindo do quarto e indo até a grande cozinha da mansão de Cheng.
Chegando lá Schultz foi até uma mesa de canto e viu que tinha um pouco de uísque ali. Pegou um copo e colocou um pouco no copo. Deu dois goles, e quando se virou tomou um susto. Havia um mendigo ali na cozinha! Com o susto Schultz cuspiu o uísque que estava na boca em cima do morador de rua.
“Puta que o pariu, como é que você entrou aqui? Eu juro que não tem pão velho!”, disse Schultz, se afastando do pobre morador de rua, que ainda esfregava o rosto tirando o uísque do rosto que Schultz havia cuspido.
“Schultz, seu imbecil, sou eu, a Ho!”, disse Ho, vestida de mendiga, “Cacete, essa merda arde! Fiquei horas passando fuligem no rosto pra parecer suja, agora vou ter que ir no banheiro lavar isso tudo!”.
O alemão não sabia onde enfiar a cara. Realmente Ho estava muito bem disfarçada. Vestida como um maltrapilho, roupas rasgadas e velhas, com uma aparência realmente suja, e até os dentes pintados para parecer ainda mais pobre. Não tinha em nada a ver com aquela mulher de antes, foi uma transformação total.
“D-desculpa, Ho! Poxa, você podia ter me avisado! Apareceu do nada, eu pensei que era…”.
Huang então se aproximou. Ele vestia um traje furtivo de um azul bem escuro, típico de espiões indo para missões perigosas. Nas suas costas ele carregava uma pesada mochila, com bastante equipamento, e a pistola que Cheng havia dado num coldre logo abaixo do braço.
“Eita, onde que ela vai correndo? Tá apertada?”, perguntou Huang vendo Ho correndo pro banheiro. Ele viu Schultz ali em pé, vestido de gala, extremamente refinado e por um segundo deu um olhar de inveja para ele. Os dois se viram e ficaram em silêncio, uma vez que os dois não se bicavam. E então Huang prosseguiu: “Ela devia, sei lá, passar a mão na bunda e esfregar na cara dela. Ela não está com aquele cheiro de mendigo. A aparência está de fato de um morador de rua, mas o cheiro está o cheiro bom e limpo de sempre da Ho”.
“EU NÃO VOU FICAR FEDIDA!! TUDO MENOS ISSO!!”, disse Ho do banheiro, ao ouvir o comentário de Huang, que riu sozinho ao perceber a reação de sua amiga.
Schultz não riu da piada, deu apenas um sorriso sem graça olhando pra cima, e pediu licença para subir e ver como estava Tsai. Já havia passado alguns minutos, e quando ele entrou no quarto as empregadas de Cheng davam os últimos retoques em Tsai.
O alemão entrou no quarto e ficou boquiaberto. O vestido de Tsai era vermelho, e todo aberto nas costas. Era possível ver toda sua parte de trás das costas até a altura da cintura, cortada por uma faixa em “x” de tecido, que a alongava de maneira perfeita. Na parte debaixo era possível ver o lindo movimento que dava, e seu cabelo estava penteado num coque lindo preso por uma trança - do jeito que ela sempre usara.
“Por gentileza, pode me trazer aquela caixa, em cima daquela mesinha?”, pediu Tsai, enquanto a empregada de Cheng ia buscar a pequena caixa. Schultz então se sentou numa poltrona e ficou lá quietinho, apenas observando aquela mulher, que era a mulher mais linda do mundo. Tsai nesse momento viu no reflexo Schultz se sentando na poltrona exatamente atrás de onde ela estava, “Não ouvi você chegando. Não sei porque você tá com essa cara. Não tem nada aqui que você não viu nessa noite”.
“Não, nada disso. Acredite. Eu definitivamente estou agradecido por poder ver isso, essa coisa divina na minha frente. E um pouco triste também, de imaginar o quanto de tempo perdi na minha vida por não ter visto uma pessoa deslumbrante como você antes”.
A empregada levou a caixa para Tsai e ela abriu. Era um dos ornamentos de cabelo que Tsai sempre usava, os palitos usados para prender o cabelo. Porém este era dourado, e Schultz se levantou, curioso, indo até a chinesa enquanto ela o colocava no cabelo.
“Uau. Vocês aqui desse lado gostam de usar isso, não?”, disse Schultz se aproximando de Tsai por trás. Ela deu uma última verificava no espelho e se virou para o alemão. Tsai era uma chinesa muito linda, mas agora que estava toda produzida estava alguém de outro mundo, de tão maravilhosa.
“Binyeo. São assim que os coreanos chamam”, disse Tsai, espetando seu cabelo enquanto ficava de olho no espelho, para garantir que ficasse reto, “Eu gosto muito, acho bem prático. Esse é um bem especial, ganhei de meus pais quando eu fiz vinte anos. É de ouro, e tem um pequeno rubi”.
Schultz ficou de frente para Tsai, e reparou nos detalhes do ornamento que ela havia colocado no cabelo. Havia realmente um pequeno rubi, e quando ele reparou, vira essa gema estava cravejada no peito de um pássaro lapidado na ponta do palito, em ouro.
“É o pássaro vermelho?”, perguntou Schultz.
“Exato”, respondeu Tsai.
Schultz então sorriu e deus uns passos para trás, segurando com ternura na mão de Tsai. Ele passeava os olhos dos pés até a cabeça, e sentia que aquela imagem de Tsai preenchia seu coração com uma emoção que ele nunca antes tinha sentido. Tsai era uma mulher formosa, mas não era apenas beleza superficial.
Ele então parou nos olhos. Naqueles olhos negros e redondos, que brilhavam sob a luz das lâmpadas daquele quarto. A chinesa também estava feliz. Ela deu um singelo sorriso com os lábios, e aquela imagem fazia Schultz sentir como se o seu coração palpitasse de maneira tranquila. Por alguns momentos ele sentia como se lhe faltasse o ar. Como se tudo o que ele precisava para viver estava encapsulado naquele ínfimo momento, que não havia nada que nutriria tanto ele quanto ver na sua frente a mulher que mais amava. Podia ouvir as batidas de seu coração repletas de gratidão por ter tido uma chance com ela, e por ela tê-lo escolhido. Não havia mais nenhuma mulher no mundo, não havia ninguém que produziria aquele turbilhão de coisas maravilhosas que sentia naquele momento que tinha a chinesa em seus olhos.
Definitivamente ele tinha tudo o que precisava. O alemão sentia que a chinesa era acima de tudo como um lar. Uma pessoa que o fazia se sentir protegido, uma pessoa que estaria lá para lhe acolher, uma pessoa que não o fazia sentir que deveria ser outra pessoa, pois ela o aceitava incondicionalmente. Ver Tsai Louan naquele momento na sua frente fazia Ludwig Schultz se sentir em casa. E não há lar melhor no mundo do que dentro de um coração apaixonado.
“E como eu estou, querido?”, disse Tsai, ainda de frente para Schultz, segurando em sua mão.
Schultz se aproximou, e deu um carinhoso beijo na testa dela.
“A mulher mais linda do mundo, meu amor”.
19h43
Schultz estava dando o toque final em seu smoking. A gravata borboleta preta estava atada com um laço perfeito, e seu cabelo também estava todo penteado para trás, mas Schultz não gostava daquele visual lambido. Ele olhava para o espelho e se achava extremamente parecido com um ator famoso da época, Gary Cooper.
“Ah, com esse cabelinho é bem capaz de me confundirem com o Mr Deeds”, disse Schultz, pensando em voz alto, enquanto se olhava no espelho. Por mais que ele não gostasse de se arrumar, infelizmente a noite exigia isso.
E no final das contas, ele nem era tão parecido assim com o ator, mas algo na cabeça deixava ele achando tal coisa.
Schultz então saiu do quarto onde estava se arrumando e foi andando pelo corredor. A casa estava quieta, porém era possível ver ao longe as luzes da cidade, especialmente iluminada a poucos quarteirões dali, na mansão de Chang Ching-chong. Pelo visto a festa estava começando.
Schultz deu uma rápida olhava onde estava Saldaña e White, e vira que os dois estavam quietos, ouvindo o rádio baixinho em seu quarto, sem oferecer resistência alguma. Era óbvio que eles não entendiam uma única palavra de chinês, mas era curioso ver a feição dos dois naquele rápido relance que Schultz teve ao observá-los. O alemão então foi onde estava Tsai, e ao entrar ele vira que ela estava se trocando.
“Ih, tá horrível. Ficou folgado. Você já é toda magrela, esse vestido ficou largo e esconde todo esse bumbum durinho e branquelo que você tem”, disse Schultz, se aproximando do espelho e pousando levemente a mão na cintura da chinesa e descendo vagarosamente dando um risinho.
O vestido de Tsai era verde. E mesmo aquele vestindo sendo horrível, ela parecia tranquila vendo o reflexo dela trajando aquilo. Não tinha nada a ver com o estranho sonho do vaso de flores que ela havia tido na noite anterior. Ver que aquele sonho não era algo premonitório, e que nada da vida real fazia um gancho com o que havia sonhado, a deixava segura e tranquila. Porém, como Schultz disse, o vestido não havia caído bem para o corpo esguio dela. Estava ridículo.
“Ah, não ficou tão ruim, vai. Se eu usar algo pra marcar a cintura vai melhorar muito, olha só…”, disse Tsai, e nesse momento duas empregadas de Cheng entraram no local.
“Senhorita Tsai, pedimos desculpas. Foi tudo muito na pressa, não conseguimos esse vestido no tamanho para a senhora”, disse uma das empregadas, que carregava um cabide protegido por um pano escuro, “Mas achamos este aqui, que o alfaiate garantiu que ficaria bem nas suas medidas”.
E então a Gongzhu se virou, e as empregadas de Cheng levantaram o pano escuro, revelando o vestido que traziam. Era vermelho. Um vermelho vivo e brilhante, com um tecido esvoaçante, idêntico ao tom que ela se viu vestindo no sonho. Tsai estava assustada e profundamente transtornada ao ver aquilo, a expressão estava estampada em seu rosto.
“É realmente lindíssimo. Vai ficar uma linda dama de vermelho”, disse Schultz, imaginando Tsai dentro daquele vestido chique, “Com um vestido lindo desse, vou ficar louco pra conseguir seu telefone para ligar pra você dizendo que eu te amo”.
Porém Schultz não entendia a expressão da chinesa. Porque ela estava encarando o vestido com aquela cara tão preocupada? Na sua mente muitas coisas saltavam, como se ela teria medo daquela cor, ou se aquela era a forma dela expressar que realmente gostava muito daquilo. Schultz se sentia muito confuso.
“Querida… Não gostou?”, perguntou Schultz, e Tsai meio tomou um susto, balançando a cabeça.
“Não é que…”, disse Tsai, pausando por um momento. Nesse momento ela julgou desnecessário entrar em detalhes do sonho, devia ser apenas uma superstição boba. Ela então disse ao alemão: “Ah, deixa pra lá. Vou vestir. Me dá uns minutinhos?”.
“Tudo bem! Vou pegar algo para beber lá embaixo!”, disse Schultz, saindo do quarto e indo até a grande cozinha da mansão de Cheng.
Chegando lá Schultz foi até uma mesa de canto e viu que tinha um pouco de uísque ali. Pegou um copo e colocou um pouco no copo. Deu dois goles, e quando se virou tomou um susto. Havia um mendigo ali na cozinha! Com o susto Schultz cuspiu o uísque que estava na boca em cima do morador de rua.
“Puta que o pariu, como é que você entrou aqui? Eu juro que não tem pão velho!”, disse Schultz, se afastando do pobre morador de rua, que ainda esfregava o rosto tirando o uísque do rosto que Schultz havia cuspido.
“Schultz, seu imbecil, sou eu, a Ho!”, disse Ho, vestida de mendiga, “Cacete, essa merda arde! Fiquei horas passando fuligem no rosto pra parecer suja, agora vou ter que ir no banheiro lavar isso tudo!”.
O alemão não sabia onde enfiar a cara. Realmente Ho estava muito bem disfarçada. Vestida como um maltrapilho, roupas rasgadas e velhas, com uma aparência realmente suja, e até os dentes pintados para parecer ainda mais pobre. Não tinha em nada a ver com aquela mulher de antes, foi uma transformação total.
“D-desculpa, Ho! Poxa, você podia ter me avisado! Apareceu do nada, eu pensei que era…”.
Huang então se aproximou. Ele vestia um traje furtivo de um azul bem escuro, típico de espiões indo para missões perigosas. Nas suas costas ele carregava uma pesada mochila, com bastante equipamento, e a pistola que Cheng havia dado num coldre logo abaixo do braço.
“Eita, onde que ela vai correndo? Tá apertada?”, perguntou Huang vendo Ho correndo pro banheiro. Ele viu Schultz ali em pé, vestido de gala, extremamente refinado e por um segundo deu um olhar de inveja para ele. Os dois se viram e ficaram em silêncio, uma vez que os dois não se bicavam. E então Huang prosseguiu: “Ela devia, sei lá, passar a mão na bunda e esfregar na cara dela. Ela não está com aquele cheiro de mendigo. A aparência está de fato de um morador de rua, mas o cheiro está o cheiro bom e limpo de sempre da Ho”.
“EU NÃO VOU FICAR FEDIDA!! TUDO MENOS ISSO!!”, disse Ho do banheiro, ao ouvir o comentário de Huang, que riu sozinho ao perceber a reação de sua amiga.
Schultz não riu da piada, deu apenas um sorriso sem graça olhando pra cima, e pediu licença para subir e ver como estava Tsai. Já havia passado alguns minutos, e quando ele entrou no quarto as empregadas de Cheng davam os últimos retoques em Tsai.
O alemão entrou no quarto e ficou boquiaberto. O vestido de Tsai era vermelho, e todo aberto nas costas. Era possível ver toda sua parte de trás das costas até a altura da cintura, cortada por uma faixa em “x” de tecido, que a alongava de maneira perfeita. Na parte debaixo era possível ver o lindo movimento que dava, e seu cabelo estava penteado num coque lindo preso por uma trança - do jeito que ela sempre usara.
“Por gentileza, pode me trazer aquela caixa, em cima daquela mesinha?”, pediu Tsai, enquanto a empregada de Cheng ia buscar a pequena caixa. Schultz então se sentou numa poltrona e ficou lá quietinho, apenas observando aquela mulher, que era a mulher mais linda do mundo. Tsai nesse momento viu no reflexo Schultz se sentando na poltrona exatamente atrás de onde ela estava, “Não ouvi você chegando. Não sei porque você tá com essa cara. Não tem nada aqui que você não viu nessa noite”.
“Não, nada disso. Acredite. Eu definitivamente estou agradecido por poder ver isso, essa coisa divina na minha frente. E um pouco triste também, de imaginar o quanto de tempo perdi na minha vida por não ter visto uma pessoa deslumbrante como você antes”.
A empregada levou a caixa para Tsai e ela abriu. Era um dos ornamentos de cabelo que Tsai sempre usava, os palitos usados para prender o cabelo. Porém este era dourado, e Schultz se levantou, curioso, indo até a chinesa enquanto ela o colocava no cabelo.
“Uau. Vocês aqui desse lado gostam de usar isso, não?”, disse Schultz se aproximando de Tsai por trás. Ela deu uma última verificava no espelho e se virou para o alemão. Tsai era uma chinesa muito linda, mas agora que estava toda produzida estava alguém de outro mundo, de tão maravilhosa.
“Binyeo. São assim que os coreanos chamam”, disse Tsai, espetando seu cabelo enquanto ficava de olho no espelho, para garantir que ficasse reto, “Eu gosto muito, acho bem prático. Esse é um bem especial, ganhei de meus pais quando eu fiz vinte anos. É de ouro, e tem um pequeno rubi”.
Schultz ficou de frente para Tsai, e reparou nos detalhes do ornamento que ela havia colocado no cabelo. Havia realmente um pequeno rubi, e quando ele reparou, vira essa gema estava cravejada no peito de um pássaro lapidado na ponta do palito, em ouro.
“É o pássaro vermelho?”, perguntou Schultz.
“Exato”, respondeu Tsai.
Schultz então sorriu e deus uns passos para trás, segurando com ternura na mão de Tsai. Ele passeava os olhos dos pés até a cabeça, e sentia que aquela imagem de Tsai preenchia seu coração com uma emoção que ele nunca antes tinha sentido. Tsai era uma mulher formosa, mas não era apenas beleza superficial.
Ele então parou nos olhos. Naqueles olhos negros e redondos, que brilhavam sob a luz das lâmpadas daquele quarto. A chinesa também estava feliz. Ela deu um singelo sorriso com os lábios, e aquela imagem fazia Schultz sentir como se o seu coração palpitasse de maneira tranquila. Por alguns momentos ele sentia como se lhe faltasse o ar. Como se tudo o que ele precisava para viver estava encapsulado naquele ínfimo momento, que não havia nada que nutriria tanto ele quanto ver na sua frente a mulher que mais amava. Podia ouvir as batidas de seu coração repletas de gratidão por ter tido uma chance com ela, e por ela tê-lo escolhido. Não havia mais nenhuma mulher no mundo, não havia ninguém que produziria aquele turbilhão de coisas maravilhosas que sentia naquele momento que tinha a chinesa em seus olhos.
Definitivamente ele tinha tudo o que precisava. O alemão sentia que a chinesa era acima de tudo como um lar. Uma pessoa que o fazia se sentir protegido, uma pessoa que estaria lá para lhe acolher, uma pessoa que não o fazia sentir que deveria ser outra pessoa, pois ela o aceitava incondicionalmente. Ver Tsai Louan naquele momento na sua frente fazia Ludwig Schultz se sentir em casa. E não há lar melhor no mundo do que dentro de um coração apaixonado.
“E como eu estou, querido?”, disse Tsai, ainda de frente para Schultz, segurando em sua mão.
Schultz se aproximou, e deu um carinhoso beijo na testa dela.
“A mulher mais linda do mundo, meu amor”.
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