Imergindo nos olhos de Vesper Lynd.
Eu lembro até hoje quando fui ao cinema assistir ao filme Cassino Royale, isso lá em 2006. Foi o primeiro filme da era Craig como James Bond, o que resultou em ótimos filmes a seguir, e foi um reboot incrível para a série.
Para quem não conhece tanto sobre James Bond: os filmes possuem nenhuma ou quase nenhuma ligação entre si até o reboot com Daniel Craig. No máximo havia um vilão repetido (tipo o Jaws) ou um companheiro que aparecia em mais de um (como os atores que fizeram o Felix Leiter, ou até recentemente o Valentin Zukovsky, que aparece tanto em "GoldenEye" como em "O mundo não é o bastante"). Mas agora com o Craig fizeram filmes que possuem uma sequência bem clara: Quantum of Solace é a sequência direta de Cassino Royale. Em Skyfall o vilão Silva é ligado aos vilões dos filmes anteriores, e em Spectre o novo Blofeld une todos sob a misteriosa organização SPECTRE (que é baseado nos arqui-inimigo principal de James Bond nos livros, a própria organização SPECTRE).
Mas hoje enquanto assistia talvez pela trigésima vez ao Cassino Royale (eu costumo ver vários filmes mais uma de vez, mas seriados raramente), eu percebi como a Vesper Lynd é meio que a que estava por detrás de tudo desde o começo. Toda esses filmes da era Craig orbitam ao redor dessa personagem que apareceu em metade de um filme. É um negócio muito doido.
Como é um reboot, então é um James Bond zerado do nada. Tanto que no começo do Cassino Royale é incerto se ele é um agente duplo-zero. Parece que ele consegue subir na carreira e se torna um agente secreto de alto nível da MI6. Passa as cenas de perseguição no Caribe, em Miami, e enquanto vão para Montenegro aparece ela, Vesper Lynd (interpretada pela Eva Green).
Ela é uma personagem tão misteriosa, tão obscura, que ao mesmo tempo revela coisas e nos deixa com tantas dúvidas, é muito complexa. Mas o mais legal é a relação dela com Bond, as conversas, desde a primeira no trem, até aquela linda cena no chuveiro, onde ela, após proteger Bond enquanto ele estrangulava um vilão, ela chora debaixo do chuveiro por ter sujado suas mãos de sangue pela primeira vez. Essa cena eu choro até hoje quando assisto.
Mas uma sacada boa, que elevou a Vesper até o patamar de outras Bondgirls lendárias (como a Tracy di Vincenzo, com quem Bond chega a se casar) foi exatamente o fato dela ter despertado esses sentimentos profundos em Bond de uma maneira única. Afinal Bond a protege, a salva, e ela também o salva. E isso considerando uma personagem que aparece pra lá da metade do filme, ser tão profunda e significativa, é um negócio de outro mundo. A Eva Green é uma atriz do caralho.
Comparar a Vesper com a Tracy é colocá-la no rol de mulheres que "desafiam a curva" quando se trata de James Bond. Assim como Tracy, Vesper é a única que desperta em Bond a vontade de deixar a vida de espião e se casar, por exemplo. Eu mesmo quando vejo parece que Cassino Royale é meio que a "despedida" de Bond dos filmes, pois ele chega até a cogitar ter um emprego comum para viver com a Vesper. E, assim como a Tracy, ambas morrem na frente de Bond. A Vesper, se mata afogada, se punindo por ter traído Bond que tanto a amou. E Tracy é friamente morta por um tiro na cabeça, na icônica cena do "Now we have all the time of the world" (eu li o livro, e é vinte vezes mais triste, acreditem).
Perder a mulher que ama sem dúvida deve fazer um homem perder os parafusos. E de uma maneira trágica assim então, vish.
Talvez os filmes mostrem essa cicatriz da Vesper sendo cicatrizada. Em Quantum of Solace, logo após Cassino Royale, Bond não dá nem um beijinho na Camille Montes (interpretada pela Olga Kurylenko). E em Skyfall ele dá uns pegas na Sévérine (interpretada pela Bérénice Marlohe), mas nada muito profundo. Ela inclusive é morta por ele.
Acredito que a ferida só cicatriza mesmo com a Madeleine Swann (interpretada pela Léa Seydoux) quando ela aparece na vida de James Bond, que, ironicamente, é filha do Mr White. Esse Mr White é quem estava por detrás do assassinato da própria Vesper, que a havia chantageado e feito ela se infiltrar como agente dupla para que seu ex-namorado não fosse morto. Para isso ela teria que dar o dinheiro que Bond havia ganho no Cassino Royale em troca da vida do ex-namorado e da vida do próprio Bond. Só que Bond descobre na cena final do filme e vai atrás dela para salvá-la, e aí ela se mata, tomada pelo arrependimento.
Será que a senhorita Swann continua curando Bond da ferida de Vesper? Tudo bem que é a linda da Léa Seydoux (ela me curaria de qualquer coisa, haha), mas a cena final de Spectre mostra algo que se encaminha para
um final feliz. Talvez esse último filme, "007: Sem tempo para morrer" nos responda.
Uma pena que o novo corona vírus explodiu e o filme só será lançado no fim do ano.
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