Livros 2020 #5 - Vinte mil léguas submarinas
Você lembra qual foi o primeiro livro que você leu? Eu lembro! Foi Vinte mil léguas submarinas, do lendário Júlio Verne. Eu lembro até hoje de quando tivemos uma aula na "sala de leitura" da escola (era muito pequena para se chamar "biblioteca", mas funcionava como uma) e a professora meio que liberou a gente para pegar o livro que a gente quisesse, e eu ao fuçar ali na estante achei exatamente essa edição jurássica da editora Hemus desse clássico do Júlio Verne.
Eu não lembrava da história do livro, mas lembrava que aquilo tudo me deixou impressionado. O começo do livro na verdade é bem misterioso, pois você fica sabendo das notícias que rolam sobre um estranho monstro marítimo que anda causando muita confusão no mundo, afundando navios, desaparecendo sem deixar rastros, e quem sobrevive não sabe descrever o que é. Acham que é uma baleia, e o mundo inteiro quer respostas.
Semanas depois meus pais compraram, e eu comecei a devorá-lo. E hoje, no meio dessa pandemia, morrendo de vontade de ir para uma biblioteca e pegar livros, estou aqui relendo algumas coisas. É o que temos para hoje!
O livro conta a estória do professor Arronax. Um biólogo marinho francês famoso, cheio de achados que ele estava pronto para catalogar de suas pesquisas e viagens, fica surpreso, assim como tudo mundo, ao ficar sabendo dessa estranha criatura marinha que anda aterrorizando os mares do mundo. Ninguém sabe o que é, mas suspeitam que seja alguma baleia. Por mais que ele tente não dar atenção para isso, é inevitável não ficar curioso. Professor Arronax vive com seu mordomo, chamado Conselho (Conseil, em francês), um fiel empregado que sempre o protege.
Os Estados Unidos então pedem para que o professor se junte a uma equipe que quer encontrar essa tal baleia e matá-la a qualquer custo. Ele viaja então até os Estados Unidos e se junta à tripulação do Abraham Lincoln, que parte em busca do bicho. Uma das pessoas que o professor Arronax (junto do mordomo Conselho) conhece é o baleeiro canadense Ned Land. Dos Estados Unidos eles rumam ao sul, contornando todas as Américas (na época que o filme foi escrito, em 1870, não existia ainda o Canal do Panamá). Entram no Oceano Pacífico e rumam em busca do bicho, indo na direção do Mar do Japão.
Eventualmente encontram o animal, e começam a perseguição. Porém o bicho se defende e danifica o Abraham Lincoln, jogando o professor Arronax à deriva. Seu mordomo pula para salvá-lo. O navio não consegue voltar, e o professor vê que o canadense Ned Land também caiu do navio. Os três vêem o navio indo embora e eles lá, no meio do oceano pacífico. Depois de um tempo de desespero eles notam algo os erguendo vindo do mar, uma coisa feita de metal. Algumas pessoas saem com trajes de mergulho, mas logo entram de novo. Essa coisa os engole, e lá dentro eles percebem que isso não era baleia coisa alguma, era um submarino.
Lá dentro eles veem diversos tripulantes falando uma língua que eles não entendem, e o capitão da embarcação enfim aparece. O famoso capitão Nemo, o comandante do lendário submarino Nautilus!
O capitão Nemo apresenta o navio, mostra que ele retira eletricidade do sódio do mar, mostra a famosa biblioteca dele, e todo o luxo que ele dispõe no navio. Diz que não os sequestrou, que eles podem fugir quando quiserem, mas que serão bem tratados enquanto estiverem dentro do Nautilus. E então a aventura começa!
Eles passam por vários lugares, mas vou elencar aqui os principais. Afinal o livro é sobre Vinte mil léguas ao redor do globo, o que dá 96 mil quilômetros. Isso quer dizer que foi uma distância maior que duas voltas na Terra (nosso amado geóide tem 40 mil quilômetros). Saindo do mar do Japão eles rumam sudeste, entrando na Oceania, parando na fictícia Ilha de Crespo, usada para abastecer a comida, caçar, enfim, um local de abastecimento do Nautilus. Continuam rumando ao oeste, passando por algumas ilhas com corais, onde um acidente acontece no Nautilus.
Essa parte é um pouco confusa, pois o capitão Nemo ao ser perguntando pelo professor Arronax o que foi aquele impacto, ele comenta que foi um acidente e tudo estava resolvido. Logo depois disso ele prende os três e só os solta bem mais tarde. Eu pesquisei e nessa parte o que aconteceu foi um funeral, onde o capitão Nemo enterra um de seus tripulantes acidentados numa fossa no fundo do Oceano Índico.
Depois do enterro o capitão os solta, e eles continuam viagem. Chegam até o Mar Vermelho, e decidem entrar no Mediterrâneo através do "Canal da Arábia", um corredor marítimo fictício que Júlio Verne criou, que passa por baixo do Egito, e liga o Mar Vermelho com o Mediterrâneo. Hoje sabemos que isso seria impossível, pois a pressão ali seria tão grande que esmagaria qualquer submarino que tentasse passar. Sem contar que existe um encontro de placas tectônicas ali, logo isso definitivamente não seria indicado de se passar.
No mediterrâneo o capitão passa acelerado (talvez ele não gostasse de estar ali perto das Europa) e ao cruzar o estreito de Gibraltar o capitão Nemo convida o professor Arronax a vestir seu traje de mergulho e vir com ele conhecer o fundo do mar, onde Atlântida se situa! É uma descrição linda, comenta até sobre o vulcão que supostamente a destruiu, é uma parte bem legal do livro.
Saindo de lá, aproveitam para pescar no Mar de Sargaços (a porção norte do Oceano Atlântico) e pegam carona da Corrente do Golfo rumo ao sul, chegando na Antártida.
Em 1870 já haviam tido expedições para a Antártida. Sabiam que era um continente com terra (ao contrário do Ártico, que é apenas mar) porém só em 1911 foi que uma expedição norueguesa chegou até o Pólo Sul. No entanto, nesse romance, Verne faz com que o capitão Nemo e o professor Arronax viajem até a Antártida e sejam os primeiros que pisem no Pólo Sul, isso em meados de março, para ver o último pôr-do-sol antártico antes dos seis meses de noite eterna, no dia 21 de março de 1868.
(isso existe de verdade! O pólo sul fica seis meses num dia eterno e seis meses numa noite eterna, e a mudança são nos dias 22 de março e 20 de setembro, início da noite e dia, respectivamente)
Depois da conquista do pólo sul rola ali um momento de tensão, pois um iceberg desmorona sobre o Nautilus, fica uns dois capítulos de tensão, eles prestes a morrerem sem ar, tem um draminha básico ali, mas eles seguem viagem de volta ao norte.
Passam na costa da América do Sul, da Terra do Fogo até a Patagônia, passando pelas Malvinas, passam em dois pontos do Brasil, o Cabo de São Roque, no Rio Grande do Norte (que, erroneamente, Verne escreve que é o ponto mais oriental do Brasil, quando na verdade é a Ponta do Seixas, na Paraíba) e vão até a foz do Amazonas, enfrentando aquelas correntes fortíssimas da região, mas ao mesmo tempo ficando em choque com o fato do Amazonas jogar tanta água doce do mar que ele não fica salgado por vários quilômetros depois do delta.
De lá sobem mais um pouco e ali no Caribe encontram um polvo gigante. Depois de uma batalha feroz onde eles ganham do animal, o capitão Nemo fica abalado e fica estranho a partir da vitória. Os três começam a tramar sua fuga, enquanto o capitão continua rumando ao norte, passando pelo Canal da Mancha.
Eventualmente chegam até a Noruega, onde são surpreendidos pela força o Maelstrom. Essa maré forte não consegue afundar navios, porém o Nautilus acaba sucumbindo, e antes do professor Arronax fugir do submarino junto do seu criado Conselho e Ned Land, olham pra trás e veem o capitão Nemo proferir suas últimas palavras enquanto o Nautilus é tragado pelo Maelstrom: "Deus todo poderoso! Basta! Basta!".
Os três conseguem fugir num barquinho, mas o Nautilus é levado pela correnteza e se perde para sempre. Fim.
Livro maravilhoso. E o melhor é que eu terminei de lê-lo agora, dia primeiro de agosto. Foi nessa mesma data, há exatamente vinte e dois anos que meus pais me presentearam esse livro. Minha mãe registrou na contracapa com a data! Que bela coincidência!
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