Os caminhos que nossa vida segue.
Na filosofia existe uma máxima que diz que "o laboratório é nossa própria mente". E essa é a mãe de todas as ciências, pois tudo o que hoje temos como comprovado pela ciência, de teorias até hipóteses, um dia esteve na mente de alguém — obviamente a pessoa nem sabia exatamente como funcionava, ou menos ainda como provar — mas antes de tudo, foi iniciado em um exercício mental. Em outras palavras: a imaginação.
Semanas atrás quando pesquisei o local em que eu prestaria Fuvest, vi que de alguma maneira eu conhecia aquele endereço. Depois de dar uma googlada sobre, descobri que era exatamente o mesmo local em que eu havia prestado o mesmo vestibular — quinze fucking anos atrás.
Na época eu lembro que prestei pra arquitetura. Francamente eu nem sabia o que queria fazer pelo resto da minha vida. Acho que minha vida sempre foi como um cachorro, que corre atrás do carro, mas ele nunca sabe o que vai fazer quando alcançar o carro. Até que um dia alcança e se pergunta: e agora?
Eu lembro de uma vez que eu devia ter uns oito anos, e depois de voltar de uma consulta do pediatra pelos milhares de resfriados que eu pegava quando era criança (grande parte deles por conta de um pai fumante, que tossia em 360 graus espalhando vírus por toda a casa), eu lembro que achei nas escadas daquele consultório um RG escolar. Era de uma menina que, lá naquele ano de 1996, estava na "segunda série do segundo grau".
Mas eu naquele momento estava na antiga "segunda série do primeiro grau". Minha mãe viu eu com aquele RG escolar desconhecido e mandou eu deixar ali onde achei.
Aquilo deixou uma impressão imensa em mim. E eu ficava imaginando como seria comigo quando eu chegasse no tal "segundo grau" (hoje, ensino médio). Demorou pra caramba, mas quando cheguei foi a sensação do cachorro que havia chegado no carro e não sabia o que fazer.
Obviamente prossegui meus estudos e quando terminei o ensino médio eu não sabia o que fazer. Talvez eu até tivesse alguma noção de profissão, mas como todas as minhas vontades eram sumariamente censuradas pelos meus pais — que queriam escolher a minha profissão no meu lugar — eu meio que deixei.
Afinal, "deus quer que você honre e sempre obedeça seus pais. Senão você vai queimar no quinto dos infernos". Tá nessa maldita bíblia do caralho. Mas a bíblia não tem nenhum capítulo sobre "pais manipuladores ou tóxicos", não é mesmo?
Mas eu sempre obedeci, e nas raras vezes que dava certo, era mérito da imensa sabedoria deles. Mas quando eles erravam, a culpa era minha por não ter feito direito.
O que mais machucava era ver meus amigos correndo atrás dos sonhos deles, com os pais não como "seres oniscientes que me guiam à redenção e ao sucesso que eles planejavam". Mas como pais que estavam lá para apoiar as escolhas dos filhos, que estariam do lado deles incentivando, conversando, ouvindo os desabafos. Cara, como eu queria ter pais assim! Ao contrário disso eles só queriam participar da minha vida pra observar meus pontos fracos ou falhas para tacarem na cara quando chegava bêbado do bar do maldito velho Silvio (que esse sim, espero que esteja queimando no quinto dos infernos por ter dado bebida pro meu pai).
Prestar o vestibular exatamente no mesmo lugar soa como se eu tivesse uma segunda chance. Mas agora a escolha é cem por cento minha. Mesmo que com quinze anos perdidos da minha vida de atraso.
Comentários
Postar um comentário