Mas todo mundo vai pegar um dia!

Domingo teve uma almoço em família aqui em casa. A única pessoa que recebemos em casa é meu irmão mais novo nesses dias, então isso facilita o rastreio caso alguém fique doente. Seria simples assim na teoria, exceto por um detalhe: o facto de que meu pai costuma sair para beber e comer churrasquinho mesmo depois de todo mundo ter ficado doente de Covid-19.

Velho é assim mesmo, velho não aprende. Mesmo estando numa pandemia, insiste em sair pra ir falar de futebol, beber sua pinga, e comer seu espetinho. O problema é que agora não é momento disso. Seu maior argumento era "mas todo mundo vai pegar essa doença um dia". Sim, mas ao mesmo tempo você também está girando a roleta da sorte, onde você pode tirar a sorte na versão assintomática, ou pode ter azar e ir parar numa UTI, ficar entubado por um mês, ter que reaprender a andar, comer e falar, tudo porque não "aguentava ficar em casa".

Meu pai nessa pandemia sempre tem me dado motivos para ficar decepcionado com ele. Mesmo com a família, e ele inclusive, todos infectados, ele foi comer o espetinho dele como se fosse apenas mais um dia comum. E no dia seguinte quando eu disse ao ambulante que a família inteira estava infectada, o vendedor de espetinhos se assustou, pois o meu pai estava frequentando lá como se nada tivesse acontecido.

Ás vezes acho que meu pai sempre teve um aspecto suicida. Fumar na frente dos filhos pequenos, fazendo a gente que estávamos com nosso corpo em formação, me deixou com pouca capacidade pulmonar. Eu lembro como me falta ar e como eu me canso rápido em qualquer esporte. E meu irmão mais novo é asmático.

Viver com um pai fumante causou problemas em mim mesmo sem eu nunca ter colocado a merda de um cigarro na boca.

E agora, no auge da irresponsabilidade, insiste em sair e ficar meia hora, até uma hora fora, sem máscara, sem nenhum cuidado, como se nada estivesse acontecendo.

Ontem ele não saiu. Eu até estranhei. Achei que poderia ser um momento de mudança. Mas agora há pouco ouvi o portão se abrindo, e já passou mais de meia hora e ele ainda não voltou. Está lá, no filho da puta que vende churrasquinho na pracinha, como se nosso bairro estivesse numa redoma de vidro, e que não houvesse ninguém infectado onde moramos.

Ele voltará com a mesma cara de inocente. Vai continuar tossindo em cada centímetro da casa sem proteção.

Imagine o mundo na época da AIDS. É basicamente como se ele saísse para transar com qualquer pessoa na rua sem preservativo, pois estamos numa pandemia, pessoas têm que transar, e todo mundo vai se infectar um dia mesmo, não é?

Não cara. É óbvio que não, velho idiota.

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