Amber #137 - Suspicious minds (14) - I can't walk out.
Seguindo por onde o elevador estava descendo com o suposto Chang Ching-chong que Huang havia encontrado, Huang já estava praticamente no subsolo, quando ouviu um som de tiro ao longe, e alguns gritos dentro da festa de susto, mas bem baixos, por conta da distância. Naquele momento mal ele tinha noção de que Ho havia acabado de ser baleada.
O chinês ficou apreensivo por um instante, mas então ele ouviu a porta do elevador se abrindo. Era a chance dele de pegar Chang Ching-chong.
“Por onde, por onde?”, perguntou o Chang Ching-chong que Huang havia achado, olhando para os lados, consultando os dois seguranças do seu lado.
Um dos seguranças parou por um instante olhando para os lados, como se estivesse procurando por alguma coisa. Sua inquietação acabou quando ele viu a porta do tampo do porão na direita. Quando o segurança percebeu, indicou a Chang Ching-chong por onde deveria sair.
“Fim da linha pra você, Chang Ching-chong”, disse Huang, saindo do seu esconderijo. Embora ele estivesse com a pistola que o velho Cheng havia lhe dado na noite anterior, ele não a mostrou nesse instante. Talvez teria sido mais fácil se ele os tivesse rendido, mas a verdade era que Huang se achava seguro no caso de um confronto físico. Os dois seguranças ali pareciam fracos.
“Como você sabe quem eu sou?”, perguntou Chang Ching-chong, e nesse momento um dos seguranças começou a escoltá-lo até a saída.
“Espera aí! Volta aqui!”, disse Huang, mas nesse momento o primeiro segurança se pôs na sua frente de forma ameaçadora.
“Ah, qual é a de vocês?”, disse Huang, frustrado, baixando a cabeça. E então de supetão Huang já engatou um potente soco no rosto do segurança, um gancho, de baixo para cima. O golpe acertou o segurança em cheio, que praticamente voou com o impacto, caindo pesadamente no chão.
Huang então acelerou o passo, indo atrás do outro segurança que escoltava Chang. Desprevenido, sem saber de onde estava vindo, Huang se viu com algo o pegando de lado e o jogando contra a parede lateral. Quando ele virou o rosto, vira que era o primeiro segurança, com o rosto todo ensanguentado.
“Ora seu, me solta, desgraçado!”, disse Huang, dando uns golpes no ombro do homem até que ele gritou de dor e o soltou, “Pelo visto então vou ter que dar um jeito em você primeiro”.
E então Huang começou a bater no homem, que parecia saber nada de artes marciais. Nem mesmo sabia se defender de maneira eficiente, ficava apenas com os braços na frente do rosto, que mais tapavam sua visão do que necessariamente o protegia.
Huang então passou a desferir chutes e mais chutes nos braços daquele homem, que começava a soltar grunhidos de dor. Huang percebera que a cada chute, menos resistência ele sentia a cada impacto. E nesse momento o mesmo concluiu que poderia acabar com ele sem que ele tivesse chance de desferir um único golpe.
“Se o seu intuito era ganhar tempo para que o outro fugisse, eu sinto muito, parceiro!”, disse Huang, enquanto desferia chutes nos braços do segurança que protegia sua cabeça, “A verdade é que nem para isso você serve”.
Huang então parou por um instante para tomar ar, e lançou com a força do seu corpo um último chute no braço que bloqueava todos os seus golpes. O impacto, somado com os outros anteriores, foram tão fortes que quebraram em dois um dos braços do chinês que, por consequência, soltou um grito agonizante e caiu no chão, gritando de dor.
Quando ele se voltou para o outro segurança e onde estava Chang, Huang vira que eles ainda estavam tentando destrancar a porta do tampo do porão para escapar. O chinês se aproximou a passos rápidos de onde eles estavam, e quando o Chang Ching-chong que Huang havia encontrado o viu se aproximando, ele ficou pálido de medo.
“Por favor, não faça comigo! Eu não quero mais o dinheiro! Chega disso!”, disse Chang, e Huang ficou sem entender do que se tratava.
“Dinheiro? Que dinheiro? Nós queremos você, seu covarde!”, disse Huang, gesticulando com o braço para que Chang viesse.
Nesse momento Chang Ching-chong começou a vir na direção de Huang, e o segurança, ao ver que não ia conseguir abrir aquela porta, olhou pra baixo, balançando negativamente a cabeça, frustrado.
“Espera”, disse o segurança, e Huang olhou estranho para o segurança. Aquela voz lhe era familiar, “Fica ali, você será pago logo. Deixa esse aí comigo”.
E então Chang Ching-chong ao ouvir a ordem do segurança, se sentou encostado numa das pilastras do porão, abraçando suas pernas, apreensivo. Quando o segurança se virou, e se pôs próximo de uma luz que iluminou seu rosto, Huang vira de quem se tratara.
“Scar Xue, não é? O tal ‘perigoso assassino’ chinês? Ah, fala sério! Aquela surra não foi o suficiente?”, disse Huang, debochando, “E que papo é esse de que o Chang Ching-chong será pago logo? Esse cara é podre de rico, é ele quem devia lhe pagar pelos seus serviços!”.
“Acredito que você será o único que vai descobrir a verdade”, disse Scar Xue, e Huang nesse momento ficou temendo o pior, “A verdade é que esse homem aí do lado não é o verdadeiro Chang Ching-chong. É um impostor”.
Os olhos de Huang saltaram-lhe às vistas. Impostor? Era isso mesmo? O chinês olhou para o suposto Chang, sentado na pilastra, e ele tombou a cabeça e soltou um riso amarelo. Huang não tinha palavras para soltar ali:
“Não, mas espera, eu ouvi vocês dizendo que era ele, que viram que a Gongzhu estava infiltrada… Como assim? É claro que ele é o Chang Ching-chong! Eu não ouvi mais ninguém dizendo algo do tipo”.
“O verdadeiro Chang Ching-chong estava preparado para quando vocês aparecessem. Nessa festa ele contratou diversas pessoas para atuarem como sósias dele, para que se encontrasse com cada um dos membros do pelotão do Pássaro Vermelho, e os atraísse para armadilhas”, explicou Scar Xue.
“O quê? Mas como ele conhecia tão bem a gente?”.
“Apenas ligue uma coisa com a outra, Huang. Um homem como Chang, que era tão próximo de Chiang Kai-shek, acha mesmo que ele não usaria um contato ou outro e conseguiria informações valiosíssimas sobre todos vocês?”, disse o mercenário Xue, “O que era necessário era sondar as informações com o generalíssimo”.
Huang enquanto ouvia tentou segurar ao máximo a raiva. Apertava os punhos cerrados com força, tentando controlar as emoções enquanto ouvia aquilo tudo.
“Em outras palavras, ele tinha planos para pegar cada um de vocês, de uma forma tão plausível que todos vocês achariam que estavam fazendo um grande trabalho”, disse Scar Xue, explicando tudo, “Uma dificuldade maquiada apenas para enganar, usando suas habilidades e suas expertises individuais”, disse Xue, com uma frieza incontestável, “Porque com tantos Chang Ching-chong falsos por aí na festa, uma hora ou outra vocês acabariam sendo pegos por esses sósias falsos. Bastava apenas criar uma situação em que vocês achassem que estavam no controle da situação”.
“Não, não, isso não faz sentido! Como a gente terminaria caindo assim tão fácil? Isso é um blefe seu!”, disse Huang, elevando a voz.
“Um blefe? Bom, o tolo aqui é você, pois eu estou contando a verdade, e você não quer acreditar. Afinal, Chang Ching-chong conhecia a Gongzhu e todos vocês. Todavia, por outro lado, vocês não tinham a mínima ideia de quem era Chang Ching-chong. Ele sempre esteve por cima, e manipulou todos vocês”, disse Scar Xue.
“Então porque você tá me contando isso, seu idiota? Por acaso quer ganhar tempo me segurando aqui, não é?”, disse Huang, sem acreditar no que ouvia, por mais que parecesse lógico, “Pois estou caindo fora, faça o que quiser com esse Chang Ching-chong falso aí”, e ao dizer isso o falso Chang ficou apreensivo, e voltou a cobrir seu rosto entre as pernas.
“Não posso deixar você sair agora. Especialmente agora que sabe de tudo. A ideia original era que todos fossem mortos sem terem a mínima ideia de que foram enganados, e caíram num plano como esse”, disse Xue, sacando um punhal, e ficando em posição de luta, “Considere o fato de eu ter lhe contado como o pagamento pela minha vida ontem, por ter me deixado escapar”.
Huang, que estava se virando para ir embora, viu Scar Xue se preparando para lutar. Ele ficou um tempo parado olhando para ele, fazendo uma cara de quem não estava entendendo o que o mercenário queria dizer.
“Lutar? Você quer lutar? Acha que por ter uma faca as coisas serão diferentes?”, perguntou Huang, virando de costas, afrontando o assassino.
“Vire-se, Wangzi”, disse Xue, chamando Huang pelo codinome dele dentro do pelotão, “Você não merece morrer sem olhar nos meus olhos”.
Huang então deu de ombros e se virou, balançando negativamente a cabeça.
“Acha mesmo que terá um resultado diferente agora?”, disse Huang, avançando na direção de Scar Xue, “Pois vou te mostrar que não importa a situação, não tem como você me vencer!”.
Huang correu na direção do assassino, que de início deu uma investida com a faca, que Huang desviou e acertou um golpe com o antebraço na cabeça de Xue, que com o impacto foi jogado alguns passos para trás.
Ainda em vantagem, Huang tomou impulso, pronto para dar mais um soco em Xue. Dessa vez o assassino desviou e deu um chute em Huang, que se defendeu, suportando o golpe.
“Porque raios você insiste? Acha mesmo que pode vencer?”, disse Huang, fechando o punho e dando um golpe no estômago do Xue, que soltou um grito abafado, e recuou alguns passos.
Aquela luta parecia ganha para Huang, Xue dava algumas investidas, mas Huang conseguia defender todas, e contra-atacar sem maiores dificuldades. Porém algo não estava certo. Os golpes até acertavam Scar Xue, mas não pareciam machucá-lo da maneira com que machucavam na noite anterior. Mesmo com os hematomas, ele parecia estar com mais resistência do que na primeira luta.
Arfando, Huang fez uma pausa, depois de acertar mais um golpe em Scar Xue. Seu punho estava vermelho, mas Xue, apesar de sentir os golpes, parecia bem.
“O que está acontecendo? Parece que nem aconteceu nada nessa última noite! Te doparam ou quê?”, perguntou Huang, e nesse momento o chinês percebeu um rasgo na roupa preta do assassino. Atrás desse rasgo parecia ter algo marrom, algo que se assemelhava a textura de couro, “Espera aí. Você tem uma proteção debaixo dessa roupa?”.
Scar Xue ficou em silêncio, sem responder. E aquele silêncio era a confirmação para Huang. De fato ele estava com proteções sob seu traje.
“Sabe qual é a vantagem da derrota, Wangzi? Que na próxima luta o adversário que ganhou acha que já está com o embate ganho, que em time que se está ganhando não se mexe, e que não importa o que aconteça, o êxito está garantido”, disse Xue, enquanto caminhava calmamente na direção de Huang.
“Então por isso achou que era melhor trapacear?”.
“Trapacear? Não diga isso, meu caro ‘príncipe’. Seria muita burrice de minha parte se eu fosse derrotado da mesma maneira”, disse Scar Xue, ao se aproximar de Huang e dar um golpe com seu punho, Huang o segura, “Vamos dizer apenas que eu mudei de tática”.
E então os dois voltaram a trocar golpes, mas Huang percebeu que o estilo de luta de Xue havia mudado drasticamente. Os golpes eram mais rápidos e precisos, embora carecessem de força. E mesmo que Scar Xue estivesse com a faca, ele não a usava, e isso só deixava Huang mais ansioso com a dúvida de que ele fosse usar aquela arma ou não.
Já Huang, por outro lado, empregava mais e energia nos golpes, numa tentativa desesperadora de tentar virar o jogo com base na força. Mas nada parecia acertar Scar Xue com força o suficiente.
Com o tempo, os golpes, mesmo usando a força, começaram a ficar menos eficientes. Scar Xue até conseguia desviar, apesar da força e da velocidade. E Huang estava começando a ficar cansado.
“Ah, seu covarde. Com uma proteção contra impacto como essa, até eu conseguiria lutar”, disse Huang, já exausto, encostando numa pilastra.
Scar Xue então pela primeira vez demonstrou uma real emoção, e, se sentindo profundamente ofendido. Enraivecido, foi até Huang, o agarrando pelo torso.
“Não, Wangzi, isso não foi um ato covarde de minha parte. O burro aqui foi você, que menosprezou. Achou que a luta estava ganha antes mesmo de começar”, dizia Scar Xue, ofendido profundamente, rangendo os dentes, “Eu sou um assassino, minha vida é planejar e executar com a maior das perfeições. Perder uma vez é aceitável. Mas perder uma segunda vez…”, e nesse momento Scar Xue sacou sua faca, mostrando para Huang, “...É burrice”.
E então Scar Xue deu uma facada, sem a menor cerimônia, na barriga de Huang. Este levou a mão até a barriga e soltou um grito, ao ver o sangue começando a sair. Scar Xue o soltou, e ele foi desfalecendo, encostado no muro.
Os olhos de Huang olhavam para Scar Xue com fúria, enquanto o assassino o olhava de cima, com um ar de subjugação. Huang soltava uns gemidos, especialmente quando via a hemorragia tingindo suas mãos de vermelho.
Scar Xue se virou e viu o falso Chang Ching-chong sentado no chão, tremendo de medo ao ver aquela cena. Enquanto ele se aproximava, Huang apelou:
“Ei, Xue, não faz isso. Ele não tem nada a ver com isso, esse pobre coitado!”, disse Huang, mas era tarde.
O assassino lançou a faca, com uma precisão quase que cirúrgica, e acertou bem na boca do Chang Ching-chong falso, que momentos depois começava a jorrar sangue, com os olhos saltando-lhe a face, e a faca pregando sua cara naquele pilar.
“Não, não, não acredito. Você é um monstro! Você não tem mesmo sentimentos! Como pode fazer isso!”, dizia Huang, sentindo cada vez mais dor no seu abdômen.
Nesse momento, sentindo a morte se aproximar, Huang só conseguia pensar em uma coisa. Em toda a compaixão pelo próximo que Tsai havia ensinado a todos. Ensinar a acreditar nas pessoas. E que todos possuíam uma natureza bondosa e que poderiam eventualmente mudar. Desde a criança levada, até o mais cruel dos homens.
Talvez foi por isso que Huang deixou Scar Xue sobreviver, mesmo que isso significasse o expulsar da mansão na base dos chutes. Toda aquela dor física obviamente passaria, mas poderia ficar um aprendizado, uma lição, e isso seria levada dentro do coração.
Mas não. Aquele homem era essa pequena parcela da população que não tinha raízes do bem. Era uma pessoa de alma podre, um espírito adoecido. O tipo de pessoa que até a Gongzhu alertava a todos, de que poderia chegar o dia que inevitavelmente encontrariam uma pessoa assim.
Scar Xue, já de costas para Huang, foi na direção do falso Chang Ching-chong buscar seu punhal, mas ele não conseguiria chegar até lá.
Dois tiros ecoaram na sala, o acertaram diretamente na cabeça por trás, lançando fragmentos de pele, cabelo, e cérebro no ar, tingidos com o tom escarlate do sangue. As gotas bateram no teto, no chão, nas pilastras, e ele caiu morto no chão.
Do lado oposto estava Huang, com os olhos cheios de lágrimas e a pistola que Cheng havia dado na mão, com duas balas deflagradas do seu lado. Ele não queria ter ganhado a luta desse jeito. Mas ao mesmo tempo, se sentia na responsabilidade de não deixar aquele homem solto pelo mundo vivo.
O chinês ficou apreensivo por um instante, mas então ele ouviu a porta do elevador se abrindo. Era a chance dele de pegar Chang Ching-chong.
“Por onde, por onde?”, perguntou o Chang Ching-chong que Huang havia achado, olhando para os lados, consultando os dois seguranças do seu lado.
Um dos seguranças parou por um instante olhando para os lados, como se estivesse procurando por alguma coisa. Sua inquietação acabou quando ele viu a porta do tampo do porão na direita. Quando o segurança percebeu, indicou a Chang Ching-chong por onde deveria sair.
“Fim da linha pra você, Chang Ching-chong”, disse Huang, saindo do seu esconderijo. Embora ele estivesse com a pistola que o velho Cheng havia lhe dado na noite anterior, ele não a mostrou nesse instante. Talvez teria sido mais fácil se ele os tivesse rendido, mas a verdade era que Huang se achava seguro no caso de um confronto físico. Os dois seguranças ali pareciam fracos.
“Como você sabe quem eu sou?”, perguntou Chang Ching-chong, e nesse momento um dos seguranças começou a escoltá-lo até a saída.
“Espera aí! Volta aqui!”, disse Huang, mas nesse momento o primeiro segurança se pôs na sua frente de forma ameaçadora.
“Ah, qual é a de vocês?”, disse Huang, frustrado, baixando a cabeça. E então de supetão Huang já engatou um potente soco no rosto do segurança, um gancho, de baixo para cima. O golpe acertou o segurança em cheio, que praticamente voou com o impacto, caindo pesadamente no chão.
Huang então acelerou o passo, indo atrás do outro segurança que escoltava Chang. Desprevenido, sem saber de onde estava vindo, Huang se viu com algo o pegando de lado e o jogando contra a parede lateral. Quando ele virou o rosto, vira que era o primeiro segurança, com o rosto todo ensanguentado.
“Ora seu, me solta, desgraçado!”, disse Huang, dando uns golpes no ombro do homem até que ele gritou de dor e o soltou, “Pelo visto então vou ter que dar um jeito em você primeiro”.
E então Huang começou a bater no homem, que parecia saber nada de artes marciais. Nem mesmo sabia se defender de maneira eficiente, ficava apenas com os braços na frente do rosto, que mais tapavam sua visão do que necessariamente o protegia.
Huang então passou a desferir chutes e mais chutes nos braços daquele homem, que começava a soltar grunhidos de dor. Huang percebera que a cada chute, menos resistência ele sentia a cada impacto. E nesse momento o mesmo concluiu que poderia acabar com ele sem que ele tivesse chance de desferir um único golpe.
“Se o seu intuito era ganhar tempo para que o outro fugisse, eu sinto muito, parceiro!”, disse Huang, enquanto desferia chutes nos braços do segurança que protegia sua cabeça, “A verdade é que nem para isso você serve”.
Huang então parou por um instante para tomar ar, e lançou com a força do seu corpo um último chute no braço que bloqueava todos os seus golpes. O impacto, somado com os outros anteriores, foram tão fortes que quebraram em dois um dos braços do chinês que, por consequência, soltou um grito agonizante e caiu no chão, gritando de dor.
Quando ele se voltou para o outro segurança e onde estava Chang, Huang vira que eles ainda estavam tentando destrancar a porta do tampo do porão para escapar. O chinês se aproximou a passos rápidos de onde eles estavam, e quando o Chang Ching-chong que Huang havia encontrado o viu se aproximando, ele ficou pálido de medo.
“Por favor, não faça comigo! Eu não quero mais o dinheiro! Chega disso!”, disse Chang, e Huang ficou sem entender do que se tratava.
“Dinheiro? Que dinheiro? Nós queremos você, seu covarde!”, disse Huang, gesticulando com o braço para que Chang viesse.
Nesse momento Chang Ching-chong começou a vir na direção de Huang, e o segurança, ao ver que não ia conseguir abrir aquela porta, olhou pra baixo, balançando negativamente a cabeça, frustrado.
“Espera”, disse o segurança, e Huang olhou estranho para o segurança. Aquela voz lhe era familiar, “Fica ali, você será pago logo. Deixa esse aí comigo”.
E então Chang Ching-chong ao ouvir a ordem do segurança, se sentou encostado numa das pilastras do porão, abraçando suas pernas, apreensivo. Quando o segurança se virou, e se pôs próximo de uma luz que iluminou seu rosto, Huang vira de quem se tratara.
“Scar Xue, não é? O tal ‘perigoso assassino’ chinês? Ah, fala sério! Aquela surra não foi o suficiente?”, disse Huang, debochando, “E que papo é esse de que o Chang Ching-chong será pago logo? Esse cara é podre de rico, é ele quem devia lhe pagar pelos seus serviços!”.
“Acredito que você será o único que vai descobrir a verdade”, disse Scar Xue, e Huang nesse momento ficou temendo o pior, “A verdade é que esse homem aí do lado não é o verdadeiro Chang Ching-chong. É um impostor”.
Os olhos de Huang saltaram-lhe às vistas. Impostor? Era isso mesmo? O chinês olhou para o suposto Chang, sentado na pilastra, e ele tombou a cabeça e soltou um riso amarelo. Huang não tinha palavras para soltar ali:
“Não, mas espera, eu ouvi vocês dizendo que era ele, que viram que a Gongzhu estava infiltrada… Como assim? É claro que ele é o Chang Ching-chong! Eu não ouvi mais ninguém dizendo algo do tipo”.
“O verdadeiro Chang Ching-chong estava preparado para quando vocês aparecessem. Nessa festa ele contratou diversas pessoas para atuarem como sósias dele, para que se encontrasse com cada um dos membros do pelotão do Pássaro Vermelho, e os atraísse para armadilhas”, explicou Scar Xue.
“O quê? Mas como ele conhecia tão bem a gente?”.
“Apenas ligue uma coisa com a outra, Huang. Um homem como Chang, que era tão próximo de Chiang Kai-shek, acha mesmo que ele não usaria um contato ou outro e conseguiria informações valiosíssimas sobre todos vocês?”, disse o mercenário Xue, “O que era necessário era sondar as informações com o generalíssimo”.
Huang enquanto ouvia tentou segurar ao máximo a raiva. Apertava os punhos cerrados com força, tentando controlar as emoções enquanto ouvia aquilo tudo.
“Em outras palavras, ele tinha planos para pegar cada um de vocês, de uma forma tão plausível que todos vocês achariam que estavam fazendo um grande trabalho”, disse Scar Xue, explicando tudo, “Uma dificuldade maquiada apenas para enganar, usando suas habilidades e suas expertises individuais”, disse Xue, com uma frieza incontestável, “Porque com tantos Chang Ching-chong falsos por aí na festa, uma hora ou outra vocês acabariam sendo pegos por esses sósias falsos. Bastava apenas criar uma situação em que vocês achassem que estavam no controle da situação”.
“Não, não, isso não faz sentido! Como a gente terminaria caindo assim tão fácil? Isso é um blefe seu!”, disse Huang, elevando a voz.
“Um blefe? Bom, o tolo aqui é você, pois eu estou contando a verdade, e você não quer acreditar. Afinal, Chang Ching-chong conhecia a Gongzhu e todos vocês. Todavia, por outro lado, vocês não tinham a mínima ideia de quem era Chang Ching-chong. Ele sempre esteve por cima, e manipulou todos vocês”, disse Scar Xue.
“Então porque você tá me contando isso, seu idiota? Por acaso quer ganhar tempo me segurando aqui, não é?”, disse Huang, sem acreditar no que ouvia, por mais que parecesse lógico, “Pois estou caindo fora, faça o que quiser com esse Chang Ching-chong falso aí”, e ao dizer isso o falso Chang ficou apreensivo, e voltou a cobrir seu rosto entre as pernas.
“Não posso deixar você sair agora. Especialmente agora que sabe de tudo. A ideia original era que todos fossem mortos sem terem a mínima ideia de que foram enganados, e caíram num plano como esse”, disse Xue, sacando um punhal, e ficando em posição de luta, “Considere o fato de eu ter lhe contado como o pagamento pela minha vida ontem, por ter me deixado escapar”.
Huang, que estava se virando para ir embora, viu Scar Xue se preparando para lutar. Ele ficou um tempo parado olhando para ele, fazendo uma cara de quem não estava entendendo o que o mercenário queria dizer.
“Lutar? Você quer lutar? Acha que por ter uma faca as coisas serão diferentes?”, perguntou Huang, virando de costas, afrontando o assassino.
“Vire-se, Wangzi”, disse Xue, chamando Huang pelo codinome dele dentro do pelotão, “Você não merece morrer sem olhar nos meus olhos”.
Huang então deu de ombros e se virou, balançando negativamente a cabeça.
“Acha mesmo que terá um resultado diferente agora?”, disse Huang, avançando na direção de Scar Xue, “Pois vou te mostrar que não importa a situação, não tem como você me vencer!”.
Huang correu na direção do assassino, que de início deu uma investida com a faca, que Huang desviou e acertou um golpe com o antebraço na cabeça de Xue, que com o impacto foi jogado alguns passos para trás.
Ainda em vantagem, Huang tomou impulso, pronto para dar mais um soco em Xue. Dessa vez o assassino desviou e deu um chute em Huang, que se defendeu, suportando o golpe.
“Porque raios você insiste? Acha mesmo que pode vencer?”, disse Huang, fechando o punho e dando um golpe no estômago do Xue, que soltou um grito abafado, e recuou alguns passos.
Aquela luta parecia ganha para Huang, Xue dava algumas investidas, mas Huang conseguia defender todas, e contra-atacar sem maiores dificuldades. Porém algo não estava certo. Os golpes até acertavam Scar Xue, mas não pareciam machucá-lo da maneira com que machucavam na noite anterior. Mesmo com os hematomas, ele parecia estar com mais resistência do que na primeira luta.
Arfando, Huang fez uma pausa, depois de acertar mais um golpe em Scar Xue. Seu punho estava vermelho, mas Xue, apesar de sentir os golpes, parecia bem.
“O que está acontecendo? Parece que nem aconteceu nada nessa última noite! Te doparam ou quê?”, perguntou Huang, e nesse momento o chinês percebeu um rasgo na roupa preta do assassino. Atrás desse rasgo parecia ter algo marrom, algo que se assemelhava a textura de couro, “Espera aí. Você tem uma proteção debaixo dessa roupa?”.
Scar Xue ficou em silêncio, sem responder. E aquele silêncio era a confirmação para Huang. De fato ele estava com proteções sob seu traje.
“Sabe qual é a vantagem da derrota, Wangzi? Que na próxima luta o adversário que ganhou acha que já está com o embate ganho, que em time que se está ganhando não se mexe, e que não importa o que aconteça, o êxito está garantido”, disse Xue, enquanto caminhava calmamente na direção de Huang.
“Então por isso achou que era melhor trapacear?”.
“Trapacear? Não diga isso, meu caro ‘príncipe’. Seria muita burrice de minha parte se eu fosse derrotado da mesma maneira”, disse Scar Xue, ao se aproximar de Huang e dar um golpe com seu punho, Huang o segura, “Vamos dizer apenas que eu mudei de tática”.
E então os dois voltaram a trocar golpes, mas Huang percebeu que o estilo de luta de Xue havia mudado drasticamente. Os golpes eram mais rápidos e precisos, embora carecessem de força. E mesmo que Scar Xue estivesse com a faca, ele não a usava, e isso só deixava Huang mais ansioso com a dúvida de que ele fosse usar aquela arma ou não.
Já Huang, por outro lado, empregava mais e energia nos golpes, numa tentativa desesperadora de tentar virar o jogo com base na força. Mas nada parecia acertar Scar Xue com força o suficiente.
Com o tempo, os golpes, mesmo usando a força, começaram a ficar menos eficientes. Scar Xue até conseguia desviar, apesar da força e da velocidade. E Huang estava começando a ficar cansado.
“Ah, seu covarde. Com uma proteção contra impacto como essa, até eu conseguiria lutar”, disse Huang, já exausto, encostando numa pilastra.
Scar Xue então pela primeira vez demonstrou uma real emoção, e, se sentindo profundamente ofendido. Enraivecido, foi até Huang, o agarrando pelo torso.
“Não, Wangzi, isso não foi um ato covarde de minha parte. O burro aqui foi você, que menosprezou. Achou que a luta estava ganha antes mesmo de começar”, dizia Scar Xue, ofendido profundamente, rangendo os dentes, “Eu sou um assassino, minha vida é planejar e executar com a maior das perfeições. Perder uma vez é aceitável. Mas perder uma segunda vez…”, e nesse momento Scar Xue sacou sua faca, mostrando para Huang, “...É burrice”.
E então Scar Xue deu uma facada, sem a menor cerimônia, na barriga de Huang. Este levou a mão até a barriga e soltou um grito, ao ver o sangue começando a sair. Scar Xue o soltou, e ele foi desfalecendo, encostado no muro.
Os olhos de Huang olhavam para Scar Xue com fúria, enquanto o assassino o olhava de cima, com um ar de subjugação. Huang soltava uns gemidos, especialmente quando via a hemorragia tingindo suas mãos de vermelho.
Scar Xue se virou e viu o falso Chang Ching-chong sentado no chão, tremendo de medo ao ver aquela cena. Enquanto ele se aproximava, Huang apelou:
“Ei, Xue, não faz isso. Ele não tem nada a ver com isso, esse pobre coitado!”, disse Huang, mas era tarde.
O assassino lançou a faca, com uma precisão quase que cirúrgica, e acertou bem na boca do Chang Ching-chong falso, que momentos depois começava a jorrar sangue, com os olhos saltando-lhe a face, e a faca pregando sua cara naquele pilar.
“Não, não, não acredito. Você é um monstro! Você não tem mesmo sentimentos! Como pode fazer isso!”, dizia Huang, sentindo cada vez mais dor no seu abdômen.
Nesse momento, sentindo a morte se aproximar, Huang só conseguia pensar em uma coisa. Em toda a compaixão pelo próximo que Tsai havia ensinado a todos. Ensinar a acreditar nas pessoas. E que todos possuíam uma natureza bondosa e que poderiam eventualmente mudar. Desde a criança levada, até o mais cruel dos homens.
Talvez foi por isso que Huang deixou Scar Xue sobreviver, mesmo que isso significasse o expulsar da mansão na base dos chutes. Toda aquela dor física obviamente passaria, mas poderia ficar um aprendizado, uma lição, e isso seria levada dentro do coração.
Mas não. Aquele homem era essa pequena parcela da população que não tinha raízes do bem. Era uma pessoa de alma podre, um espírito adoecido. O tipo de pessoa que até a Gongzhu alertava a todos, de que poderia chegar o dia que inevitavelmente encontrariam uma pessoa assim.
Scar Xue, já de costas para Huang, foi na direção do falso Chang Ching-chong buscar seu punhal, mas ele não conseguiria chegar até lá.
Dois tiros ecoaram na sala, o acertaram diretamente na cabeça por trás, lançando fragmentos de pele, cabelo, e cérebro no ar, tingidos com o tom escarlate do sangue. As gotas bateram no teto, no chão, nas pilastras, e ele caiu morto no chão.
Do lado oposto estava Huang, com os olhos cheios de lágrimas e a pistola que Cheng havia dado na mão, com duas balas deflagradas do seu lado. Ele não queria ter ganhado a luta desse jeito. Mas ao mesmo tempo, se sentia na responsabilidade de não deixar aquele homem solto pelo mundo vivo.
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