A cela — Parte 1


Eu ás vezes me pergunto como as pessoas mentem quando falam que "tudo está bem" quando claramente não estão. Ou nunca estiveram. Talvez seja mesmo essa capacidade dos seres humanos de esconderem seus sentimentos, afinal tem muita gente idiota aí fora que adora dar uma "solução milagrosa" pros nossos próprios problemas, quando na verdade tudo é muito complexo e difícil.

Desde o dia oito de janeiro de dois mil e dezoito minha vida basicamente se resume a ficar trancado em um quarto. E por lidar com ansiedade e depressão, é muito difícil sair dessa cela. Nada parece que rende, não consigo fazer as coisas que eu quero, todos os dias passam sem nenhum significado.

Porém o tempo vai passando. Implacável como sempre.

Talvez os poucos momentos de tranquilidade, são os raros momentos em que meu pai não está em casa. Mas quando eu ouço o portão se abrindo — um barulho alto, como uma pancada forte de metal — meu coração dispara sempre. É hora de subir e se trancar no quarto. Pois virão tossidas, virão cigarros, virão gritarias, e a maldita televisão alta.

Sair de casa para passear era como poder apreciar a liberdade. Porém por conta da pandemia, tudo se resume a ficar nesse quarto. Antes sair me trazia ideias de arte, eu voltava com vontade de escrever capítulos do meu romance, voltava mais leve para casa, mesmo se fosse só para caminhar por aí. 

Hoje caminhar dá medo. Você não sabe como ou quando vai se contaminar. É estressante, e quando chego em casa eu fico com vontade de dar murros na parede até minha mão sangrar. Onde foi que chegamos, não é mesmo?

Dia oito de janeiro de dois mil e dezoito. O dia em que eu morri. O dia em que eu me tranquei aqui para não mais descer.

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