Livros 2021 #1 - Kindred (1979)

Como primeiro livro do Clube do Livro de 2021 do Chicas & Dicas, tivemos a oportunidade de ler Kindred - Laços de Sangue, da autora norte-americana Octavia E. Butler.

É uma ficção científica, mas eu considero mais "um romance com toque de fantasia". É um livro estilo Best-seller americano, com uma linguagem bem cinematográfica, muitos diálogos, pouca enrolação, e bem direto. Não é um livro para quem quer uma literatura profunda, nos moldes clássicos. Mas isso também se revela uma vantagem, pois uma vez que o livro tem uma linguagem muito acessível, não requer muito do leitor. Talvez se eu tivesse tido a oportunidade de ler há uns quinze anos atrás, provavelmente estaria na prateleira ao lado do Dan Brown (que eu vou admitir, ainda gosto bastante, mesmo sabendo que não é lá uma pérola da literatura).

Apesar da linguagem e dos personagens faltando um toque de profundidade, o tema que o livro se debruça é um tesouro escondido: o livro conta a história de Dana, uma afrodescendente americana que vive na Califórnia nos anos 1970 e é transportada misteriosamente para Maryland em 1815, nos tempos da escravidão americana. Lá ela conhece Rufus, um garoto ruivo e malcriado, que possui uma misteriosa ligação com a própria.

Um dos pressupostos da filosofia é que nossa mente é o nosso laboratório de experimentos. E Kindred é bem a demonstração desse conceito na forma de um best-seller. Fazer Dana, uma afrodescendente vivendo nos tempos modernos, fazendo-a viver todas as desgraças e desumanidade que foi o período escravocrata americano é um baita exercício filosófico. E nesse livro você vive isso nas diversas situações que a autora coloca sua protagonista.

Adicione o facto de que a própria Octavia E. Butler é uma importantíssima escritora negra do século XX, brilhante e inteligentíssima, uma pessoa que viveu os anos sessenta e setenta, naquele momento em que negros americanos lutavam por direitos básicos, como o direito ao voto. Imagino o impacto que um livro onde uma mulher negra é transportada para o período escravagista deve ter tido entre os leitores naquela época.

A linguagem poderia ser melhor. Mas o real tesouro do livro é essa viagem no tempo, que nos fazem sair dele cheio de reflexões e uma visão diferente do mundo — contado justamente por alguém cuja etnia foi (e ainda é) tão injustamente humilhada, massacrada e discriminada no decorrer da história recente da humanidade.

Nota: 9

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