Os erros de nossos pais.

Ontem meu pai estava falando com minha tia e ela disse que meu avô está irredutível sobre querer sair de casa. O velho quer sair para pagar suas contas, não quer ficar em casa, quer ir ao banco, e não está nem aí pra pandemia. Meu pai chegou super tenso na hora do almoço e disse que iria ligar pro pai dele pra tentar convencê-lo a ficar em casa e mandar outra pessoa fazer suas coisas.

Na hora eu me perguntei: mas se eu quisesse chegar no meu pai e falar pra ele não ir para o churrasquinho se infectar (de novo) e ficar em casa quieto apesar do sofrimento e estresse? Ele ouviria?

A resposta é óbvio que não. Não existe conversa nessa casa. O que existe é um pai que manda, que é o deus supremo desse pedaço de terreno no meio da cidade, onde as leis não existem, e ninguém o impede de exercer seu poder.

Eu fiquei imaginando meu pai ligando pro meu avô e ele, outro grosso idêntico ao filho, e o velho dizendo um claro "Cuida da sua vida" pro filho. Tudo bem que meu pai não dá o exemplo, mentiu dizendo que minha tia infectou todo mundo, e ele nunca comentaria o facto de que vai na praça comer churrasquinho sem máscara no meio de uma aglomeração.

Mas essa última parte ele esconde, porque lhe convém. Meu pai adora manipular pessoas e ter o controle de situações. Coisa típica da mente doentia dele.

Vendo essa relação tumultuosa de três gerações, sempre me vêm na mente o meu maior medo: paternidade.

Eu sou uma pessoa que tem tanto medo de ser pai, que até evito relações sexuais. E mesmo nas raras vezes que fiz sexo na vida (movido mais pela curiosidade pra saber como era), conseguia ter uma ereção e penetrar, mas eu raramente conseguia chegar ao orgasmo e ejacular. Óbvio que todas foram feitas com preservativo e todos os cuidados, mas pensar que eu não posso desfrutar daquele momento com medo de algum espermatozóide meu encontrar com o óvulo da garota e gerar uma criança é algo que sempre foi um empecilho enorme pra tudo.

E tudo isso por conta dessas experiências terríveis que tinha com meu pai. Eu vejo um padrão se repetindo sempre há gerações na minha família paterna. E eu não sei se eu estaria pronto pra isso. Se eu teria a capacidade de fazer diferente.

Em diversos momentos na vida, momentos cruciais, infelizmente eu acabava agindo igual. Coisas que eu criticava sem fim, achava errado, eu estava fazendo exatamente da mesma maneira distorcida que via meu avô e meu pai fazendo.

O mais difícil desafio da vida é você saber excluir o que acha de ruim na geração anterior e admitir que existiram também coisas boas para perpetuar. Criticar só nos leva a fazer tudo idêntico, incluindo as coisas ruins, ou fazer tudo totalmente diferente, excluindo as coisas boas.

E eu acho que nosso objetivo é sempre crescer, sabe? Uma geração tem que ser melhor que a outra. Eu vejo famílias de pessoas que não tiveram um pai alcoolátra, ansioso, autoritário, machista e retrógado como o meu, e fico pensando o que essas pessoas têm de diferente da minha família? Será que eles eram do mesmo jeito lá em, sei lá, 1340, e conforme as gerações iam passando eles foram melhorando? Será que foi esse contínuo aprimoramento que os tornaram pais brincalhões, amigos, sensíveis e modernos?

Será que a única solução é quebrar essa corrente agora, optando não formar uma família?

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