Paciente zero.
Enquanto escrevo isso, estou no quarto dia de luta contra COVID-19. Uma doença que meu pai, nas suas constantes idas ao churrasquinho filho da puta da pracinha, acabou se infectando lá e passando pra toda minha família. Hoje ele não saiu às 12h como sempre fazia, mas às 18h pontualmente eu o ouvi abrindo o portão, e indo lá fazer seu ritual diário. Esse registro nessa foto fiz hoje (é o de rosa).
Eu fico pensando o quanto de pessoas ele está infectando: pessoas que podem ficar assintomáticas, passar para amigos ou entes queridos que são do grupo de risco, e pessoas que até então estavam se cuidando, infectadas por ele, que está sendo um vetor da doença.
Eu gostaria de saber como meu pai, que sempre teve o sono bem pesado e ronca muito alto, consegue colocar a cabeça no travesseiro a noite e dormir. Eu já não consigo dormir de medo por ter ajudado minha avó na consulta médica via Skype dela na quinta, um dia antes da Covid eclodir em mim.
Exemplos como o do meu pai me faz perder a fé na humanidade. Não é questão de usar máscara, ou "distanciamento". Se você foi infectado, sua família inteira foi infectada, será que é difícil ficar duas semanas quieto em casa? Não importa se você está apenas com tosse (como é o caso do meu pai) ou se está indo ao quarto dia de febre seguida e muitos outros sintomas (meu caso)? Vai fazer tanta falta ir lá no churrasquinho? Onde está o carinho com o próximo?
Ele nunca mudará. Ele não quer mudar.
Uma pessoa imprudente e irresponsável. Intransigente. Alguém que não conversa e não é capaz de ouvir ninguém. Uma pessoa que eu tive que criar diversos mecanismo pra me defender da sua sociopatia. Alguém que não dá o exemplo. Faça o que eu digo, não faça como eu faço. Alguém que estava "cansado de ficar em casa", mas o vírus não está cansado de contaminar mais e mais pessoas.
Alguém que me envergonha. Alguém que me faz triste. Alguém que eu vejo que não tem mais solução.
Comentários
Postar um comentário